SER HUMANO- ÚLTIMO CAPÍTULO PARTE II.

Ser Humano.

ÚLTIMO CAPÍTULO- PARTE II.

Cena 01- Praça próxima ao laboratório/ Dia.

Acácia sorri: E então, minhas filhas? Não vão pedir a benção pra mamãezinha querida de vocês? Ah, não sabem o quanto foi trabalhoso me aproximar das duas sem que ninguém visse…

Iracema entra na frente da filha: Sai de perto da gente, sua louca! SOCORRO- Ela grita, mas a praça está vazia- SOCORRO!

Acácia pega o canivete: É melhor você parar de gritar e me obedecer, Gorete. Chega, tudo tem um limite, e a sua desobediência já ultrapassou todos eles! Quanto a Raquel, ela pode ficar, eu só quero você mesmo, Goretinha. A original e verdadeira. A Itália nos espera!

Iracema, trêmula: Você não vai chegar mais perto de mim, nem da minha filha!

Acácia, confusa: Filha? Depois eu que sou a louca! Para de falar bobagens, Gorete, você não tem nem 18 anos, não pode ter uma filha da sua idade!

Raquel intervém: Ela é mesmo minha mãe, Acácia! A Gorete teve uma filha quando você achava que ela estava estudando no Rio…Mas fui criada por outra pessoa, a Geórgia, porque Rubem me entregou a ela depois que achou que minha mãe tinha morrido.

Acácia engole em seco: Como assim a Gorete teve uma…Filha? Vocês estão querendo brincar comigo, me deixar confusa, é isso! Pois saibam que não vou cair no teatrinho das duas. Gorete, venha comigo, vamos pro aeroporto.

Raquel grita: PORQUE VOCÊ ACHA QUE ESTÁVAMOS SAINDO DO LABORATÓRIO?!- Acácia para- A GENTE FEZ EXAME DE DNA, MAS É PRATICAMENTE CERTO. SOU FILHA DA IRACEMA, OU GORETE…

Acácia, boquiaberta: Meu Deus…Quer dizer que eu fui enganada esse tempo todo? Achando que você, Gorete, era uma boa menina, mas pelo visto nem responsabilidade você tinha…E você mentiu pra mim também, dizendo que ainda tinha 17 anos!

Iracema, desesperada: Claro que não, eu tentei te falar que não tinha mais essa idade! Você é uma louca, que fala as coisas e depois não se lembra mais. Realmente está muito afetada, Acácia, é hora de voltar do hospício, de onde nem devia ter saído! Primeiro perseguia a Raquel, depois fez o mesmo comigo, mas não consegue compreender que aquela Gorete de 17 anos FICOU NO PASSADO! VOCÊ NÃO VAI TER ELA DE VOLTA, E NEM VAI VOLTAR NO TEMPO, ACÁCIA! Fora que agora eu adoto outro nome. Iracema. Portanto a Gorete tá morta mesmo…

Acácia começa a chorar, ela pega o canivete e avança pra cima de Iracema: SE VOCÊ NÃO É MINHA FILHA, A RAQUEL É! ELA É A GORETE DISFARÇADA!

Iracema lhe dá um tapa: CHEGA! COMPREENDE PELO AMOR DE DEUS AS COISAS…

Raquel: Ela não pode compreender, mãe. Acácia está louca de vez!

Iracema nota: Raquel, você me chamou de…Mãe?

Acácia empurra Iracema, que cai no chão: VOCÊ É UMA FALSA GORETE, MAS EU NÃO VOU MAIS SER ENGANADA. VAMOS, RAQUEL- Ela pega a garota pelo braço- VAMOS PARA O AEROPORTO.

Raquel, desesperada: Me solta, Acácia, por favor!

Iracema se levanta: TIRA AS MÃOS DA MINHA FILHA!

Acácia corta o rosto de Iracema: SAI DE PERTO DA GENTE- Ela corre, segurando em Raquel- VAMOS FILHA, VAMOS VOLTAR PRA NOSSA CASA! O NOSSO LAR NOS ESPERA, O PASCOAL ESTÁ LÁ! EU MANDEI ELE FAZER SEU PRATO FAVORITO.

Raquel lhe dá um soco e sai correndo em direção a uma avenida: SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA!

Acácia corre atrás: ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM, GORETE, VOCÊ NÃO PODE ME BATER.

Iracema vai atrás, com o rosto todo ensanguentado: FILHA, CORRE!

Raquel vai até a avenida e começa a fazer sinal para que os carros parem, mas eles apenas desviam. Acácia lhe pega pela blusa.

Acácia: VOCÊ NÃO VAI FUGIR!

Iracema rasteja até lá: RAQUEEEEEL!

Raquel tenta se soltar: ME LARGA, ME LARGAAAA- Ela acaba jogando Acácia no asfalto e tenta atravessar a avenida.

De repente um ônibus a atinge em cheio, o corpo da moça voa para longe.

Iracema assiste tudo, trêmula: Raquel…RAQUEL!

Acácia, toda dolorida: Minha filha…Gorete…GORETE. NÃOOOOOOO

Os carros buzinam e um trânsito começa a se formar. O corpo de Raquel estava a beira da calçada. As pessoas começam a se aproximar, chocadas. O ônibus para e o motorista vai ver o que fez. Ele fica atônito. Em meios as buzinas, o choro louco de Acácia e o desespero de Iracema, que sai correndo, com o rosto todo ferido, para tentar ver a filha.

Iracema vê o corpo da jovem e cai de joelhos no chão.

…                                      

No cemitério, Geórgia chora inconsolável, deitada sobre o corpo da filha, sem saber o que fazer. Ela se lamenta, bem como os outros que conheciam Raquel. Iracema era outra que se encontrava extremamente abalada. O padre proclama algumas palavras e depois o enterro acontece.

A partir de agora, Raquel vai ser só uma lembrança- Geórgia disse, enquanto enxugava as lágrimas em um lencinho- Uma lembrança perturbada e inquieta.

Lilian a apoia: No fundo ela te amava muito, Geórgia, tenho certeza…

Irene: Ela só passava por uma fase ruim, não cabia a nós julga-la. Mas de fato isso foi uma tragédia sem tamanho…A coitada ainda tinha muito a aprender, muito a viver. E, hora ou outra, ia aceitar as duas mães…

Geórgia para de caminhar: Eu não vou ser nada sem ela, dona Irene. Nada… E a minha pobre Raquel vai ficar aí, sozinha- Ela aponta pro tumulo- PORQUÊ? PORQUÊ?!- Lilian a pega pelo braço, e Irene pelo outro. As três caminham pra fora do cemitério.

Cena 02- Hospício/ Dia.

Acácia é carregada por alguns enfermeiros. Rubem, Iracema e Geórgia seguem o enfermeiro, assustados.

Acácia se jogando no chão: EU SOU UMA ASSASSINA. EU MATEI. EU MATEI A GORETE. ME LARGAAAAAAA! – Ela morde o enfermeiro, que consegue ser firme e segurar ela mais forte. – ME SOLTA. ME SOLTA. EU ESTOU MANDANDO. ME SOLTA!

Enfermeiro, arrastando Acácia: Eu preciso que você se acalme. Você não teve culpa de nada. Você é do bem!

Acácia chorando: COMO UMA PESSOA ASSASSINA FEITO EU PODE SER DO BEM. EU MATEI A GAROTE. EU QUE MATEI GORETE… A MINHA GORETE!

Acácia é levada. Os três param.

Rubem chocado: A que ponto a minha filha chegou? Eu não consigo acreditar que ela tenha se tornado essa pessoa. Ela está acreditando na própria mentira, acreditando que matou a Raquel.

Iracema se senta, com uma faixa no rosto: Eu lamento muito por tudo. Ela estava completamente transtornada… E a Raquel…- Ela começa a chorar- Eu não tive tempo de conversar direito com minha filha.

Geórgia, arrasada: É muito duro acreditar que perdi a minha filha. Eu amava tanto a Raquel, com todos os seus defeitos… Ela tinha um coração bom, eu sei disso- Ela chora baixinho- Porquê? Eu fiz alguma coisa pra ser castigada?

