Sombras do Passado – Capítulo 27
Capítulo 27: Erros e impulsos!
” Molduras boas não salvam quadros ruins”.
Entrei no escritório de Roger e fechei a porta. O escritório de Roger não era muito grande. Havia uma mesa média no centro, uma estante de livros na parede esquerda e uma prateleira de vidro contendo vários frascos na parede direita. Roger estava sentado atrás da mesa e Marcos em um das duas cadeiras que estava sempre á frente da mesa.
– Oi, Alicia. _ Roger sorriu e veio até meu encontro para me abraçar. Assim que ele me soltou, Marcos me deu um longo e apertado abraço.
– O que aconteceu, filha? _ ele perguntou com o rosto encostado em meus cabelos. _ você está suja de sangue. Está ferida? _ ele disse me olhando atentamente.
– Eu fiz tudo errado, pai. _ eu disse enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. _ Desculpe-me. _ então as lágrimas rolaram.
Ele me apertou ainda mais. Aquela havia sido a primeira vez que eu havia o chamado de pai. Acho que por que foi naquela hora que eu percebi que ele era a única família que me restara e eu tinha medo de perde-lo também. Então por que priva-lo da alegria de ser chamado de pai?
– Sentem-se. Assim poderemos conversar melhor. _ Roger disse.
Sentei-me na cadeira vazia que Roger havia indicado. Eu estava me sentindo em um tribunal, onde eu era o réu e o universo inteiro era a vítima. Eu parecia ser um furacão que havia passado por Angel City e bagunçado tudo.
– Alicia, nos conte o que aconteceu. Por que sua mãe não veio com você? _ Marcos perguntou.
Eu funguei uma vez e limpei as lágrimas antes de responder. Marcos segurou minha mão e eu comecei a contar. Contei tudo detalhadamente. A morte da minha mãe, Pedro explodindo a casa e eu matando Rodrigo. É claro que eu levei uma bronca de Marcos e Roger. Não foi certo eu ter matado Rodrigo. Não agora. Não na porta da casa de alguém. Eu admito que agi por impulso e estava pensando somente em minha vingança particular, mas se eu pudesse voltar no tempo eu faria exatamente da mesma forma. Roger e Marcos já estavam conseguindo retomar ao controle quando eu contei a parte em que nós quatro fugimos da policia, então eles se alteraram novamente. Eles me disseram que eu havia posto em risco o segredo da nossa existência.
Eu aceitei todas as broncas em silêncio e respondia apenas o que me era perguntado. Depois de toda aquela explosão, eu tive que chegar na parte mais difícil, eu teria que contar que havia trazido meus amigos para nossa casa. Pensei que iriam me bater, mas eles não reagiram tão mal.
– Trouxe eles para nossa casa? _ Roger perguntou.
– Sim. Me desculpe. Mas foi a única solução que eu encontrei. Eles não poderiam ficar lá, além disso, eles me ajudaram e acreditaram em mim. _ eu disse.
– Acha que eles podem nos ajudar em relação a Alexia? _ Roger perguntou.
– Não tenho certeza. Pedro quer me ajudar, Karina parece estar em dúvida depois de me ver matando Rodrigo, e Daiana está em choque também por causa de Rodrigo. Não sei se podemos confiar nossas vidas a eles. _ eu disse.
– E mesmo assim os trouxe para cá. _ Marcos disse em reprovação.
– Me desculpe. _ eu disse abaixando a cabeça.
Marcos suspirou.
– Tudo bem. Vamos nos concentrar no que faremos a partir de agora. _ Roger disse.
– Eles podem ficar? Acha que é seguro? _ eu perguntei para Marcos.
Marcos e Roger se entreolharam. Roger assentiu.
– Tudo bem. Eles podem ficar. Mas ficaremos de olho, e nosso foco agora é impedir Alexia. _ Marcos disse olhando para mim.
– Tudo bem. _ eu disse. _ Me desculpe, pai. _ eu disse com tristeza.
– Vai ficar tudo bem, filha. Mas, por favor, não faça isso novamente. Não haja por impulso. Você deveria ter voltado para casa assim que percebeu o que havia acontecido com sua mãe. Você confiou em um anjo que sempre quis matar você. Foi muito arriscado. Tome mais cuidado, Alicia. Eu confiei uma missão á você. Deveria ter seguido o plano. _ ele disse.
Eu abaixei a cabeça.
– Mas agora isso já não importa mais. Vamos nos concentrar no agora. _ Marcos completou.
– Vou arrumar quartos para nossos hóspedes. _ Roger disse se levantando. _ desça e coma alguma coisa. _ ele beijou minha testa e saiu do escritório.
– Não sei se conseguirei comer algo nos próximos cinquenta anos. _ eu disse colocando a cabeça entre as mãos.
– Foi um dia complicado. _ Marcos disse passando a mão em minhas costas.
– Nem me fale. Foram um milhão de coisas em um único dia. _ eu disse suspirando. _ vocês conseguiram falar com os guardiões?
– Sim. Foi difícil convence-los. Eles desconfiam até da própria sombra. Foi como um julgamento, mas no final deu tudo certo. Acho que eles vão nos ajudar, ou pelo menos não irão nos atrapalhar. _ Marcos disse.
