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Três Jogadas

Três Jogadas – Capítulo 31

Três Jogadas.

Capítulo 31.

“Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes.”

Carlos Drummond de Andrade

Cena 1. Rio de Janeiro – Leme / Apt. Da Clarice / Noite

Júlia entra com Clarice. As duas chegam rindo, conversando. Clarice ajudando Júlia, que anda com dificuldade. Na sala estão Jordan, Leandro, Kiara, Alice, Luigi, Paloma e Igor reunidos, a espera de Clarice. As duas chegam na sala e se espantam.

Clarice não entende: Eu posso saber o que está acontecendo aqui?

Alice se levanta, sorrindo: Que bom que você chegou amiga. Estava conversando com os meninos sobre o nosso passado e só faltava você para a festa começar. Então… Podemos?

Clarice furiosa: Não podemos. Você vai sair da minha casa agora. Você não é bem vinda aqui!

Alice indignada: Você está pensando em expulsar sua amiga da sua casa? Que feio! Eu esperava menos de você.

Clarice a pega pelo braço: Eu não estou pensando. Eu vou fazer!

Alice se solta: Você contou o que eu tanto temia para o Luigi. O que custa contar o seu? Quando é com os outros é mais fácil? Mas… Fica tranquila. Eu trouxe até o Jordan pra te ajudar. Lembra dele? Impossível esquecer. Afinal, vocês tem uma FILHA juntos.

Júlia sem entender: Filha?!

Kiara gela.

Clarice desesperada: Isso é invenção dela. Não acreditem nela!

Alice ri: Vai usar a mesma desculpa que eu, Clarice? Não dá né! Seja mais criativa da próxima vez.

Leandro se levanta: Estamos esperando Clarice. O que de tão tenebroso você fez? E não inventa desculpas. Eu já sei que você é a ex-noiva do Jordan, que tinha uma irmã gêmea com o nome de Luana, nome esse que é da identidade que eu recebi e pra completar descobri que vocês dois tem uma filha juntos. Mais o que falta para a gente saber?

Clarice larga a bolsa: Mais nada. É tudo invenção dessa mulher.

Jordan se levanta: Clarice eu tenho o direito de saber onde está minha filha. Você se passou pela Luana. Me viu sofrer ao acreditar que você tinha morrido. Eu não vou aguentar sofrer de novo e novamente por um sofrimento causado por você. FALA LOGO.

Kiara intervém: Ela já disse que não tem nada! Não tem nada. O show já acabou. Estamos todos cansados. Acho que já deu gente.

Alice a olha: Que bom que você resolveu falar. Estamos tudo em família agora. Só falta agora a Kiara dizer que não é mãe biológica da Paloma e que a Paloma na verdade é a filha do Jordan e da Clarice, que ela rejeitou para fugir do homem que lhe desprezou.

Paloma perplexa: O quê?! Que história é essa?! Do que essa louca está falando, mãe?

Kiara puxa Paloma: Não dá ideia. É uma louca mesmo. Vamos. Esse ambiente não é saudável pra gente.

Clarice: Kiara! – a mulher se vira. – Fica. Não quer todo mundo saber o que realmente aconteceu há 30 anos? Pois então. Eu estou disposta a contar.

Cena 2. Rio de Janeiro – Gávea / Salão de Festa de Luxo Topázio / Noite

Eliane pega sua bolsa de festa e sai do salão. O salão vazio. Enquanto ela anda é possível ouvir o barulho causado pelo salto de seu sapato. Ela sai da portaria e tira seus sapatos. Ela coloca segura eles e caminha pela calçada. A mulher chega até a pracinha, que está bem movimentada e vai até o parque. Ela vê uma criança brincando e decide se aproximar.

Eliane sorrindo: Que linda sua filha. Tem quantos anos?

Mulher pega a menina no colo: Dois anos. – ela olha bem para Eliane. – Eu estou te conhecendo de algum lugar. Você não é dona daquela revista famosa de moda?

Eliane ri: Ainda me resta o reconhecimento. – ela estica a mão. – Sou eu sim. Eliane! Será que eu posso pegar sua filha?

Mulher sorrindo: Claro! – ela entrega a menina. – Você também tem filhos?

Eliane abraça a menina: Não! Quer dizer, eu acabei de perder a minha filha.

Mulher se compadece: Nossa! Meus pêsames. A dor da perda é uma das mais cruéis. Principalmente de um filho. Eu lamento muito.

