Ser Humano- Capítulo 17.

Ser Humano.

Capítulo 17.

Cena 01- Mansão de Sid/ Sala/ Noite.

Continuação da conversa entre Sid e o bandido.

Sid cai sentado: O QUE VOCÊ FEZ COM MINHA SOBRINHA?- Elisafran fica horrorizada- RESPONDA CRÁPULA!

Bala Perdida: Fala com o titio, Paulinha- Ordena, ao mesmo tempo em que empurra ela até o telefone velho- Diz tudo o que a gente combinou- E aponta a arma pra seu pescoço, dessa vez.

Paula engole em seco: T-T-Tio…Eu…Fui sequestrada- Ela treme- Eles querem…500 milhões de cruzeiros…

Sid, ofegante: Paula, pelo amor de Deus…Eu dou o que eles quiserem, mas que te libertem!

Paula, a ponto de desmaiar: Tio, me escuta…Eu vou dar o endereço do galpão, mas você tem que vir sozinho, qualquer traço da polícia…E…

Bala Perdida ordena: VAI, COMPLETA A FRASE, IDIOTA, COMPLETA!

Paula, segurando o gancho: Qualquer traço da polícia…E eu morro- Fala, aos prantos, deixando o tio horrorizado- Você tem de vir antes do amanhecer, tio, ou então eles acabam comigo. Ouviu?

Sid, desesperado: Filha…Mantenha-se calma, eu vou aí, com o dinheiro que for necessário, mas não façam nada com minha sobrinha, pago o que for pra tê-la de volta aqui, ouviram?

Paula, suando frio: Tio, anota o endereço…- Ela especifica o nome da rua- Venha antes do amanhecer, antes…

Sid anota tudo: Minha querida, eu vou, mas lembre-se da gravidez, não pode se alterar muit…- A ligação é cortada- Paula? PAULA? PAULA, RESPONDE!- Ele chora como nunca havia se visto antes, o rosto já estava inchado- ELISAFRAN, ELES PEGARAM MINHA SOBRINHA, A MINHA ÚNICA PARENTE, FRAN!

Elisafran o abraça: Vai dar tudo certo, faça o que pediram, e Paula vai sair viva dessa!

Sid afirma: Eu não posso perder a Paula, eu não vou aguentar se isso acontecer, Fran!- Ele se deita no colo da mulher, traumatizado.

Cena 02- Apartamento dos Segata/ Início de manhã.

O sol ainda nem raiava mas Irene já estava levantada. A mulher vai até a sala para assistir seu programa rural predileto. Na sala, Pascoal já está sentado, assistindo, com a tv no volume mais baixo possível.

Irene, sorrindo: Bom dia, Pascoal!- Diz, ainda sonolenta.

Pascoal: Bom dia, dona Irene.

Irene se senta: Esse programa e a novela Corpo a Corpo são os meus programas prediletos. O resto não presta! – ela sorri.

Pascoal, rindo: E então você assiste novela?

Irene, sorrindo: E por que não? Cultura! Acácia também disse que gosta dessa novela, mas ultimamente nem tem assistido.

Pascoal, se virando: Já que você tocou no nome dela, eu sinto no direito de te contar uma coisa…Afinal, são mãe e filha…

Irene, assustada: O que a Acácia aprontou dessa vez?

Pascoal, sério: Surtou! Ela está querendo transformar a Raquel numa nova Gorete. Eu já vi várias vezes ela chamando a Raquel de Gorete, até o vestido azul da formatura da filha ela deu para a menina… Isso pode não acabar bem.

Irene, boquiaberta: Eu não estou acreditando que a Acácia está fazendo isso! Eu sempre soube que um dia a minha filha iria fazer de tudo para lembrar da Gorete sempre, ela tinha verdadeira fissura pela menina, algo que transbordava os limites até de um amor de mãe…Foi muito cruel quando aquele maldito acidente aconteceu…

Pascoal, sério: Mas isso não vai acabar bem. Uma hora ela vai surtar de vez, vai ser capaz de tudo para transformar a Raquel! A moça pode pagar caro sem ter feito nada.

Irene, com medo: Não, não. Eu não vou permitir que isso aconteça! Vou acabar com isso de uma vez, antes que o pior venha a acontecer- Pascoal concorda, Irene se esquece da tv e fica aérea com as revelações.

Cena 03- Apartamento dos Segata/ Dia.

