Ser Humano- Capítulo 16.

Ser Humano.

Capítulo 16.

Cena 01- Praça do Rio de Janeiro/ Noite.

Téo e Yara caminham pela pracinha que há perto do flat de Natália. Ambos tomam soverte, de uva e banana, respectivamente.

Yara joga o sorvete na lixeira: Tudo daqui é ruim, até o sorvete. Nossa! Prefiro o gelatto italiano do que essa porcaria.

Téo, rindo: Por que você sempre reclama de tudo? Nunca está satisfeita com nada…

Yara, séria: Você pensa isso de mim? – Téo faz que sim. – Mas também, é impossível gostar desse lugar. É um calor terrível, com gente feia e que parece que não toma banho.- E aponta pra várias pessoas.

Téo suspira: Para de reclamar. Cê reclama tanto, que se fosse profissão,  já estaria bilionária.

Yara, azeda: Eu não vim até essa maldita praça para ser ofendida por você, antes eu tivesse ficado naquele apartamentinho!

Téo joga o papel do sorvete fora: Agora você vai começar a reclamar do flat…

Yara, se sentando: Mas vou. Téo, eu não tenho condições de ficar naquele apartamento, ele é muito pequeno. Só a cozinha que tínhamos em Milão era o apartamento dela todo.

Téo se senta ao seu lado e observa as pessoas passando: Você deveria parar de ser mal agradecida, isso sim. A minha irmã te recebeu de braços abertos aqui, e isso ela não tinha obrigação de fazer. Agora você reclama do lugar que a própria te deixou ficar, e ainda de graça?

Yara, ainda irritada: Tudo bem, tudo bem, eu vou tentar ser mais simpática com ela… Só não me pede para ser simpática com aquele gato nojento que ela arrumou, o tal do Jobim. – Téo sorri. – Mas mudando de assunto ruim pra assunto bom, eu vou ir visitar minha mãe em breve. Será que essa notícia pode te deixar feliz?

Téo se levanta: É claro que deixa. Eu sempre disse para você dar mais atenção pra Lídia. Agora vamos, vamos que já está ficando tarde e Rio de Janeiro não é lugar para ficar na praça em altas horas.

Yara se levanta. Os dois vão embora, ainda conversando.

Cena 02- Ruas do Rio de Janeiro/ Noite.

Paula dirige o carro com toda a velocidade possível, o vento bagunça seu cabelo mas ela ri loucamente: Finalmente, hora de contar pro Bernardo que ele vai ser pai- Ela batuca o volante e aumenta o volume da rádio- Agora ele finalmente vai ser meu, vamos nos casar, formar uma família feliz…FELIZ!- E acelera ainda mais- DIZ PRA EU FICAR MUDA, FAZ CARA DE MISTÉRIO, TIRA ESSA BERMUDA QUE EU QUERO VOCÊ SÉRIO, DRAMAS DO SUCESSO, MUNDO PARTICULAR, SOLOS DE GUITARRA NÃO VÃO ME CONQUISTAR, BERNARDOOOOOOOO…- Canta, feliz.

O semáforo fica vermelho, e ela freia bruscamente, apenas seu carro está na avenida: Nossa, eu amo essa música- Diz, aumentando ainda mais o volume- UHU! NÓS VAMO INVADIR SUA PRAIA! EU VOU INVADIR SUA PRAIA BERNARDO- E coloca a cabeça pra fora, na avenida deserta, apenas a brisa noturna fazia o mínimo ruído, e o som do carro, obviamente.

De repente quatro homens armados surgem, correndo, um deles vê o carro e aponta a arma pra cabeça da moça: Libera as porta desse carango agora, madame, deixa a gente entrar!

Paula fica trêmula, ela pensa em acelerar, mas provavelmente o bandido lia sua mente.

Ele puxa o cabelo de Paula: NEM PENSA EM ACELERAR OU NÓS METEMO BALA! ABRE A PORTA DO CARRO- Paula cumpre a ordem- ENTRA, ENTRA LOGO RAPAZIADA, ANTES QUE OS GAMBÉ CHEGUE!- Todos os quatro entram, apressados, um deles fica ao lado de Paula, o chefe.