Rubem: Foi tão imprevisível. Ninguém esperava que a Raquel fosse ter esse fim. Ela era tão jovem.

Iracema, chorando: E eu que nem conheci minha filha direito. O destino me tirou uma oportunidade tão valiosa…

Rubem: O destino também é imprevisível. Ninguém entende seu modo de agir, mas ele age quando necessário. Mexe quando quer e não precisa pedir permissão. A gente que não consegue se acostumar.

Geórgia se levanta: Lidar com o tempo é difícil. E com o destino também.

Rubem sorri: Lidar com tudo é difícil. Até com gente é difícil de lidar.

Iracema abraça Geórgia: Lidar com ser humano é difícil. Cada um com suas características, com seu ponto fraco e forte, com seu ponto de partida e de chegada. Cada um com seu limite… Cada um com seu tempo.

Rubem sorri e abraça as duas. Foca nos três abraçados.

Alguns dias depois…

Rubem, Lilian e Irene chegam até o hospício. Os dois param diante da grade do quarto de Acácia. A mesma está perambulando pelo quarto, falando sozinha. Ela fala Gorete sem parar. Os três do lado de fora se entreolham. O enfermeiro chega e começa a gesticular com eles. Irene continua observando a filha. Ali então é quando cai à ficha de Irene cai e ela percebe que a situação de Acácia não muda mais. O semblante que aparentemente era dócil, meigo e radiante se torna incompreensível, doloroso e frustrado, ao saber que a educação que tanto deu para sua filha se transformou em um despreparo para a vida.

Uma lágrima cai do olho de Irene.

Dias depois…

Cena 03- Cobertura de Yara/ Dia.

Yara sai e fecha a porta: Pronto, aqui está a chave da minha cobertura. Graças a Deus, não aguentava mais morar aqui…Mas não se preocupe, seu Moreira, te mando um postal de Milão.

Seu Moreira: Ah, obrigado dona Yara, mas e o seu Onofre? Onde ele vai morar?

Yara: Aquele infeli…Digo, o Onofrinho herdou uma boa quantia com a morte de um primo- Ela se lembra do cheque que assinou, dando dinheiro ao homem- O fato é que ele comprou um apartamento em Copacabana e tá morando por lá…Agora chega de papo, leva as minhas malas lá pra baixo.

Na rua…

Yara vai até o taxi: Aqui estão as minhas malas, vamos logo ou eu perco o vôo- Ela suspira- Espero que esteja congelando em Milão. Ninguém merece essa porcaria de calor.

Taxista: Pode deixar, senhora, pode entrar.

Yara vai entrando quando o carro da polícia para no meio-fio, os policiais descem apressados e vão até a mulher.

Ivan grita: Yara, saia desse carro imediatamente, a senhora está presa.

Yara, boquiaberta: Como é? Olha, deve estar acontecendo algum engano, senhor delegado…Quem matou o Téo foi a Flávia e eu já paguei minha fiança.

Ivan pigarreia: Sabemos disso- Ele abre a porta do taxi- Mas temos uma outra acusação contra a senhora. Chegou a nós uma denuncia anônima de que a senhora matou sua própria mãe, a dona Lídia Gávea. No outro dia, nos enviaram um caixote com uma picareta e um bilhete, depois, uma mulher chamada Marcelly Madureira veio falar com a gente. Quer mais explicações que isso?

Yara se afasta: Quero, claro que quero! Isso prova alguma coisa? O senhor dá licença que eu vou viajar pra Itália agora, e se perder o voo, quem vai pagar não é ninguém da polícia…Essa é boa, acusando a mim de matar minha própria mãe! MINHA PRÓPRIA MÃE!

Ivan: Temos provas suficientes para te incriminar, Yara. Portanto viemos aqui te dar voz de prisão! A senhora está PRESA- Ele pega as algemas- E é melhor não resistir, ou as coisas podem piorar…Saia do carro.

Yara, chorando: O Onofre…Ele me traiu…Eu dei o dinheiro e mesmo assim ele me denunciou…DESGRAÇADO! O ONOFRE É UM DESGRAÇADO!- Ela sai do carro- Olha delegado, a gente pode resolver isso de outra maneira…

Ivan ergue a sobrancelha: Mas eu não vejo outra maneira. Está nítido que você cometeu esse crime… Até chega a me assustar, uma mulher ter matado a própria mãe é algo monstruoso. A senhora é uma psicopata, dona Yara.

Yara, desesperada: Não me prende, por favor…Eu não cometi crime nenhum, armaram pra mim! Você tem que investigar melhor, essa Marcelly aí foi comprada, só pode- Ivan a algema- POR FAVOR, ME DEIXA LIGAR PRA O MEU ADVOGADO, EU TENHO QUE VIAJAR!

Ivan: Sinto muito, dona, mas hoje você não viaja- Ele a coloca na viatura- Só se for pro xilindró.

Yara, com o rosto borrado: Eu te dou uma fortuna se você me tirar daqui, delegado, e me deixar viajar. Garanto que não vai se arrepender.

Ivan entra no carro: Melhor ficar quieta, mais uma tentativa de suborno e seu período na cadeia pode aumentar…

Yara, furiosa: Isso não termina aqui. Não termina…- Ela enxuga as lágrimas- Eu te odeio, Onofre.

No novo apartamento de Onofre…

Onofre ri: A essas horas, Yara deve estar sendo presa. Como foi idiota…Essa passada de perna nem foi questão pessoal, e sim prazer mesmo. Qualquer dia desses, visito ela na cadeia…- Ele olha para o espaço- Agora preciso aproveitar esse meu luxo, que é, inclusive, graças a Yarinha!- Ele bebe champanhe- Pra minha vida melhorar por completo, agora só falta eu eliminar o Fausto e ter a Natália aos meus pés…Não vai ser difícil, principalmente quando ela conhecer meu novo apartamento- Ele vai até a varanda- Ah, Copacabana…

Cena 04- Ipanema/ Dia.

Irene e Rubem caminham, os dois tomam água de coco.

Irene ri.

Rubem repara: O que foi?

Irene: É que eu tô lembrando de quando você ainda achava que era Dom Casmurro. Eu e Geórgia tentamos te dar água de coco e você recusou, dizendo que aquilo era uma bola verde feita pra chamar a atenção…

Rubem começa a rir: Eu falei isso? Não acredito. Mas também, eu tava fora de mim, achando que era outra pessoa, não podia ser diferente…Era cada absurdo que…Não sei como você me aguentou.

Irene: O amor era mais forte. Mas saiba que foi dificílimo te aturar nessa fase casmurro, no Rock In Rio então…- Ela pega na mão do marido- Mas ainda bem que você recuperou a memória, e num momento decisivo pra Raquel. Que Deus a tenha.

Rubem, triste: Ainda não consigo aceitar que ela tenha ido embora…Chego até a me culpar.

Irene ri: Pois não se culpe, pois você sabe muito bem que essa história não tem só um culpado ou culpado. Você devia estar feliz que a Iracema vem mês que vem com o filho dela, nosso netinho- Pierre avista o casal e vai até eles.

Rubem: Eu quero ensinar o meu neto a pescar, sempre tentei fazer isso com a Maísa mas…

Pierre chega: Ora ora, mas nada como sair para espairecer e encontrar velhos amigos…Há quanto tempo- Ele cumprimenta os dois- Fiquei feliz quando soube que recuperou a memória, Rubem.

Rubem, feliz: Muito obrigado, Pierre. Foram momentos difíceis, meu amigo, mas já me recuperei de novo! Espero que eu dure muito tempo ainda…

Irene: Para de falar besteira, Rubem, por favor.

Pierre: Concordo com a Irene, caro Rubem, você ainda tem muito a experimentar nessa vida. As pessoas acham que a vida acaba na velhice, mas mal sabem elas, que a terceira idade é apenas um belo recomeço…

Rubem sorri: Belas palavras, Pierre. Você tem razão- Ele termina o coco- Bem, vou jogar essa “ bola verde” ali na lixeira, já volto- Ele sai.