Lilian acorda lentamente, ela se remexe um pouco, até que se levanta, assustada: AI MEU DEUS, QUE HORAS SÃO?- Ela olha no rádio-relógio:6h35- Ah…Ainda tenho tempo…Fausto?- A mulher se levanta e o procura, mas não há mais sinal dele- Já deve ter ido trabalhar…Eu não me lembro o que aconteceu ontem a noite…

Irene entra: Filha, ainda bem que te achei acordada, vim pegar umas pilhas aqui na gaveta, as do controle acabaram…E então? Conversou com o Fausto?

Lilian se senta na cama: Eu acho que não…Na verdade, não tô me lembrando o que aconteceu ontem a noite, depois da conversa intensa que tive com a Maísa, acho que meu cérebro pedia descanso. Ele foi trabalhar?

Irene explica: Falou que ia mais cedo hoje pro tal clube…Bem, então você deve esquecer esse assunto por enquanto, e focar no seu primeiro dia de trabalho depois dessas férias conturbadas. Tenho certeza de que o hospital vai fazer você esquecer esses dramas todos.

Lilian pega seu jaleco: Ah, mãe, hospital e drama são praticamente sinônimos, mas claro que vou trabalhar como se nada tivesse acontecido. Com meu bom humor de sempre.- Ela mostra as roupas que comprou- Tanta coisa que comprei e acabei nem mostrando, olha…- Ela borrifa perfume no pulso e coloca para a mãe sentir- Trouxe tantos presentes, depois tenho de distribuir eles. Pouco a pouco vou voltando pra minha rotina. Agora eu vou tomar uma ducha bem gelada pra refrescar.

Um pouco depois…

Lilian espera o taxi na rua, com Irene.

Irene, se abanando: Acho que vou entrar ou derreto, filha, de qualquer forma, boa sorte no hospital, te vejo mais tarde!- Ela abraça Lilian.

Lilian observa a praia de Ipanema, que ficava em frente ao prédio. Na orla, várias pessoas fazem caminhada e conversam entre si: Tá todo mundo mais feliz do que quando eu saí daqui…Parece outro país- Analisa.

Irene cruza os braços: É porque finalmente ficamos livres do regime militar, depois de 20 anos…- E suspira- O Brasil renasceu, minha querida.

Lilian abre um sorriso.

No hospital…

Lilian entra em sua sala e faz uma faxina geral, ainda estava adiantada até que a primeira paciente chegasse. Ela conversa com as enfermeiras, e coloca o assunto em dia, mas quando volta até a sala, tem uma surpresa: Eleno?- Diz, ao ver o diretor- Tá fazendo o quê por aqui?

Eleno se levanta: Eu vou bem, obrigado por perguntar- Ironiza- Vim aqui saber o que aconteceu!!

Lilian gela: Como assim? O que aconteceu aonde?

Eleno ri: Oras, na sua viagem até a Itália, você não disse que ia me contar tudo quando chegasse, pois bem!

Lilian é curta: Foi…Tudo bem. Nada demais. Milão é um lugar lindo.

Eleno cruza os braços: Será mesmo que foi tudo bem? Não é o que tá parecendo…Bem, mas não foi pra isso que eu vim aqui, querida, eu espero que a viagem tenha sido boa, pois não tenho boas notícias!

Lilian não entende: O que aconteceu? Fala, tá me deixando preocupada!

Eleno sorri: É só que…Olha, foi bom você ter chegado cedo porque assim evitou o encontro com a nova médica que veio trabalhar aqui.

O sorriso dela desaparece: Nova…Médica? Quem é?

Eleno coça a nuca: Doutora Mariza, uma das mais renomadas do Rio. Sabe, Lilian, você ganhou um prêmio importantíssimo e nós ficamos muito felizes pois seu trabalho aqui com as crianças nesse hospital, é realmente tocante, parece um filme de drama- Ironiza- Mas agora, nós do Hospital Botafogo, queremos um time de profissionais mais importantes, com mais experiência, por isso mexemos na nossa estrutura e…

Lilian termina: Tá me demitindo, é isso Eleno? Você não quer mais os meus serviços nesse hospital, né?- Ela esconde a tristeza.

