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Como Nossos Pais

último capítulo – Como Nossos Pais

Capítulo 5 (Último capítulo)

Cena 1. Casa de Reynaldo. Sala de estar. Noite. Int.

Donato: Eu posso dizer algo?

O homem acena positivamente.

Donato: Não há como negociarmos não? Já está chata essa situação!

Homem: Quem você pensa que é pra reclamar? Nós também não queríamos estar aqui mas, o imbecil do Léo nos obrigou.

Donato se reprime e Dinorah olha friamente pra ele.

Dinorah (Sussurrando): Tá vendo? Com sua ousadia, quase ia pondo-nos numa situação ainda mais desagradável.

Homem: Não quero ouvir um pio!

Ambos se reprime, até que, alguém derriba a porta, deixando os homens mascarados atordoados, o delegado e os policiais apontam suas armas de grande porte para os traficantes.

Delegado: Mão na cabeça!

Os policiais e os traficantes em uma intensa troca de tiros, enquanto, “Deus lhe pague´´ de Elis Regina irradia a cena, Dinorah, Donato, Irene e Heloísa se abaixam e se escondem atrás do sofá após a longa sequência, os policiais triunfam sobre os traficantes e os põe no bagageiro do carro, fecham o capô e deixa Heloísa mais tranquila, ela se levanta e um sorriso se esvai.

Heloísa: Obrigado, policial.

Delegado: Bela esposa que o Reynaldo arranjou.

Heloísa: Hãm?

Delegado: Nada! Tchau, fique com Deus.

O delegado sai da casa e Heloísa agraciada, fecha a porta, deparando-se com Dona Irene esfuziante.

Dona Irene: Deus é mais! Deus é mais! Deus é mais! Ainda bem que esse pesadelo acabou!

Donato abraça Heloísa.

Donato: Que susto! Ainda bem que tudo isso acabou! E devo admitir que se manteve muito equilibrada, Heloísa!

Heloísa: Claro! Eu aprendi contigo! Os loucos se desesperam, os sábios permanecem cultos e equilibrados.

Donato beija a testa de Heloísa, enquanto, Dinorah se aproxima e abraça a nora também.

Heloísa: Ai sogrinha! Te amo tanto!

Dona Irene: Agora, pronto! Os sogrinhos chegaram, já esqueceu que eu existo!

Heloísa: Nunca, Dona Irene! Nunca!

Dona Irene ri desconfiada e Dinorah puxa ela, ocasionando num abraço coletivo.

Cena 2. Hospital Central. Quarto. Noite. Int./Ext.

Reynaldo entra no quarto e se depara com Leonardo deitado, com os olhos abertos.

Leonardo: Quem deixou você entrar aqui? Não estou disposto à vê-lo.

Reynaldo: Até quando, você nutrirá esse ódio que sente por mim?

Leonardo: Infinitamente.

Reynaldo: E que motivos tem pra me convencer de que estou errado e que realmente, deves me odiar?

Leonardo: Não sei. Você me abandonou, só ligava para o seu trabalho, sem sequer me dar carinho.

Reynaldo: É isso? Lembre-se que tive que trabalhar muito para sustentar-te, dar-te a melhor roupa, os melhores brinquedos, fazer seus desejos e devaneios de vez em quando. Não que eu esteja passando na tua cara que eu fiz tudo isso por você, mas estou lembrando que se não pude oferecer o amor que você merece, não foi por não querer, foi por não poder. Errar é humano, permanecer no erro é loucura e eu estou tentando corrigir esse erro.

Leonardo: Agora já é tarde, não há como reverter essa situação, eu te odeio e jamais conseguirá o meu perdão.

Reynaldo: Enquanto há vida, há esperança e apesar de você não acreditar, eu te amo muito e sofro muito pelo seu desprezo para comigo, por isso, esperarei o tempo que for necessário para obter o teu perdão.

Leonardo: Sinceramente, não vejo motivos para odiar você após toda essa explicação. Mas, dentro de mim, ainda há cicatrizes que não serão curadas facilmente.

Reynaldo: Então, deixe eu tentar curar essas cicatrizes e mostrar pra você que eu não sou um ser tão mal quanto pareço e demonstrar o ar humanizado que ainda há em mim.

Leonardo: Talvez.

Reynaldo: Isso não é uma resposta.

