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Mente Incondicional

[Último] Mente ∞ Incondicional – Episódio 09

– SÉRIES FINALE –

de Pedro Paulo Gondim

Episódio 09 | INFINITA MENTE

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Participações especiais: Wallyson Collins; Marcello Nunes;

Participações estrelares: Manuela R. Carbonny; Jordana Nuvais; Madre M. Janeiro; Irmã Dulce; 

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[Mariano – em off] – Ainda acordada? É inesquecível, eu sei, o fim desta jornada. Quando criança, eu tirei este retrato de minha alma. Prudente, inimiga, não atrapalhe minha calma! Lembra de quando eu estava desolado? Uma era atroz havia se iniciado. Conheci minha mente… Era como uma lassa muralha! Ah, que horror… Eu precisava tocá-la. Venho de raízes tão profundas, que a primeira paixão me afogou. Senhorita Furor, seu plano não funcionou. Infelizmente, não adianta doutrinar meus conceitos. Infinitamente meu amor não terá preconceito.

— Dedicado a todos que já sofreram/sofrerão algum tipo de agressão LGBT. Tenha uma mente incondicional!

(…) ‘Infinity’ (Eventos)/ Recreação 3/ Deck da piscina [Noite]

Ajoelhando-se à borda, Mariano roça suas mãos sobre a água da piscina, ainda erguendo a felicidade que a Lua traz em seu reflexo. E o sorriso torna-se, afinal, covarde, ao estalo de um revólver sendo recarregado. A mira certeira lhe impede de mover qualquer músculo. Raquel, então, enroupada com o melhor vestido branco que pôde colocar, agarra o pescoço do jovem. Perturbado demais para correr ou gritar, ele concorda em acompanhá-la. Eles sobem as escadas. As lágrimas de Mariano também aramam-se sutilmente na piscina. Raquel gargalha.

Infinity’ (Eventos)/ Casa da Piscina [Noite]

O suor frio escorre sobre o rosto do jovem, percorrendo caminho as cordas que lhe tiram a liberdade. O assento mostra-se confortável, pelo menos. Boca, pés e mãos atados… Pobre aniversariante.

De um olhar abominável, Mariano tenta balançar seu corpo. Sem sucesso, tenta desfrutar de cada lágrima possível. A Lua, ora lhe exultando, ora lhe clarejando. A moça, nem ligava. Ela só queria algo…

Raquel: Algo que eu gostaria que ouvisse. Maro, você nunca me viu como uma boa pessoa. Não é mentira, mas eu também já “tive coração” um dia. Eu cansei de fugir! Ainda mais hoje, num dia tão especial… Parabéns pra nós!

Flashback (…)

Fevereiro de 2000. Sul Real (MG) – Brasil

{Raquel – em off} Um pouco antes de completar oito meses, a menininha dos cabelos castanho-claros ainda sentia muita fome. Pelo que soube, uma mulher encapuzada chegara desesperada sob temporal da noite. Ela encarou, enfim, a porta de um orfanato.

‘Dulce Real I’ (Orfanato)/ Diretoria principal [Noite]

A madre Maria Janeiro pegou a garota em seu colo. A encapuzada, à sua frente, chorava muito. Ainda era adolescente e havia engravidado. Totalmente desesperada, a mulher beija a menina algumas vezes e, por fim, corre para longe.

Julho de 2002

E assim, Raquel Kluccak ficou perdida naquele lugar hipócrita. Irmãs que se prestavam à sua crença, gemendo por entre as paredes do porão. Fome e desordem entre os órfãos. Muita verba pra pouco amparo… Era uma época terrível. O que nenhuma “chiquitita” poderia imaginar! Então… Ocorreu aquele acidente.

Raquel {3 anos}: Madre! Socorro! Madre!