Eleno ri: É isso mesmo, Lilian, mas não se preocupe, depois desse prêmio, você será uma profissional bem requisitada, só que pra nós aqui, não tem mais valor algum. Até porque nossos novos médicos tem dezenas de prêmios, e, falando sério, são melhores que você!- Ele alisa seu cabelo- Pode retirar suas coisas dessa sala, mas obrigado por ter feito uma faxina geral aqui, a Mariza vai gostar, e todos os seus pacientes serão transferidos pra ela. Espero realmente que compreenda.

Lilian, triste: Compreendo, é claro que compreendo, e desejo que o hospital só avance mais e mais…Só que…Eu não entendi uma coisa.

Eleno, debochando: Qual?

Lilian, séria: Eu não entendi que piada foi contada pra você estar rindo tanto. Por acaso eu sou uma palhaça, é isso, Eleno?

Eleno muda a expressão: Calma, Lilian, eu não estava rindo de você!

Lilian: Claro que tava, eu não sou idiota, Eleno. Eu não sei se é prazeroso pra você, ou se não gostava de mim, mas se fosse pra rir na hora de me demitir, era melhor ter mandado outra pessoa me comunicar.

Eleno se aproxima dela: Nossa, agora que eu fiquei reparando na sua fala…Olha, Lilian, que boca linda…Quem sabe eu possa reconsiderar sua demissão, podemos ser bem felizes juntos- Ele a agarra pelo pescoço.

Lilian instintivamente lhe dá um tapa na cara e depois o empurra para a mesa: FICA LONGE DE MIM SEU IMUNDO…AI, EU SINTO NOJO DE VOCÊ, UMA PESSOA SEM ESCRÚPULOS E SERIEDADE, COMANDANDO UM HOSPITAL TÃO INTEGRO COMO ESSE? FICA LONGE DE MIM, NUNCA MAIS QUERO OUVIR FALAR DA SUA PESSOA…

Eleno mexe a boca: Esse tapa vai te custar bem caro, tá ouvindo, ô mulherzinha idiota! A raça de vocês ainda não aprendeu como se comportar, né?- Ele se levanta- Mulher tem que obedecer o que o homem disser, ajoelhada de preferência, mas agora elas querem se achar superior…Se depender de mim, insolente, nunca mais cê consegue emprego em outro hospital, vou acabar com sua carreira de médica.

Lilian pega suas coisas: Você é a pessoa mais nojenta que eu conheci, Eleno, e além de tudo…Ainda acha que os homens são superiores as mulheres? Ah, mas em que mundo você vive? Que mente tem? E ainda se diz um médico de respeito, se consegue soltar uma frase ridícula dessas? Quem vai ser destruído aqui é você, seu monstro! Você não é um homem de verdade, porque nem respeito consegue ter, agora com licença, vou me despedir das pessoas que realmente gosto aqui…- Ela vai saindo quando Eleno entra em sua frente e derruba todas as suas coisas, de propósito.

Eleno, furioso: Você me paga, Lilian. Anda, sai logo desse hospital, infeliz- Ele sai, deixando-a sozinha no corredor.

Cena 04- Mansão de Úrsula/ Noite.

Úrsula acorda e desce a escada. Ela se senta no sofá e vê que Olive já buscou o jornal.

Úrsula o folheia: Pelo menos a Manga Rosada já buscou o que devia… Muito bom, já começou fazendo as tarefas certinhas. – ela se assusta com as inúmeras notícias de violências. – Ai, é como eu sempre digo, The World Is Lost! Quanta violência, isso realmente é o Rio de Janeiro. Saudades de Milão! O que não fazemos por um filho…

Olive chega assustada e trêmula. Sem conseguir falar.

Úrsula olha para Olive: Está fazendo ginástica? Tá super certa, anda muito gorda mesmo…

Olive, bufando: Dona Úrsula, o doutor Sid ligou e disse que…A dona Paula foi sequestrada!

Úrsula fica horrorizada. Ela sobe a escada correndo e vai até o quarto de Bernardo. Lá, ela flagra o filho e Maísa dormindo juntos, abraçados.

Úrsula, virando os olhos: Casal lindo e fofo acorde! – Ela ironiza, abrindo as cortinas. – Bernardo acorda! Aconteceu uma tragédia!

Bernardo, com a voz de sono: Mãe deixa a gente dormir, está muito cedo.

Úrsula, gritando: A PAULA FOI SEQUESTRADA! – Ela grita, olhando para Maísa- SEQUESTRADA, AI…EU SABIA QUE ALGO RUIM TINHA ACONTECIDO COM ESSA MENINA, THE WORLD IS LOST, LOST!

