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Sombras do Passado

Sombras do Passado – Capítulo 10

Capítulo 10: A Floresta!

“Caia sete vezes, mas levante-se oito”

Acordei de manhã, com o barulho do meu despertador. Como eu pude esquecer-me de ajustá-lo para que não despertasse? Levantei-me e o desliguei. Eram seis e vinte da manhã. Então, o que eu faria tão cedo? Deveria continuar deitada, ou, procurar algo para fazer?

A verdade, é que eu não conseguiria dormir novamente, minha cabeça estava em um turbilhão de pensamentos. Então, eu peguei minha toalha e, fui até o banheiro. Após tomar banho, eu retornei ao meu quarto e vesti um short jeans curto, uma regatinha branca e calcei minha rasteirinha. Fui até a penteadeira e comecei a pentear meu cabelo. Ao me olhar no espelho, pude ver o quanto eu estava diferente, não fisicamente, fisicamente eu era a mesma de sempre, com os mesmos olhos castanhos, o mesmo cabelo negro como a noite, a mesma pele clara e, ao sorrir, o mesmo sorriso levado de sempre. Mas por dentro eu me sentia diferente, me sentia mais forte, mais decidida, e mesmo com medo do que viria pela frente, eu me sentia preparada, mesmo que fosse apenas para fingir ser forte.

Levei mais alguns minutos para me arrumar. Assim que terminei, desci para a cozinha e resolvi preparar o café da manhã.

Preparei um belo café da manhã para mim e para minha mãe.

Sentei-me e tomei meu café da manhã, tentando ao máximo não pensar em algo desagradável que pudesse prejudicar meu apetite.

Ao terminar de comer eu resolvi dar um passeio com o Meia-Noite, mesmo não fazendo a menor ideia de onde ele estava.

Subi para o meu quarto e, calcei meu tênis. Parei por um instante, parecia que algo estava errado. Sentia que alguém estava me observando. Olhei para todos os lados mais não vi ninguém. Tentei ignorar essa sensação. Fui até minha penteadeira, peguei uma liga e, comecei a prender meu cabelo. Enquanto eu o prendia, olhando pelo reflexo do espelho, vi algo se mover por debaixo do cobertor em cima da minha cama. Virei-me e, observei o cobertor se movendo levemente. Aproximei-me lentamente, peguei uma das pontas do cobertor, respirei fundo e, puxei o cobertor de uma vez só.

Quando vi o que era, levei um tremendo susto. Havia um lobo enorme em cima da minha cama. Ele desceu da cama e, se sentou de frente para mim. Eu me afastei e ele permaneceu na mesma posição. Encarei-o e ele fez o mesmo, foi aí que eu percebi.

– Meia-Noite? _ eu disse incrédula.

Ele fungou e abaixou a cabeça, como se estivesse concordando. Eu me aproximei e fiz um carinho nele. Como o Meia-Noite cresceu tanto da noite para o dia? Isso é impossível.

Ele estava enorme, seu tamanho alcançava minha cintura e, eu tenho um e sessenta e quatro de altura. Ele estava muito lindo. Com dentes enormes, o pelo macio e negro, seus olhos estavam ainda mais encantadores.

– Vamos fazer um passeio pela floresta Meia-Noite? _ eu perguntei.

Ele se animou com a ideia.

– Você é bem espertinho né? Enquanto eu estava ocupada com o café da manhã, você estava aqui numa boa dormindo, né? Mas é muito cara de pau mesmo! _ dei uma risada. _ vamos!

Saí do quarto e o Meia-Noite veio logo atrás de mim. Por alguns instantes, eu estranhei o som das patas pesadas dele, batendo no chão da casa. Descemos as escadas e andamos até a porta dos fundos. Quando saímos, percebi que neste dia, o sol não iria brilhar como normalmente. Mas não dei importância. Estava precisando esfriar a cabeça e, acalmar meu coração.

A margem da floresta ficava nos fundos da minha casa. Havia uma trilha estreita, cortando a floresta. Resolvi seguir por aquele caminho.

Entrando na mata, senti um vento frio, normal nesse tipo de ambiente. As arvores balançavam-se levemente. Uma vez ou outra eu avistava algumas flores entre as samambaias. O Meia-Noite estava sempre atento, às vezes me observando, às vezes observando ao nosso redor.

O contato com a natureza estava me fazendo muito bem. Eu estava me sentindo viva. Até me deu vontade de correr. E quer saber? Essa é uma ótima ideia. Eu vou correr!

– Vamos correr Meia-Noite?

Comecei uma corridinha leve e, o Meia-Noite me acompanhou.

Fui acelerando o passo aos poucos, o Meia-Noite me acompanhava sem problema algum. Aquilo estava ficando cada vez mais divertido.

Naquela hora, eu desejei estar na forma de demônio. Imagine tudo que eu poderia fazer. Lembrei-me de como consegui voltar à forma humana naquela madrugada na mansão. Talvez pudesse dar certo para me transformar em demônio também. Tentei me concentrar no que eu queria. Senti meu sangue ferver em minhas veias e, uma explosão de sensações em meu corpo. Eu consegui. Transformei-me em demônio.

Acelerei mais ainda e, o Meia-Noite também.

 Às vezes nós encontrávamos obstáculos pelo caminho, como troncos de arvores, e nós simplesmente pulávamos, ou, usávamos as arvores como caminhos alternativos.

– Que tal uma disputa? Vamos ver quem chegará primeiro ao riacho? _ gritei para o Meia-Noite.

