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Sangue Ruim

Sangue Ruim: Capítulo 12 – Encare a Verdade [FINAL]

 

CENA 1/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ SALA DE JANTAR/ MANHÃ

Continuação imediata

Todos da família se deitam no chão assustados e os capangas de Rick pegam cordas para amarrá-los. Alice, Marcelo e Lourdes tem as penas e braços amarrados e as bocas tampadas por mordaças.

Rick: E agora? Por onde a gente começa a limpa?

Laura: Andar de cima. Lá tem muita porcaria boa! Especialmente no closet dessa aqui!

Rick: Pode deixar! E você? Fica de olho neles?

Laura: Com todo o prazer!

CENA 2/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ QUARTO DE LAURA/ MANHÃ

Os capangas de Rick invadem o quarto de Laura e começam a pegar todos os objetos de valor que vão achando pelo caminho: de joias a peças de roupa, decoração e bolsas. Enquanto os bandidos continuam seu serviço. Guilherme fica escondido embaixo da cama, controlando a respiração, para que não seja descoberto.

CENA 3/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ SALA DE JANTAR/ MANHÃ

Laura permanece com a sua arma apontada para os reféns e consegue perceber o medo nos olhos de sua família. Ela avança em direção a Alice e lhe tira a mordaça:

Laura (irônica): Tá com medo de que mãe? Não tá achando que eu vou te machucar né?

Alice (amedrontada): Você é um monstro! Eu não te conheço, você não é a minha filha! Não a menina que eu criei!

Laura: Pelo contrário Dona Alice, eu sempre fui isso aqui… Você que nunca quis perceber! Todos os sinais estavam aqui, bem na sua frente.

Alice: Eu não acredito nisso Laura. A filha que eu criei não era assim, ela era boa… Talvez um pouco difícil, mas nunca foi mal! Isso não!

Laura: Tem gente que custa a ver o que tá na cara né! – Laura solta uma gargalhada – Nem assim, comigo apontando uma arma pra você, você quer acreditar né? É muito burra! Otária!

Rick chega com um saco cheio de coisas de valor que surrupiou da mansão e encontra Laura:

Rick: Preciso da senha do cofre. O grosso do dinheiro mesmo deve tá lá dentro!

Laura: Isso ai só essa desgraçada sabe! Fala a senha Alice!

Alice: É biometria, só abre com a minha digital

Rick: Então você vem com a gente tia! Vamos precisar desse seu dedinho! E sem tentar nenhuma palhaçada viu!

Rick desamarra as pernas de Alice e a levanta para leva-la para o cofre, sempre com a arma apontada para a cintura dela.

Laura e Rick sobem junto com Alice para o quarto e deixam Lourdes e Marcelo amarrados na sala de jantar.

CENA 4/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ QUARTO DE LAURA/ MANHÃ

Os capangas de Rick recolhem tudo o que precisam do quarto de Laura e enfim saem. Guilherme espera alguns segundos para se certificar que eles não voltarão e sai de baixo da cama.

Ele espia por uma fresta da porta o corredor e percebe que este está vazio. Guilherme sai com cuidado pelo corredor da mansão e desce sorrateiramente as escadas, indo em direção à sala de jantar.

CENA 5/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ SALA DE JANTAR/ MANHÃ

Ao chegar na sala, ele encontra com Lourdes e Marcelo amarrados e amordaçados. Guilherme retira a mordaça dos dois e pede para que eles façam silêncio:

Guilherme (sussurrando): Cadê o telefone? Liga pra a polícia

Marcelo: Eu preciso buscar a Alice antes, ela tá com aqueles bandidos

Guilherme: Calma, vai ficar tudo bem com ela. Lourdes, liga pra a polícia agora. A gente precisa sair daqui antes que eles voltem

Lourdes: Vamos lá pros fundos

CENA 6/ SÃO PAULO/ MANSÃO HOLSTEIN/ CLOSET DE ALICE/ MANHÃ

Alice chega ao seu closet e fica cara a cara com o cofre:

Rick (agressivo): Abre logo esse cofre piranha!

Alice: Calma, eu vou abrir!