Maísa e Bernardo se sentam na cama, assustados. Eles se entreolham e Úrsula cruza os braços, encarando a namorada do filho.

Cena 05- Perto do galpão abandonado/ Início de manhã.

Sid está com polícias: É melhor vocês não virem comigo, eles deixaram bem claro, que se houvesse sinal da polícia, matariam a Paula!

O delegado Almir está firme: Não se preocupe, senhor Sid, pela descrição, não são bandidos profissionais, sabemos o que fazer sim, vamos rondar a casa, e já acionamos mais reforços- Ele observa o galpão, um tanto quanto longe- Daqui eles não conseguem nos ver, os policiais já sabem como trabalhar, agora é sua parte, Sid, lembre-se das minhas instruções.

Sid engole em seco e pega a mala com dinheiro: Certo…- E entra no carro novamente, como se estivesse chegando sozinho- Ao ver o galpão, o único na rua deserta, que ficava perto de um lixão, ele buzina.

Lá dentro…

Bala Perdida agarra Paula: Ótimo, o velho rico chegou, e espero que sozinho- Ele se enlaça com a modelo, afim de que ela não consiga fugir- Todo mundo a postos! Qualquer coisa, atira sem dó.

Paula, tremula: Senhor, você não vai ganhar nada com isso…

Bala Perdida ri: Sinhora eu vou enriquecer com isso, e fugir daqui. Não é todo dia que acho uma rica andando no Rio abandonado, prontinha pra ser sequestrada…Ah, bandido tem sorte também, sabia?

Sid, do lado de fora: ABRAM A PORTA E LIBEREM MINHA SOBRINHA- Os policiais rondam a casa por todos os lados- EU TÔ COM O DINHEIRO AQUI!- E mostra a mala.

Bala Perdida abre a porta, desconfiado, com Paula agarrada a si: Vamos caminhar até aí devagarzinho, depois vamos pro carro e tu vai nos deixar num lugar muito especial! E se alguém nos seguir, quem vai pagar caro é ela aqui- E aponta a arma pra Paula- ELA MORRE, OUVIU?

Sid faz que sim, e tenta não olhar pros polícias, posicionados. Bala Perdida e Paula caminham lentamente, ela sua friamente, olha pro tio como se fosse a última vez que fosse vê-lo. Sid se agarra a mala, havia uma arma lá dentro também, mas ninguém sabia. Os outros três miram a arma pro ar, caso alguém fosse aparecer.

Bala Perdida fica frente a frente com o bandido: O dinheiro…- E entrega a mala, lentamente.

De repente três tiros, cada um acerta os bandidos que se encontravam mais pra trás. Bala Perdida se vira e atira nos polícias, Paula acerta seu cotovelo na cara dele e corre desesperada, Sid a acompanha. Bala Perdida porém atira na moça, que é atingida perto da barriga.

Sid a observa cair: PAULAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA- Grita, ao mesmo tempo em que leva um tiro no braço.

Bala Perdida consegue atingir todos os policiais, mas também leva um tiro no braço, Sid pega a mala e todas as notas voam no ar, ele saca a arma e mira no bandido de costas, que é atingido e cai antes de atirar.

Os quatro bandidos estavam caídos no chão.

Sid se arrasta até a sobrinha: AJUDEM ELA, AJUDEM!- Ele se contorce, sangrando- PAULAAAAAAAAAAAAAAAAAAA…

Ela continua caída, imóvel. Os policiais se aproximam dos dois, desesperados.

Cena 06- Clube O Bicho&Eu/ Dia.

Onofre avista Natália de longe, e resolve se aproximar.

Onofre: Nat! – Ela vira, e se afasta um pouco. – Não precisa se afastar, não vou te beijar novamente. – Ele sorri. – Eu quero saber se você topa um passeio mais tarde, minha chance de me desculpar contigo…

Natália, séria: Não vai dar Onofre, eu sinto muito. Eu preciso dar atenção pro meu irmão e a esposa dela, a Yara.

Onofre, sorrindo: E se sairmos para jantar, todos nós? Tem um restaurante bem simpático próximo daqui. E então, topa?

Natália, sorrindo: Ah…Combinado então.

Paralelo à cena, no apartamento de Natália, Téo compõe uma música. Ele cantarola e Yara termina de se arrumar.

