Ser Humano- Capítulo 31.

Ser Humano.

CAPÍTULO 31( NOVA FASE DA WEB).

Cena 01- Em frente a lanchonete/ Dia.

Téo suspira: Bem…Eu vou indo, Úrsula, acho que não tenho mais nada pra fazer aqui, com licença- Ele a beija e sai.

Úrsula coloca os óculos escuros: Vai pela sombra, meu querido, e não se esqueça de compor outra música pra mim, estou sentindo saudades das suas letras melosas.- Ela acelera e sai.

Um pouco depois, na lanchonete…

Bernardo: Foi muito bom ficar aqui com você, Lilian, mas eu tenho que voltar pro meu emprego, ou então eu perco ele…

Lilian limpa a boca: Já eu não sei o que senti, não sei se foi bom, ruim, péssimo ou ótimo, mas enfim…Também tenho que ir, Bernardo.

Bernardo: Me passa o seu número de telefone, o seu endereço.

Lilian se levanta, apressada: É melhor não- Ela está envergonhada- Até outro di…- Mas Bernardo a pega pelo braço.

Bernardo a acaricia: Porque você tá com vergonha? Você não é casada, eu também não, somos livres, podemos nos beijar sem que ninguém nos cobre alguma coisa.

Lilian tropeça numa cadeira: É muito mais do que isso, você não entende, é jovem. Jovem demais- Ela deixa o dinheiro para a conta- Até outro dia- E sai correndo.

Bernardo suspira.

Perto de seu carro, Lilian é abordada.

Téo a pega violentamente: Você achou que ninguém ia descobrir?

Lilian, dolorida: Ai, me larga, Téo! Tá me machucando!

Téo a solta com toda força.

Lilian, furiosa: Você acha que é quem pra fazer isso, hein? Idiota, bruto. Eu não sou mais a Lilian dos velhos tempos que aceitava apanhar de você, canalha- Ela o empurra- Me deixa em paz!

Téo provoca: Grita mais, quem sabe seu namoradinho consiga ouvir e venha te resgatar? Não que tenha peito pra isso, afinal é só um frangote…

Lilian: Ele é mais honesto que você.

Téo debocha: Nossa, a coisa já está nesse nível? Você já assume o namoro com o adolescente? Sua sem vergonha, e eu achando que você era uma pessoa boa, mas está sendo cruel com sua própria filha, fazendo um jogo emocional com ela, por conta de uma vingança! VINGANÇA?!

Lilian não entende: Vingança? Do que você tá falando?

Téo respira fundo: Não se faz de idiota, que pelo visto você não é. Eu tô falando do que você tá fazendo com a Maísa e o namorado dela, quer que eu seja mais específico do que isso? VOCÊ DEVIA TER VERGONHA, NÃO VALE NADA MESMO, ME ARREPENDO DE TER TE BEIJADO! MAS EU NÃO VOU DEIXAR QUE A SUA MALDADE MAGOE A MINHA FILHA- Grita.

Lilian lhe esbofeta: Sai de perto de mim, eu não sei do que você tá falando, Téo, deve estar bêbado, ou louco, isso sim! Se afasta de mim, eu que não quero mais ter o desprazer de encostar na sua boca suja, você pra mim só remete a uma mancha do passado, felizmente consegui lavar ela. Você não significa nada pra mim. Nojento.

Téo lhe dá um tapa na cara.

Lilian, marcada, começa a chorar, seu rosto fica vermelho, mas logo o choro se transforma em raiva e ela parte pra cima do homem: Quem você pensa que é pra me bater? Você se acha mais forte e por isso acha que tem o direito de encostar a mão em mim, não é? VAI EMBORA DAQUI, ME DEIXA EM PAZ, SEU CANALHA, IDIOTA, ME LARGA OU EU CHAMO A POLÍCIA! EU TE DENUNCIO! COVARDE!- Ela atrai a atenção das pessoas que passam pela rua do estacionamento. Téo repara que exagerou.

Téo, bravo: Isso não vai ficar assim, Lilian, o que você está fazendo com minha filha não tem perdão- Ele vai embora, rapidamente.