O local estava em chamas. Talvez, 27 crianças mortas. Eu fiquei quietinha, segurando meu ursinho de pelúcia, dentro do guarda-roupa de um dos quartos. Ainda me lembro de ter visto a notícia ano passado: “10 anos da Dulce Real II: do incêndio à nova casa”. Administração melhorou bastante. Pelo que li, todos estavam na cozinha quando acidentalmente houve uma explosão de gás. Não me lembrava de nada, até que Jordana resolveu me contar sobre minha adoção. Eu lembrei de tudo!

Agosto de 2002

Abrigo temporário [Tarde]

Alguns dias depois do incêndio, Jordana Nuvais procurava uma menina que pudesse usar de “reato” para seu lar. O velho Salles não a suportava mais! [risinhos] Ela me notou em meio aos outros pirralhos e resolveu levar. Crianças, enfim, como latas de azeitona na prateleira de um supermercado. E quando eu digo levar, é…

Jordana: [puxando a menina pelo braço] Vamos! Rápido!

Raquel: [olhar desesperado] Espere… Você falou com a Madre?

Jordana: Eu não tenho tempo pra trâmites. Vamos!

Foi um sequestro bem rápido. Eu fiquei como “desaparecida” por muitos anos!

Janeiro de 2007

A herança deixada por Salles foi o suficiente para minha “mãe adotiva” se achar ainda mais superior. E enquanto as outras crianças estavam estudando, eu tinha que limpar a casa, lavar a roupa e, como sempre, passando vários dias e noites com fome. Jordana viajava e me deixava sozinha. Eu não tinha amigos, mas era uma criança inteligente. Numa noite, eu fugi. Mas ainda era pequena para entender os riscos do mundo! Incrivelmente, o destino é uma pilhéria! Você ainda deve se lembrar da menininha… Da noite escura… Dos altos faróis…

Avenidas de Sul Real [Noite]

Ivanna: Ai… [recostada num carro; falando ao celular] Moço, por favor venha rápido. Não sei como atropelei essa menina! Por favor, me ajuda! (…) Obrigada. [desliga a chamada; aproxima-se] Mariano, ela está bem?

Mariano {07 anos}: Acho que sim, mamãe. [hesitando-se] Olhe, está acordando!

Raquel {07 anos}: Oi. [olhar zonzo] Quem são vocês?

Ivanna: Eh… Somos os ‘Ayalla’. [sorri embaraçosamente] Fique calma! A ambulância deve chegar a qualquer momento…

E lá estava eu, estirada no chão, sangrando feito uma vaca! Eu tenho a porra duma cara de vaca pra vocês me atropelarem? [acaricia o revólver; sorri] Deveriam ter me deixado morrer. Perdi as memórias de minha infância, Maro. Mas parece que tínhamos mais negócios a se tratar…

Agosto de 2011

Ah, como não lembrar do 1º dia do 7º ano no “Colégio Sul Real”? Logo que entrei na sala de aula, eu sabia. Aquela menina, que voltou pra casa depois de 2 meses internada, e sua “mãe” de volta, com um novo marido, “apenas” 5 meses depois, ainda reconhecia o pobre garoto. Eu sempre soube, Mariano. Talvez não fosse sua voz mas…

“Sul Real de Educação” (Colégio)/ Pátio [Manhã]

Mariano {12 anos}: A novata? [gargalha; olha para a menina, que está próxima] Por favor, Igor! Ela é ridícula.

Igor {11 anos}: O que ela te fez? [observa-a pensativamente] Ela fica no canto, calada e, de vez em quando, responde as perguntas dos professores. Raquel precisa de amigos, Maro, não de você. Poupe a menina de… sei lá o quê!

Mariano: Só… [expressão tensa] Cala!

Você nunca foi a vítima, Maro. O ódio sempre veio de ti! Eu lembro do desenho: “Mariano e Santiago” no centro do maior coração do mundo. Não sei como gostava dele! Parecia um vira-lata queimado de tão feio. Parabéns pro tempo também!

“Sul Real de Educação” (Colégio)/ 2º andar/ Turma: 7ºB [Manhã]

Raquel: [olhar atento para o lado] Que fofo! Você gosta de garotos?