Eliane acaricia o rosto da garotinha: Nem todas. – ela beija o rosto da menina e devolve a mãe. – Tem dores que são compreensíveis. E dores que servem de alívio.

Mulher sorri: Dores que servem de alívio?

Eliane se senta no muro do parquinho: Sim. Eu acabei de perder meu marido.

Mulher ri: E isso é um alívio pra você?

Eliane arruma o cabelo: Garanto que essa perda te serviria como alívio: eu descobri que era traída. Que todo tempo de casamento não passava de uma farsa. Que todo aquele conto de fadas que eu vivi era uma ilusão do amor que eu mesmo criei, no meu subpensamento, tentando acreditar que alguma vai ser pra sempre.

Mulher se senta no muro também: O amor dos filhos é incomparável. São fiéis.

Eliane desvia o olhar da mulher: Tem a ingratidão que destrói esse amor fiel e incomparável. Sempre vai ter alguma coisa para impedir de sermos felizes. E quando parecermos felizes, acordaremos da ilusão com uma pancada, que vai fazer a gente cair na real e vê o quão somos mesquinhos e que não adianta ter dinheiro, sucesso, fama, status se não tiver o mais importante: felicidade. Eu vivi tanto tempo presa num amor ilusionista que hoje me pergunto se vale a pena acreditar nas novas possibilidades e nos novos desafios que a vida propõe a cada amanhecer.

Mulher segura à mão de Eliane: Pensa que amanhã é um novo dia, com novas oportunidades. E segue essa lógica: ontem foi ilusão. Aproveitar cada segundo da vida e buscar sempre a felicidade é uma dádiva. Você é tão linda. Sofrimento nenhum merece causar esse tamanho estrago em você. Ergue a cabeça e vá fazer aquilo que te faz feliz. Ainda que seja difícil, não desista. – ela sorri. – Eu sou péssima com conselhos. Nem sei se o que eu te disse vai te ajudar. Só fica bem. A vida vai sempre nos surpreender com novos rumos. Não vale a pena se perder em nenhum deles. É só curtir!

Eliane olha para a mulher e sorri, que por sua vez, retribuí o sorriso.

Cena 3. Rio de Janeiro – Laranjeiras / Hospital Santo André / Noite

No quarto de Stênio…

Gustavo furioso: Você tentou matar meu irmão, desgraçada!

Ele a empurra e vai para perto de Stênio.

Sheyla sorri: Só estava tentando ajudar. O Stênio não merece sofrer tanto. Desliga os aparelhos. Vai poupar o homem de sofrer.

Gustavo a olha, furioso: Meu irmão merece descansar sim. Mas é pra que nunca mais tenha que olhar nessa sua cara. Sempre desconfiei desse seu lado e uma pena eu só ter percebido agora.

Sheyla o encarando: Sempre desconfiou e nunca fez nada? Conta outra, Gustavo. Você sempre foi fraco que nem o Stênio. Sempre viveu escondido atrás das suas decepções amorosas e achou que estava enganando alguém. Comigo você cola. Não vem bancar o santo comigo.

Gustavo furioso: Eu não sei do que você está falando. Sai daqui antes que eu chame os seguranças e falo que você tentou matar o meu irmão. Só assim você sai daqui direto pra cadeia, onde é o seu lugar.

Sheyla gargalha: Eu não presa sabe por quê? Porque gente rica não vai presa. E eu agora estou rica, baby. RICA!

Gustavo a segura pelos braços: Rica não sei como. Sempre dependeu do meu irmão pra tudo. Nunca trabalhou pra se sustentar.

Sheyla ri: Como você é idiota. Acabo de perceber que isso é familiar. O babaca do teu irmão vai fazer um testamento passando tudo pra mim. E eu vou te colocar fora daquela casa. Tudo o que é dele vai ser meu! Tudo!

Gustavo a joga na poltrona: Desgraçada! Eu não vou deixar você tocar em nada do meu irmão. Você não passa de uma vagabunda. Se aproveitou da situação delicada do meu irmão para começar a mostrar as garras.

Sheyla zombando: Ui, delicada. – ela se levanta. – Vê se cresce e vira macho!

Gustavo a cospe: CALA A BOCA! – ele se exalta. Gustavo a segura. – Sai daqui antes que eu chame os seguranças.

Sheyla se solta: Eu sei o caminho de casa. – ela limpa o rosto. – Isso não vai ficar barato. Toma cuidado! O mundo dá voltas e eu adoro isso.

Sheyla bate a porta forte. Gustavo se aproxima de Stênio, preocupado.