Lilian coloca a mão no olho: Ele me paga- E volta pro carro, lacrimejando por conta da dor.

Cena 02- Mato Grosso/ Aldeia Indígena/ Dia.

Gorete, que agora se chamava Iracema, se aproxima do Cacique, que por sua vez está praticando arco e flecha.

Gorete, tensa: Cacique Peri! – Ela o toca. – Me concede um minuto, por favor?

Peri, largando os palitos: Pois não, Iracema.

Gorete revela: Eu gostaria de procurar minha verdadeira família. Agora que meu filho Kaynub já cresceu e meu marido infelizmente se foi, eu tenho como ir ao Rio de Janeiro sem nenhuma dívida. Gostaria de encontrar minha mãe…

Peri, pensativo: E você tem alguma notícia sobre o paradeiro deles?

Gorete: Naquela foto que está comigo tem o nome deles, e atrás um endereço. Eu vou até esse endereço e lá vou obter informações sobre minha família.

Cacique, sorrindo: Se isso vai te fazer bem, eu te concedo essa viagem, e se quiser, posso ir com você também. Você trabalha muito, Iracema, pode juntar seu dinheirinho e ir.

Gorete sorri: Muito obrigado, se o cacique desejar, pode vir também! Mas Kaynub deixarei aqui aos cuidados de Mãe Araci.

Cena 03- Apartamento dos Segata/ Dia.

Lilian chega em casa, um pouco abalada por conta do tapa que havia levado, Irene está se arrumando para sair.

Irene, apressada: Filha, ainda bem que você che…O que aconteceu?- Ela nota que a filha esconde o olho- Lilian, eu te fiz uma pergunta!

Lilian mostra o olho roxo: O Téo. Ele me bateu- Irene fica abismada.

Irene: Geórgia, trás gelo aqui, por favor!- Ela senta Lilian- Filha, isso é inadmissível, aquele homem não tem esse direito, aliás, nenhum homem tem…Que horror, e eu acreditando que esse infeliz tinha mudado e se tornado um homem mais maduro, talhado pela vida. Isso não pode ficar assim…

Lilian pega o gelo: Obrigada, Geórgia- E se vira pra mãe- E não vai ficar assim, mãe, o Téo acha que pode tudo, com certeza estava bêbado, ou quem sabe até…Esquece, não vou ficar formulando hipóteses, mas vou tirar satisfações com ele. Esse tapa foi o ápice. Agora odeio aquele crápula mais ainda. Ele não podia ter feito isso comigo…- Ela coloca a bolsa de gelo no olho.

Irene: Depois disso, é melhor você ficar aqui e descansar, aí eu e o Rubem vamos pro hospital. Aliás, não deixa seu pai saber disso, porque mesmo sendo bem racional, ele pode perder a linha, pegar o facão de cortar coco e ir atrás desse Téo. O pai do Rubem, o seu Alarmino, era cangaceiro e ensinou muito pro filho.

Lilian, preocupada: Pera aí, mãe…Hospital? Vocês vão fazer o quê no hospital?

Irene, triste: A Maísa passou mal, filha, e está lá desde ontem com o Fausto, mas parece que a coisa é grave e ele ligou hoje, mandando nos chamar. Mas como seu olho tá roxo, melhor repousar.

Lilian pula: Nada disso, eu quero saber o que aconteceu com a minha filha, vamos pra lá agora! Se ela tá desde ontem, por certo alguma coisa de ruim aconteceu, vamos, vamos- Rubem chega- Vamos, pai.

Rubem termina de colocar o cinto: Vamos, filha. O que aconteceu com seu olho?

Lilian pega as chaves do carro: Eu bati em um poste, vamos logo, vocês deviam ter telefonado pro número do prédio onde eu estava, e me dito isso. Coitada da Maísa- Os três saem.