Mariano: Não… [amassa a folha; lança-a no lixo] Que engraçada, novata…

Eu nunca fui homofóbica, “darling”. Bom… até você querer algo que eu também queria… Mas antes, devo me lembrar de todas aquelas lágrimas quando Santi ia sair do colégio noutro ano.

Outubro de 2012

Não venha com historinhas, Mariano. Eu também sofri nas mãos do “Nardelli”. A primeira paixão a gente nunca esquece! Ainda mais quando sua própria “amiga” também está gostando dele. É um fato: somos fodidamente azarados.

“Sul Real de Educação” (Colégio)/ Portão de saída [Manhã]

Santiago {13 anos}: Raquel… Você vai ficar bem!

Raquel {13 anos}: Não, eu não vou. Como assim vai embora? [tentando acalmar o pranto] Eu não mereço. Eu… Quero te beijar!

Santiago: Sério que gosta de mim? [sorri] Obrigado, mas não. Foda-se, por favor! Eu não gosto de você, Raquel. [olhar furioso] E avise pro seu amiguinho Maro parar de ser tão gay assim! Eu não sou gay e você não me merece. Adeus!

Por isso não foi tão chocante quando você “disse” ser gay. Mas mesmo assim, eu escolhi tentar. Pra quê? Me afundar ainda mais na merda! Apaixonada por Mariano Ayalla? Eu estava louca. E você? Cada vez mais hipócrita! Eu simplesmente ignorava esses “boatos” de sexualidade e seguia meu coração. Como ocorreu um pouco antes do natal de 2014…

Dezembro de 2014

Acho que você tinha bebido um pouco aquele dia. Até me convidou pra ir à sua casa! Pelo menos conheci sua irmã. Ela era legal! Juliana Ayalla te apoiando pra me beijar… Isso sim foi a lástima que deveríamos esperar nessa época natalina.

Casa dos “Ayalla”/ 1º andar/ Quarto de Juliana [Manhã]

Raquel: [olha para seu amigo com um certo carinho] Então…?

Mariano: [acaricia-lhe as mãos; logo, distancia-se] Não posso. Desculpa. [expressão entristecida] Tudo bem?

Raquel: Bom… [olhar tenso] Nem sei o que houve aqui. Só uma amizade está bem! Só não sei o porquê de você não querer namorar ninguém com tantas meninas te querendo. Especialmente… [sorri]

Mariano: Vai pelo menos tomar um suco?

Raquel: Acho que sim…

Janeiro – Março de 2015

O incrível 09 de janeiro foi meu dia! Temos tanto em comum quanto parece… [olha para a cabeça de Mariano] Você sabe da emoção de se tornar um ruivo. Exatamente um ano antes de você, revoltei comigo mesma e fui rumo ao salão mais próximo. Eu me senti completa. Feliz! Tudo antes do então 27 de janeiro… [risadinhas] Foi um ano complicado, não foi?

Sul Real de Educação” (Colégio)/ Pátio 02 [Manhã]

Mariano: Cuidado! Deve tomar mais cuidado! [olhar enciumado] Pense antes de colocar o pé na frente dos outros! E se Wally cai no meio do pátio?

Wallyson: [segurando-o pelo braço] Deixa. Não houve nada!

Raquel: [expressão desconfiada] O que você vai fazer hoje à tarde, Maro?

Mariano: Vou para a casa dele fazer o trabalho…

Raquel: [sorrindo] Posso ir também?

Wallyson: Quer fazer o trabalho ou visitar minha casa?

Raquel: Tudo bom? [olhar curioso] Não irei mais. Passe bem… Wally!

FIM DOS FLASHBACKS

Eh… A jovem aqui ainda te amava. Wallyson nunca foi o suficiente pra você, Maro, mas entendo sobre estar sozinha em meio à multidão. Continuar sofrendo era algo que eu não queria, então… Tive que partir pra meios mais drásticos! [risinhos abafados] Fiz Jordana crer que meu “padrasto” era meu verdadeiro pai, que era um ótimo jardineiro. Ela não hesitou em matar-lhe com suas próprias mãos. Quando a polícia a encontrou morta, foi fácil o alvitre ao suicídio por compunção. Com a herança, pensei em sair do país.

