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Maçã do Amor

Terceiro Capítulo – Maçã do Amor

Capítulo 03

 

Cena 01/ Lanchonete Pague & Coma. Cozinha. Dia.

Éden devolve o celular para Adão desanimado:

 

Adão (curioso) – E aí? O que ela falou?

Éden (frustrado) – Nada.

Adão – Nada?! Como nada?

Éden – A ligação deu na caixa postal. Quem sabe você tente uma outra hora?

 

Pega sua bandeja novamente:

 

Éden – Vamos? Temos muito trabalho ainda.

 

Cena 02/ Mansão de Papis. Sala de Estar. Dia.

Papis, Mamis e Canadense entram na casa apressados:

 

Papis – (…) Ligue para a corretora, marque horário com a construtora, agende uma visita na promotoria de eventos, instale alarmes novos por toda a mansão, e por precaução, chame o FBI para vigiar a nossa casa. – falava enquanto subia as escadas, e Canadense tentava anotar todas as suas exigências.

Canadense – Mas, meu senhor, você não irá ficar apenas alguns dias fora de sua casa? Será mesmo necessário todos esses serviços?

Papis (ofendido) – Por acaso está querendo insinuar da minha pessoa?

Canadense – Jamais, senhor! Mas é que a sua conta não está falida? – com essa palavra, Mamis desmaia mais uma vez, caindo sobre o sofá – Então, o bom não seria começar à economizar deis de já?

Papis – Lembre-se: Tudo o que eu falo, é uma ordem!

Canadense – Entendido, senhor.

 

Suíte do casal.

Papis terminava de guardar algumas peças de roupas dentro da mala, Mamis entra no quarto, dirigindo-se ao seu encontro:

 

Mamis – Quer mesmo deixar esse litoral lindérrimo para partir naquela selva poluída de pedras? – pergunta, se sentando na cama, ao lado da mala.

Papis- Esposa, eu sou um homem de negócios. Preciso estar flexível para qualquer tipo de situação. Além do mais, não visitamos nossa filhinha deis das férias do ano passado. Seria bom para ela se estivéssemos lá neste momento.

Mamis – Eva já é moça crescida e sabida. Com certeza, consegue se cuidar sozinha lá na cidade grande.

Papis – Esse é o problema, esposa. Se vendermos o nosso apartamento, ela virará uma sem teto. E imagine se isso vai parar em alguma página de jornal? “A filha do futuro prefeito de São Paulo é uma moradora de rua” Minha imagem e credibilidade irá ir para a lama.

Mamis (pensativa) – É. Você está certo.

 

Alguém bate na porta. Canadense entra no quarto logo em seguida:

 

Canadense – Tudo já está pronto, senhor. Podemos ir?

Mamis (preguiçosamente) – Vamos de carro?

Canadense – Sim, senhora Mamis.

Mamis (para Papis) – Cadê o nosso jatinho particular, marido?

Canadense – O salário do piloto do vosso jatinho não foi pago esse mês também. Daí, ele se demitiu.

Mamis – E, por acaso, você não saberia pilotar um avião?

Canadense – Não, senhora Mamis. Apenas carro.

Mamis (revoltada) – Mas que absurdo! Nos dias de hoje, ninguém presta para nada – resmunga, enquanto saia do quarto.

 

Canadense pega as bagagens:

Canadense – Vamos, senhor Papis? – pergunta, ao ver que ele continuava lá no quarto, pensativo.

Papis – Vamos o mais rápido possível! – responde, saindo do quarto também.

 

Canadense em passos curtos e com a bagagem em mãos, se vira, se esforçando para conseguir fechar a porta. Sem sucesso. Desistindo, e solitário pela casa, grita:

 

Canadense – Alguém me ajuda aqui? – sem respostas.

 

Revira os olhos, puxando a maçaneta da porta com a boca, até que finalmente, se fechou.

 

Cena 03/ Lanchonete Pague & Coma. Salão, refeitório. Dia.

Griselda entra no estabelecimento se achando, rebolando, balançando os cabelos (efeito visual, deixando a cena um pouco lenta, com ventilação para realçar os movimentos de seus cabelos, pessoas e clientes lhe admiravam de boca aberta, efeito sonoro sensual de fundo).

 

Griselda (para todos) – Cheguei, amados, para a alegria de vocês! – gritou, assim que abriu as portas da lanchonete.

 

Voz masculina (off) – Tá divando, hein!

