Último Capítulo – Detalhes Sórdidos
TOM – Garibaldi, ouça bem. Não faça nenhuma besteira…
GARIBALDI(gritando) – Cale essa boca! Ca-le es-sa bo-ca! Você traiu a minha confiança. Eu já estava decidido a não te matar, mas enfim, não se pode confiar em ninguém.
TOM – Garibaldi, escute. Eu posso te ajudar. Você precisa de tratamento. Eu sou rico. Eu posso ajudar você a ficar bom.
Garibaldi golpeou o rosto de Tom com a coronha do rifle. A casa começou a tremer novamente.
GARIBALDI – Escolha! Quer morrer alvejado, ou carbonizado?
TOM – Que diferença isso faz?
GARIBALDI – Muita diferença.
Garibaldi começou a arrastar Tom pela roupa, indo em direção à cozinha.
GARIBALDI – Fique ai… Onde está? Foi aqui que vi…
TOM – O que é que você está procurando?
GARIBALDI – Isso…
Gasolina.
TOM – O que você vai fazer?
GARIBALDI – Não dá para adivinhar? Você, um especulador financeiro, não é capaz de saber o que eu vou fazer?
Ele jogava gasolina nas paredes e nas coisas, e ao mesmo tempo, tinha o rifle apontado para Tom.
TOM – Garibaldi, por favor, vamos conversar…
GARIBALDI – Não saia do lugar, senão atiro em você.
Gribaldi ateou fogo em toda a cozinha, deixando Tom acuado. As labaredas cresceram logo e a fumaça já deixava o ambiente irrespirável. Tom estava se sufocando. Garibaldi puxou a porta. O fogo alto na saída, o impedia de chegar até a porta.
Corta para o lado de fora.
EDSON – Garibaldi!!
Ao ver o Edson, Garibaldi correu, e dobrando a esquina do corredor, virou-se e atirou, mas Edson se protegeu. Ele também atirou, mas em vão. Edson correu para persegui-lo, mas teve a impressão de ouvir alguém gritar.
Corta para a cozinha.
O fogo avançava, e as vias respiratórias de Tom já se queimavam. Seus pulmões ardiam, e a sua única chance seria passar pela porta da frente, onde o fogo era mais alto.
TOM – Socorro!!!
Havia água na torneira da pia. Ele encheu um balde e jogou na saída, para diminuir o fogo, e então correu para tentar abrir a porta, mas não demorou até que o fogo subisse novamente. Ele já não conseguia mais respirar. Sua garganta se fechou. Ele perdeu as forças e caiu.
Corta para o lado de fora.
EDSON(gritou) – Tom! Tom!
Ele batia na porta, mas ela não cedia.
EDSON(gritando) – Saia de perto da porta!
Edson tomou distância e arrombou a porta com o pé. Tom estava caído, inconsciente. Ele arrastou o jovem executivo para fora, e lhe bateu no rosto para despertá-lo.
EDSON – Tom! Tom, você esta bem?
Tom acordou e começou a tossir. Não respirava direito.
EDSON – Venha, vou retirar você daqui.
Logo chegaram os dois guardas que haviam chegado com o Anfitrião.
EDSON – O desgraçado foi para lá. Venha, você consegue andar?
TOM – Meus pulmões estão ardendo. Não consigo respirar direito.
EDSON – No helicóptero tem um balão de oxigênio. Se esforce, e vamos.
Eles estavam quase do lado de fora, quando Garibaldi chegou por trás e e golpeou Edson com o rifle. Por um momento, Edson perdeu a consciência. Ele então agarrou novamente Tom e mais uma vez o arrastou para dentro da casa.
Edson acordou uns segundos depois.
EDSON – Eu vou atrás deles. Se Tom não for logo atendido, ele vai morrer.
ANFITRIÃO – Deixe-os, vamos embora.
EDSON – Não! Thomas é meu amigo, não vou deixá-lo.
Edson voltou para a casa em busca de Garibaldi. O fogo se alastrava rápido, e a casa tremia. E dessa vez muito forte, provocando um ruído muito alto.
GARIBALDI – Veio ter seu grand-finale, não é negro? Não vou te dar esse gostinho, porque eu queria enterrar apenas o garotão aqui, mas acho que você também não é uma pedida ruim.
EDSON – Abaixe essa arma e venha comigo!
GARIBALDI – Por que? Pode me dizer? Por que eu deveria ir com você? Para ser julgado, e condenado por essa Justiça podre e ultrajante como a nossa? Não seja idiota. Eu sempre soube o tempo todo que você era lacaio do Anfitrião, mas não podia dizer, senão atrapalharia todo o meu plano.
EDSON – Seu plano já era. Você perdeu. Me entregue o Thomas e se entregue e vamos embora.
GARIBALDI – Nem mais um passo, ou eu atiro nele.
EDSON – Eu também posso atirar em você.
GARIBALDI – Sua ingenuidade é patética. Olha a minha arma. Olha a sua. Além do mais, não tenho mais nada a perder. Vocês destruíram anos de trabalho.
EDSON – Destruir a vida das pessoas não é trabalho. Roubar não é trabalho.