Paula, tremula e ainda incrédula com o que está acontecendo: Por favor…Não me machuquem…- Implora, suando frio.

O Bandido ri debochadamente: Não se preocupa, fofurinha, olha rapaziada…Parece tão fragilzinha- Todos riem- É só seguir nossas ordi que nós te tratamo direitinho, princesa- Ele aponta a arma pra sua cabeça- Acelera o carro, vai, agora!- Paula cumpre a ordem- Vamos pra bem longe daqui, e nem pense em me desobedecer, porque eu não tenho piedade de ninguém, tá ouvindo?

Paula faz que sim.

O bandido aperta seu queixo: Eu perguntei se você tá ouvindo, e quero ouvir a resposta da sua própria boca, AGORA!- Ordena.

Paula, traumatizada: Sim…Tô ouvindo…- Ela dirige descontroladamente.

O bandido ri: Quem mandou deixar o carro parado numa avenida deserta? Agora vai pagá as consequência, né não rapaziada?- Os outros três riem, um deles acende um cigarro e Paula tosse- Vamo pra bem longe daqui, e é bom me obedecer- Ele aponta a arma pra cabeça da garota, totalmente apavorada.

Cena 03- Botafogo/ Bar/ Noite.

Onofre e Vasco conversam, em uma mesa.

Onofre, furioso: A chegada daquele mala do Téo está atrapalhando os meus planos. Eu preciso fazer alguma coisa.

Vasco, já meio alterado: Mas quem é esse tal de Téo?

Onofre, irritado: O irmão da Natália, seu idiota! Bem…Isso pelo menos é o que ela diz. O cara tá tomando o tempo dela, ou seja, tá atrapalhando os meus planos.

Vasco sugere: Esquece essa história de conquistar a Natália. Eu tenho dó de dizer isso, mas você não tem muito tempo de vida para ficar se prendendo a ela. Esquece essa mulher, vive sua vida!

Onofre, decidido: Eu não vou desistir tão fácil assim. Vou conseguir conquistá-la. Já está decidido! E para dar continuidade, eu vou até comprar um anel de noivado!

Vasco, cuspindo a cerveja: ANEL DE NOIVADO?! – ele pergunta, surpreso.

Cena 04- Apartamento dos Segata/ Noite.

Maísa chega, com cara séria. Ela encara a mãe, ambas tensas. Fausto não entende a situação e Irene teme pelo que vá acontecer. O clima não é dos melhores na família.

Fausto sorri: Não vão se abraçar?

Mas nenhuma das duas avança um passo, receosas.

Fausto percebe: Gente, o que tá acontecendo aqui? Que clima é esse, posso saber? É por causa da história do desfile? Que a Lilian quase te atrapalhou, é isso? Estão brigando por uma besteira dessa?

Maísa, irônica: Quem dera, pai…Pelo visto o senhor ainda não sabe. A…Lilian…Ainda não te contou.

Fausto se curva pra mulher: Contou o quê? Meu Deus eu não consigo entender o que aconteceu nessa viagem pra vocês duas estarem tão distante uma da outra, como se fossem completas estranhas, isso nunca aconteceu nessa casa, mas depois que voltaram, parece que uma ignora a existência da outra, e eu não tolero isso, sinceramente, apesar das brigas nós sempre fomos uma família muito feliz, e agora uma ruína repentina? Um abismo separando as duas? Ah não…Isso eu não suporto, as duas mulheres que amo, brigando!

Maísa se aproxima dele: Quem dera fosse por uma futilidade, pai, mas são coisas muito mais profundas do que isso. A minha vida foi na base de uma mentir…

Irene a interrompe, aflita: Maísa, cala a boca, aqui não é hora apropriada pra isso!

Maísa, rindo: Ah não, vó? Você ainda quer prolongar mais e mais isso? Sinceramente…Posso falar com você a sós?- Se dirige friamente a mãe.