Geórgia, preocupada: Vão com Deus…- Ela pega seu terço- Tomara que não tenha acontecido nada demais com a dona Maísa, ela é uma pessoa tão boa- Raquel aparece- Filha, venha rezar pela saúde dela…

Raquel ri: Eu? Me poupe, a Maísa não tem nada, só preguiça e dengo, isso tem cura: surra! E outra que por mim tanto faz ela estar bem de saúde ou a beira da morte, com licença que tenho de estudar.

Geórgia fica surpresa: Minha filha…Não seja fria.

Raquel perde a paciência: E você não seja idiota, como que se ela fosse uma rainha, chega disso, mãe! Larga esse terço- Ela vai até Geórgia- LARGA- E tira o terço das mãos dela- Vai fazer alguma coisa de útil ao invés de perder tempo pensando naquela idiota da Maísa. É cada uma…

Cena 04- Mansão de Úrsula/ Dia.

Paula, Elisafran e Olive estão sentadas no sofá da sala. Elisafran lê uma revista, enquanto as outras duas lhe encaram.

Elisafran, abaixando a revista: O que querem? Estão me encarando aí.

Paula, falsa: Estou te admirando. Uma mulher forte como você é de se admirar, não acha? Eu vou passar a te usar como espelho, Fran. Aliás, você não tem ninguém para fazer isso, ou tem?

Elisafran, desconfiada: Aonde você quer chegar com essa insinuação, Paulinha?

Paula, sorrindo: Cê nunca contou para gente sobre sua vida, a gente não sabe quase nada sobre você. Conte-nos, você tem alguma filha?

Elisafran, gelada: Eu… se… se eu tenho uma filha? Claro que não! – Ela sorri. – Que ideia mais absurda. E se eu tivesse, por qual motivo eu esconderia, não é mesmo?

Paula, sarcástica: Claro. Você tem toda razão. – Bernardo chega. Elisafran sobe rapidamente e Olive se retira da sala. – Bê, amor. Que bom que você chegou, a casa fica totalmente diferente com sua entrada.

Bernardo: Eu não sei quem consegue ser mais falsa: você ou minha mãe.

Paula, se levantando: Credo, Bê. Você sabe muito bem que eu gosto da sua presença. Só falta sua presença na minha vida, mas aí a coisa muda. Vamos deixar o tempo fluir, não é mesmo?

Bernardo, sério: Paula, não cria expectativa de uma coisa que não vai acontecer. Eu não gosto de você, e eu não vou ficar com você. – Paula lacrimeja. – Eu vou te dizer do fundo do meu coração: Não fica se iludindo. Eu já estou apaixonado por outra.

Bernardo sobe a escada correndo e Paula chora. Elisafran retorna do banheiro.

Elisafran pega novamente a revista: Cuidado pro seu rostinho não derreter, querida.

Paula, chorosa: CALA A BOCA!- Ela pensa em tacar um jarro na parede, mas lembra-se que não está em casa.

Cena 05- Clube O Bicho&Eu/ Dia.

Téo chega por lá e vai até onde Natália cuida de um Tamanduá-Bandeira debilitado, ele ainda está muito irritado com Lilian, por isso anda rapidamente e com expressão séria.

Natália conversa com um biólogo: Depois de tratar a patinha dele, pode acionar a companhia ambiental pra leva-lo de volta pra Mata Atlântica- Ela vê o irmão- Oi Téo, tudo bem? Que cara é essa?

Téo disfarça a raiva: Nada, irmã…Problemas, eu vim aqui só pra entregar os seus óculos, o Vasco me ligou dizendo pra trazer. Aqui estão- E os entrega- Agora eu vou voltar…

Natália o impede: Calma, eu tenho uma notícia importante pra te dar. O Fausto faltou, ele disse que não poderia vir pois está com Maísa no hospital. Eu não sei o que está acontecendo com ela, mas parece grave. Ele pediu pra eu te dar o recado, e como eu sabia que viria aqui…Ela tá no hospital Botafogo.

Téo, preocupado: Obrigado por me avisar…Eu não pude conviver muito com a Maísa, mas nós nos demos muito bem naquele encontro…Vou até lá agora mesmo pra saber o que aconteceu com ela- Ele a beija e sai.