Yara pega a bolsa: Eu estou indo na casa da minha mãe. Como dito!

Téo aprova: Muito bom. É bom saber que você está se esforçando.

Yara lhe dá um beijo, sorri e vai até a sala. Jobim, com medo da mulher, se esconde dentro do sapato dela.

Yara, com raiva: Não acredito que esse gato se enfiou dentro do meu sapato. – Ela tenta pegá-lo, porém não tem jeito e acaba sendo arranhada no rosto. – Ai, infeliz! – Ela dá um empurrão com o pé no gatinho, que vai parar longe- Praga nojenta, tomara que não dure muito tempo, não vou suportar essa criatura no meu pé…

Ela por fim coloca seus sapatos e sai.

Cena 07- Apartamento dos Segata/ Dia.

Geórgia e Irene procuram uma receita antiga num livro.

Irene folheia as páginas: Bolo de fubá cremoso, torta de maçã, nossa, essa o Fausto ama de paixão…Mas nem sinal dos famosos bolinhos de chuva da vovó Muriel.

Geórgia confirma: É verdade…Achei de tudo aqui, até uma foto da senhora e do seu Rubem dos anos 60…O que tava fazendo nesse livro?

Irene pega a fotografia: Ai, não sei como foi parar aí, eu hein…Custou uma fortuna pra tirar essa fotografia, o fotógrafo se achava bacanão, e naquela época…- Um carro de som passa anunciando algo na rua- Ai, vamos ver se é promoção de alguma coisa no mercado!

O anuncio já estava na metade: VENHA PRESTIGIAR UM EVENTO COMO JAMAIS SE VIU NO RIO DE JANEIRO, ROCK IN RIO, COMPRE OS INGRESSOS PARA SHOWS DE QUEEN, IRON MAIDEN E AINDA PERSONALIDADES NACIONAIS COMO GILBERTO GIL E ELBA RAMALHO. COMEÇA DIA 11, NA CIDADE DO ROCK!- O anuncio recomeça e o carro faz uma curva.

Geórgia, assustada: Rock In Rio? Mas o que é isso?

Irene se senta na varanda: Devem ser vários shows, mas isso é pra juventude, Geórgia, e a minha já passou, ficaram lá nos anos de chumbo!- A porta abre e Lilian entra- Filha? Mas já? Não tinha nenhum paciente?

Lilian joga a bolsa no sofá e tira os óculos: Fui demitida.

Irene e Geórgia se entreolham, sem saber o que falar.

Irene tenta dizer algo: Mas…Como? O que você, minha filha? Ai não diga que levou os problemas pessoais, pro hospital?!

Lilian suspira: O Eleno disse que eles estão reformulando o time do hospital, enfim, não sei se isso é verdade ou não…Mas não vai me abalar! Eu vou ligar pra cada um dos meus pacientes e explicar tudo com vírgulas e pontos! E não pretendo ficar parada, quero abrir uma clínica minha!

Irene, desesperada: Filha, você não pode ser tão rápida assim, e negócio próprio dá muito trabalho, é muito melhor que tente se empregar em outro hospital, você é boa médica!

Geórgia comenta: Mas essa história da demissão está muito estranha…O motivo não me convenceu. Aconteceu outra coisa, dona Lilian?

Lilian conta: Ele…Tentou me assediar.

Irene, boquiaberta: O quê?! Eu não tô acreditando…Em pleno 1985?

Lilian, incomodada: Mãe, o Eleno é sujo, os pensamento dele me enojam. Não quero mais saber desse cara mesmo, já tava pensando em abrir uma clínica, e agora com essa demissão repentina, é o momento certa. E não tô sendo rápida, só não quero ficar parada muito tempo, sabe que eu amo clinicar…E sei quem pode me ajudar- Ela sorri e vai até o telefone, disca um número, mas não obtém resposta, depois tenta outro numero- Alô? Oi, Salete, chama a Flávia pra mim, por favor? Obrigada, querida, desculpa atrapalhar, é que ela não atendeu e o assunto é urgente…- Ela coloca a mão no telefone- Nossa, a Flávia não atendeu no número dela, tive que ligar pra vizinha!

Irene mexe em seu colar: Até imagino porque…Será que a coitada continua sem energia em casa?- Sussurra.