Contudo, ainda não me sentia completa. E tudo se encontrou quando passou teu nome em minha mente. Seus amigos, familiares, amores… Todos contra mim. Eu nunca fui a verdadeira vilã da história, não é?! Me empenho em conquistar a visão de um Mariano destroçado. Nascemos neste dia, para competir. Pra que, no fim, tudo desapareça contigo! Eu pareço sem argumentos perto de ti? Infelizmente, há uma menininha órfã que lhe inveja. Uma criança infortunada que, talvez, mereça ter carinho. Há uma jovem, enfim, apaixonada. O que eu pretendo fazer, não foi de agora. Você foi o escolhido para esta situação. Não pense que sua família não está imune! Será pior o que imagina. E quando perceber…

Raquel sorri e caminha para frente. Calmo. Passo a passo. O tablado amadeirado ecoava esse momento. As marcas da rejeição deixadas como pegadas ao vento. A débil reflexão do luar permite uma relutante sombra. Ela para, tremelicando um revólver, marcado sem desvios rumo ao coração.

Raquel: Acabou… Para sempre!

– [entrando rapidamente] Sua desgraçada! Sai de perto dele agora!

Raquel volta-se violentamente e dispara dois tiros contra a criatura, a qual descamba sobre o tablado, precedendo o baque da arma no mesmo. Raquel estava inexpressiva, porém notava-se a temor nas vibrações de sua pele. Ela fecha os olhos e ajoelha-se perante Mariano. Sua força se desfaz e a moça põe-se a amainar na frígida madeira.

‘Infinity’ (Eventos)/ Salão principal [Noite]

E lá estava a bem-posta. O microfone em suas mãos sendo esbanjando comparado à maturidade de seus gestos e o poder de seu olhar. Numa lancinante mirada aos olhos de Jonathan, Ivanna sorri.

Ivanna: São 17 anos de muita confiança, dedicação e afeto. E serão mais 17 ao lado do mais leal filho que já pude ter. E não poderíamos nos esquecer a adorável e encantadora ousadia de Jonathan Collins, que, de seu próprio agrado, fez uma festa para meu filho. Nós nos conhecemos da fábrica “Collins” e percebi o quanto encaixava nesta louca família! [aproximando-se dele] É um homem honrável, que merece muito! [abraçando-o; sussurrando] Onde diabos está meu filho?

Berros chamam a atenção dos convidados. O murmurinho se agita na chegada de um homem alto, grisalho e, provavelmente, apavorado.

Homem: Ajudem! Parece estar ferido! Ajudem!

Ivanna: [olhar desolado] M-Mariano?

Jonathan: Oh…

Ivanna e Jonathan correm rumo à área de recreação da piscina.

Infinity’ (Eventos)/ Recreação 5/ Casa da Piscina [Noite]

A porta abre-se bruscamente e Ivanna apressa-se a apalpar o garoto jogado no chão. Ao movê-lo para seu lado, sua alma tão relutante chora por Santiago Nardelli. Mesmo enfitando Mariano, o qual está desacordado e sendo desamarrado por Jonathan, a mulher busca confortar o jovem acidentado. Jonathan encara Raquel com muitas incertezas. De respiração oscilante, o homem usa seu destemor para levantá-la.

Jonathan: Nuvais… Não estresse teu fruto! [risinhos; caminha para fora]

UMA SEMANA DEPOIS…

‘Nova Dália’ (Hospital)/ Quarto 303 [Manhã]

Santiago: Maldita cadela! [remexendo-se na cama] Maldita!