Onofre espera o cunhado sair e aparece: Natália!- Ela se vira- SURPRESA- E tira um gatinho de uma caixa.

Natália, surpresa: Um…Gato? Ele tá machucado? Coitadinho, deixe-me ver- E o pega.

Onofre ri: Claro que não, é um presente meu pra você, e não ouse recusar! A monstruosa da Yara não está mais morando no flat, você pode criar ele sozinho, livre, do jeito que quiser! E esse é o primeiro de muitos presentes- Onofre a pega pelo pescoço e tasca-lhe um beijo.

Natália, envergonhada: Obrigada Onofre, você sabe mesmo do que eu gosto…Bichos! Eu vou cria-lo com muito amor.

Onofre corrige: NÓS vamos cria-lo com muito amor, você quis dizer. É gato de raça, tenho certeza que vai cuidar bem dele. E já tenho uma sugestão pra nome: Onofrinho! Não é lindo?- Vasco o chama- JÁ VOU, JÁ VOU!

Natália, feliz: Vai lá…E obrigado pelo “ Onofrinho”, você é um amor- Ela dá um sorriso não muito natural.

Onofre: Depois ainda tenho que falar sobre a data do nosso casamento, eu conversei com o padre e…- Vasco o chama- CARAMBA, VASCO, É TÃO URGENTE ASSIM? Depois conversamos, meu amor- Ele vai até o amigo.

Natália lembra quando achou Jobim e cuidou do gato com Fausto: É…As coisas mudaram. Pra pior- Ela acaricia “ Onofrinho” e observa o futuro marido de longe.

https://youtu.be/La0rUsdWlDw

Cena 06- Urca/ Tarde.

Lídia e Yara compram um sorvete e vão andando pela praça. Em uma das ruas de volta para casa, Yara acaba esbarrando em uma prostituta e deixa o sorvete cair na roupa dela.

Lolô, furiosa: Qual foi baranga? Olha o que você fez com a minha roupa, sua nojenta. Como vou trabalhar agora?

Yara ri: Você trabalha aqui na rua? Ah…Percebi tudo. É mulher de vida fácil… Aqui devem ter várias.

Lolô empurra Yara e Lídia contém a filha: Você tá tirando com a minha cara? Fica de gracinha que eu faço essa sua cara de madame desqualificada virar pó rapidinho, DEPOIS QUE EU ARRASTAR ELA NO ASFALTO.

Yara, arrumando o cabelo: Mas é muito favelada mesmo. Tem todas as características de uma prostituta brasileira genuína. Deixa eu me retirar antes que eu fique contaminada com esse seu espírito.

Yara e Lídia saem e Lolô termina de limpar sua roupa.

No apartamento…

Yara, furiosa: Agora você vê, mamãe. MADAME DESQUALIFICADA. Ainda ameaçou arrastar minha cara no asfalto. Mulherzinha sem escrúpulos.

Lídia fecha a porta: E você ainda a provoca. Se ela te batesse, eu que não ia te defender.

Yara se senta: Mas se bem que essas prostitutas podem me ajudar de certa forma.

Lídia, chocada: VOCÊ ESTÁ QUERENDO SE PROSTITUIR?

Yara: Claro que não mamãe, é outra coisa. Depois te conto! – Ela sai, sorrindo.

Cena 07- Hospital Botafogo/ Tarde

Toda a família de Maísa está nos corredores. Lilian muito preocupada. Irene tentando consolar ela e Rubem lendo a revista do jornal. Téo quieto em um canto e Fausto, tenso, ainda não tinha contado do diagnóstico da filha.

Pierre se aproxima, lentamente: Boa tarde.

Lilian, Fausto e Téo ao mesmo tempo: Como tá a nossa filha?

Pierre tira os óculos: Calma, calma. O Fausto pelo visto ainda não contou pra vocês…

Lilian, tensa: Contou o quê, Pierre? Como tá a Maísa? FALA!

Pierre faz uma cara dolorosa: A Maísa não está bem. Ela não vai poder sair do hospital enquanto sua fraqueza não melhorar…Seu corpo todo tá afetado. Ela tem a Síndrome da Imunodeficiência Humana. A AIDS.