Ele olhou para mim e começou a disparar a minha frente. Acho que aquilo era um sim. Tratei logo de tentar recuperar o tempo perdido. Consegui alcançar o Meia-Noite, mas não conseguia de forma alguma ultrapassar ele. Toda vez que eu acelerava mais um pouco, ele também acelerava. Já dava para sentir o ar úmido do riacho. Estávamos chegando perto. Não é possível que eu não vá ganhar essa disputa. A ideia foi minha.

Tentei acelerar mais um pouco, mas não adiantou, eu e o Meia-Noite chegamos exatamente no mesmo instante e, quase caímos na água. Ainda bem que conseguimos parar a tempo.

Sentei-me em uma pedra na beira do riacho e, o Meia-Noite se sentou ao meu lado, na mesma pedra. Ficamos lá parados por um tempo. O Meia-Noite parecia apreciar tudo aquilo tanto quanto eu. O ar ali na floresta parecia mais puro, consequentemente me fazendo sentir-me mais pura também. Fechei os olhos, me transformei novamente em humana, e por um instante tenteei fingir que tudo era como antes, que eu era normal. Mas de repente o Meia-Noite começou a agir como se estivesse sentindo a presença de alguém. Eu me levantei e, o Meia-Noite se posicionou logo a minha frente, atento a cada movimento de cada galho de árvore.

Então surgiu dentre as árvores, a poucos metros de distancia de onde estávamos, um lobo branco enorme, mais ou menos do tamanho do Meia-Noite. O lobo rosnou para o Meia-Noite, que rosnou de volta. Eu levantei-me e também fiquei na defensiva. O lobo branco se aproximou de nós e, o Meia-Noite reagiu rosnando com tanta bravura que até eu me assustei.

– Luna! _ alguém gritou em meio às árvores.

O lobo branco, que pelo seu nome era na verdade uma fêmea reagiu ao chamado e parou de rosnar. O Meia-Noite continuou na defensiva. Logo, surgiu em meio às árvores, do mesmo lugar de onde havia surgido a loba, um rapaz alto, de pele branca. Seus olhos azuis brilhavam, seu cabelo castanho claro se movimentava levemente devido ao vento. Seu rosto poderia facilmente se encaixar na minha lista de “rostos perfeitos”. Era uma pena que eu já o conhecia tão bem, e já tinha total consciência de seu ódio por mim.

– O que a princesinha das trevas anda fazendo por aqui? _ ele perguntou enquanto andava até mim.

– Eu lhe faço a mesma pergunta, Pedro! _ eu disse.

Ficamos nos olhando por alguns segundos, como se fossemos atacar um ao  outro a qualquer momento. Então o Pedro deu um sorriso, que por sinal, foi encantador. Ainda estava um pouco irritante, mas só um pouco.

Resolvi responder primeiro.

– Eu estava precisando dar uma fugidinha com o Meia-Noite, aliviar o estresse _ eu disse meio sem jeito.

– Entendo. _ ele disse.

– E você? O que faz por aqui? _ eu o perguntei.

– Eu estava precisando passar mais tempo com a Luna! _ ele direcionou o olhar para a Luna, que o olhou e andou até ele. Pedro fez um carinho nela.

– Entendo. _ respondi imitando sua resposta.

– Espero que dê tudo certo, que vocês consigam pegar o livro. _ ele disse.

– Eu também espero. É importante para mim. _ eu disse.

– E se nós esquecermos um pouco essa loucura toda e nos divertíssemos um pouco? _ ele disse com um sorriso malicioso.

– Pensei que você não fosse com a minha cara. _ eu disse erguendo as sobrancelhas.

– Nós demos uma trégua, lembra-se? Na noite da mansão. _ ele disse.

– E o que você quer fazer? _ eu perguntei.

– O que você acha de uma disputa?  _ ele perguntou _ Vamos ver qual de nós chegará primeiro até sua casa?

– Você quer apostar uma corrida? _ eu perguntei.

– Sim. Qual é o problema? Está com medo de perder? _ ele me observou por um momento e, eu desviei o olhar. _ Ou será que você está com medo do seu namoradinho ficar com ciúmes?

– Por que você está falando dele? _ eu perguntei.

– Por nada. _ ele respondeu. _ então você aceita disputar ou não?

– Tudo bem. Eu aceito. _ respondi.

– Hum! Que bom que você criou coragem! _ ele sorriu. _ Gostei do seu lobo.

Olhei para o Meia-Noite que agora estava sentado ao meu lado.

– Obrigada! _ eu respondi. _ gostei da sua loba. Desde quando ela está com você?

– Já faz algum tempo! _ ele disse.

– Que estranho! _ eu disse.

– Que foi? _ ele perguntou com curiosidade.

– Eu conheço você a tantos anos, mas não sei quase nada sobre você. Você sempre pareceu não gostar de mim, e agora parece que quer se aproximar de mim! _ eu disse.

– Eu só estou cansado de fugir! _ ele disse.

– O que você quer dizer? _ eu perguntei.

– Demos uma trégua, certo? _ ele disse

– Certo! _ eu concordei.

– Vamos correr, ou, você já amarelou? _ ele sorriu.

– Claro que não! Vamos lá! _ eu disse.

Posicionamo-nos de frente para a mata, de costas para o riacho.

– Muito bem! A corrida será individual, por tanto, se nossos lobos ganharem não quer dizer que nós ganhamos. _ eu disse.

– Tudo bem! No três. _ ele disse.

Pedro e eu começamos a contar juntos.

– Um… Dois… Três.

E nós disparamos.

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