Ivanna: Parece até um “Grey’s Anatomy 2” de tanta cena no hospital. [corre os dedos pelos cabelos dele] Enfim, sinto muito, Santi. Não se sinta mal! Vai passar alguns anos em tratamento, mas…

Santiago: Ivanna… [cobre o rosto; chora] O que eu fiz? O quê?

Ivanna: Salvou a vida de Mariano! [sorri; lacrimejando] E as balas terem se alojado em sua perna foi um tanto surpreendente. Ainda tem tempo em vida, boy. Curta enquanto pode!

Numa poltrona ao lado, Manuela demonstra aprazibilidade. Sorridente, entrelaça suas mãos às do filho.

Manuela: Lembre-se de que tem o apoio de muita gente. Será uma nova rotina! É hora de aceitar o peso de ser um herói. [olhando-a de maneira tensa] Onde está a temida vilã, Ivanna.

Ivanna: Não se preocupe, Mariano está resolvendo. [engole seco] É questão de tempo para esta família voltar a ter paz!

(???)/ 4º andar/ Nº 7491 [Manhã]

A brava claridade insinua-se temerosamente sobre os olhos de Raquel, a qual percebe a abertura da porta. Um local frio, sem janelas, uma cama de colchão rasgado, sanitário e pia.

Raquel: Então… Estou numa solitária?

Mariano: [encarando-a da porta] Praticamente. Mas, estou vindo em sinal de paz! Se dependesse da família de Santiago, você provavelmente estaria morta. Eu tive compaixão por tua história! [olhar preocupado] Ele é um idiota! Mesmo entre nossa “competição”, sabia que não iria me matar. Além desse suposto amor, ainda há uma lutadora justa.

Cabisbaixa, a moça lamenta a si o quanto estava errada. Jogar a culpa no próximo sempre foi o mais fácil. Arfando em busca de calor, Raquel levanta-se e aproxima-se de Maro.

Raquel: Por favor, me mate! [sorri] Estou pronta.

Mariano: Você sabe o que sustenta. [sorriso falso] Aproveitando a vida como Giovanna e Gabriele…

Raquel: O que eu tenho a ver com essas hipócritas? [expressão tensa]

Mariano: Oh! Espera aí… [surpreso; extrema tensão] Parabéns, Raquel! Você está grávida.

Raquel: Eu…? [olhar atarantado] Manão!

Mariano: Entretanto… [expressão entristecida] Não gosto de lhe dar esta parte da notícia. [entreolhar impaciente] Quando o bebê nascer, ele deve ser entregue à adoção. Em troca, será livre e limpa.

Raquel: Mas o quê? Vocês estão doidos? [olhar enfurecido] Hein?!

Mariano: Foi uma decisão familiar que acabou na justiça. Mexer com gente “poderosa” dá nisso! [ri rapidamente] Pelo menos ainda tem sete meses para pensar sobre tudo. Adeus!

A porta avermelhada balança a estrutura e é trancada. Raquel ajoelha-se e abraça seu ventre. Lágrimas caem em suas vestes.

[…] TRÊS – SETE MESES DEPOIS

AACD (Reabilitação)/ Pátio [Tarde]

Santiago apoia-se em um andador, expressando dor. Os voluntários o animam e o garoto tenta cada vez mais.

[…] Roma, Itália – Ruas da capital [Manhã]

Jonathan diverte-se ao lado de novos amigos que conheceu no Brasil. Várias fotos e filtros, bebidas, comidas, hotéis, passeios, pontos turísticos, clubes noturnos e beijos quentes.

[…] Sul Real, Brasil – “USUR”(Universidade)/ Calçada externa [Manhã]

Absorto, Mariano está ouvindo música por fones de ouvido, em volume alto. Subitamente, colide num jovem atrapalhado. Vários papéis e canetas (talvez também a dignidade de Maro) são desesperadamente juntados do chão por ele, e entregue ao pobre universitário.

Retirando os fones, o desencorajado Ayalla vê-se numa troca de olhares com um rapaz naturalmente ruivo, uns 19 anos, olhos castanho-esverdeados e corpo atlético. Ele sorri e apresenta-se. O nome “Marcello Nunes” quebra a mente de Mariano e um novo brilho é imaginado.