Flávia atende: Alô? AI, LILIAN, NÃO LIGA MAIS PROS POBRES? Literalmente…

Lilian amarra o cabelo: Para de besteira, Flávia, cheguei aqui esses dias, mas agora é a hora ideal pra colocarmos o papo em dia. Vem aqui, tô te esperando pra fazer uma proposta…

Flávia fica curiosa: Proposta? Não, tá certo, já já eu dou as caras por aí…Beijos.

Lilian grita: PERA AÍ, FLÁVIA! Porquê não atendeu seu telefone? Tá quebrado?

Flávia gela: É…É isso sim, eu vou tomar um banho rapidinho e já chego aí. Tchau- E desliga- Ai, como eu vou aparecer nessas condições?- Fala, pra si mesma.

Irene, atiçada: Posso saber que proposta é essa que quer fazer pra Flávia, ou é algo confidencial, que a velha Irene não pode ter acesso?

Lilian deita a cabeça no colo da mãe: Você vai saber, mamãe- E sorri- Tive uma ideia realmente fantástica. Finalmente realizarei o sonho de ter minha clínica, onde também vou poder ajudar os mais carentes, coisa que o Eleno demorou pra permitir no hospital…Ai, mas não quero nem mais falar o nome dele…- Ela bate três vezes na madeira do criado-mudo da sala.

Cena 08- Hospital Madame Úrsula/ Dia.

Bernardo e Úrsula chegam apressados no hospital. Elisafran já está no local.

Úrsula, assustada: E então, como estão os dois?

Elisafran, se levantando: Ainda não tenho notícias. O Sid está dentro do quarto ainda, me parece grave. E a Paula está naquela sala ali, fazendo exames. – Ela aponta- Os dois levaram um tiro, Úrsula! Os dois- E chora.

Bernardo, assustado: E como foi esse sequestro? Me explica.

Elisafran conta: Parece que a Paula foi rendida no trânsito, eles a levaram para um galpão e pediram recompensa, já que eles descobriram que ela é sobrinha do Sid. Ela deve ter contado, não sei. E por último, hoje quando foram resgatá-la, o Sid levou a polícia, na hora de pegar o dinheiro, os bandidos atiraram nos dois. Foi horrível, estou passando mal até agora, e super, mega, preocupada com ambos.

Bernardo e Úrsula ficam horrorizados.

Úrsula pega seu terço: Esses criminosos nojentos se espalham como mosquitos, insolentes, acham que podem se dar bem roubando o dinheiro alheio…Mas o pensamento do ser humano diminui cada vez mais com o tempo, é por isso que valorizo quem batalha, rala,  pra conseguir o croissant de cada dia, mesmo que seja um pobre, né…Enfim. The world is lost. Olha, se a Paula sofrer alguma sequela, eu mando decapitarem a cabeça desse infeliz que atirou nela. Mas eu confio nos médicos do meu hospital, e em Nossa Senhora da Riqueza também!

Na sala onde Paula faz os exames…

Paula: E então, doutora? Eu perdi o meu bebê? Não minta para mim, eu sei que sofri um grande trauma. – A médica não responde apenas a encara, e ela perde a paciência. – RESPONDE!

Foca no rosto de Paula, que está muito aflita. Em seguida na médica, que não sabe o que dizer.

Cena 09- Sorveteria no Leblon/ Dia.

Vittória vê a amiga Bete em uma mesa e vai até ela: Que bom que você aceitou esse encontro comigo!- Sua amiga levanta para cumprimenta-la, mas Vittória rejeita- Não…Pode ser perigoso.

Bete, decepcionada: Ah Vittória, você anda acreditando no que tão dizendo por aí? Que a…- Ela abaixa o tom- Que a AIDS pode ser pega atráves do ar? Isso é mito! As pessoas não conhecem a doença, e informações falsas se espalham!

Vittória, abatida: Eu não quero arriscar, não quero arriscar sua vida, nem a de ninguém que me ronda, se bem que são poucas pessoas…Quando eles descobriram o resultado do meu exame, me demitiram. Você é a única amiga que tenho. Bete, e por isso te chamei aqui. Pra falar da pessoa mais importante na minha vida: meu filho.

Bete suspira: Vittória, eu sei que cê tá passando por um momento barra pesada, poxa, era publicitária, e depois que descobriu essa doença, perdeu tudo, mas…Eu não quero te ver pra baixo, eu quero confiança!