GARIBALDI – Eu não roubei. Meu pai roubou. Aquele velho ridículo roubou bilhões de euros, e nem conseguiu desfrutar da grana. O desgraçado morreu e me deixou na miséria, com o dinheiro escondido, e isso depois de passar todos os anos da minha vida me humilhando, me fazendo acreditar que eu era um verme incompetente.
EDSON – Garibaldi, vou dizer apenas mais uma vez. Me entregue o Tom.
GARIBALDI (gritando) – Não! Ele vai morrer comigo.
EDSON – O tempo está passando. Podemos deixar você aqui, vivo, numa boa, desfrutando de uma propriedade…
GARIBALDI – Muito conveniente! Mas eu não quero esmolas. Eu quero provar para o meu pai, que o dinheiro que ele roubou do Anfitrião, agora é meu. Meu! E eu preciso daquelas bandidas lá fora.
EDSON – Então venha. Vamos fazer uma troca. Você fica com elas, e eu com o Tom…
TOM – Edson… não(tossiu).
GARIBALDI – Calado! Vamos.
EDSON – Isso, venha. Vamos lá fora.
Corta para o helicóptero.
MARIAH – Ali, vejam, são eles.
ANFITRIÃO – O Garibaldi ainda está com o Thomas.
GARIBALDI – Saiam do Helicóptero, ou eu estouro os miolos dele.
Todos saíram.
GARIBALDI – O piloto fica. E é claro, as mulheres também.
Garibaldi jogou Edson e subiu na aeronave, fazendo Marinna de refém.
GARIBALDI – Vamos embora. Adeus.
O helicóptero pegou vôo. Nesse momento a casa explodiu, e grandes estilhaços voaram em todas as direções. Um pedaço de madeira veio voando direto para a cauda do helicóptero, o deixando sem controle. Garibaldi perde o rifle, e Anita agarra por trás o maníaco, tentando apertar sua garganta. Ele se vira, dando-lhe um golpe com as costas da mão, fazendo-a despencar. Mas ela ficou dependurada no trem de pouso da aeronave.
ANITA – Socorro!
O helicóptero rodopiava e Garibaldi tentava bater nas mulheres, mas também estava instável em seu acento e temia perder o equilíbrio e cair também. Anita começou a subir, agarrando-se na pena da calça de Garibaldi, e ele tentava chutá-la, para que ela caísse. Nesse momento, ele só queria agora se livrar daquela gente e tenar novamente mais tarde. Ele agarra o pescoço de Mariah e a sufoca. Ela, já nos limies da sua força, tenta se livrar das mãos gigantes do escritor, mas já havia perdido as esperanças de sair viva da situação.
TOM – Desça o helicóptero!
Mas o helicóptero estava rodopiando, fora de controle. Até que começou a perder altitude, e caiu, vindo a bater em um barranco. Não houve muito estrago.
Edson se acercou de Garibaldi, e o paralisou, amarrando seus braços para trás.
GARIBALDI – Não! Não! Eu estava perto demais. Perto demais!
ANFITRIÃO – Alguém aqui sabe consertar um helicóptero?
Uma semana depois, hospital Felício Rocho, Belo Horizonte.
TOM – Quem podia imaginar que estávamos tão perto, em Minas Gerais?
MÉDICO – Senhor Thomas, o senhor está com as pacientes que retiraram um corpo estranho do abdômem.
TOM – Sim. Elas estão bem?
MÉDICOS – Sim. Não foi nada demais. Eram três placas de titânio. Elas contém um número cada um. O senhor sabe o que significa?
TOM – Sim.
São Paulo – Casa de Anderson Vilella
VILELLA – E foi isso que aconteceu. O Júnior acabou me convencendo de que se eu me vingasse de vocês pelo que o seu pai fez com o meu, meus problemas psicológicos se atenuariam. E eu, destruído pela depressão, acabei aceitando ,e então eles passaram cerca de cinco anos bolando tudo. Roubaram fotografias, forjaram jornais, remodelaram a casa. Fizeram tudo certinho, para que vocês achassem que a culpa era minha. Mas eu não sabia de nada, pois somente tinha contato com vocês nas visitas esporádicas no monitor. Eu realmente sinto muito.
TOM – Ainda bem que tudo acabou.
VILELLA – Vocês têm dinheiro, está no cofre 666, em um importante banco na Suíça.
TOM – Estou satisfeito com o meu milhão de reais. O que foi feito com o Garibaldi?
VILELLA – No fundo, não tinha muita culta. Era um transtornado mental, e está internado em um manicômio.
Um ano depois.
MÉDICO – Hernesto Garibaldi, como estamos hoje.
GARIBALDI – Estou bem.
MÉDICO – Que ótimo. Você tem melhorado muito. Está de parabéns. Agora até poderemos deixar você no pátio, que tal?
GARIBALDI – Muito bom, doutor, obrigado.
Corta para o lado de fora.
O médico não tinha saído ainda, mas o ambiente estava silencioso. Logo, ele deixou o quarto de Garibaldi, trancando a porta atrás de sí. Com jaleco, e um gorro, ele entrava e saía assim todos os dias. Ele foi pelo fundo e pegou o carro, saindo devagar, calmamente. Mas não era o doutor. No quarto, o verdadeiro médico jazia no chão com uma pancada na cabeça, no meio de uma poça de sangue. Ninguém percebeu os olhos esbugalhados e sedentos de vingança. Garibaldi estava solto novamente.
FIM