Lilian, calmamente: Claro, nós tínhamos que temos mesmo de conversar. Vamos pro quarto, Maísa- As duas vão saindo quando Fausto as impede.

Fausto, furioso: Não, não e não! EU EXIJO SABER O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI!- Grita- Afinal o que é isso? No que estão se referindo? Respondam!

Lilian o controla: Fausto…Calma! Calma! Eu te explico depois- As duas saem.

Silêncio no recinto.

Geórgia pigarreia: Bem…Alguém quer suco?

No quarto…

Maísa coloca sua bolsa sobre a cama: Ainda não contou pra ele, Lilian?- A trata rispidamente- Cê não acha que seu marido tem o direito de saber que foi enganado esses anos todos? Tá com medo de perder ele, né? Bem, essas são as consequências pela sua mentira, você tem de arcar com elas!

Lilian de repente a pega pelo braço: Maísa, chega de me acusar e falar tudo sem saber nem ao menos o que aconteceu!- Fala, firmemente- Você vai me ouvir, ou não? Saiu como uma descontrolada daquele desfile, depois me ignorou na casa da Úrsula, acha que com isso vai ganhar o quê, menina? Com a sua ignorância, não vai chegar a lugar nenhum, mas eu não lhe dou o direito de falar da minha história, aliás, da nossa história, dessa maneira! Você não sabe o que aconteceu, portanto não pode ir me olhando com esse desprezo aí…Como se eu fosse uma monstra…Eu ERREI, quem nunca errou? Mas meu erro, teve um motivo, motivo esse que você desconhece, portanto nunca fale de uma coisa, sem saber os fatos que rondam sobre ela!

Maísa a encara: Eu tenho os meus motivos também, ou você acha que me senti como quando descobri que aquele homem ali na sala, aquele cara que eu chamei de pai por todos esses anos…- Ela para, e respira fundo- Fiquei destruída! Horrorizada, descontrolada!!

Lilian, séria: Eu entendo Maísa, eu entendo! Mas eu só quero o seu bem, sou sua mãe, no momento da revelação, que não era pra ter sido daquela maneira, sei que foi difícil de assimilar…Mas depois, você não devia ter fugido de mim, sem pedir explicações, minha filha, eu tenho uma história muito dolorosa pra te contar, e tava criando coragem pra isso!!- Ela chora- Eu me envergonho muito do meu passado, filha, e não queria…Não queria que tudo tivesse sido descoberto assim…

Maísa se solta: Para de chorar, para! Você não é vítima aqui, quem foi enganada fui eu, e você tá sendo negligente, não quer me compreender e ainda se acha a santa da história! Eu, o papai, quem sabe até o Téo. Qualquer um é vítima, menos você, mãe, que mentiu!! Tá achando que eu vou te perdoar por isso? Essas palavras bonitas…Inspiradas…Não me comovem! Você não é mais minha mãe, não tem o direito de carregar esse título, ninguém quer ter uma mãe assim. Você não é mais minha mãe- Repete, cruelmente- Não é. Não é!

Lilian a pega pelo braço de novo: EU SOU SIM, QUER QUEIRA OU NÃO, EU SOU SUA MÃE E O FAUSTO É SEU PAI, PORQUE ELE TE CRIOU, ELE TE DEU CARINHO, MORAL, PRINCÍPIOS…Ou tentou, pelo menos. Maísa, você não sabe o quão duro é ouvir essas palavras vindas da sua boca. No coração de uma mãe, é a pior coisa que existe. E um dia, um dia, eu te juro, você vai entender o que tô dizendo quando tiver seu filho ou sua filha…Você vai errar muito, vai acertar muito, vai cair, levantar, porquê a vida é assim. Eu não conheço um ser só que tenha uma vida só de glórias. Eu sou um ser humano, eu erro, errei, assumo, não tô me passando por santa, demorei, mas vou ter de enfrentar essa situação, só que com cabeça erguida! Tenho sim do que me envergonhar, mas vou enfrentar tudo!!