Marcello elogia o cabelo de Mariano, que retribui com um enorme sorriso. Numa extensão de mais alguns minutos, Marcello entrega um papel com seu número a Maro. “Uma nova chance?”, pensava o Ayalla. Eles continuam seguindo suas direções.

[…] “Roncalio’s” (Restaurante)/ Mesa 10 [Noite]

Uma bela taça de vinho era a degustação da noitada. Mais um brinde para comemorar mais parcerias com a “Collins”! E talvez não parecia gelo… Os olhos esbugalhados de Ivanna divertiam os de Liliane, que toma um anel das mãos de sua parceira e ajoelha-se perante o restaurante. Mesmo entre olhares hostis, Liliane, sorridente, pede a mão de Ivanna em casamento. Ela aceita e abraça Liliane. Elas se beijam.

[…] “Nova Dália” (Hospital)/ Urgências [Tarde]

Em total contristação, a moça, numa maca desconfortável, percorre o hospital rumo à ala da maternidade. Gritava, berrava e sentia a necessidade de quebrar as paredes aos urros. Manão observa-a do lado de fora da sala. Era manha de um homem? Normal! O nascimento de um filho é sempre assim: se não houver tumulto, ele nem nasce.

Raquel sorri com lágrimas correntes. Infeliz e feliz. O garoto que não poderia ser nomeado. Seu destino tão cruel… Matá-lo ou morrer? Raquel não sabia responder nada. Pequenino e quebradiço. Adivinhe quem berrava mais! A recém-mãe, talvez. Manão, de olhos semiabertos, sente-se em paz. Raquel, de olhos furiosos, sente-se em guerra.

[…] “Ouro Branco” (Eventos)/ Campo central [Manhã]

A grama recém-cortada era apenas um detalhe. Era absolutamente um dia lindo, em tons de lilás e rosa. Ivanna vem acompanhada por Mariano, mostrando sua felicidade a cada fileira que passa. Logo atrás, Liliane emociona-se junto à Jonathan. Parecia uma estrada sem fim.

Aquela troca de olhares exasperada. Tosses e espirros dos convidados. Pranto para todos os lados. Flashes alucinantes. Um sol quase escaldante. Santiago, ao lado de Mariano, confortando sua mãe. Manuela tenta cessar sua respiração ofegante. Sem sucesso.

Mariano observa o campo: das flores às copas altas. Dois ‘Collins’ faltavam por ali. Pressentimento? Esqueceu-se disso por um segundo quando o padre fez a temida pergunta do “sim ou não”. Liliane disse “aceito”. Ivanna, “sim”. Gritos alegres anunciam: casadas! Depois de um beijo caloroso, muitos sorrisos envolvidos.

O casamento da mãe de Mariano não o poderia deixá-lo desolado, certo? Ao menos por uma ligação. Uma maldita ligação! Ao atendê-la, não imaginava que isso seria possível. Tão jovem, mas tão adulto… Ao encerrar a ligação, correu aos braços dos irmãos de Liliane. Os Collins, que então planejavam soltar fogos de artifício durante a festa, talvez agora planejem usar as vestimentas mais escuras de seus armários. Era a festa da dor!

[…] UMA – TRÊS SEMANAS DEPOIS

“Dulce Real II” (Orfanato)/ Entrada [Noite/Chuva forte]

Um carma infinitamente lastimante. Pouco depois do nascimento, o menininho dos cabelos castanho-claros ainda sentia muita fome. A moça, encapuzada, desesperada sob temporal da noite. Encarou a entrada e tocou a campainha. A Irmã Dulce pega-o cuidadosamente e sorri para Raquel, a qual chora muito. Totalmente desesperada, Raquel beija o menino algumas vezes e, por fim, corre para longe.