Leonardo: Contente-se com isso, pois, não há certeza alguma em minha boca. Apenas, digo que estamos indo bem, se continuar assim, poderei até nutrir amor por ti.

Reynaldo: Ok, então. Posso te dar um abraço?

Leonardo: Sim.

Reynaldo se aproxima de Leonardo e abraça-o, lágrimas caem de seus olhos e ambas molham o rosto de Leonardo que começa à demonstrar amor pelo pai, até que, o médico entra no quarto e se depara com a cena.

Médico: Perdoe-me pela insolência mas, preciso anunciar algo importante.

Reynaldo se esquiva.

Médico: O paciente receberá alta ao amanhecer.

Reynaldo: ótima notícia.

Médico: Com licença.

O médico sai e Reynaldo esbanja um leve sorriso para o filho, que se alegra intensamente.

Cena 3. Casa de Reynaldo. Sala de Estar. Manhã. Ext./Int.

Reynaldo e Leonardo descem do carro, ambos seguem em direção à porta, ao abrir, ambos se deparam com toda a família reunida.

Todos (Gritando): Surpresa!

Leonardo: Nossa! Eu não merecia isso! Obrigado, gente!

Donato abraça o neto.

Donato: Merece sim!

As pessoas circulavam pela sala, ambos conversavam intensamente, até que, alguém bate na porta, deixando todos apreensivos.

Heloísa: Ai meu Deus! Mais visitas desnecessárias não!

Reynaldo: Relaxa, amor!

Reynaldo se aproxima da porta, abre-a e se depara com uma bela jovem, de aproximadamente 18 anos, trajada com um vestido azulado de renda e calçada num salto alto preto.

Reynaldo: O que desejas?

Jovem: Eu quero falar com Leonardo! Ele está?

Leonardo se aproxima da porta e arregala os olhos ao se deparar com a bela moça.

Leonardo: Danielle?

Reynaldo: Bem, eu vou deixar vocês à sós.

Reynaldo se afasta.

Danielle: Então, Leonardo! Eu vou ser bem direta contigo! Estou grávida! E o filho é seu!

Leonardo se cala, Danielle se desespera, porém, em um grito estridente, seu olhar arregalado se comprime e olha friamente para Leonardo que sorria escrachadamente.

Leonardo (Gritando/ Entusiasmado): Eu vou ser pai! Eu vou ser pai!

As pessoas se alegram com a notícia e Danielle abraça Leonardo.

Reynaldo: Agora com essa notícia esplêndida, pedirei algo fora do normal, peço para que meu pai e meu filho tirem uma foto comigo, desejo guardar de recordação, essa linda memória.

Heloísa: E a ditadura difundiu! Não haverá mais guerra, nem massacres, nem sangue pelas ruas, agora, teremos um pouco de paz.

Reynaldo: Esse motivo consagra esse momento como o melhor dia da minha vida, meu filho teve alta do hospital, minha família tá reunida, eu vou ser vovô e a ditadura, enfim, difundiu. Uma fotografia é preciso para marcar de vez as nossas recordações.

Heloísa pega uma câmera e posiciona sobre Reynaldo, Leonardo e Donato, a fotografia é tirada. A cena se congela e uma voz em off anuncia algo.

Donato: A relação entre pais e filhos jamais varia, sempre haverá conflitos entre si, porém, o amor é a base e o perdão sempre se sobressairá. É bom falar de amor mas, falar de ódio, guerra e dores também é interessante para a formação de um caráter. Os jovens estão se conformando com o governo precário em que vivem e as injustiças se tornaram o centro de nossas vidas, a intensidade dos fatos nos julgam e nos acomodamos como nossos pais, que já foram jovens e fizeram o mesmo. A vida é atemporal, pode ser vivida eternamente na parede das memórias, por isso, viva intensamente para que os quadros da vida, não se tornem tristonhos e sim alegres, pelo fato de teres feito tudo o que poderes e concluir, para que um dia seu filho possa seguir seu exemplo e dizer que fez tudo, vivendo como um dia seu pai vivera, afirmando o pensamento do compositor Belchior: Ainda somos os mesmos e vivemos, como nossos pais.

A narração se encerra e “Como Nossos Pais´´ de Belchior, interpretado brilhantemente por Elis Regina, se esvai pelo ar, enquanto, inúmeras fotos de cenas marcantes aparecem na tela, sendo sucumbido por um enorme letreiro com algumas letras intitulando ser o fim.

Fim…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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