Maísa a provoca: Vai enfrentar?- E ri, debochadamente- Mas você nem sequer contou pro Fausto o que aconteceu…Você é horrenda…Isso sim…E eu nunca vou aceitar o que fez comigo. Você não merece ser chamada de mãe por mim- Fala, ferinamente- Você não merece mais a minha atenção e nem o meu carinho por isso!

Lilian lhe dá um tapa na cara. O quarto fica em silêncio: Eu não te dou o direito de falar assim comigo.

Maísa vira o rosto: Eu te odeio…

Lilian dispara: Parece que você sempre me odiou. Sempre.

Maísa limpa o rosto: Talvez porque eu soubesse o erro que você cometeu comigo. Escuta aqui- Aponta o dedo na cara dela- Você pode me bater, e acabar com a minha carreira de modelo, mas eu vou me reerguer, procurar o meu verdadeiro pai, e ter uma longa conversa com ele sim. Mas aqui, Lilian Lacerda, a gente rompe, rompe qualquer laço que tenha entre nós- A garota pega sua bolsa na cama.

Lilian: Você não vai ouvir minha história? Você vai chegar a esse ponto de injustiça comigo?

Maísa, furiosa: Quem é você pra falar de justiça?- Ela escorre as lágrimas do rosto- Te dou uma semana, nada mais, nada menos, pra contar tudo pro Fausto. Ou eu mesma faço isso, já que você é tão determinada assim na vida, acho que não vai ser necessário…É isso…Tchau. Aliás, adeus– Ela abre a porta e sai.

Lilian fica devastada, ela se apoia em uma parede e bate nela, como se fosse quebra-la: MAÍSA, VOLTA AQUI, NOSSA CONVERSA AINDA NÃO ACABOU, MAÍSA- E cai no chão, lentamente.

Maísa para de andar e observa o quarto da mãe, sem uma expressão definida no rosto. Ela vê na parede uma foto de família, mas vira o porta-retrato e sai andando.

Cena 05- Mansão de Úrsula/ Noite.

Úrsula perambula de um lado pelo outro pela casa.

Úrsula, cansada: Que dor nas minhas perninhas, não aguento mais andar. – Ela olha no relógio. – Que demora da Paula. – E para um tempinho. – Vou atrás do Bernardo, vamos ver se ele já está dormindo… A moça tá demorando tanto, que é bem capaz.

Ela sobe a escada e vai até o quarto do filho.

Úrsula vê Bernardo mexendo num álbum: Não cansa de ver as fotos que você tira não? Aliás, tem graça nisso?

Bernardo, sorrindo: Para mim tem! – Ele pega mais álbum e vê outras fotos. – Aliás, estou indo atrás de um trampo. Minhas fotos de Milão, as que eu tirei das modelos, fizeram sucesso. Estou bem no mercado. Fui muito bem elogiado por todos!

Úrsula, sorrindo: Prefiro a medicina, querido- Ela sai.

Bernardo continua vendo os álbuns de fotos. No travesseiro, tem uma foto de Lilian, diferente da que Maísa havia pegado.

Foca na foto.

Cena 06- Ruas do Rio de Janeiro/ Noite.

Paula continua dirigindo, aflita por ter uma arma apontada pra sua cabeça. O bandido dá a orientação, e logo eles estão em uma parte menos convidativa do Rio, digamos assim. Um local bem vazio, perto de uma prainha.

O bandido tira o cinto: Segurança sempre, né princesa? Ô três aí, podem sair, chegamos no nosso amado cafofo secreto, você fofura pode sair também, mas não tente fugir! Entendeu?- Ela faz que sim com a cabeça- Eu já disse que não gosto de sinais com a cabeça, quero ouvir da sua boca se entendeu…- Ele sussurra, num tom aterrorizante.

Paula, tremula: Eu entendi sim…- Ela sai, e é cercada pelos bandidos- O que vocês vão fazer comigo? Por favor, me deixem ir embora, eu tô grávida, não quero correr risco de…

O chefe dos bandidos a interrompe: É o seguinte, garota, meu nome é Bala Perdida, e nem queira saber porquê…Nós não vamo te liberá tão fácil assim. Andamo reparando e…Seu carro é bem jeitoso, suas roupa são de grife, esse relógio é de ouro…Tu é rica, não tenta negar!

