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Sombras do Passado

Sombras do Passado – Capítulo 18

Capítulo 18: Sentimentos

“Ninguém é tão bom a ponto de nunca sentir raiva ou sede de vingança”

Sentada na cama, Marcos, o homem que dizia ser meu pai retirava as faixas que envolviam meus braços, minhas pernas e minhas costelas. Assim que ele retirou a última camada de faixa deixando minha pele exposta eu não pude disfarçar meu espanto, depois de minha terrível experiência de quase morte  eu esperava que meu corpo estaria repleto de cicatrizes e totalmente dilacerado, mas isso não aconteceu. Claro que havia cicatrizes, várias delas pelo corpo todo, mas elas eram muito sutis, apenas marcas rosadas de mordidas, ainda estavam doloridas o que significava que elas ainda não estavam curadas completamente e futuramente seria ainda mais fácil que elas passassem despercebidas. Marcos havia percebido meu espanto.

– Como isso é possível? _ eu perguntei.

– É um feitiço. Um dia você também vai conseguir fazer! _ ele disse, enquanto juntava as faixas para jogar fora. _ Alicia, o que aconteceu exatamente com você e Rodrigo?

– Rodrigo me enfeitiçou para que eu me apaixonasse por ele! _ eu disse tentando conter minha raiva sobre o assunto.

– Disso eu já desconfiava. _ ele disse se sentando ao meu lado. _ não conseguia entender como da noite para o dia vocês simplesmente começaram a namorar, então comecei a pensar que talvez ele pudesse ter te enfeitiçado. Feitiços de amor são muito complicados para se desfazer, é preciso saber exatamente o que foi usado no feitiço para conseguir desfaze-lo. Mas o que aconteceu na sala dos tesouros?

– Rodrigo retirou o feitiço, me algemou ao chão e fugiu com Alexia. _ eu disse.

– Desgraçado. _ ele disse com raiva.

– Pois é! Alexia disse que iria se passar por mim. Existe alguma razão especifica para ela querer fazer isso? _ eu perguntei.

– Não tenho certeza. Vou conversar sobre isso com Roger mais tarde. _ ele disse.

– Como você sabia que eu estava correndo perigo? _ eu perguntei.

– Roger foi avisado que havia invasores no castelo e pela descrição dos invasores eu desconfiei que poderia ser você, apesar de achar que você jamais faria isso, eu quis ter a certeza e quando cheguei lá encontrei você sendo tacada pelos lobos do castelo.

– Eu só queria pegar o livro Sombras do Passado e tentar desvendar meu passado. Acha que o Roger poderá me perdoar? _ eu perguntei envergonhada.

– Isso você terá que perguntar para ele. _ ele disse se levantando e sorrindo para mim. _ vou buscar uma toalha e uma troca de roupa para você. _ ele saiu do quarto.

Poucos instantes depois ele retornou trazendo em suas mãos o que pareciam uma toalha e uma troca de roupa. Ele me indicou o banheiro em frente ao quarto onde estávamos e disse que a porta do lado esquerdo do banheiro era meu quarto, em seguida ele disse que iria resolver algumas coisas e que nos veríamos mais tarde. Antes de se virar e sair ele me disse para não me apavorar quando me olhasse no espelho, pois a poção que salvou minha vida tinha causado um pequeno efeito colateral. É claro que assim que ele disse para não me apavorar automaticamente eu me apavorei mesmo não estando vendo ainda do que se tratava. Quando entrei no banheiro e tranquei a porta, andei até o espelho que ficava logo acima da pia, quando vi meu reflexo entendi do que ele estava falando. Meus olhos sempre foram castanhos, agora estavam azuis quase roxos. Meu cabelo sempre foi negro e agora havia estava castanho com mexas azul extremante claras, ao solta-lo tinha o mesmo comprimento, porém eu havia ganhado uma franja na altura dos olhos. Confesso que eu havia pensado que os efeitos colaterais seriam um nariz torto, um pedaço faltando da boca, mas era apenas isso, meu cabelo e olhos estavam diferentes. Claro que eu não me importei, muito pior desesperei. Depois de toda a dor, medo, desespero e quase morte, o fato de eu estar viva já era maravilhoso, não iria me importar com cores. Tomei banho no enorme banheiro com um Box e um chuveiro maravilhoso.