Cena 4. Rio de Janeiro – Leme / Apt. Da Clarice / Noite

Kiara volta: Clarice, não faz isso. Não entra no jogo dessa maluca.

Alice sorri: Maluca não. – ela olha para Clarice. – Vai amiga. Conta para todo mundo, inclusive para a Paloma que ela é tua filha. Estamos esperando.

Paloma se enfurece: CALA A BOCA! EU NÃO SOU FILHA DA CLARICE.

Alice se levanta: CLARO QUE É! FILHA DA CLARICE COM O JORDAN. VOCÊ FOI ENGANADA ESSE TEMPO TODO GAROTINHA MIMADA.

Paloma dá um tapa na cara de Alice: ISSO É MENTIRA SUA IDIOTA!

Alice vai revidar o tapa. Clarice entra na frente.

Clarice furiosa: Você não vai tocar um dedo na minha FILHA!

Paloma chorando: PARA DE ME CHAMAR DE FILHA. EU NÃO SOU SUA FILHA!

Clarice solta o braço de Alice: É MINHA FILHA SIM! – ela tenta tocar em Paloma, que se afasta. – É minha filha sim. – Kiara começa a chorar. – Eu te dei para a Kiara recém-nascida. Você tinha dias.

Igor perplexo: Meu Deus. Esse tormento parece que não acaba.

Paloma cai no chão chorando: Eu não sou sua filha!

Clarice se ajoelha: Eu era muito jovem. E eu fiz isso em nome do amor.

Paloma empurra Clarice: Amor?! Que amor é esse? Que tipo de amor você sente que só sabe falar, mas é impossível de colocar em prática?

Clarice chorando: Eu era noiva do Jordan. Minha mãe era muito religiosa e me detestava. Eu era a ovelha negra da família. A Kiara morava no exterior, estava estudando lá, tinha ganhado uma bolsa. E eu tinha outra irmã, a Luana. Minha gêmea. Enquanto eu era noiva do Jordan ela era noiva do Ítalo, um jovem doce e calmo, o oposto do meu. Eu apanhava constantemente desse desgraçado, o culpado disso tudo. A família dele também era religiosa e muito fechada: sexo só depois do casamento. Não aguentávamos mais esperar e fomos parar na cama, em uma noite eu engravidei. Minha mãe não reagiu nada bem.

FLASHBACK / ALGUNS ANOS ATRÁS.

Yolanda segura Clarice pelos cabelos: QUANTAS VEZES EU TE FALEI PRA ESPERAR ATÉ DEPOIS DO CASAMENTO. ESSA CRIANÇA NÃO É BEM VINDA AQUI! – ela joga Clarice longe. – Estamos pobres. Falidas. A família do Jordan jamais vai te aceitar grávida. Você não vai acabar com a nossa chance de enriquecer. Você vai tirar essa criança. Nem que você tenha que morrer pra isso. Eu nunca gostei de você. Sua irmã consegue te substituir.

FIM DO FLASHBACK

Clarice chorando: Minha mãe e o Jordan se uniram para tentar tirar meu filho. Com a Luana tudo foi diferente. Ela descobriu a gravidez na mesma época, poucos dias depois e tínhamos o mesmo mês de gestação. Minha mãe idolatrava a Luana e o filho. Quando completamos 5 meses, marcamos nossa ultrassom juntas e uma única coisa separava essa gravidez: eu estava grávida de uma menina e a Luana, de um menino. Jordan sempre foi radical e eu apanhei por estar grávida de uma menina, que ele tanto rejeitou. Eu não aguentava mais sofrer. Até que eu tomei uma decisão.

FLASHBACK / ALGUNS ANOS ATRÁS.

Clarice e Luana dentro do carro. As duas param em uma rua deserta. Clarice para o carro abre a porta e joga Luana no chão. Ela arranca com o carro, dá meia volta, acende o farol no máximo e arranca. Luana cai no chão, morta. A outra troca os documentos, deixa o carro ali mesmo e vai embora correndo.

FIM DO FLASHBACK

Clarice: E como tínhamos bebês diferentes, eu precisava dá um jeito de fugir do país. Eu então menti dizendo que no exterior meu filho teria uma vida melhor e parti, para a casa da Kiara, terminando o falso noivado com o Ítalo. Pouco tempo depois eu recebi a notícia que minha mãe havia falecido. Eu passei mal e fui parar no hospital e dei a luz a você Paloma. Só que eu tinha medo de reencontrar o Jordan e o ítalo e eles saberem de tudo, já que a Luana na verdade estava grávida de um menino. Foi quando eu dei você para a Kiara e pedi que ela te batizasse com Paloma e que nunca, nunca se afastasse de mim. Eu fui capaz de te manter viva sempre em mim e sempre tive o amor por você. Por favor, me entende!