Lilian coloca as mãos sobre a boca: Não…NÃO.

O choque é geral.

Rubem se levanta: AIDS? É isso que minha neta tem?

Pierre confirma: Exatamente. Nós ainda não sabemos como ela contraiu, mas eu preciso explicar pra vocês sobre a doença. Mas eu vou logo adiantando: A medicina não descobriu cura pra AIDS ainda. Ou seja, não sabemos como Maísa vai reagir a doença em seu corpo, e quanto tempo ela vai viver.

Lilian se apoia na parede: Não me fala isso, Pierre. Não pode ser. Eu não quero acreditar.

Téo, frio: Lilian, deixa ele falar, por favor.

Irene a conforta: Calma, filha. Pierre, prossiga.

Pierre continua: A Imunodeficiência é uma inabilidade do sistema de defesa do organismo para se proteger contra microorganismos invasores do nosso corpo. Uma pessoa pode ser portadora de um vírus sem desenvolver a doença, mas esse não é o caso da Maísa. Ela tem Aids. É uma doença relativamente nova, foi reconhecida em 1981, há quatro anos atrás! Nós não sabemos o que vai acontecer com a Maísa de agora em diante, e tudo o que nos resta é esperar. Lamentavelmente a AIDS se espalhou de uma maneira avassaladora, e…Sejamos realistas. Poucas pessoas sobreviveram até agora. E as que sobreviveram, sofrem com o preconceito. Muitas se matam de desgosto, muitas perdem o apoio da família…

Lilian: Mas esse não vai ser o nosso caso! Minha filha não merecia isso e não vamos sair do lado dela agora, em um momento tão difícil! Não vamos- Ela começa a chorar.

Pierre: Eu sei que é difícil pra você, pra todos, é uma reviravolta na vida de quem convivia com a Maísa. Lilian, você como mãe é que deve estar presente ao lado dela cada vez mais, pois podemos acordar um dia e a Maísa não…É imprevisível saber o que vai acontecer.

Téo, lacrimejando: A minha filha já sofreu demais nessa vida- Ele olha para a médica- Nós vamos apoiar ela seja qual for o caso, e eu vou recuperar o tempo perdido. Vou ficar ao lado dela.

Lilian se levanta: Não mais do que eu. Vou fazer o possível e impossível para a felicidade da minha filha, eu vou compartilhar das dores dela, e vou dar o melhor de mim, sofrer com ela, sorrir com ela, como uma verdadeira mãe.

Téo: É uma pena que você não seja exemplo de mãe assim o tempo todo.

Irene intervém: E você não é exemplo de homem. Covarde.

Lilian começa a ter dificuldade na respiração: Eu acho que minha pressão tá baix…- Ela cai no chão.

Rubem a levanta: Lilian, minha filha! Fausto, vá buscar água!- Ele a senta em uma cadeira- Irene, não tem nada salgado aí na sua bolsa? Nem um biscoitinho?

Irene procura: Acho que não…Eu vou buscar algo e aproveitar pra ligar lá pra Geórgia…Coitada da Lilian- Ela sai.

No apartamento dos Segata…

Geórgia serve um pedaço de bolo para Leblônio: De banana, do jeito que você gosta.

Raquel fecha o livro: Dá pra abaixar o volume dessa porcaria de novela que só suja a nossa mente?

Geórgia a obedece: Mas filha, agora que começou a novela do Pardal, eu queria ver o que vai acontecer com…

Raquel revira os olhos: EU NÃO QUERO SABER, TÔ TENTANDO ESTUDAR E JÁ QUE MEU QUARTO É UM CUBÍCULO, TENHO QUE VIR PRA CÁ. E LEBLÔNIO, DÁ PRA MASTIGAR DE BOCA FECHADA?

Leblônio engole tudo: Nossa, que stress! Só porque passou na faculdade de jurismo fica querendo mandar em todos- Ele bebe suco- Que azar o meu, quando venho aqui, a família toda está no hospital.

