Sombras do Passado – Capítulo 30 (Último Capítulo)
Capítulo 30: 3…2…1…Fim!
” Um dos segredos da vida é fazer degraus com as pedras em que tropeçamos”.
– Quando acha que ela acordará? _ uma voz perguntou.
– Não sei. _ outra voz respondeu.
Inconsciência.
– Volta pra mim, Alicia. _ uma voz pediu. _ volta pra mim.
Inconsciência.
– Eu não quis te dizer antes, mas eu amo você. Por favor, acorde. _ a voz disse.
Inconsciência.
– E se ela não resistir? Você está pronto para deixa-la ir? _ uma voz perguntou.
Queria tanto ouvir a resposta daquela pergunta, mas caí na inconsciência novamente.
– Oi, Princesa. _ ouvi a voz dizer novamente.
Tentei abrir meus olhos. Queria acordar, levantar, conversar com quem tanto conversava ao eu lado. Esforçava-me para abrir os olhos, mas eles não me obedeciam. Ouço uma cadeira se arrastar e alguém sentar ao meu lado. Consigo abrir um pouco meus olhos, piscando algumas vezes. Minha visão estava embaçada e a luz machucou meus olhos. Pisquei mais algumas vezes.
– Alicia. Você acordou. _ Pedro disse se debruçando em cima de mim. _ Princesa, você acordou. _ ele disse sem acreditar.
– Pedro. _ eu disse com a voz muito rouca.
– Sim, princesa. _ ele disse passando a mão em meu rosto. _ não posso acreditar. Você voltou.
– Água. _ eu pedi.
Estava sentindo uma sede terrível.
– Claro! Vou pegar para você. _ ele disse saindo.
Percebi que estava em meu quarto na casa de Roger.
Pouco tempo depois Pedro voltou, entrando no quarto juntamente com Pamela, Roger e Marcos. Pedro andou até mim, colocando o copo d’água em cima da penteadeira. Os outros três não paravam de repetir que não acreditavam. Eles sorriam e beijavam meu rosto. Eu sorri também. Tentei me levantar. Meu corpo estava dolorido e pesado. Eu não fazia ideia de quanto tempo eu havia ficado inconsciente. Pedro me ajudou a me sentar.
– O que aconteceu? _ eu perguntei.
– Alexia enterrou uma adaga envenenada em seu coração. _ Roger disse.
– Nossa. Que sutil. _ Pamela disse com um olhar de reprovação para Roger. Roger deu de ombros.
As lembranças invadiram minha mente. Alexia, adaga, lua no céu, Pedro desesperado.
– Por quanto tempo eu fiquei inconsciente? _ eu perguntei.
– Três meses. _ Marcos respondeu.
– O que? _ me assustei.
– Fizemos de tudo para trazer você de volta, mas você nunca acordava. Como você está se sentindo? _ Marcos disse.
Todos estavam ao meu redor, sentados na cama, segurando minhas mãos, acariciando meus braços.
– Estou com muita sede. _ eu disse.
Pedro colocou o copo d’água em minha boca e eu tomei toda a água.
– Como eu sobrevivi sem tubos, sem médicos? _ eu perguntei.
– Magia. Tivemos que chamar uma feiticeira muito experiente. Na verdade nós chamamos vários feiticeiros para te trazer de volta. _ Marcos disse.
– É tão bom ter você de volta. _ Pamela disse me abraçando muito forte.
Meu corpo estava dolorido, mas eu consegui retribuir o abraço, meio desajeitada e sem força.
– É realmente muito bom mesmo. _ Roger disse me abraçando.
– Eu te amo, filha. Estou tão feliz por ter voltado para nós. _ Marcos disse com os olhos marejados me abraçando também.
– Vamos deixar você se recuperar mais um pouco e daqui a pouquinho eu volto com uma sopa bem gostosa para você. _ Pâmela disse.
Em seguida todos saíram do quarto, restando apenas Pedro e eu.
– O que aconteceu naquela noite? Vocês conseguiram impedir Alexia? _ eu perguntei.
– Sim. _ Pedro respondeu.
Eu esperei que ele continuasse, mas ele não o fez.
– Não vai me contar o que aconteceu? _ eu levantei as sobrancelhas.
– Não gosto de lembrar aquela noite. Mas quem matou Alexia fui eu. Lutei contra ela e a matei. Foi isso. _ ele disse se sentando na beirada da minha cama.
Decidi não falar mais sobre aquela noite, não por enquanto.
– Enquanto eu estava inconsciente, às vezes eu ouvia vozes de pessoas conversando perto de mim. _ eu disse.
Ele olhou para mim.
– É mesmo? _ ele perguntou.
Eu assenti.
– Sim. Ouvi alguém dizer que me amava e queria que eu voltasse. _ eu disse.
– Deve ter sido seu pai. Ele tinha certeza que você acordaria e passava muito tempo ao seu lado. _ ele disse.
– Eu sei que não era eu pai. _ eu disse.
– Sabe? _ ele perguntou.
– Sei. Não minta para mim, Pedro. _ eu disse.
– O quer que eu diga? _ ele perguntou.