Clarice tenta abraçar Paloma.

Paloma a empurra: Sai daqui! – ela enxuga as lágrimas. – EU TENHO NOJO DE VOCÊ E DE VOCÊ – ela diz, apontando para Clarice e Kiara. – VOCÊS ME ENGANARAM ESSE TEMPO TODO E CONSEGUIRAM DESTRUIR A MINHA FELICIDADE. EU ODEIO VOCÊS! ODEIO!

Paloma sai correndo. Clarice sofre. Igor vai atrás da jovem.

Júlia fica em silêncio. Perplexa com tudo o que está acontecendo.

Leandro se levanta: Esse tempo todo eu deixei você falar e não esbocei nenhum sentimento de compaixão e nem tenho razão para isso. Você matou a irmã para ter uma filha. Sem pensar nos sentimentos dos outros que ficaram que iria sofrer com a sua falsa morte. Você é cruel. Que amor é esse que você diz ter pela gente?! Você não ama ninguém a não ser a si mesmo. Egoísta! Eu quero você fora da minha casa. Esse apartamento – ele bate no peito. – é meu! E você não é bem vinda aqui. Sai daqui imediatamente!

Clarice se desespera. Júlia se levanta perplexa. Alice se sente vitoriosa pela primeira vez e sorri.

Clarice desesperada: Não! Não faz isso comigo. Eu te imploro Leandro. Por favor.

Leandro perplexo: Eu não vou acobertar uma assassina dentro da minha própria casa. Você não é digna! Arrume suas coisas e saia já daqui. Imediatamente! Eu não pretendo ter que repetir isso.

Júlia se aproxima do pai: Pai, não acha que está tomando medidas precipitadas? Isso é só um tormento. Logo passa e tudo volta como era antes.

Leandro furioso: Eu não vou conseguir olhar para ela de outro jeito. Ela vai sair já daqui!

Clarice se ajoelha e agarra os pés de Leandro, chorando: LEANDRO NÃO! POR FAVOR. EU TE IMPLORO. NÃO FAZ ISSO COMIGO.

Leandro lhe chuta: Pode chorar. Implorar. Minha decisão já está tomada. Eu quero você longe da minha família. Sua assassina!

Clarice se levanta aos poucos, humilhada. Ela e Alice se enfrentam, ambas com olhares mortais, furiosas. Clarice sai apressada, cabisbaixa, completamente humilhada. Júlia segue a mãe.

No quarto de Paloma…

A jovem entra e bate a porta, nervosa. Igor entra logo em seguida.

Paloma se joga na cama: SAI DAQUI!

Igor fecha a porta, calmo: Fazer isso não vai adiantar em nada. – Paloma levanta o rosto e vira. Igor estende as mãos. – Levanta, vai. Eu sei que tudo o que ouvimos foi terrível e a mentira possa ter te magoado, mas chorar e ficar brava não vai adiantar.

Paloma se senta: Pelo menos o choro alivia a minha dor. Eu não estou brava pela Clarice ter matado alguém. Eu estou brava por ela ter mentido pra mim! – ela enxuga as lágrimas. – Me enganaram esse tempo todo com histórias de que meu pai havia morrido.

Igor senta na cama: Eu sei que a mentira dói. Ela magoa. Só que você precisa se mostrar forte. Eu sei que não vai ser fácil. Mas pelo menos tenta.

Paloma chorando: Me deixa sozinha, por favor. Deixa eu pensar sobre tudo isso que está acontecendo. Eu preciso desse momento pra ficar sozinha.

Igor se levanta: Tudo bem. Não vou ficar mais aqui. Vou deixar você sozinha. Como quer. – ele tenta beijar Paloma, mas a jovem vira o rosto. Ele percebe e vai em direção à porta. – Fica bem. – sorri e sai.

No corredor…

Júlia encontra Igor.

Júlia ainda em choque: Paloma como está? Ela ficou péssima.

Igor entristecido: Nada bem. Tentei conversar, mas ela pediu para ficar sozinha. Disse que está magoada por todos esses anos de mentira.

Júlia: Eu posso imaginar. Essa casa se transformou num inferno. Nosso pai expulsou a mãe de casa. Eu vou tentar conversar com ela.