Pierre olha para Irene: Casamento firme e forte como sempre…Parabéns, Irene.

Irene suspira: Obrigado, Pierre. Queria me desculpar pela última vez que nos encontramos e te tratei de forma rude, eu estava abalada e não medi a consequência das minhas palavras naquele dia…Você é um grande amigo pra mim, mas apenas isso.

Pierre se emociona: Obrigado, Irene. Sei que nunca vou conseguir nada mais que amizade com você, mas já me conformei. E ter boas amizades sempre é bom…

Irene vê Rubem se aproximando: Vai jantar lá em casa qualquer dias desses. O clima por lá já melhorou depois da morte da Raquel.

Pierre agradece: Eu vou sim, mas só ano que vem- Rubem chega- Vou passar o resto desse ano na Alemanha, num hospital em Munique. Vou full, ou seja, não pretendo voltar pro Brasil durante esse período.

Rubem, em tom de brincadeira: Oh, desculpe sr. Germânico, não sabia que tinha virado tão importante.

Pierre coloca os óculos escuros: Eu não sou tão importante como você, Rubem, que é personagem de best-seller. Tenho que ir meus amigos, vejo vocês em breve- Ele se despede dos dois.

Irene sorri: Boa viagem!- Ela termina seu coco- Vamos voltar pra casa que é melhor…

Rubem: Só depois que você comprar outra bola verde pra mim, por favor- Eles continuam conversando, de mãos dadas.

Cena 05- Rádio.

Todos os personagens sincronizam o rádio no canal em que Vittória está.

Lá no estúdio…

Vittória está sentada ao lado de Bruno. Ela pega um microfone. Bete e Breno observam.

Vittória, sorrindo: Uma doença tão nova diante de um preconceito tão velho. Lutar, segundo o dicionário, significa brigar, combater, pelejar e planejar. Mas não diz vencer! Nem toda luta é feita de conquistas, nem toda guerra é feita de vitórias. No final, tudo tem um preço. E a gente há de pagar por ele.

Bruno pega outro microfone: Dizem que o preço do pecado é a morte. E o preço do preconceito, qual seria? Assim como eu, inúmeras pessoas sofrem todos os dias por preconceito e seja ele de qualquer que seja. Hoje eu sofro preconceito por ser aidético. E amanhã? Qual será o preconceito do momento?

Vittória: Durante um bom período sofri horrores por ser portadora da AIDS. No trabalho principalmente. Meu filho chegou a ser expulso de uma escola. Mas a gente conseguiu pagar o preço da justiça e vencer. Nossa história não é uma das melhores a ser contadas, mas talvez seja um belo exemplo de superação. Viver e não se importar com o que vão dizer.

Bruno: Ser feliz independente do que acontecer.

Vittória: Acreditar em si mesmo. E ter a certeza que podemos vencer.

Bruno sorri: Aproveitar a vida ao máximo. Nosso tempo aqui é passageiro. Ser feliz sem ligar para o que vão dizer. Afinal, a única certeza que temos na vida é a morte e quando ela chega, a certeza deixa de ser certeza e passa a ser uma dúvida… Dúvida essa que jamais será tirada.

Eles se entreolham e sorriem. O programa se encerra. Breno aplaude e corre para abraçar a mãe. Bete se aproxima.

Bete sorri: Vocês são um exemplo de família. Parabéns por terem construído essa família tão bonita, Vittória e Bruno.

Vittória abre os braços: Você também faz parte dessa família!

Todos se abraçam.

Cena 06- Igreja no centro do Rio/ Dia.

Lilian chega no local para rezar, ela se senta em um banco e se benze. Úrsula chega e se senta no mesmo banco, sem perceber a presença da médica.

Lilian suspira: É, Deus, parece que mesmo depois dessa tempestade toda, meu barco ainda não virou, e ainda vai chegar firme e forte a praia… Perdemos muitos marinheiros, alguns se entregaram, outros se jogaram, e depois voltaram, arrependidos. Uns ainda tinham tempo pra amar nesse barco, outros esqueceram a própria identidade- Ela se agarra ao terço- Mas a maioria seguiu firme e forte, com esperança e garra. Nosso barco passou pela Itália, por todo o mar, e acabou aqui, no Rio de Janeiro.

Úrsula a vê: Você esqueceu de falar da marinheira que se voltou contra a própria mãe.

Lilian se assusta: ÚRSULA?

Úrsula sorri: Lilian, ainda dá tempo de você enxergar que a Maísa só te fez mal durante toda essa história.

Lilian se levanta: Eu não vou ficar aqui ouvindo uma besteira dessas. Não sei como você ainda tem coragem de vir a igreja e tocar no nome de Deus, se só fala besteiras e maldades.

Úrsula se levanta também: Eu falo verdades, minha querida, verdades que ninguém quer ouvir. Você se faz de cega, surda e muda quando alguém diz algo que não quer ouvir…Mas é a pura verdade! A Maísa não teve um pingo de compaixão contigo, e ainda tentou roubar o seu namorado. Mas você ainda assim foi passiva em relação a isso, e resolveu se envolver com o Téo…Quer mais alguma coisa? Olha, eu não sei quem é pior. Você ou ela. Tenho pena do meu filho que se envolveu com ambas.

Lilian: Úrsula, você não tem direito de julgar as minhas atitudes, quem se faz cega, surda e muda aqui é VOCÊ PRÓPRIA. Tudo que fiz foi por amor a minha filha. AMOR. Será que não faria o mesmo por Bernardo?

Úrsula: A Maísa te deu o copo de veneno pra beber, e você quase bebeu. O Bernardo não faria isso comigo, ele é de bem. Você deixou o amor que tinha pela sua filha ultrapassar as barreiras da sanidade, tanto que esse amor acabou prejudicando você própria, Lilian. Tudo que é demais prejudica. Até água. Você se afoga nela.

Lilian ri: As vezes eu chego a pensar que você não conhece a definição da palavra amor, se é que há uma concreta…Amor materno não tem barreiras.

Úrsula: Ah tem, basta você cria-las, aí vai poder beneficiar a si própria e a sua filha.

Lilian cruza os braços: Chega, eu vim aqui pra rezar, ter paz de espirito, e não ficar ouvindo tolices, Úrsula. Melhor eu ir pra outra igreja, porque só sua presença aqui me incomoda.

Úrsula vai até ela: Querida, eu posso até ter errado algumas vezes durante essa “ jornada” mas ninguém aqui errou mais que a Maísa. Ela foi egoísta e cruel com muita gente. Tá achando que essa garota vai vencer no final?

Lilian: Cala a boca! Minha filha merece todo suc…

Úrsula a interrompe: Sua filha não merece sucesso nenhum, e ela não vai ter. Aquele ser humano podre vai perder no final, perder!- Ela pega sua bolsa- Eu é que não vou ficar aqui do seu lado, com licença- E sai.

Lilian se senta, abalada.

Dias depois…

Cena 07- Flat de Fausto e Natália/ Dia.

Fausto se arruma para o casamento. Bernardo entra.

Bernardo sorri: Será que a gente pode trocar uma palavrinha?

Fausto arruma a gravata: Claro Bernardo, entra- O jovem o faz- Quer falar sobre o quê? Olha, se for conversa de casamento, pode deixar, sou experiente… É algum problema?

Bernardo sorri: Acho que diante de tudo o que aconteceu, a nossa conversa jamais se tornaria um problema. Eu vim aqui te desejar meus parabéns, MEUS SINCEROS parabéns. Você merece ser feliz. Ou melhor, vocês merecem.

Fausto aperta a mão de Bernardo: Eu te desejo o mesmo. – Ele sorri. – A gente teve nossas diferenças, mas creio que tudo aquilo serviu para fazer a gente perceber que nem tudo é como a gente deseja. Espero que daqui pra frente possamos ser, ou pelo menos tentarmos sermos amigos. Que você consiga fazer a Lilian feliz, eu não consegui ser capaz…

Bernardo: Não diga uma coisa dessas. Eu tenho certeza que a Lilian foi muito feliz enquanto esteve ao seu lado. Mas nem tudo dura para sempre. O pra sempre… Sempre acaba- Ele ri.