Raquel: Azar é seu sobrenome… E é turismo, não jurismo, anta carioca.

O telefone toca, Geórgia atende: Prontinho! Ah, oi dona Irene, pode falar…- Ela faz uma expressão séria- O quê? Ela tem o quê? Meu Deus do céu…Tudo bem, me mantenha informada…- E desliga.

Leblônio espirra: ATCHUBA!- Ele limpa o nariz na própria roupa- E então, Jorgia, o que a Maísa tem?

Geórgia, triste: Ela tem aquela doença lá…A Aids. Meu Deus, que horror, coitada da nossa patroa, uma mulher tão boa e jovem- Ela chora. Raquel ri.

Leblônio derruba o prato no chão: MEU DEUSINHO, A MAÍSA VAI MORRER! AH ELA ERA TÃO JOVEM, AI EU NÃO ACREDITO, JÓRGIA, ME SEGURA. ELA NÃO MERECIA ISSO, É MACUMBA! ALGUÉM COLOCOU MACUMBA NA MAÍSA!

Raquel joga um livro nele: Cala a boca, idiota, ela não vai morrer, mas vai sofrer- Ela abre um sorriso- Muito que bem feito.

Leblônio: SUA NAJA SEM CORAÇÃO, COBRA SEM PÉ- Ele grita pelo apartamento- TADINHA, TADINHA DA MAÍSA, COITADA! A VIDA É CRUEL!

Geórgia pega o terço e esquece a novela.

Cena 08- Casa de Vittória/ Início de noite.

Vittória abre a porta e Bruno entra.

Vittória sorri: Entra Bruno. Estou muito feliz que veio conhecer minha casa. Bastante!

Bruno, entrando: Eu que agradeço o convite. E o Breno, cadê ele?

Vittória: Está no quarto. Depois do acontecido, ele só vive trancado dentro do quarto.

Bruno: E eu posso ir até lá?

Vittória, sorrindo: Claro. Enquanto isso eu vou pedir pra empregada preparar algo para a gente comer. Vai lá.

No quarto de Breno…

Bruno, entrando: Breno! Posso entrar um pouco? – Breno faz que sim. – Está tudo bem?

Breno se senta: Não! Eu estou triste pela minha mãe… e por mim também.

Bruno pega um pote de brinquedo: E se a gente brincar um pouco para distrair a mente? Eu adoro carrinho, e você tem vários. Tenho certeza que daremos super certo. – ele sorri.

Um pouco depois… Bruno sai do quarto e se senta à mesa, onde Vittória está.

Vittória o serve: E ele, como está? Ele não foi grosseiro com você, né?

Bruno sorri: Claro que não. Seu filho é um anjo, nos demos muito bem. Brincamos de carrinho e tudo. Eu sei dominar crianças…

Vittória, tranquila: Bobo. Sabe Bruno, depois do que aconteceu, o Breno anda muito triste. Eu fico com tanta pena dele, mas eu nem sei o que fazer para mudar isso. A não ser o convite que eu aceitei, para explicar sobre a AIDS.

Bruno, compadecido: Eu sinto muito, Vittória. Muito mesmo. É uma pena que sua brilhante história como publicitária tenha sido afundada pelo preconceito e pela ignorância das pessoas.

Vittória: Isso não vai mudar nunca, Bruno. Daqui alguns anos as pessoas vão aceitar com mais facilidade, mas vão continuar olhando para os que carregam o vírus com olhar de desprezo, tentando sempre manter distância. É a ordem natural das coisas.

Bruno: Eu não sei como em meio a uma situações dessas você ainda consegue cuidar do filho, receber pessoas em sua casa. Você é uma guerreira. – Ele sorri.

Vittória: Que nada. Eu venho tentando não me abater com os comentários, com as ameaças. Depois disso, eu fui obrigada a viver em um mundo meu. Nem sair de casa, mas eu posso. Aonde eu vou sou hostilizada, xingada e apedrejada. Como esse mundo é ignorante, Meu Deus.

Bruno: E o Breno, tem estudado?