Igor sorri: Boa sorte.

Júlia abraça o irmão e sai.

No quarto do Leandro e da Clarice…

Clarice pega a mala em cima do guarda roupa. Ela vai jogando as roupas dentro da mala e chora. Júlia bate na porta.

Clarice enxugando as lágrimas: Entra!

Júlia entra e fecha a porta: Eu fiquei o tempo todo em silêncio e me pronunciei para pedir que o pai mudasse de ideia. Mas isso foi um ato de pena, piedade! O que você fez foi terrível e causou dor em muita gente. Acho que a gente precisa ter uma conversa.

Clarice vira-se: Não temos nada para conversar. Tudo ficou tão claro. Todos contra mim. Eu perdi!

Júlia sorri: O seu mal é achar que sempre estamos vivendo um jogo. Em momento algum eu falei que estou contra a você. Mesmo sendo contra o que você fez. Você sabe muito bem o que fez e eu não preciso ficar te lembrando, até porque você conhece essa história muito melhor do que eu. Eu sou preciso de uma resposta: por que você fez isso?

Clarice sorri: Quando essa barriga começar a crescer e você começar a sentir o seu bebê mexendo, você vai entender o que eu fiz. Talvez não da maneira, mas sim dos motivos. Eu estava louca por aquela criança. Não queria tirar. Sempre fui humilhada pela minha mãe, largada de mão. Isso tudo foi juntando e virou um amontoado de ódio que gerou toda essa confusão que você já sabe.

Júlia se aproxima: Ainda assim é difícil te entender. Mas eu não vou te julgar. E muito menos te deixar de lado. Eu sei que nunca tivemos a aproximação que você ou eu queríamos. Sempre tivemos essa relação conturbada, regada à discussão, mas eu você é minha mãe. Eu não posso te deixar sozinha. – elas se abraçam.

Clarice chorando: Quem diria que a pessoa mais longe, seria a que iria me apoiar. Eu te amo tanto, filha! Perdoe-me por não conseguir ser a mãe que você sempre quis.

Júlia sorri: Eu te amo do jeito que você é! Eu te amo tanto!

Clarice enxuga as lágrimas: Me ajuda a arrumar as malas. Já magoei gente por tempo demais. E eu não sei nem para onde ir. Não sei o que vai ser da minha vida.

Alice entra na hora: Mas eu sei! – ela sorri e tira uma chave do bolso. – Eu sabia que você teria esse trágico fim. Resolvi adiantar sua vida e estou te dando uma casa para morar. Não acostuma, não é todo dia que temos uma inimiga assim.

Clarice furiosa: Sai daqui! Você arruinou a minha vida. Sua maldita! Eu não quero nada que vem de você.

Alice guarda a chave: Então mora na rua. Aliás, eu vou continuar te ajudando. Levarei pão velho sempre que puder!

Clarice agarra Alice: Desgraçada. Eu vou te matar!

Júlia separa as duas: Para as duas! Já chega essa confusão toda. – ela olha para Clarice e logo olha para Alice. – Ela aceita, Alice. Ela aceita essa casa. Onde é que fica? É aqui perto?

Alice entrega a chave: É um pouco! Na favela! – ela sorri. – Lá é sua nova moradia. FAVELADA!

Clarice e Alice se encaram. Clarice com ódio, querendo matar Alice. Enquanto Júlia separa Clarice.

No dia seguinte…

Cena 5. Rio de Janeiro – Copacabana / Apt. da Célia / Dia

A campainha de Célia toca. A mulher corre para atender.

Célia abre a porta: Gisele! – ela se surpreende. – Entre. Achei que não iria me procurar. Nossa união ainda está valendo. Ou não?

Gisele sorri: Claro que sim. Eu não vou sossegar enquanto não fazer o que tanto quero: me vingar.

Célia ri: Senta. – ela aponta para o sofá. – Aceita alguma coisa? Um café, um suco, uma água?

Gisele: Um café.

Célia pega na bandeja: Fiquei te esperando. Achei que não fosse me procurar.

Gisele coloca a bolsa no sofá: Impossível eu sossegar. Precisava de um tempo para reorganizar minha vida. Tanta coisa acontecendo.

Célia lhe entrega o café: E a vaca da Alice. Vai bem de saúde?

Gisele bebendo o café: Aquela dali tem uma saúde de ferro. Nunca vi igual. Mas eu sei bem o que mexe com ela. É só esperar o momento certo.