Fausto o abraça: Eu tenho certeza que no final iremos rir disso tudo. – Ele sorri e dá dois tapinhas de leve no rosto de Bernardo. – Seja feliz… E faça a Lilian feliz!

Bernardo sorri: Eu te desejo o mesmo, e principalmente boa sorte nessa sua jornada. Preciso ir, vou deixar você terminar de se arrumar.

Bernardo sai. Fausto se perfuma. Do lado de fora, Onofre monitora tudo, ele espera o jovem sair e se distanciar, e invade o quarto onde o biólogo está.

Fausto, procurando uma meia: Bernardo, é você? Olha, fala para eles que eu já tô indo…

Onofre bate a porta forte: Não vai ter casamento!

Fausto vira-se: Você tá maluco, Onofre? Do que você está falando?

Onofre: Que não vai ter casamento. – Ele saca uma arma e mira em Fausto. – Eu vou te MATAR antes!

Fausto, assustado: Abaixa essa arma, Onofre. Você vai se arrepender depois. Não faça isso!

Onofre, rindo: Você acha mesmo que eu vou deixar você vencer essa guerra, Fausto? Você pode ter vencido várias batalhas, mas o importante é que quem vence essa guerra sou eu.

Fausto, nervoso: Você não sabe o que está falando. Para com isso, Onofre. Abaixa essa arma.

Onofre, diabólico: É hora de dizer adeus, querido.

Ele recarrega a arma e coloca o dedo no gatilho. Fausto se desespera. Onofre está sorrindo.

Cena 08- Cadeia/ Dia.

Elisafran e Imo se aproximam de uma presidiária.

Elisafran: Você é a Ramona?

Presidiária: Talvez…Quem são vocês?

Imo é direta: Olha, a gente tá sabendo que você organizou uma fuga pra sair dessa prisão imunda nos próximos dias, e queremos participar dela.

Ramona sorri: Vocês podem participar, sem problema, queridas, mas eu e as minhas parceiras só vamos fazer uma parte do plano, depois é cada uma por si.

Elisafran, feliz: Ótimo, finalmente vou sair daqui. Sid e os outros que me aguardem, principalmente a Úrsula. Ela não venceu ainda.

Flávia escuta tudo: Ainda dá tempo de eu remontar minha vida…Eu não posso ficar aqui, não posso- Ela escorre uma lágrima- Preciso fugir também.

Yara se aproxima dela: Você disse “ fugir”?

Flávia conta: Eu não devia nem estar falando com você depois daquela cachorrada de ter me abandonado aqui…Mas parece que o jogo virou, você está presa de novo, então vou te contar- Ela cochicha- Estão planejando uma fuga aqui…- Ela continua contando, Yara se interessa.

Cena 09- Flat de Natália e Fausto/ Dia.

Onofre ainda está com a arma apontada para Onofre.

Fausto desesperado: Onofre você vai se arrepender disso. Não faça essa besteira. Não destrua a sua vida por um ciúme idiota. Abaixa essa arma.

Onofre, furioso: EU NÃO VOU ABAIXAR PORCARIA NENHUMA. E VOCÊ CALA ESSA BOCA. VOCÊ VAI MORRER SEM RECLAMAR. SUA HORA CHEGOU!

Na hora que ele vai atirar, a porta se abre. É Vasco.

Vasco, horrorizado: ONOFRE. NÃO FAÇA ISSO!

Onofre vira-se rápido e acaba se distraindo. Fausto vê a oportunidade para tirar o objeto das mãos do homem. Ele corre e segura Onofre. Os dois começam a disputar a arma. Vasco se desespera e grita bastante. Um tiro é disparado. Vasco encerra o grito ao ver a cara de desespero de Onofre e Fausto.

O tiro havia atingido um dos dois.

Fausto se afasta e Onofre cai lentamente, todo ensanguentado.

Vasco, desesperado: ONOFREEEEEE! – Ele se ajoelha diante do homem. – Meu Deus, Onofre. Olha o que você fez com a sua vida! FAUSTO, CHAMA UMA AMBULÂNCIA- Ele se vira pro amigo-  Calma, amigo, respira. O socorro logo chega!

Onofre, cuspindo sangue, gagueja muito: M…me…desc…desculp…a…a, Vasco…Eu…- Ele tem dificuldades- Eu gost…to…Muito de você…Diz pra Natália que eu amo ela…Diz…E me perdoa…

Onofre fecha os olhos e sua cabeça vai de encontro ao chão. Pouco depois a polícia chega. Com ela, a ambulância. A polícia vai até Onofre e tira Vasco do local. O policial coloca a mão no pulso e constata.

O policial olha para Fausto: Ele está morto!

Vasco e Fausto se entreolham, chocados.

Fausto: Meu Deus, que tragédia…QUE TRAGÉDIA!- Ele anda de um lado para o outro- Vasco, avisa para todos que o casamento tá cancelado…Temporariamente…

OS DIAS PASSAM…

Cena 10- Igreja da Candelária/ Noite.

Finalmente, Fausto e Natália se casam.

Vasco entra com Natália, que está trajada lindamente. É uma noite quente e a igreja está cheia de convidados, Fausto coloca a mão no coração, muito acelerado. Ele observa a mulher que tanto deseja se aproximar. Lilian é uma das madrinhas, junto com Leblônio. Várias pessoas do antigo clube, no Sul, tinham vindo prestigiar.

Natália chega até Fausto e os dois dão as mãos. O padre faz um belo discurso, e no final, a pergunta decisiva.

Padre: Pois bem, Fausto Damásio Lacerda você aceita Natália Padilha de Melo como sua legitima esposa, prometendo ficar junto a ela na pobreza e na riqueza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?

Fausto a olha: Sim, aceito.

Padre: E você, Natália Padilha de Melo, aceita Fausto Damásio Lacerda como seu legitimo esposo, prometendo ficar junto a ele na pobreza e na riqueza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?

Natália olha para o homem: Não.

Todos ficam chocados.

Fausto: NÃO?

Natália sorri: NÃO tem como eu não dizer sim, meu amor- Ele respira aliviado- É claro que eu aceito.

Padre: Passado o susto- Ele ri- Declaro então vocês marido e mulher. Já podem se beijar.

Fausto e Natália se beijam. Todos aplaudem. Lilian acaba se emocionando. A igreja vibra.

Leblônio grita: NINGUÉM VAI EMBORA QUE AINDA TEM A FESTA, E TEM COMIDA LÁ!

Um pouco depois, acontece a animada festa em um buffet. Os convidados dançam e comem a vontade, Fausto e Natália cumprimentam as pessoas. Leblônio pula e festeja na pista de dança. Maísa se aproxima do pai.

Maísa: Pai, queria te fazer um convite.

Fausto sorri: Pode falar, minha filha…Fiquei até curioso- Natália se aproxima.

Maísa, empolgada: Essa noite vocês brilharam, mas daqui a alguns meses, é a minha vez. Queria convidar vocês dois para o meu desfile. É um desfile de grávidas, muito interessante, e quando souberam que eu estava, me chamaram. Tô convidando todos antecipadamente, porque só tenho direito a alguns convites…

Fausto: MAS É CLARO QUE A GENTE ACEITA- Ele a abraça- Você vai brilhar nesse desfile, e pode contar com a gente. Vamos te prestigiar.

Natália confirma: É isso mesmo, Maísa, agora vamos aproveitar a festa!! EU VOU JOGAR O BUQUÊ- Anuncia- EU VOU JOGAR O BUQUÊÊÊ!

A música para e as mulheres vão até o centro da pista.

Irene se levanta: Olha, não custa tentar, apesar de eu não ser casada- Ela puxa Geórgia- E você vem comigo, tá muito jururu aí! Vamos nos animar, é uma festa, Geórgia!

Geórgia: Tudo bem, tudo bem…

Natália se vira: EU VOU JOGAR.

Lilian, animada: Eu vou pegar, Bernardo- Ela pisca pra ele e vai até lá.