Assim que saí do banheiro entrei no quarto que Marcos havia dito que era meu. O quarto era grande com uma cama de casal no meio, coberta por uma colcha vermelha, um guarda roupas de madeira na parede direita e uma penteadeira grande ao lado esquerdo da cama. Vesti-me, sequei meu cabelo e fiz uma maquiagem, me surpreendendo a cada segundo por encontrar tudo de que precisava em meu quarto. Marcos havia pensado em tudo. Quando terminei de me arrumar fiquei sentada em frente a penteadeira me olhando no espelho. Eu sobrevivi. Depois de ser traída e ser deixada para morrer, Marcos havia me salvado. Claro que isso não fazia com que eu confiasse nele ou o chamasse de pai, pelo menos não por enquanto. Sentir uma dor tão terrível que parece que nunca mais acabará faz com que você mude um pouco seus conceitos. Desejei que a poção que salvou minha vida também tivesse apagado todas as lembranças daquela noite em que eu vi a morte de perto, mas ela não o tinha feito. Tenho certeza de que anos se passaram e eu continuarei a estremecer quando me lembrar daquela noite. Não quero ser má. Eu fiz essa viajem justamente para provar que eu não era, mas devo confessar que a ideia de me vingar me parece bastante atraente.

A porta do meu quarto se abre atrás de mim, e uma figura feminina entra e meu quarto.

 

– Quer mais chá, querida? _ perguntou a mulher de mais ou menos trinta anos sentada ao meu lado.

Ela tinha cabelo curto na cor castanho claro, olhos verdes e a pele levemente bronzeada. Era cerca de cinco centímetros mais alta que eu.

Hoje mais cedo, essa mesma mulher entrou em meu quarto sem bater na porta. Eu levei um tremendo susto, mas ela se desculpou logo em seguida. Ela havia me dito que seu nome era Pamela, e que ela era a esposa de Roger, o dono da casa. Nós conversamos um pouquinho e ela me chamou para descer até a cozinha onde havia um café da manhã nos esperando. Agora, Pamela estava sentada ao meu lado, em uma mesa retangular de tamanho médio, me oferecendo mais chá.

– Sim. Muito obrigada! _ eu respondi.

Pamela me serviu.

A mesa do café da manhã estava repleta de coisas gostosas. Eu comi de tudo um pouco. Havia pães, bolos e rosquinhas recheadas.

Enquanto nós comíamos, Pamela conversa comigo sobre assuntos diversos. Como seu primeiro namorado e como ela foi enganada por ele( nada comparado ao que o Rodrigo e fez ), suas quase mortes e, sua primeira transformação em demônio. Ela era uma mestiça. Eu quase não dizia nada, às vezes eu soltava um “Sério”? “Nossa” ou “Jura”? E outras vezes apenas sorria. Tentei ao máximo evitar o assunto “ladra que tentou roubar se marido” e ela pareceu respeitar meu desejo.

Havíamos terminado de tomar café e estávamos apenas sentadas conversando quando Marcos, o meu suposto pai, entrou na cozinha.

– Bom dia, garotas. Vejo que já se conheceram. _ Marcos disse se sentando em uma das cadeiras em nossa frente.

– Já sim. Alicia é uma garota fantástica. _ Pamela sorriu para mim.

– Ela teve a quem puxar! _ ele deu um sorriso.

– Espero que não esteja falando de você, Marcos! Alicia é fantástica, você não! _ ela sorriu e se levantou.

– É assim que você me agradece por salvar sua vida mais de uma vez? _ ele disse fingindo magoa.

– Está bem Marcos. Se isso vai lhe fazer tão feliz, eu digo. Você é fantástico! _ ela revirou os olhos.

– Muito obrigado por confirmar o que eu já sabia. _ eles dois deram risada.

– Até mais tarde, minha querida. _ ela disse olhando para mim.

– Até mais tarde, Pamela! _ eu retribuí o sorriso.

Em seguida Pamela saiu da cozinha.

– Como você está? _ Marcos me perguntou.

– Eu estou bem! Estou preocupada com minha mãe. Não quero que Alexia a machuque._ eu disse.

– Eu também não quero. Eu vou tentar protege-la de alguma forma. _ ele me assegurou.

– Seu eu te pedisse uma coisa, você faria? _ eu perguntei.

– Claro. O que foi? _ ele disse.

– Preciso que você me treine. Quero ter força e poder para acabar com Rodrigo e Alexia! _ eu disse decidida.

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