Célia bebendo o café: Não vejo a hora de colocar essa mulher atrás das grades. Mas fica difícil. O crime do passado já prescreveu. Vai ser minha palavra contra a palavra da sócia de uma das maiores revistas de moda do país. Eu preciso arrumar um jeito para colocar essa mulher na cadeia. Não vou sossegar enquanto não vê ela lá, pagando por todos os seus crimes.

Gisele coloca a xícara na mesinha: É só você me ajudar. Eu já procurei de todas as formas encontrar alguma prova de que foi a Alice que matou meu filho. Nunca vou perdoar ela por isso.

Célia estranha: Acho que não estamos falando da mesma pessoa. A Alice nunca se envolveu com nenhum outro homem além do Enrico.

Gisele se levanta: Como não? Foi por culpa dela que meu filho se matou. Ela seduziu meu filho. Conquistadora barata. Ele se matou por culpa dela. O meu Ricardo. Meu Hernani! E eu vou vingar a morte dele.

Célia gela: Você era a mãe do modelo Ricardo Hernani?! – Gisele confirma. Célia se levanta. – Seu filho não teve nunca nenhum envolvimento com a Alice. Nisso, ela é inocente.

Paralelo à cena…

Kiara dorme. O telefone da mulher tocando. Na chamada, escrito “William”.

Gisele perplexa (voz em off): Como é que é?! Se não foi com ela que meu filho se envolveu, com quem foi?!

Foca em Kiara enquanto dorme.

Cena 6. Rio de Janeiro – Leme / Apt. do Stênio / Dia

Sheyla dorme de bruços. A mulher desperta e vira para o outro lado. A mulher se desespera e grita, dando u

m pulo da cama. Ela se assusta com Gustavo, que está sentado na poltrona, lhe observando.

Sheyla se enrola no lençol: O que você está fazendo no meu quarto? Sai daqui!

Gustavo sorri: Calma. Não vou fazer nada com você. – ele a olha de cima a embaixo. – Não quero sujar minhas mãos.

Sheyla furiosa: E está fazendo o quê no meu quarto? Me espionando?

Gustavo se levanta: Eu vim fazer uma coisa que já devia ter feito antes. Mas me faltava coragem.

Sheyla ri: Qual é a novidade até agora?

Gustavo com raiva: A novidade é que quem agora dita às regras sou eu.  E eu odeio desordem. Então vou começar colocando ordem e suas coisas nos seus devidos lugares.

Sheyla confusa, trêmula: Eu não sei do que você está falando. SAI DAQUI!

Gustavo a segura: QUEM VAI SAIR DAQUI É VOCÊ! – ele a joga longe, no chão. – Eu quero você fora dessa casa o mais rápido possível. Se possível, agora!

Sheyla se levanta, arrumando o lençol: Você está louco. Eu não vou sair dessa casa.

Gustavo furioso: Ah vai! Nem que eu tenha que jogar suas coisas na rua. Você sai daqui por bem ou por mal. Você escolhe!

Sheyla gargalha: Eu não saio daqui nem por bem e muito menos por mal. Eu não vou sair dessa casa, sabe por quê? Porque ela vai ser minha! E quem vai sair dessa casa é você. Quando o Stênio colocar tudo aqui – ela bate nas mãos – eu vou te enxotar daqui. E nunca mais terei o desprazer de ter que olhar para a sua cara.

Gustavo corre e segura Sheyla pelo pescoço. Ele a impressiona na parede e a mulher vai ficando sem fôlego, tentando estapear Gustavo, sem forças.

Gustavo furioso: Eu vou te matar! Desgraçada!

Ele não cria coragem de apertar ainda mais o pescoço de Sheyla e a larga. A mulher cai no chão, tossindo.

Gustavo enfurecido: Você me paga!

Sheyla caída no chão, sem ar: Nem para matar alguém você serve. Imbecil!

Gustavo sai apressado. Sheyla continua ali, tossindo.

Cena 7. Rio de Janeiro – Vidigal / Sobrado da Gisele Sobrado de Clarice/ Dia

Clarice chega a sua nova casa, acompanhada de Alice, que está radiante com tudo o que está acontecendo. Clarice tira as malas do carro, humilhada, aos prantos. As duas entram.

Alice sorri: Você perdeu Clarice!

Clarice vira-se: Isso aqui ainda não acabou. É só o começo. Vai ter volta.

Alice: Pra que continuar com essa ideia de querer me arrastar com você? Você precisa se convencer que eu sempre vou ganhar. Você não tem cacife pra me enfrentar.