Natália: UM…

Maísa cruza os braços: Nem sei porque eu tô aqui…

Natália: DOIS E…

Geórgia suspira: É melhor eu me sentar que ganho mais.

Irene a puxa: NADA DISSO!

Natália: E TRÊS- Ela joga.

O buquê cai nas mãos de Geórgia.

Geórgia: MAS… O QUÊ?- Ela não consegue acreditar.

Lilian grita: SÓ FALTA O NOIVO!

Irene: ARRASOU, GEÓRGIA!

As mulheres aplaudem Geórgia, Irene lhe dá um beijo na bochecha.

Irene alisa seu rosto: Você merece tudo de bom, minha querida…

Geórgia: Obrigada, dona Irene, gosto muito de todos vocês- Elas se abraçam.

Iracema aparece com o filho, Irene e Geórgia vão vê-la. A festa continua.

No dia seguinte…

Cena 11- Cadeia/ Dia.

https://youtu.be/Zyn_Z6fv_Ec

As presidiárias tomam banho de sol. Flávia mexe na cintura, ajeita algum objeto. Uma presidiária se aproxima da carcereira. Subitamente, a mesma presa saca uma arma e faz a carcereira de refém não dando a ela chance de revidar. As outras sacam armas também, e logo todas as carcereiras estão rendidas, elas exigem que o portão seja aberto. Sem opção, acabam por abrir os portões, gerando uma grande confusão. As presidiárias começam a fugir. Elas gritam e os demais carcereiros dão tiros para o alto. A sirene é acionada. Yara se mete no meio da confusão, mas acaba caindo e é pisoteada por todos. Ela ainda tenta se arrastar, mas leva um chute involuntário no rosto e desmaia, depois, ela bate várias vezes com a cabeça no chão e acaba morrendo. Com o olho aberto, dá o último suspiro antes de ser novamente pisada. Em um canto, Imo e Elisafran aproveitam a situação e correm. Mas Elisafran acaba batendo em uma pedra e torce o pé. Imo vai direto. A mesma para e Elisafran a olha com piedade, implorando ajuda apenas com o olhar. Imo vai embora e não ajuda Elisafran.

Elisafran, furiosa: IMOOOO! ME AJUDA! IMOOOOOO.

Foca no olhar de Elisafran, diabólico. Ela continua caída no chão, sentindo dor. Imo sai correndo. A idosa tenta se levantar, mas outros policiais chegam e novamente ela é rendida.

Elisafran, dolorida: Não pode ser- Ela é segurada pelos policiais- Ela me traiu…EU TE ODEIO, IMOOOOO.

O corpo de Yara é recolhido.

MUITOS MESES DEPOIS…

Cena 12- SEDE DESFILES SER HUMANO/ NOITE.

Maísa se olha no espelho: Chegou meu grande dia…- Ela alisa sua barriga- Sete meses, mais um pouco e minha filha nasce.

Bernardo entra: Nossa filha, você quis dizer, não é mesmo, Maísa?- Ela se vira- Vim aqui só te dar boa sorte mesmo.

Maísa se aproxima dele: Muito obrigado, Bernardo. Seu apoio me deixa mais feliz e confiante ainda…Tudo vai dar certo…Tudo tem que dar certo.

Bernardo repara: Você tá nervosa?

Maísa, dando pequenos pulinhos: Não. Imagina.

Bernardo sorri: Para com isso, você vai arrasar- Ele se aproxima- Você é linda, Maísa, e nesses meses que a gente vem convivendo como amigos, percebo que você é uma pessoa exemplar, amorosa, muito cuidadosa, e totalmente diferente daquela Maísa que eu encontrei em Milão, naquela festa, lembra?

Maísa ri: Eu lembro, como se fosse ontem.

Bernardo: Você se modificou muito de lá pra cá, passou por muita coisa. E acho que essa sua experiência como mãe vai te deixar mais humanizada e sensível ainda. Não quero que seja um poço de choro, nada disso…E quem sou eu pra falar alguma coisa, eu também era muito imaturo. Mas a gente tá se lapidando. Quem sabe consigamos virar um diamante bem bonito? Acho que é mais fácil você virar um…

Maísa o abraça: Obrigado Bernardo, eu gosto muito de você. Não amorosamente mais, e sim como se fosse o meu anjo de luz.

Bernardo, ainda abraçado: É muito bom saber que você cultiva esse sentimento por mim. Acho que nunca tivemos a oportunidade de conversar abertamente depois que voltei com sua mãe, só nos dois. Espero que não tenha mágoas comigo.

Maísa aperta sua mão: Nenhuma. Eu amo minha mãe, quero que ela seja feliz. E tenho certeza que com você, ela vai ser, Bernardo. Ela te ama muito… Não vou ficar aqui elogiando minha mãe, ou perco horas, mas só queria te dizer pra sempre cuidar bem da dona Lilian. Ela merece.

Bernardo sorri: Pode deixar, Maísa…Agora eu não vou te empacar mais, vou voltar pra o palco. E não se preocupe, vou tentar tirar uma foto sua, num bom ângulo.

Maísa: Obrigado- Ele sai.

Cena 13- SEDE DE DESFILES SER HUMANO/ NOITE.

Maísa está se arrumando para o desfile. Úrsula entra calmamente.

Úrsula sorri: Preparada para o espetáculo?

Maísa ajeita o vestido: Não sei do que você está falando.

Úrsula ri: Não sabe? Estou falando do seu desfile que será um fracasso. Você é um fracasso.

Maísa a encarando: Você realmente se acha demais. E eu achando que tudo o que você passou ia te tornar uma pessoa melhor. Você não tem jeito mesmo, víbora.

Úrsula sorri: Isso por que todo mundo dizia que eu ia morrer no meu próprio veneno, engasgada nele. Acho que o mundo girou, não é mesmo? Olha pra você. Se enxerga. Se situa. Você é uma mulher totalmente fracassada. Uma piada pronta! – Ela sorri. – E eu vim te prestigiar. Ver o seu fracasso.

Maísa, furiosa: CALA ESSA BOCAAA DESGRAÇADAAA! – E tasca um tapão em Úrsula.

Após levar o tapa, Úrsula vira o rosto para o outro lado, pedindo que Maísa dê o tapa do outro lado. Maísa não bate.

Úrsula sorri: Eu bem que disse. Você é uma piada pronta. Até pra bater você é fraca. Insignificante! Agora com licença, espancadora de mães. Hora de ir garantir meu lugar- Ela sai.

Maísa: Infeliz…

Minutos depois…

CENA 14- SEDE DESFILES SER HUMANO/ NOITE.

Maísa se prepara para desfilar, ela seria a próxima. A garota respira fundo e se olha no espelho pela última vez antes do desfile: Agora é a sua vez- Ela sai.

Flashback.

Lilian lê um livro quando Maísa chega correndo.

Maísa: MÃE, MÃE- Ela pula no sofá- O QUE VOCÊ TÁ LENDO?

Lilian folheia a página: Um poema, filha.

Maísa, curiosa: Um puema? Lê pra mim, por favor.

Lilian sorri: Tudo bem, mas vê se presta atenção, filhota- Ela bebe água- Vamos lá…

Volta a cena.

Maísa aparece na passarela, ela começa a desfilar e Lilian se deslumbra com a figura da filha. Bernardo e todo o resto da família também prestigiam. Úrsula e Olive chegam bem na hora.

Lilian narrando: Teus filhos não são teus filhos. São filhos e filhas da vida, anelando por si própria…

Maísa passa por Lilian. Ela vê Úrsula de longe.

FLASHBACK.

Lilian e Maísa se divertem.

Lilian: Eu te amo, filha, eu te amo mais do que tudo nesse mundo!

Maísa a cobre de beijos: Eu também te amo muito!

Flashback.