[…] “Ruiz de Azevedo” (Cartório)/ 3º andar/ Escritório [Tarde]

E lá dizia o homem:

– “(…) Eu, Jonathan Victor Collins de Melo, atesto minhas faculdades físicas e mentais para a elaboração deste. (…) Deixo a cuidado de meus irmãos (…) a mansão recém-adquirida e, para cada um, aproximadamente 5% das ações da ‘Collins’, empresa de meu domínio. (…) O restante de meus bens, como os outros 65% das ações da ‘Collins’, casa de hospedagem nos Estados Unidos (…) e toda a minha fortuna serão herdados a Mariano Ayalla Valuj em sua maioridade, sem direito de revogação familiar para fins superficiais. (…)”.

Mariano apenas assinou e sorriu. Admitiu a si mesmo que Jonathan sustava-se sob uma doença improvável e silenciosa. O que seriam 15 bilhões de dólares para um homem infeliz? “Ele curtiu os últimos momentos”, pensou Maro. Jonathan e Wallyson foram os ‘Collins’ de sua vida. Estava na hora de cumprir promessas e abraçar a vida.

[…] ‘Aeroporto Internacional de Sul Real’/ Embarque 09 [Manhã]

Manão: [sorridente] Então… Comprou a passagem pra quê?

Raquel: Já disse, vou amanhã! Não quero chegar em Paris e entrar no primeiro salão que vier pela frente. [lhe dá tapinhas no rosto] Sei que ainda está com raiva do garoto ter ido pro orfanato, mas é melhor evitar problemas. Se Mariano teve compaixão por mim, quero retribuir. Um tempo sozinha é realmente algo enlouquecedor! [lhe dá um selinho] Vá! Depois eu cancelo o voo…

Manão: Te espero.

O jornal das 12 (meio-dia) não confirmava isso. Talvez algumas lágrimas que Raquel tenha derramado foram mesmo em vão. Foi uma queda brusca no mar. Mais de 130 mortos. 90 feridos. Para todos, ela havia morrido. Afogado no mar, segundo a lista de passageiros. Sem amigos, casa ou muito dinheiro, é um bom momento para recomeçar. Enxugando suas próprias lágrimas, Raquel gargalha e deixa o aeroporto.

[…] UM ANO DEPOIS

SUL REAL (MG) – BRASIL – MAIO DE 2018

“Águas H” (Shopping)/ 1º Andar/ Chafariz [Manhã]

Um ponto de observação magnífico. À esquerda, o reencontro de uma família. À direita, a chance de um novo amor. À frente, uma sorveteria quase fracassada. Com suas casquinhas em sabor baunilha, Mariano e Marcello sentam-se na beirada do chafariz central.

Mariano: Sério, minha mãe precisa de um psiquiatra!

Marcello: Acho que não. [sorridente] Ela só quer assegurar de que seu “genro” cuidará bem de seu filhinho.

Mariano: Verdade. [expressa ternura] Depois de tanta descriminação e injustiça, o casamento com Lili melhorou bastante as coisas. [olhar engraçado] O que eu fiz pra se apaixonar por mim?

Marcello: Ah, eu… Para, você sabe que eu morro de vergonha! [corando o rosto; olhar vívido] Na cama a gente não precisa de frescura, mas assim… [seduzindo-o] Vou de mente aberta a qualquer discussão, Maro. Precisamos fugir de estereótipos e aceitar o novo!

Mariano: Uma vez incondicional, sempre incondicional. Não duvide de um mundo injusto, “Mello”. Demonstre que sabe agir como um ser humano e reviva sentimentos! [eles sorriem] Eu me apaixonando?

Eles mergulham num profundo beijo. Marcello hesita-se.

Marcello: Que estranho. [olhar bobo] Eu já estou apaixonado.

Mariano: E que o amor vença infinitamente!

– FIM –

Obrigado a todos os leitores de “Mente Incondicional”. Como minha última obra no SW, desejo a todos os outros autores (iniciantes e/ou profissionais) um grande sucesso! <3 🙂 😉

Pedro Paulo Gondim

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