Paula, tensa: Olha, senhores, se é dinheiro o que vocês querem…Eu não tenho no momento, mas eu posso dar um jeito.

Bala Perdida a interrompe: CALA A BOCA, PRINCESA, CALA A BOCA QUE EU TÔ FALANDO- Ele aperta seus lábios.

Paula, apavorada: Meu tio, Sid Turner, ele pode dar o que vocês quiserem…Mas por favor…

Bala Perdida ri: Sid Turner? O velho rico, dono dos shopping? Ai, ai, ai, rapaziada, olha só, nóis demo a sorte de encontrar com a sobrinha de um dos trouxa mais rico desse Brasilzão! Ah…Isso ainda vai render tanto- Ele sorri maldosamente- Bazuca, Eleutério, levem a nossa rica donzela pro cafofo, lá ela vai ter um tratamento especial. Mas não se preocupa, logo nóis vamo fazer contato com o seu tio, ele já deve estar preocupado com tua demora, gata, levem ela!- Os dois agarram Paula, que se contorce.

Paula, desesperada: NÃO, NÃO POR FAVOR, NÃO FAÇAM ISSO COMIGO- Suplica.

Bala Perdida lhe dá um tapa: Cala a boca, princesa, sua voz já tá me irritando! Se falar de novo, eu te apago, e seu tio pode nunca mais te achar!- Ele a pega pelo cabelo, com toda a força- Então fica calada, calada, ouviu? Eu posso estar pegando leve agora, mas não queira me ver bravo! Sou pior que o demônio.

Paula chora, aterrorizada. Os bandidos a levam até um casebre abandonado.

Cena 07- Apartamento dos Segata/ Noite.

Lilian retorna a sala, depois da conversa com a filha. Havia lavado o rosto, com certeza: A Maísa já foi…Né?

Acácia, desesperada, ignora a pergunta da irmã: E então, Lilian? Você vai deixar mesmo a Raquel sair dessa casa? Sem ter para onde ir?

Raquel se ajoelha perante a mulher, chorando: Me perdoa. Eu juro, eu juro que não vou mais te prejudicar. Mas deixa eu morar aqui, por favor. Me desculpa.

Lilian levanta Raquel. Em seguida ela olha para Acácia.

Lilian, séria: Eu vou deixar que a Raquel continue nessa casa. E quero também te pedir desculpas, Raquel, por ter sido tão grosseira com você.

Rubem e Irene se entreolham, sem entender.

Acácia, beijando o rosto de Lilian: Obrigada, irmã. Você não vai se arrepender de ter tomado essa decisão.

Um pouco mais tarde…

Lilian e Fausto vão para o quarto, conversar.

Lilian, sorrindo: Estava com saudade de mim. Não estava?

Fausto a beija: Claro que estava. Mas não foi esse assunto que nos trouxe até o quarto para conversarmos.

Lilian, séria: E qual seria esse assunto? – Pergunta, assustada.

Fausto, também sério: Eu quero que você me diga o que aconteceu na Itália. Eu quero não, eu EXIJO!

Lilian, tremendo pouco: Tudo bem. Está na hora de você saber, e eu vou te contar tudo!

Foca nos olhos de Fausto, em seguida, na expressão de sua mulher.

Cena 08- Mansão de Sid/ Noite.

Sid e Elisafran chegam do jantar, alegres e com espirito jovial.

Elisafran, já meio cansada: Ai…Eu não tô preparada pra jantares com música, Sid, e aí você ainda me puxa pra dançar? Ai, tomara que ninguém tenha filmado meu mico…

Sid ri: Mico? Ah, pare, você dança muito bem. Foi tudo muito bom, inclusive, a comida boa, música de qualidade, ambiente agradável…Tô pensando em comprar aquele restaurante pra mim, seria um bom investimento!

Elisafran se assusta: Nossa, até parece que você fala de propriedades de banco imobiliário, Sid, como se pudesse comprar tudo.