– Que bom. Pelo menos uma parte do plano deu ceto. _ eu disse.
– Desculpe ter gritado com você. Fiz você se sentir ainda pior. Mas você foi tão inconsequente e isso poderia ter custado sua vida. Você ficou cara a cara com Alexia, matou o Rodrigo e fugiu da policia. Poderia ter acontecido o pior. _ ele disse.
– Está tudo bem. Eu sei que não pensei direito na hora, e as coisas foram virando uma bola de neve e quando eu vi já tinha trazido todo mundo para cá. Mas as coisas não pioraram tanto assim, certo? _ eu disse.
– Um pouco, filha. Mas nós somos fortes e vamos vencer essa guerra. _ ele disse me encorajando.
Eu dei um sorriso triste.
– Agora vamos descer e comer alguma coisa. Aproveite e converse com seus amigos. Coloque um pouco de medo neles, assim eles ficaram na linha e não tentaram fazer nenhuma gracinha. _ ele piscou para mim.
– Sim. Vou mostrar para eles o quanto nós somos assustadores. _ eu sorri, mas agora era um sorriso verdadeiro.
Eles estendeu sua mão para que eu a segurasse. Eu segurei e nós andamos para fora do escritório.
– Estou gostando de você me chamando de pai. _ Marcos disse sorrindo enquanto descíamos as escadas.
– Mesmo? _ eu perguntei sorrindo.
Ele assentiu.
– Eu também estou gostando. _ eu disse.
Terminamos de descer as escadas e andamos até a cozinha. Soltamos as mãos somente quando entramos na cozinha. Sentados á mesa estavam Karina, Daiana e Pâmela de um lado e Pedro sozinho do outro. Em cima da mesa havia uma bandeja com sanduíches. Assim que pisei na cozinha os olhos de Pedro encontraram com os meus. Andei até ele e me sentei na cadeira ao seu lado. Ele me olhava como se procurasse qualquer sinal de que estava tudo bem. Não sei como ele fazia isso. Ele não me dizia nada, mas eu sabia exatamente o que ele estava querendo saber. Dei um tímido sorriso para ele, para mostrar que estava tudo bem e ele pareceu relaxar. Daiana estava aérea, e Karina estava visivelmente desconfortável com o novo ambiente. Pedro ao meu lado, apesar de aparentar estar mais tranquilo, eu sabia que ele estava no mínimo inseguro por estar no território de um demônio. Eu não o culpo, nossa fama era terrível. Eramos uma família formada pelos mais temidos. O demônio braço direito de satã, o demônio da força e do poder, e a garota sangue puro que fazia parte de uma profecia. Não eramos o tipo de família que todo mundo queria passar o natal juntos. Mas status não define o caráter. Nem todo anjo é bonzinho e nem todo demônio é do mal. Temos livre arbítrio e podemos ser o que quisermos. Nosso sangue não justifica nossas ações. Somos demônios, mas estamos fazendo de tudo para salvar um monte de criaturas que nem conhecemos, mas são inocentes e alguém tem de defende-los. Onde estão os anjinhos para salvar o mundo numa hora dessas?
– Pessoal. _ eu chamei a atenção deles. _ esse aqui é meu pai. _ eu disse apontado para Marcos que estava se sentando ao meu lado.
– Meu nome é Marcos. _ ele disse.
– Daiana. _ Daiana disse se apresentando.
– E eu sou Karina. _ Karina disse.
– Pedro. _ Pedro disse ao meu lado.
– Nós conversamos e decidimos que vocês podem ficar o quanto quiserem. _ Marcos disse. _ mas eu espero que não quebrem a confiança que estamos depositando em vocês. Chega dessa história de não poder confiar em ninguém. Todos que estiverem nessa casa devem confiar uns nos outros. Entenderam?
– Podemos pensar? _ Daiana perguntou.
– Podem. _ Marcos respondeu. _ mas não demorem muito. Temos uma luta pela frente e ela não vai nos esperar a vida toda.
– Vocês vão nos aceitar? Karina e eu somos anjos. _ Pedro disse.
– Nós não nos preocupamos com o sangue de vocês, apenas com o caráter. Se vocês forem de confiança e estiverem dispostos a lutar, nós aceitaremos vocês. _ Marcos disse.
O silêncio predominou no ambiente. Ninguém disse mais nada. Estávamos todos pensando. Olhei para Pedro e ele olhou para mim. Senti vontade de pedir para ele ficar, mas não tinha coragem de dizer as palavras. Não sabia por que eu o queria por perto, mas a vontade de te-lo ao meu lado estava ali. Estávamos dando um passo importante naquele momento. Havia muito tempo em que o nosso principal lema era não confiar em ninguém, e agora meu pai estava nos forçando a jogar esse lema no lixo. Para se vencer uma luta você precisa ter aliados de confiança. Lutar contra o inimigo e contra os próprios aliados seria loucura. Era um passo muio importante e eu não sabia se estávamos preparados para da-lo. Mas eu sabia que era preciso. Precisávamos de aliados. E eu precisava de Pedro.