Vittória nega: Eu não posso ter confiança, Bete, eu não sei o que tem dentro de mim. Eu não sei se posso beijar meu filho, porque posso contaminá-lo. Eu vivo numa incerteza constante, numa vida cruel comigo mesma, onde eu só sofro, só tenho mais pesares, ah…Não há ninguém que suporte isso por muito tempo. Eu fui destruída por essa maldita doença.

Bete, querendo chorar: Mas…Eu ainda não entendi como conseguiu contrair isso…Você…Com outra mulher?

Vittória não sabe explicar: Não, Bete. Eu não tive relação com outra mulher, provavelmente foi através de uma agulha do salão de beleza, existem tantas formas…Só sei que tô com esse vírus HIV dentro de mim- Fala, baixo.

Bete, transtornada: Ai…Eu não sei o que…

Vittória a interrompe: Para Bete, para de ter pena de mim. Eu não suporto isso, eu não quero isso…Te chamei aqui, porque como já disse, tô numa incerteza constante, e por esses dias, eu não venho passando muito bem…Fui no médico, mas não há muito o que fazer, ainda é tudo muito desconhecido pra eles, e provavelmente posso ficar internada, pra exames e tal…E se eu não voltar…

Bete: Não fala isso!

Vittória, brava, mas querendo chorar: Sejamos realistas, Bete, talvez eu possa não voltar e se isso acontecer, sabe que é a minha única amiga, sabe que eu não tenho parentes aqui e que o Breno não tem pai, então, se eu morrer, eu peço com todo o meu amor, que cuide do meu filho. Ele é um bom garoto, pode até ficar rebelde caso uma tragédia venha a acontecer, mas vou conversar com ele. Contar tudo de uma vez, aliás, eu venho escondendo isso de toda a sociedade que me rondava…Mas não por muito tempo. Logo logo eu conto tudo pro Breno, depois falo com os meus amigos publicitários e…É isso. Acho que…Vou esperar alguma coisa acontecer, eles disseram que tem chance de eu viver por anos, ou morrer agora mesmo, depois te falar com você. Enfim, você me promete que cuida do Breno, por favor?

Bete: É claro, eu sou a madrinha dele, mas tenha fé, Vittória, nada vai te acontecer, minha amiga, e eu não ligo pra essa história idiota que a doença se espalha no ar- Ela se levanta e abraça Vittória- Eu vou te apoiar, sempre, e conte sim tudo pro Breno, ele vai te ajudar também. Ele é um bom garoto, como você própria falou.

Vittória sorri, emocionada.

Numa agência de modelos não muito distante, Maísa tenta conseguir um novo contrato, mas um dos seletores não se impressiona muito com o que ela conta e apenas lhe dá um papel.

Ele: Bem, ficaremos com a sua ficha…Maísa, né? Bem, qualquer interesse, lhe contataremos pelo telefone.

Maísa, frustrada: Espera aí…Vocês não podem arranjar nada pra mim?

Ele: Infelizmente você não preenche os nossos requisitos, mas como disse, qualquer coisa, te chamamos aqui. Obrigado- E estende a mão.

Mas Maísa sai, sem cumprimenta-lo.

Nas ruas…

Maísa bate o pé no chão: Esses infelizes só podem estar de brincadeira com a minha cara. Vou procurar uma agência melhor, isso sim!- Ela tosse um pouco- Ai, maldita tosse que resolveu aparecer agora- A jovem vai até uma mulher- Senhora, tem horas?

A mulher se vira: São 12h37.

Maísa paralisa ao ver seu rosto.

Flashback.

Aeroporto/ Dias atrás.

A cigana a observa, rindo: Posso ler sua mão?

Maísa recua: N…Quer dizer, pode sim- Ela estende o braço- Pode falar o que quiser, não acredito nessas bobagens, mas se insiste!

A cigana apalpa sua mão, e visualiza bem: Ah! Olha só, mas que pessoa linda- Ela tenta mostrar pra Maísa, que não vê nada- Olha, tá vendo? Um bebê! É seu?- A jovem vai responder mas ela deduz- Não é! Não mesmo! Ainda vai vir… Claro, se sua desgraça não chegar antes, mas creio que não…

Maísa tira a mão: Você tá dizendo muita besteira, meu namorado tá me chamando, licença!