Maísa, furiosa, chorando: Você não merece meu tempo. Você não merece nada, nem ninguém que anda ao teu redor. Sabe o que eu tenho de você nesse momento? NOJO! – Lilian chora ainda mais. – COMO VOCÊ PODE TER SIDO CAPAZ DE ESCONDER ESSE SEGREDO? – Lilian não responde, apenas chora. –RESPONDE MÃE! – ela grita, balançando Lilian, que cai, sem saber o que fazer. – Você não merece o marido que tem, você NÃO MERECE NINGUÉM. A única coisa que você merece é morrer sozinha, ser desprezada. VOCÊ NÃO PASSA DE UMA SEM-VERGONHA!

Flashback.

Maísa, morza: NÃO DIRIJA MAIS A PALAVRA PRA MIM. EU TE ODEIO COM TODAS AS MINHAS FORÇAS! Você devia ter vergonha de ser do jeito que é. E ainda quer posar de vítima? Quer saber, o Téo tava certo em fazer tudo aquilo! Você não vale nada!

Lilian lhe pega pelo braço: Escuta você não tem o direito de falar assim!

Maísa se solta: Quem é você pra me falar de “ direitos”? A mulher que beija o namorado da própria filha…Eu devia ter escutado a Úrsula quando ela disse que você era péssima mãe, ela estava certa! Agora que eu descobri DEFINITIVAMENTE quem é a verdadeira Lilian, acho que posso finalmente falar que nunca mais quero te ver na minha frente, nem quando eu estiver morrendo. Aliás, pra mim você já morreu, tá ouvindo?- Ela abre a porta- Sou órfã, tive uma mãe muito cruel no passado, que felizmente se encontra morta na minha consciência- Ela sai.

Flashback.

Irene: Escuta, Maísa, você já tem 15 anos, minha neta, 15 anos! Chega de brigar com sua mãe por motivos bestas, assim você ofende ela…A Lilian fez de tudo pra que a festa fosse do jeito que você queria, então nada lhe dá o direito de humilhar ela! OUVIU?

Flashback.

Fausto respira fundo: CHEGA, EU CANSEI DESSA SITUAÇÃO, FILHA! VOCÊ NÃO ERA ASSIM QUANDO CRIANÇA…BRIGANDO COM SUA MÃE DIRETO E DIRETO! É CLARO QUE ELA SEMPRE VAI TE PERDOAR, PRA SEMPRE, MAS CADA VEZ QUE A OFENDE, UM PEDAÇO DA LILIAN MORRE.

Volta a cena.

Maísa chega até o limite da passarela. Ela vê Úrsula a encarando.

Lilian continua narrando o poema: Vem através de ti, mas não de ti E embora estejam contigo, a ti não pertencem. Podes dar-lhes amor mas não teus pensamentos. Pois que eles tem seus pensamentos próprios.

Maísa volta e passa por todos, ela começa a sentir fortes dores, mas disfarça, seu coração dispara, os flashes rolam a todo instante. Maísa acaba parando no meio da passarela.

A imagem de Lilian narrando o poema vem em sua mente: Podes abrigar seus corpos, mas não suas almas. Pois que suas almas residem na casa do amanhã, que não podes visitar se quer em sonhos. Podes esforçar-te por te parecer com eles, mas não procureis fazei-los semelhante a ti. Pois a vida não recua, não se retarda no ontem.

Bernardo, preocupado: Aconteceu alguma coisa com a Maísa…- Ele e Lilian se levantam, bem como os outros.

Flashback.

Úrsula a interrompe: Sua filha não merece sucesso nenhum, e ela não vai ter. Aquele ser humano podre vai perder no final, perder!

Volta a cena.

Lilian se desespera, Filha! Tá acontecendo alguma coisa com ela, eu preciso ir.

Maísa tem uma tontura, ela olha pra mãe: Mamãe, eu…

Lilian sobe na passarela: MINHA FILHA TÁ PASSANDO MAL, ALGUÉM AJUDA AQUI, PELO AMOR DE DEUS!

Flashback.

Flora ri: Eu só brinco, quando quero falar sério. Tenho mais de 70 anos de uma carreira e mais do que tudo eu sei perceber uma modelo de verdade, e você é uma, linda, carismática, mas por dentro não passa de uma pessoa podre e se não corrigir esse defeito, vai acabar não conseguindo prosseguir nas passarelas. Uma modelo de verdade, de verdade mesmo, tem que ser linda, por dentro e por fora. Não perfeita, mas humilde, ao menos. Com licença, Maísa, acho que entendeu o recado…- Ela sai.

Volta a cena.

Natália, desesperada: Fausto, temos que fazer alguma coisa, a Maísa tá passando mal!

Fausto grita: UM MÉDICO, UMA AMBULÂNCIA.

Maísa cai no chão da passarela.

Lilian a acode: FILHA! FILHA, FALA COMIGO!- Os produtores começam a se aproximar.

Flashback

A cigana apalpa sua mão, e visualiza bem: Ah! Olha só, mas que pessoa linda- Ela tenta mostrar pra Maísa, que não vê nada- Olha, tá vendo? Um bebê! É seu?- A jovem vai responder mas ela deduz- Não é! Não mesmo! Ainda vai vir… Claro, se sua desgraça não chegar antes, mas creio que não…

Maísa tira a mão: Você tá dizendo muita besteira, meu namorado tá me chamando, licença!

A cigana a impede: Antes que algo de pior aconteça, você deve lutar contra o orgulho, contra o que fez, ou tudo vai por água a baixo! Veja! O que fizeste fora algo muito grave, cuidado!

Maísa, furiosa: Me larga, sua nojenta!

Volta a cena.

Maísa, caída: Mãe…Eu…- Ela começa a tossir sangue.

Lilian, desesperada: MAÍSA, MAÍSAAA!

Irene, apavorada: MEU DEUS, UM MÉDICO, POR FAVOR!

Bernardo fica sem reação.

Fausto: FILHA, MAÍSA! MAÍSA, PELO AMOR DE DEUS, FALA COMIGO.

Maísa, sem conseguir respirar: MÃE… MÃE, ME DESCULPA!

Lilian, junto a ela: FILHA, NÃO FALA ISSO, CALMA OS MÉDICOS ESTÃO VINDO…

Maísa, chorando: DESCULPA, DESCULPA, ME DESCULPA- Ela pega na mãos da mães- ME PERDOA POR TUDO…TUDO QUE EU TE FIZ!

Lilian: Não precisa pedir perdão, filha, eu te amo de qualquer jeito, agora fica calma aí, eles tão chegando…Eles tão…

Maísa começa a fechar os olhos: Mãe, me perdoa, eu te amo. Eu te…Amo.

Em sua mente, a última frase do poema recitado por Lilian: Tú és o arco do qual teus filhos, como flechas vivas, são disparados… Que a tua inclinação na mão do Arqueiro seja para alegria.

Rubem vê a neta: Ela…Entregou a alma a Deus.

Lilian, incrédula: MAÍSA…MAÍSA…- Os médicos chegam.

Médico: A bolsa estourou antes disso, a filha dela vai nascer!

Lilian não sabe o que fazer, ela cai de joelhos na passarela: SALVEM A MINHA FILHAAAAAAAAAAA!

Mas já era tarde demais.

Maísa estava praticamente morta, mas os médicos ainda tentavam retirar o bebê, a passarela estava suja de sangue. A família de Maísa toda perplexa, Lilian desolada, ainda não crendo. Úrsula sai pelos fundos, acompanhada de Olive.

Úrsula: Eu falei. Eu falei que ela não ia vencer.

Cena 15- CEMITÉRIO/ DIA.

Lilian chora diante da filha. Bernardo está ao lado dela.

Lilian chorando: Queria agradecer a todos por estarem aqui me consolando de certa forma. Eu e a Maísa passamos por péssimos momentos e tudo começou na nossa viagem para Milão. Passamos por altos e baixos e conseguimos superar nossas diferenças. Hoje eu vejo a enorme importância que minha filha tinha e vai continuar tendo. Era jovem, especial, cheia de sonhos, mas o destino separou uma grandeza de sonhos de uma pessoa tão pequena diante da sua humildade, diante da sua força de se superar e de se reinventar. E como já dizia Raul Seixas: “É de batalhas que se vive a vida. Tente outra vez”. E recomeçar, eu vou tentar outra vez. – Ela enxuga as lágrimas.