– A verdade. Era você, não era? Você disse que me ama. _ eu disse.
– Você quer a verdade? _ ele perguntou.
– Quero. _ eu respondi.
– Quando eu vi você caída no chão com uma adaga enfiada no peito, meu coração quase parou. Eu corri até você, e você me disse a palavra veneno, então eu enlouqueci. Fui até Roger e o fiz ir ajudar você, enquanto isso eu peguei a espada e fui atrás de Alexia. Nós lutamos, ela quebrou meu braço, mas eu consegui acertar sua barriga com a espada e depois cortar sua cabeça. Roger trouxe você para casa, e nós ficamos lá arrumando a bagunça. A única coisa que Roger conseguiu foi retardar o efeito do veneno e tirar a adaga de seu peito. Então começou nossa busca por feiticeiros muito poderosos. Eu passei a maior parte do tempo ao seu lado, sentado nessa cadeira, segurando sua mão, conversando com você. Quase te perder me fez ver o quanto eu gosto de você, Alicia. _ ele disse com os olhos nos meus.
Eu estava surpresa. Havia exigido a verdade, mas não estava preparada para tanta sinceridade.
– Sabe que somos sangue puro. Essas histórias nunca acabam bem. _ eu disse.
– Não ligo para o que os outros dizem. Eu quero fazer dar certo, mas você também precisa querer. _ ele disse.
Claro que eu gostava dele. Claro que eu queria tentar. Mas eu tinha acabado de acordar de um coma, então achei melhor ir com calma e pedir um tempo para pensar. Claro que esse tempo foi cerca de uma hora. O mesmo tempo que eu levei para conseguir me levantar, tomar um banho e tomar uma sopa em meu quarto, com todos me olhando como se eu fosse uma TV. Pedro conversou com meu pai e pediu minha mão em namoro. Eu achava aquilo totalmente desnecessário, mas Pedro insistiu em fazer isso. Todos nós concordávamos que não seria fácil. Um anjo e um demônio, juntos? Era absurdo. Mas a gente se gostava, então valia o risco. Depois de tudo o que passamos, acho que eu merecia ser feliz.
Pedro e eu demos nosso primeiro beijo no jardim da casa de Roger. Estávamos sentados debaixo de uma arvore. Pedro passou os dedos pelo meu rosto e afastou minhas mexas azul para detrás das orelhas. Ele encostou seus lábios nos meus e me beijou. Foi um beijo tão calmo, cheio de amor e carinho. Era quase um presente.
Pedro vivia me dizendo o quanto gostava de mim, e do meu cabelo azul, e dos meus olhos. A cada dia que se passava eu conseguia gostar ainda mais dele.
Mas você deve estar se perguntando. O que aconteceu com o resto do pessoal?
Daiana foi embora. Quando Karina a matou e ela voltou do reino dos mortos, ela havia simplesmente pintado o cabelo e colocado lentes de contato verdes e se passou por uma prima distante da falecida Daiana. Uma ótima saída para quem teria que explicar uma ressurreição. Depois da batalha com Alexia terminar, ela pintou o cabelo novamente, trocou suas lentes, mudou o nome e se mudou para outro país. Ela havia ido embora antes mesmo de eu acordar do coma.
Rodrigo continuava morto. Daiana conseguiu dar um jeito de ele nunca mais reencarnar, não se sabe como.
Karina foi para um tipo de casa de apoio para mestiços no submundo. Ela entrou como alguém que precisava de ajuda e depois se tornou uma das instrutoras do local.
Roger, Pamela, Marcos, Pedro e eu continuávamos morando na mesma casa. Pedro e eu nos dedicamos a estudar o máximo sobre feitiços e nossa própria história.
Alexia estava morta, mas antes de morrer conseguiu assassinar muitos dos guardiões e eles forram quase extintos. Além de ter matado Luna e Meia-Noite pelo simples fato de eles terem a estranhado.
No mundo humano, meus amigos e eu éramos procurados pelo FBI. Fomos considerados extremamente perigosos, acusados de assassinato. Depois de muito tempo, Angel City retornou ao seu ritmo e as pessoas pararam de ter tanto medo de que nós roubássemos suas criancinhas para comer no jantar. Ninguém nunca nos encontraria. Estávamos em outro mundo.
Havia o céu, o mundo humano, o submundo e o inferno. As pessoas do mundo humano não sabiam nem que esses outros mundos realmente existiam.
Agora está tudo bem, tudo normal. Mas estamos sempre atentos. Interferimos nos planos de satã quando matamos e impedimos Alexia. Não acho que ele esteja feliz com isso. Temos suspeitas de que ele sentirá a necessidade de uma retaliação. Mas enquanto isso não acontece, nós estamos nos preparando e, nas horas vagas, vivendo a vida intensamente. Eu e meu amor vamos ficar juntos até o fim. Só por que sou um demônio não significa que eu deva ser má, e só por que não sou má não significa que eu não saiba me defender. Vou defender minha família, e se precisar tentarei salvar o mundo novamente.
Por que entre o bem e o mal, eu escolho o amor. O amor por tudo e por todos.
Fim.