Voz masculina (off) – Olha ela! Pintou o cabelinho.

Voz masculina (off) – Passa o whats?

 

No refeitório havia dois trabalhadores se alimentando, outros de fundo, Geralda no caixa.

Ao passar pela mesa dos trabalhadores, logo começa a receber elogios e cantadas:

 

Trabalhador 1 (com uma coxa de frango nas mãos) – Ô lá em casa, hein, minha rainha?

Trabalhador 2 – Se comer com os olhos fosse possível, tu já teria três filhos e mais dois dentro da barriga.

Griselda – Amado, aproveita então que olhar é de graça. Por que, está vendo tudo isso aqui? – deu uma voltinha em sua frente – Não é pro teu bico não! – diz, dando uns tapinhas de leve em seu rosto, sinal de provocação. Caminha em direção ao caixa em seguida.

 

Os trabalhadores ficaram olhando para a sua bunda explicitamente assim que saiu.

Griselda se escora no balcão ao chega no caixa:

 

Griselda – Olá, mãezinha linda do coração!

Geralda (desinteressada) – Quanto quer, peste?

Griselda (fingindo estar ofendida) – Mamãe! Como podes pensar uma coisa dessas sobre mim?

Geralda – Cê fala isso como se eu não te conhecesse deis de pequena, não é, pirralha?

Griselda – Nem imaginei, Geraldinha. Eu só queria saber se tem como me arranjar uma graninha, tipo assim, uns duzentos contos, pra eu poder ir com as minhas amigas no show do Wesley Safadão?

Geralda – Duzentos? – repete, lhe olhando de cima à baixo – Só isso? Que milagre aconteceu?

Griselda – Claro que se, por acaso, sentir em colaborar com mais a vossa filha que vos fala, aceitarei de todo o coração.

Geralda – Pois bem, se quer ganhar a sua grana, faça por merecer.

Griselda – Por merecer?

Geralda – Tá vendo aquilo ali? – e aponta para o banheiro masculino – Está precisando de uma lavadinha, sabe?

Griselda – Mas eu acabei de sair do salão, poxa. Não tem um outro jeito não?

Geralda – Que ele esteja limpo em meia hora, entendido? – se retira para fora do estabelecimento, com uma caneta de cigarro nas mãos.

Griselda – Que saco! – murmura, indo até o almoxarifado, retirando de lá os seus instrumentos de trabalho.

 

Banheiro Masculino.

“Fechado para Limpeza” comunicava a placa ao qual Griselda pendurou antes de entrar.

Com um rodo e um balde de água com sabão nas mãos, caminhou lentamente até o vaso sanitário presente no centro do local.

 

Griselda – AH, NÃO!!! –berra, com nojo e entristecida ao encontrar a tampa do vaso abaixada e moscas a rodeá-la.

 

Como se aquilo fosse uma bomba, agachou-se e, se aproximando lentamente, estende sua mão, levantando a tampa com medo:

 

Griselda (off) – Aahhhhhh!!!!… – gritou histérica assim que visualiza o que esperava por ela lá dentro.

 

Cena 04/ Salão de Beleza. Dia.

 Efeito sonoro, triste. Iluminação: baixa.

Naja e Eva estavam sentadas, tristes, sozinhas nos bancos do canto do salão:

 

Naja – O que vai ser da gente agora, amiga? Para onde vamos ir?

Eva (enxugando suas lágrimas) – Eu não sei, bicha. Só espero não parar de baixo de uma ponte.

 

As duas ficam um tempo em silêncio, até Naja se levantar determinada, indo em direção a sua bolsa, pegando o celular lá de dentro:

 

Eva – Bicha, o que você vai fazer?

Naja – Irei ligar para o meu ‘bofe-advogado’. Quem sabe não existe uma solução?

Eva (se animando e se levantando também) – É! Quem sabe?

 

Naja começa a mexer em seu aparelho celular, até que comenta espontaneamente:

 

Naja – Estranho …

Eva (interessada) – Estranho o quê, bicha?

Naja – Tem uma ligação perdida aqui no meu celular.

Eva – Tem? De quem que é, hum?

Naja – Não sei. O número é desconhecido.

Eva – Liga de volta para descobrir então.

Naja – Não dá. Os meus créditos estão acabando, amiga. Ligarei uma outra hora.

Eva – E se for um boy novo? Vai perder?