Bernardo abraça Lilian: A gente vai recomeçar outra vez. Para todo sofrimento há um fim. Essa dor vai passar!

Ele chora e continua abraçado com Lilian. Todos começam aplaudir. Fausto surge com uma criança, é a filha que Maísa esperava. Fausto chega chorando e faz a criança dá um beijo na bochecha de Lilian. A mulher chora ainda mais.

Fausto sorri em meio ao choro: É a sua neta! Nossa neta!

Lilian emocionada: Linda igual à mãe. Eu vou cuidar dela pela Maísa. Vou dá muito amor.

Ela pega a criança e beija a menina. Bernardo abraça Lilian e a pequena.

Bernardo se afasta: Você também é da família. – E o chama para o abraço.

Os três se abraçam, juntamente com o bebê. Foca na imagem deles abraçados. Os que estão no velório começam a cantar a música “Tente Outra Vez – Raul Seixas”. Eles se entrelaçam com a mesma música, de fundo.

Úrsula observa tudo de longe.

Dias depois…

Cena 16- Mansão de Úrsula/ Dia.

Úrsula arruma a mala: Vejamos, o cachecol já está aqui, os casacos, minhas botas…Falta mais alguma coisa, caipora?

Olive mostra: Faltou o seu protetor labial, madame…Ainda não consigo acreditar que vou com você para o CANADÁ! Lá deve estar nevando…Eu nunca vi neve!

Úrsula se olha no espelho: Você tem sorte que tenho piedade de você, caipora- Ela pega o protetor labial- Primeiro Milão, agora Toronto. Só espero que essa minha próxima viagem seja mais agradável, e que eu vença o prêmio de Melhor Médica. Pelo visto a Lilian não foi chamada- Ela ri- Então creio que o passeio será agradável.

Olive: Estou muito animada, madame! E o Sid, também vai?

Úrsula: Sid? Nem me lembrava mais desse leitão milionário…A última vez que ouvi falar nele, foi uns meses atrás. Disseram que ele tava pelos Emirados Árabes, parece que se casou com Vanusa…

Olive ri: Poxa, ele se deu bem. E aquela velha do submundo, a Elisafran? Continua presa?

Úrsula pigarreia: Nem sei, caipora, você agora deu de falar de gente chata e desnecessária pra minha vida iluminada. Para com falatório e continua arrumando as minhas malas, me encontra em duas horas no apartamento dos Hippies, digo, dos Segata. Vou falar com o Bernardo, mas antes, preciso ir em outro lugar- Ela pega a chave do carro- Fica com minha Mercedes, eu vou com a BMW- Ela sai.

Olive faz gesto de soldado: Pode deixar madame senhora madame madamosa senhorita de todas as partes do meu corpo, dona de mim, vulgo Úrsula Malva- Ela continua arrumando as roupas- Rumo ao Canadá, rumo ao Canadá!!

Úrsula entra no carro: É hora de ter umas conversinhas- Ela sai dirigindo.

Um pouco depois…

Clube O Bicho&Eu…

Natália sorri: O clube está tão animado ultimamente, novos biólogos, novos bichos…

Leblônio concorda: É verdade, e eu adoro uma agitação. Uma pena o Vasco ter nos deixado e ido comandar um clube no Rio Grande Do Sul…

Natália sorri: Ah, mas ele merecia isso! Aposto que está muito bem por lá. E você pode chegar um dia ao nosso nível, Leb, é só continuar com a faculdade de biologia.

Leblônio: Eu tô indo muito bem por lá e…

Um empregado chega: Leblônio, tem uma mulher querendo falar com você, ela diz que é urgente. Mandei esperar na sala dos medicamentos.

Leblônio estranha: Uma mulher? Nossa…Bem, eu vou até lá então. Já volto, Natália, um instante- Ele sai.

Lá…

Úrsula vê um aquário e começa a bater no vidro: Peixe é bicho sem graça, viu, só fica nadando, nadando…Não faz nada da vida. Parece até gente que eu conheço.

Leblônio abre a porta: Úrsula?- Ela se vira- Tá fazendo o quê por aqui?

Úrsula sorri: Leblônio, há quanto tempo a gente não se vê- Ela suspira- E então, quais são as novidades?

Leblônio torce o nariz: E pra quê te interessa? Inclusive, eu posso saber o que está fazendo aqui? Veio debochar dos bichos?

Úrsula, magoada: Não seja tão ríspido comigo, porque eu te amo muito e não mereço esse tipo de tratamento, Leblônio! Não acredito, meses se passaram e você ainda insiste nessa má concepção da minha pessoa? Até Olive já me perdoou.

Leblônio: A Olive é só um fantoche, que você manipula muito bem. Eu não quero ser um dos seus fantoches, Úrsula, sinto muito… E também não quero mais conversa com você, não adianta argumentar! Nossa relação acabou definitivamente, e foi até melhor, porquê depois da sua saída, minha vida mudou muito. Tô estudando e já namoro outra garota…

Úrsula, chocada: Outra garota? Confesso que…Estou surpresa, Leb. Pelo visto o seu amor por mim morreu mesmo- Ela pega sua bolsa- Vim aqui te convidar pra viajar pro Canadá comigo.

Leblônio: Eu não vou viajar com você, primeiramente porquê tenho o meu trabalho a cumprir…Daqui a pouco faz um ano que tô trabalhando aqui…Mudei muito, Úrsula, mas você não. Continua a mesma pessoa de sempre, pessoa essa que eu abomino. Agora se você me der licença, tenho que voltar pro trabalho…

Úrsula: Leb, eu…

Leblônio abre a porta: Tchau, Úrsula. Tchau, pra sempre, se for possível. Você não me interessa mais.

Úrsula: Quer saber, quem não me interessa mais aqui é você- Ela aponta o dedo em sua cara- Um rapaz bobão, sem charme nenhum, burro, idiota, e ainda fica se achando? Me poupe, Leblônio, você não merece, isso sim!

Leblônio a empurra para fora: Ninguém te merece, Úrsula- Ela fica horrorizada- Aliás, a Olive, a Olive te merece sim- E fecha a porta.

Cena 17- PARQUE/ DIA.

Do alto de um parque lindo e florido é possível ver uma imagem de Lilian e Bernardo brincando com Maísinha, a filha de Maísa. Lilian tira fotos com a neta. Bernardo, que fotografa, sorri e se diverte. Um vento forte passa pelo local e as folhas caem. Maísa aparece, com uma roupa branca e com um rosto bem angelical. Ela olha a cena dos três se divertindo e chora emocionada. Os três ainda se divertem tirando as fotos. Maísa se aproxima aos poucos e sorri. Ela se senta do lado de Lilian e Maísinha. Bernardo tira a foto. E é possível ver uma luz branca bem fraca ao lado de Lilian. Maísa então vai embora e com ela uma nova ventania. Os três sentam ao lado de Rubem e Irene.

Rubem sorri: Tiraram bastantes fotos, não?

Lilian, rindo: Bastante. Tirar foto faz bem. Me deixa tão animada.

Bernardo guarda a câmera: E iremos tirar muito mais. Já contou pro seu pai da novidade?

Rubem sorri: Novidade?!

Lilian sorrindo: Eu e o Rubem decidimos passar uma temporada em Petrópolis. A gente precisa descansar um pouco a mente… E falando em mente, você foi visitar a Acácia?

Rubem: Fui. Eu e a Irene fomos lá visitar a Acácia e a situação dela é a mesma. Continua péssima.

Irene: E eu tenho a sensação que está piorando. Ela continua afirmando que matou a Gorete, ou melhor, Raquel.

Lilian: Surtou de vez, coitada da minha irmã… Mas e a Geórgia com o tal noivo dela. Está dando tudo certo?

Irene sorri: Dentro do possível. Está toda contente com esse homem. E fico feliz por ela, Geórgia sofreu tanto na vida, merece uma chance de viver e ser feliz.