Clarice humilhada: Eu não vou deixar você passar essa rasteira em mim e ficar parada, sem atacar. Eu te avisei que não sabia perder. Eu vou transformar sua vida num inferno.

Alice sorri: Eu venho aqui na melhor das intenções te ajudar. Te dei uma casa e você me trata desse jeito? Que feio! Mal agradecida!

Clarice enfurecida: Você já tinha preparado tudo isso, né? Que golpe baixo.

Alice se exalta: Golpe baixo foi o que você fez comigo! Roubando todo o meu dinheiro. Me fez mendigar na rua. Mas eu prometi me reerguer e me vingar. E eu consegui!

Clarice furiosa: Mas você teve o dinheiro de volta! Eu entreguei o dinheiro de volta para a tal Sônia. Fui honesta! Não usei um centavo. Peguei o dinheiro para proteger o que era de direito do MEU SOBRINHO.

Alice ri: MEU SOBRINHO. MEU! Enche a boca para chamar de sobrinho e não pensou nele quando fez essa barbaridade. Eu não vou nem perder meu tempo precioso discutindo com você. Boa sorte nessa sua nova vida e na sua nova casa. Amiga! – ela sorri e sai.

Clarice se senta humilhada: Eu ainda te mato. Desgraçada.

 Cena 8. Rio de Janeiro – Leme / Lanchonete / Dia

Gustavo está sentado. Amanda chega apressada e senta-se à mesa.

Amanda coloca a bolsa na mesa: Vim assim que me ligou. O que aconteceu?

Gustavo nervoso: Tanta coisa. Eu vi a Sheyla tentando matar o meu irmão, Amanda. A desgraçada fez o meu irmão fazer um testamento, passando tudo para o seu nome e agora está armando o bote para atacar.

Amanda perplexa: Meu Deus, que monstro. E por que você me ligou sem ar, com a voz trêmula, dizendo que tinha feito uma loucura? O que você fez?

Gustavo: Eu tentei matar a Sheyla. A gente teve uma discussão e eu saí do sério. Essa mulher tira a minha paz.

Amanda surpresa: Gustavo! O que foi que te deu? Você não era assim quando eu te conheci. Era tão calmo.

Gustavo cabisbaixo: Eu não sei o que está acontecendo comigo. É tanta coisa. Primeiro essa divisão de amores, depois a doença do meu irmão, aí a gravidez da Stacy e agora essa maluca da Sheyla querendo matar meu irmão. – ele segura as mãos de Amanda. – Eu preciso tanto de você.

Amanda tira as mãos: Não complica as coisas, Gustavo.

Gustavo ergue a cabeça: Você que está complicando Amanda. Eu posso assumir esse filho da Stacy. Eu sou responsável. Mas eu não quero nada com ela. Entende que é você que eu amo!

Amanda: Se esse fosse o único problema. Eu não quero me meter mais na relação de vocês duas. Vocês agora tem um elo que vai unir vocês pra sempre. E não é só isso. Ela te ama Gustavo. E eu não quero ser a responsável por te afastar do seu filho. E muito menos ser a responsável por te afastar de uma pessoal que verdadeiramente te ama.

Gustavo entristecido: E você não me ama de verdade? – Amanda fica em silêncio. Gustavo se entristece ainda mais. – Não precisa responder. O silêncio já valeu como resposta.

Gustavo vai se levantar e Amanda lhe puxa.

Amanda triste: Não é isso. Eu gosto de você. Gosto de ficar perto de você. Você me faz bem. Sua presença me acalma. Mas eu tenho medo de te machucar. Tenta me entender!

Gustavo chorando: É difícil. – ele se levanta. – Talvez um dia que entenda esse seu jeito maluco de amar. Eu só quero que você saiba que eu vou te amar para sempre. E nunca vou deixar de amar.

Gustavo sai apressado. Amanda chora entristecida.

Na rua…

Gustavo anda desolado, chorando. O jovem começa a lembrar dos momentos com Amanda. Dos dois na faculdade, lanchando no pátio e chora ainda mais.

Cena 9. Rio de Janeiro – Lagoa / Apt. da Alice / Dia

No quarto de Luíza…

Gisele entra apressada. Luíza deitada olha para a mulher.

Luíza se levanta: Existe porta pra quê? Custava ter batido antes de entrar?

Gisele se senta: Você não sabe o que eu descobri. Eu fui até a casa da Célia, a mulher que eu disse lá na festa conhecer de algum lugar. Então eu/ – ela é interrompida.