 

Naja fica pensativa por alguns instantes:

 

Naja – Você tem razão. É melhor ligar mesmo.

Eva – É assim que se fala, bicha! – e Naja aperta em “Retornar Chamada”, aguardando ser atendida.

 

Cena 05/ Lanchonete Pague & Coma. Refeitório. Dia.

Adão e Éden estavam sentados em uma das mesas do salão, bebendo cerveja e comendo alguns quitutes. Griselda saiu do banheiro se arrastando no chão:

 

Griselda – Socorro … não consigo respirar …

Adão (olhando para o chão, onde ela estava) – Olha ela!

Éden – Quem é vivo sempre aparece, né? – zombam, coisa que sempre faziam em suas horas vagas.

 

Griselda ao vê-los, se levanta de imediato, espalmando a sujeira de sua camisa, ajeitando o cabelo:

 

Griselda – O que os dois pamonhas estão fazendo aí sentados? Não tem nenhum trabalho pra fazer, uma louça para limpar?

Adão (desafiador) – E o que a madame fazia no banheiro masculino, podemos saber, hein?

 

Griselda respira fundo, abafando explicações de tal assunto.

 

Griselda – Se os dois não levantarem essas bundinhas murchas, mas gostosinhas, agora terei que chamar a minha mãe para demiti-los!

Adão (não se incomodando) – Lindinha, pode chamar.

Éden –Estamos em horário de almoço, Griselda. – explica.

Adão – Agora, aproveita que você está aí de pé, e pega outra cervejinha pra gente?

Griselda – Nem morta! – cruzando os braços.

 

Dona Geralda retorna para dentro do estabelecimento com um papel nas mãos:

 

Adão (em voz alta) – Olá, patroa! – grita, enquanto ela ia até a mesa em que eles estavam.

Geralda – Tomem. – e entrega o papel para eles.

Adão (curioso) – O que é isso?

Geralda – É a lista de compras que vocês terão de fazer lá na feira para reabastecer o estoque de alimentos da lanchonete.

Adão (se engasgando com o copo de cerveja) – Espera aí! Eu ouvi bem? Você disse: Nós?

Geralda – Sim!

Adão – Mas por que nós? Por que não a sua filhinha Griselda?

 

Nesse exato momento, o Trabalhador 2 se levanta da mesa em que estava, correndo em direção ao banheiro, desesperado com as mãos em volta do ventre. Após assistirem isso, ambos se olham:

 

Geralda – Pelo jeito, quem ficar, já terá outro trabalho pra fazer. – comenta, irônica.

Griselda (revoltada) – Droga! Eu acabei de limpar lá! – fica irritada, imaginando qual era o motivo para ter ido tão apressado ao banheiro. – Por que desta vez não pode ser eles para limpar aquela bosta, literalmente?

 

E quando olham para a mesa aonde os rapazes estavam, percebem que os dois já estavam distantes dali. Geralda apenas lhe lança um olhar, se retirando em seguida.

Pouco tempo depois, o Trabalhador 2 saiu do banheiro, com uma feição aliviada:

 

Trabalhador 2 – Bem melhor agora … – comenta, se sentando novamente na mesa.

Trabalhador 1 (para Griselda) – Moça? Traz mais feijoada pra nós?

 

Griselda (dramática) – O que eu fiz para merecer isso?

 

Os trabalhadores se olham confusos.

 

Cena 06/ Fachada da lanchonete. Rua. Dia.

Adão e Éden saiam do estabelecimento ligeiramente:

 

Adão (enquanto andavam pela calçada) – Você tá com a lista aí, né?

Éden – Estou sim.

Adão – Até que foi bom aquela velha rabugenta ter dado essa tarefa pra gente. Já faz um tempão que não como pastel mesmo.

Éden – Mas a feira fica lá longe. Você não tem dinheiro para pagar o ônibus não?

Adão – Verdade, sua anta! Esquecemos de pegar o dinheiro com a velha! – se recorda, parando no caminho.

Éden – É verdade! Vamos voltar então?

Adão – Até parece! Se você quiser limpar banheiro pode ir.

Éden – Como vamos pagar as compras então?

Adão (pegando algo do bolso) – Silêncio!

Éden – O que foi? – pergunta curioso, vendo o amigo com o celular em mãos.

Adão (entusiasmado) – É ela!

Éden – Ela quem, meu filho?

Adão – A moça de ontem da balada. Ela está me ligando!

 

Continua …

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