Sid sorri: Não se assuste, Fran, mas, sinceramente, se eu quiser, posso comprar muita coisa por aí. Fora que meus investimentos são a base fundamental pro meu sucesso, ou cê acha que eu sou um dos homens mais ricos do Brasil, por herança? Temos que lutar pra conseguir uma posição de respeito na sociedade- O telefone toca- Nossa…Mas a essa hora?- E atende- Sid Turner na linha…Ah, Úrsula, o que houve?

Úrsula, sendo massageada por Olive: O que não houve, você quis dizer, né? O dia vai amanhecer e a Paula não chegou aqui, acredito que ela não tenha se perdido pelo caminho…Onde tá a moça?

Sid arregala os olhos: C-Como assim? Úrsula, ela saiu daqui faz muito tempo, já era pra ter chegado aí!

Úrsula, assustada: Epa…Então a história é diferente. Meu Deus, será que aconteceu algo no caminho? Sid, vamos acionar a polícia!

Sid tenta se controlar: Calma, Úrsula, primeiro vou mandar um dos meus lacaios procurar a Paula pelo Rio, mas é certo que algo aconteceu! Se ela não aparecer aqui nem aí em uma hora, tomarei as devidas providências.

Úrsula, sem ar: Ai…Eu fiquei preocupada, meu neto corre risco, ai Nossa Senhora da Riqueza ajude que nada tenha acontecido com ele…Tudo bem, Sid, me deixe informada ou eu não conseguirei dormir, mentira, eu vou conseguir dormir, mas não bem…Portanto me informe. Beijos- Ela desliga o telefone- Olive, a Paula sumiu.

Olive, tensa: Sumiu?

Em sua casa, Sid conta tudo a Elisafran: Mandei o Waldo ir atrás dela, mas Paulinha não é de sumir, ela ia na casa do Bernardo, contar tudo pra ele…Ai, o que será que aconteceu com minha sobrinha?- Ele coloca a mão no coração- Não estou preparado pra notícias ruins.

Elisafran, segura: Não vamos ter notícias ruins, Sid, provavelmente ela não se sentiu preparada e resolveu ir até um bar, ou até a casa de uma colega, enfim…Vamos pensar positiv…- O telefone toca.

Sid pula do sofá: Ai, que seja a Úrsula com notícias da minha sobrinha- Ele atende- Sid Turner na linha…Alô?- Ele não obtém resposta- Paula Collins eu espero que não seja você tentando me pregar um trote, pois acho isso de extremo mau gosto, onde você está, garota?

Bala Perdida ri: Olha, a sua sobrinha não tá muito bem não…Até parece que foi sequestrada!- Debocha.

O coração de Sid dispara: Quem tá falando? Eu exijo identificação? Olha…Mas que brincadeira de péssimo gosto, eu não tolero isso!

Bala Perdida, sério: Eu não tô brincando, velhote, sua sobrinha tá aqui, com a gente, e se você não fizer o que eu mandar…Ah, aí podemos ferir ela, ou quem saber, matar ela, é, eu disse MATAR.

Sid cai sentado: O QUE VOCÊ FEZ COM MINHA SOBRINHA?- Elisafran fica horrorizada- RESPONDA CRÁPULA!

Cena 09- Mansão de Úrsula/ Noite.

Maísa chega no local. Olive abre a porta para a moça.

Olive, sorrindo: Bernardo já está te esperando, no quarto. Pode subir.

Maísa: Certo. Obrigada!

Maísa sobe a escada e Olive fecha a porta. No quarto, Bernardo ainda mexe nas fotos. Ela bate na porta e entra.

Bernardo, sorrindo, feliz: Oi, entra. – os dois se beijam. – Senta ai na cama.

Maísa senta perto do travesseiro, onde a foto de Lilian está. Ela vê a foto e engole seco, paralisando.

Maísa, tentando disfarçar: São muitas fotos. Várias pessoas diferentes. Você ainda lembra de cada uma?

Bernardo guarda seu trabalho: É muito raro eu lembrar. Eu tiro foto de muita gente. Mas por que a pergunta?