Luíza se ajeita na cama: Antes de você começar. Comece contando de onde conhece essa mulher.

Gisele se levanta, abre a porta e verifica que não tem ninguém ouvindo. Ela tranca a porta e se senta na cama novamente.

Gisele coloca a mão na perna da filha: Como eu confio em você, vou te contar. Agora vê se fica de bico calado! Essa mulher é a maior rival da Alice no passado. Ela que desbancou a Alice no desfile. As duas já se odiavam desde que a Célia, que na época se chamava Aurora, descobriu que a Alice tinha um caso com o marido dela. Mas isso não importa. O que importa é o que eu descobri.

Luíza perplexa: Que história mais nojenta. – ela faz cara de nojo. – Agora conta o que você descobriu.

Gisele: Eu fui ao apartamento dessa mulher. E ela me contou que a Alice nunca teve nenhum envolvimento com outro homem, além do Enrico. Ou seja, não foi por causa da Alice que o Hernani se matou.

Luíza se levanta: Como não?! Você jurou ter certeza disso. Tanto que fez essas loucuras para vingar a morte do meu irmão.

Gisele se levanta também: Mas eu estava enganada. A gente precisar achar alguma coisa que nos leve até essa mulher que matou nosso menino.

Luíza: Aquela mala com os pertences do Hernani. Dentro dessa mala tem um baú pequeno, que ele nunca deixou ninguém mexer. É só pegar algum martelo e quebrar o cadeado. Se ele nunca deixou ninguém mexer, alguma coisa tem.

Gisele sorri: Ótima ideia. Vai lá e pega o martelo eu vou tirar a mala de cima do guarda-roupa.

Corte descontínuo.

Gisele e Luíza abrem a mala juntas. Essa levanta poeira e as duas tossem. Elas pegam o pequeno baú e Luíza quebra o cadeado.

Gisele mexendo nos papéis acha uma carta: Aqui! – ela abre a carta. – De: Ricardo Hernani; Para: Aurora. – Gisele se senta na cama, perplexa. – A vagabunda me enganou. Ela que matou meu filho.

Luíza acha outra carta: Olha essa daqui. – ela abre a carta. – De: Ricardo Hernani; Para: Kiara. – ela entrega a carta para Gisele. – Uma dessas das mulheres se envolveu com o Hernani.

Gisele furiosa: A desgraçada se fazendo de amiga e é a culpada pela morte do meu menino. Luíza, você tem uma nova missão.

Luíza sem paciência: Ai de novo isso? Estou fora!

Gisele se levanta: Você vai matar essa Célia. E deixa que com a Kiara eu me entendo muito bem.

Luíza perplexa: Matar?!

Fim do Capítulo 31!

Gabriel Adams

O que é necessário para Ser Humano? Quais são as atitudes que devemos tomar em situações difíceis sem que possamos ferir ou machucar alguém? Será que Ser Humano é ser cruel? Ou é errar, acertar, errar tentando acertar...Afinal, o que é ser humano? Dia 23 de fevereiro, às 20hrs, estréia a web-novela SER HUMANO.

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Um comentário sobre “Três Jogadas – Capítulo 31

  • Só bafão master, e eu pensando que o capítulo anterior já tinha me deixado pasmo ao máximo!!
    Alice finalmente conseguiu o que tanto quis: se vingar de Clarice. Gente, nunca que passaria pela minha cabeça que Paloma seria filha da Clarice com o Jordan. E a reação do Leandro? Pensei que ele daria uma punição menos… dolorosa.
    Acho que é o fim do casal Paloma e Igor, e essa revelação explica o porquê de Kiara ser TOTALMENTE contra o namoro deles.
    Sheyla está doidinha para ter o dinheiro de Stênio em suas mãos, mas se eu fosse ela tomava cuidado, pois o Gustavo está possuído com o que ela vem fazendo.
    Pela primeira vez na vida irei apoiar o romance de Amanda e Gustavo… aos poucos eles estão me convencendo, porém, só não quero ver a Stacy sofrendo com essa história toda.
    Que bom que a Júlia não abandonou a Clarice, que agora está desolada e morando na favela (Alice está em êxtase com isso).
    Eliane foi muito bem aconselhada, resta agora que coloque os conselhos em pratica.
    Gisele ficou estupefata em saber que não foi a Alice quem induziu o filho dela a se matar (assim como eu). Gente, estou quase certo de que foi a Kiara, mas só saberemos nos próximos capítulos!! E Luíza entra em ação mais uma vez, que legal.

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