A cigana a impede: Antes que algo de pior aconteça, você deve lutar contra o orgulho, contra o que fez, ou tudo vai por água a baixo! Veja! O que fizeste fora algo muito grave, cuidado!

Volta a cena.

Maísa a pega pelo braço: Foi você! A cigana que me disse aquelas besteiras no aeroporto, não é mesmo?

A mulher se solta e começa a correr.

Maísa a segue: Volta aqui! Tá com medo de mim, é isso?- A cigana atravessa a rua e a jovem a acompanha, mas o sinal dos carros abre e Maísa acaba sendo atingida de leve por um veículo e cai.

A motorista se desespera: É Vittória.

Vittória vai prestar socorro: Ai meu Deus, perdão!

Maísa, meio tonta: Eu que peço, esqueci de olhar o sinal e…Ai, mas não foi nada demais, só o joelho que tá sangrando um pouco. Esquece.

Vittória observa: Olha, mas um sangramento pode provocar muita coisa, é melhor nós irmos pro hospital, se preferir, tá de carro? Tem um aqui pertinho, vamos!

Maísa ri: Não seja tão esquentada, moça. Não foi nada demais, logo passa. E a culpa foi minha. Agora pode voltar pro seu trajeto- Ela olha pra um lado e outro- A pessoa por quem eu procurava evaporou mesmo, deve ter sido o calor- Brinca.

Vittória tira um cartãozinho do bolso: Desculpa essa prevenção toda minha, querida, é que eu ando muito traumatizada, toma- E entrega o cartão- Me chamo Vittória Velasco, se alguma coisa acontecer no seu joelho, pode deixar que eu assumo o prejuízo. Desculpa.

Maísa o guarda: Bom, só se for pra gente tomar um sorvete depois, para de preocupação, não foi nada! Gostei de você…Vittória, seu nome me é famíliar. Prazer, Maísa.

Vittória se lembra da contaminação pelo ar e se afasta: Bem…Prazer. Eu vou indo pra não parar o trânsito daqui. Tchau- E corre pro carro.

Maísa estranha: Nossa, que frieza…- E continua a andar pelas ruas.

De trás de um poste, uma pessoa a observa.

Cena 10- Apartamento dos Segata/ Dia.

Raquel vai até a sala, onde Irene está. Ao vê-la, a mulher se levanta.

Irene sorri, meio sem graça: Raquel, faz favor. Preciso conversar com você.

Raquel atende e vai até o canto, perto da cozinha, com ela.

Raquel, sorrindo: Quer falar comigo?

No momento, Geórgia se esconde atrás da porta da cozinha para ouvir a conversa.

Irene, séria: Eu já estou sabendo do que você aprontou com a Lilian e com a Maísa. Que coisa, Raquel! Me responde, por que gravar uma conversa que conta sobre o passado da Lilian? E principalmente que a Maísa não é filha do Fausto… – Ela sussurra nessa parte. – E depois entregar para a Maísa, para destruir o desfile dela! O que ganhou com isso?!

Geórgia fica apavorada ao descobrir o que Raquel aprontou.

Raquel, cabisbaixa, com vergonha: Me desculpa, isso não vai se repetir. Eu nem sei o que me deu, me desculpa mesmo.

Irene, séria: A Lilian já te perdoou, e isso já basta. E tem mais, eu quero que você pare de aceitar alguns presentes que a Acácia te dá, isso pode ser perigoso, e não manso como você pensa. – Ela termina. – Dá licença.

Geórgia espera Irene sair e sai de trás da porta. Ela segura Raquel pelos braços, que ameaça chorar.

Geórgia, furiosa: Por que você fez aquilo com a dona Lilian? Você não cansa de ser malvada, não?

Raquel, empurrando Geórgia: Me solta, está me machucando, me solta!

Geórgia, furiosa, dando tapas em Raquel: Eu não te criei assim, mas ainda dá tempo para te reeducar. Eu vou te ensinar ser gente. Ora, aprontar uma porqueira daquela com a mulher que te abrigou aqui?! Jamais permitirei isso!

Geórgia dá uns tapas em Raquel, que chora, implorando por liberdade.

Raquel, chorando: ME SOLTA, VOCÊ NEM MINHA MÃE VERDADEIRA É. ME SOLTA, SUA SERVIÇAL! – Ela diz alto, empurrando Geórgia.

Geórgia, furiosa, dá um tapa na cara de Raquel que a faz parar longe.

Termina o capítulo 17.