Vittória: Qual escola vai querer ser frequentada por o filho de uma aidética? Mas isso vai ter que mudar, Bruno. Eu tenho os meus direitos, o meu filho também e eu vou lutar por eles. Pode ter certeza. Essa ignorância sem fim vai ter que encontrar um.- Promete.

Cena  09- Clube O Bicho&Eu/ Fim de tarde.

O telefone do clube toca, e Vasco atende: Clube O Bicho E…Clube de biologia, Vasco falando…Quer falar com Onofre? Só um minuto?

Onofre logo chega: É o próprio, quem deseja?

Doutor Gold: Sou eu, Gold, da clínica onde você mostrou seus exames. Preciso falar urgentemente contigo. HOJE!

Na clínica…

Onofre chega, desesperado: Doutor, o que aconteceu? Eu vim correndo do trabalho, tô todo suado…Me diz que acharam uma cura pra minha doença, é isso? Fala, doutor Ouro!

Gold sorri: Melhor ainda, Onofre, você não tem doença nenhuma.

Onofre perde o sorriso: Como é que é?

O Doutor joga uma pilha de papéis na mesa: Esse é seu verdadeiro diagnóstico, foi tudo um engano, Onofre! Aquele diagnóstico era de outra pessoa, que acaba de falecer por conta dessa doença, nós pesquisamos e descobrimos um erro nos papéis e no sistema. Você não tá doente, apenas com enxaquecas fortes.

Onofre, boquiaberto: Eu não sei o que falar…Eu posso processar vocês, porque sofri muito com esse diagnóstico, doutor! Isso é horrível, eu fui enganado! ENGANADO!

Gold: Calma, Onofre por favor, vamos fazer um acordo. Foi um erro. Grave, eu sei, mas podemos negociar…Lhe dou os remédios, que são um tanto quanto caros, em troca do seu silêncio, é justo pra nós! Peço perdão!

Onofre se levanta: Seu idiota, sem ética e moral! Não quero remédio nenhum, tenha uma boa tarde e pode jogar esses exames no lixo, queimando, de preferência- Ele sai do consultório- Ah meu Deus, o que vai ser do meu casamento agora?

Cena 10- Casa de Leblônio/ Início de Noite.

A campainha da casa de Leblônio toca e ele abre, dando de cara com Úrsula

Leblônio, sorrindo: A dona daquela Mercedez aqui? Que surpresa…

Úrsula entra: Eu vim saber como você está. Depois daquele acidente, não nos vimos mais.

Leblônio, desconfiado: Como você descobriu meu endereço? Ah, já sei, você procurou por alguém lá no shopping, né?

Úrsula sorri: Isso. Eu fui até lá e me passaram as informações. Eu queria saber como você está.

Leblônio: Estou bem, e… você só veio aqui para perguntar isso?

Úrsula, olhando para boca de Leblônio: Talvez não.

Leblônio, empolgado: E o que mais veio fazer aqui?

Úrsula: Isso! – Ela lhe puxa e depois o beija.

No instante, ele se atrapalha e acaba mordendo a boca de Úrsula.

Úrsula, colocando a mão na boca: AAAAI! DESASTRADO. Vamos recomeçar- Ela o beija novamente, dessa vez mais lentamente.

Cena 11- Hospital Botafogo/ Início de noite.

Pierre abre a porta do quarto, onde Maísa está deitada, sonolenta.

Maísa abre os olhos lentamente: Doutor Pierre…- Ela se dá conta que está no hospital- Cadê meu pai? O que eu tenho?

Pierre se aproxima: É algo muito delicado, melhor eu esperar você acordar por completo- Ele verifica o soro.

Maísa desperta: Não, fale logo que agora eu me preocupei, já estou atenta. O que eu tenho? Diga!

Pierre pisca: Maísa…Você está com doença muito grave.

Maísa, assustada: O que é? Meningite? Tuberculose?- Ela começa a chorar- É câncer? FALA, PIERRE! É CÂNCER?

Pierre suspira: É Aids, Maísa.

Maísa se desespera: AIDS?!

Termina o capítulo 31.