Lilian pega um jornal: Entendi…- Ela vê um rosto conhecido na capa- Vittória parece que ganhou um prêmio. Depois de tanto tempo sofrendo ela também merece. Parece que tudo está se encaixando para um final feliz. – Ela sorri- Qualquer dia desses, vou visita-la. Ela me apoiou muito quando a Maísa se foi…

Bernardo olha a hora: Lilian, vamos? Eu ainda tenho que fazer minha mala… Na verdade colocar o que falta, já está quase completa.

Lilian se levanta e limpa a roupa: Então vamos, pessoal- Ela pega Maísinha- Tenho umas coisas pra arrumar ainda.

No apartamento…

A campainha toca.

Bernardo, correndo: Eu atendo- Ele abre.

Úrsula suspira: Bom dia, filho…Vim aqui conversar contigo.

Bernardo se surpreende.

Cena 18- APARTAMENTO DOS SEGATA/ DIA.

Bernardo fecha a porta do quarto: Posso saber o que você quer comigo?!

Úrsula se senta na cama do quarto: Indo viajar, filho?

Bernardo confirma: Eu, Lilian, e a sua neta. Maísinha. Eu não sei se você ainda lembra da existência dela…Afinal, nunca veio ver ela.

Úrsula se dá conta: Mas vocês não vão para o Canadá, certo?

Bernardo, angustiado: Não, vamos pra Petrópolis…E estamos com um pouco de pressa, portanto se você puder ser direta no assunto que tem a tratar.

Úrsula se levanta: Eu vim te ver, Bernardo, porque você é o único que me interessa nessa casa, e não faço questão de esconder isso! Não veio me procurar, portanto vim aqui…T          E VER, isso basta?!

Bernardo: Sinceramente eu tenho as minhas dúvidas quanto a isso… É, as vezes eu acho que você nunca ligou realmente pra mim. Enfim, já me viu, já pode ir embora…

Úrsula: QUEM ME ABANDONOU AQUI FOI VOCÊ!

Bernardo nega: NADA DISSO, NADA DISSO! Você se afastou de mim porquê não aceita que eu amo a Lilian, e se for assim, vai ter que ficar afastada pro resto da vida, já que eu nunca vou deixar de amar ela… E agora tenho a minha filha, filha da Maísa! Lembra dela? Pois bem, eu e Lilian estamos criando ela com muito e amor e carinho, e se você se importasse realmente, teria vindo visita-la. Eu te convidei pro batizado!!

Úrsula, querendo chorar: Você está sendo muito injusto comigo, Bernardo, mas ainda vai ter o seu castigo, como a Maísa teve o dela! Mas falou algumas coisas verdadeiras em meio a algumas bobagens, como por exemplo que eu odeio a Lilian, e odiava a Maísa, e vou odiar essa criança. Pra mim, essa Maísinha, esse é o nome dela? Bem, tanto faz, ela é um ser sem a maior relevância, e faço questão de afirmar isso! Ela vai ser aidética igual a mãe, não é?

Bernardo, revoltado: CALA A BOCA! Eu me recuso a ouvir essas palavras tão monstruosas, mãe…É lamentável! Dá até…Nojo. Sai daqui, por favor, vai embora da minha casa. É tudo que eu te peço.

Úrsula respira fundo: Rompendo laços comigo…Muito bem. Você tá fazendo suas escolhas, como a Maísa fez, e vai acabar se dando muito mal. Isso é um alerta, Bernardo, e você devia prestar atenç…

Bernardo grita: SAI DAQUI.

Úrsula o olha: Não vai me pedir a benção? Nem isso você mais? Tá corrompido mesmo…

Bernardo sai em sua frente: Infelizmente, eu não vou mais te pedir a benção.

Úrsula sai para a sala, sem dizer nada.

Irene está com a porta aberta: Ali está ela…- Úrsula chega- Tem uma mulher chamada Olive querendo falar contigo.

Úrsula se apressa: Já vou, caipora, não se preocupe que ainda temos tempo até o voo- Ela vai saindo quando Lilian aparece com a criança.

Lilian a chama: ÚRSULA- Ela se vira- Você já viu sua neta?

Úrsula se vira lentamente: Neta? Eu acho que você está se confundindo… Eu não tenho filho, quiçá uma neta. Com licença, vou indo- Ela sai.

Bernardo fecha a porta: Bem, vamos terminar de arrumar nossas malas?

Lilian dá um fraco sorriso.

HORAS DEPOIS…

Lilian, Bernardo e Maísinha fazem um passeio suave de canoa.

Bernardo rema: O clima tá agradável…Há quanto tempo eu não vinha em Petrópolis, há quantas décadas!

Lilian: É uma boa opção pra quem quer fugir do alvoroço do Rio! Esses anos 80 estão muito fervorosos pro meu gosto. Com muitas perdas inclusive- Sua voz se embarga- Acho que eu nunca vou superar a morte da minha filha…

Bernardo: Não fala disso agora, Lilian, estamos num momento tão bom. Tenho certeza que Maísa está feliz pela gente, fora que temos a Maísinha… Vamos falar de coisas boas, combinado?

Lilian sorri: Você tem razão, Bernardo…Vamos aproveitar esse dia, meu amor- Eles beijam- Não é, Maísinha?- Ela brinca com o bebê- Olha que lindo, meu amor…

Bernardo: Fazia quanto tempo que você não vinha aqui?

Lilian, séria: Muito tempo, muito! E da última vez, não foi muito agradável…

Flashback.

Quase 20 anos atrás.

Lilian e Maísa passeiam perto do lago: Filha, toma cuidado, por favor… Ah, cadê o Fausto?

Maísa, naquela época com cinco anos: O papai disse que ia atrasar.

Lilian se senta em um banco: Então fica brincando, que eu vou esperar o papai aqui…Só o Fausto mesmo pra querer fazer um passeio com a família as 6h da manhã. Tá tudo vazio por aqui… E ainda mais eu grávida- Ela olha pra barriga.

Maísa pula e brinca: Mamãe, é verdade que meu irmão vai se chamar Artur?

Lilian acaricia a barriga: Nossa, Artur? Claro que não, Maísa. Estou me decidindo entre Gabriel e Victor. Qual você prefere?

Maísa: Ah, sei lá! Eu queria que fosse menina- Ela sai pulando nas poças de água- Olha, mãe, eu vou pular no lago!

Lilian lê um jornal: Maísa, não faz isso, filha…- Ela escuta o barulho da água- MAÍSA?!- Ela vê que a filha pulou- MAÍSA, MAÍSAAA!

Maísa começa a se afogar.

Lilian: FILHA! AH MEU DEUS, ELA NÃO SABE NADAR, ALGUÉM AJUDA A MAÍSA, POR FAVOR- Mas no lugar não há ninguém- MAÍSA! FILHA!

Maísa: MÃE, SOCORR…- Ela se afoga.

Lilian: MAÍSAAA- Ela pula no lago para salvá-la e acaba sentindo uma forte dor na barriga.

A água começa a ficar avermelhada e ensanguentada.

Volta a cena.

Bernardo, preocupado: Lilian? Que cara é essa?

Lilian, refletindo: Sabe Bernardo, as vezes a gente precisa ser humano e abdicar coisas importantes, para o bem do próximo… Eu já fiz isso várias vezes na minha vida, principalmente com a Maísa… E não me arrependo.

Bernardo: E porquê você tá falando isso?

Lilian o acaricia: Pra lembrar das verdadeiras coisas que importam nessa vida. É isso que eu vou continuar fazendo, seja por você, por minha mãe, meu pai, minha família, ou pela Maísinha…Eu vou sempre ser humana.

Bernardo para de remar: Você é um exemplo pra mim, Lilian. Eu te amo.

Lilian o beija: Eu também te amo muito…- Ela olha pro lago- E nunca vou deixar de te amar, Maísa…Nunca…

FIM.

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VAMOS DEIXAR OS AGRADECIMENTOS NOS COMENTÁRIOS, FIQUE COM O TEASER DE JUÍZO FINAL, PRÓXIMA WEB NOVELA DO PORTAL, DE AUTORIA DE UM GRANDE AMIGO: VINÍCIUS ALMEIDA.

https://youtu.be/hTFX3aTyt4o