Maísa, pegando a foto: Nada, nada não. – ela mostra a específica. – E essa mulher, quem é? A foto dela está sozinha aqui no canto e não no meio das outras. Você conhece essa mulher?

Bernardo fica sério por um tempo.

Maísa insiste: E então, você a conhece?

Bernardo, desconcertado: Conheço, e é por isso que separei. Vou queimar a foto, essa mulher não é modelo. É uma qualquer da rua. – ele sorri.

FLASHBACK

Bernardo e Maísa estão dentro do avião. Bernardo dorme e Maísa observa pela janela. Ela se vira para Bernardo, e vê uma pasta com um álbum. Ela pega o álbum e vai passando as fotos. Quando ela começa a passar as fotos, ela acaba vendo uma de Lilian, e fica chocada.

Maísa, chocada, perplexa: Não pode ser, o que a foto da minha mãe está fazendo aqui?!

Maísa pega a foto que havia visto de Lilian e guarda em sua bolsa. Ela não tem coragem de ver as outras fotos e guarda o álbum de volta a pasta. Ela volta a observar pela janela, cabisbaixa: Será que…Minha mãe foi capaz? De trair meu pai?

FIM DO FLASHBACK

Maísa, sorrindo: Uma qualquer. – ela sorri e dá uma pausa. – Da rua. – Finaliza.

Cena 10- Apartamento dos Segata/ Noite.

Lilian, determinada: Fausto, na Itália…Veja bem, é difícil pra eu encontrar as palavras certas e te contar…

Fausto pega em sua mão: Olha meu amor, eu sei que gritei e fui meio idiota, mas não quero te pressionar, só que essa história entre você e a Maísa…Eu juro, tento, mas não consigo entender!

Lilian se levanta e vai até a varanda do quarto, que estava iluminado apenas pela lua: Fausto…

Fausto, compreensivo: Se você não quiser me contar, te entendo, demore um pouco mais, é só que…

Lilian se apoia na cortina, que rasga: Não, Fausto…Eu tô passando mal…- Ela cai no chão.

Fausto pula da cama, rapidamente: LILIAN! LILIAN!- Ela está desmaiada- Ai não…O que eu fiz?- O homem a carrega até a cama e dá leves tapas pra ver se consegue acordá-la, em vão, depois molha seu rosto, mas a mulher não esboça reação alguma, o que preocupa ele- LILIAN, FALA COMIGO, MEU AMOR!

Lilian está inconsciente, ela tem flashes confusos do passado.

FLASHBACK…

Não sabemos o tempo nem o espaço dessa cena, mas é algo muito intenso, uma discussão já começada.

Lilian, furiosa: Você não manda mais em mim, Téo, eu não sou e nunca fui sua, e já tô cansada de ser tratada como…

Téo a agarra, com uma força brutal: Você merece ser tratada assim, cachorra, infeliz, só aprende na marra- Ele a esbofeta, com ódio no olhar, enquanto a mulher tenta se defender. Téo lhe dá tapas e socos, que arrancam gritos desesperados da jovem.

Lilian tenta se soltar e atingir Téo, mas ele continua machucando-a, seus olhos já se encontram roxos, e o corpo cheio de manchas, as lágrimas escorrendo do rosto involuntariamente: AI, ME LARGA, SEU COVARDE…PARA…PARA!- Porém o rapaz não demonstra piedade- PARA, TÉO, PARA, TÁ DOENDO…- Mas acaba se rendendo a fúria do homem, e cai no chão, com as mãos entre a cabeça- Ai…Por favor, para Téo- Diz, já com a voz rouca.

Para Téo…

VOLTA A CENA.

Lilian soa e se contorce na cama, como se estivesse revivendo as dores do passado, como que se os tapas e socos estivessem acontecendo naquele mesmo instante, e doessem da mesma maneira, ela se mexe, querendo se defender: PARA…SOCORRO…PARA, TÉO.

Fausto paralisa ao ouvir o nome até então desconhecido: Téo?

Termina o capítulo 16.