Ela coloca sua digital no cofre e em seguida digita a senha: o aniversário de Laura. A porta do cofre se abre e os bandidos se deparam com uma boa quantidade de joias e dinheiro vivo:

Laura: Era disso que eu tava falando Rick! Agora sim!

Alice: Agora você vai me soltar sua desgraçada? Vai me deixar ir embora?

Laura (irônica): Por que?! Não tá gostando de passar esse momento mãe e filha comigo? Poxa mamãe, eu te amo tanto…

Alice olha com profundo desgosto para a filha e de súbito dá um cuspe na cara dela. Com a humilhação, Laura fica extremamente nervosa e revida dando um tapa no rosto da mãe.

Laura (furiosa): Você vai pagar caro por isso! Ninguém cospe no meu rosto assim!

Alice (fria): Vai fazer o que?! Você não me assusta mais Laura! O pior que você tinha pra me mostrar eu já vi! Aliás, eu sempre vi a vida toda, você tava certa… Eu só me recusava a ver!

Laura: Cala a boca sua desgraçada! Antes que eu lhe dê um tiro!

Alice: Já te disse, não tenho medo… A coisa que eu mais tinha medo se concretizou aqui, na minha frente – lágrimas começam a descer no rosto de Alice – Eu tinha medo de ver a verdade, agora que eu já vi, não tenho mais medo de nada. Sabe o que eu tô vendo? Que agora tudo faz sentido. Todas as brigas que você arrumava na escola desde pequena, todas as humilhações que você me fazia passar, as atitudes estranhas, as coisas que sumiam daqui de casa… Tudo faz sentido! Eu criei uma pessoa podre por dentro, mas nunca quis encarar isso! Como que eu pude ser tão idiota? Como pude meu Deus?

Laura (irada): CALA A BOCAAAAAA!

Alice: Encara a verdade Laura! Encara como eu tô encarando! Não era isso que você queria! É isso que eu tô te dando! Você é podre minha filha! Podre!

Laura perde a paciência e em um momento de fúria pega sua arma e efetua três disparos contra Alice.

Alice cai no chão ensanguentada e tudo começa a se apagar ao seu redor. A luz começa a se esvair e tudo que se pode determinar é o leve barulho de uma sirene longe dali.

Dias depois

CENA 7/ PENITENCIÁRIA/ DIA

Laura chega ao seu novo lar no camburão e escoltada pelos agentes penitenciários. Na entrada, ela é obrigada a deixar para trás todos os seus pertences pessoais e roupas, vestindo o uniforme da prisão. Ela passa por uma intensa revista e após algum tempo é levada para a sua cela. A carcereira tranca a cela e Laura se senta na beirada da cama, olhando fixamente a parede da cela, sem esboçar uma única reação

Meses depois

CENA 8/ PENITENCIÁRIA/ SALA DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO/ DIA

Após passar alguns meses na penitenciária, Laura já apresenta mudanças significativas na aparência: desde a perda de peso aos cabelos maltratados e ralos e à expressão facial. Ela se senta em frente à psicóloga do presídio e a fica encarando:

Psicóloga: Então Laura, você de novo…

Laura: O que eu posso fazer né doutora?

Psicóloga: Pronta pra falar mais?

Laura: Pensei que eu já tinha dito tudo o que a senhora queria…

Psicóloga: Não passou nem perto minha querida. Mas que tal a gente conversar dessa vez sobre a sua mãe?

Laura: Não tenho nada pra falar sobre aquela vadia. Por causa dela que eu tô aqui aonde eu tô…

Psicóloga: Mas você deu três tiros nela, tô correta?

Laura (fria): Ela mereceu…

Psicóloga: E em nenhum momento você se arrependeu?

Laura: Arrependi de não ter dado mais tiros… No final ficou viva a desgraçada, não atingi nenhum órgão vital… Preciso treinar mais pontaria quando eu sair desse inferno…

Psicóloga: E de onde saiu esse ódio todo pela sua mãe?

Laura: Nunca saiu, ele nasceu comigo. Você não tem ideia Doutora, do que é ter como mãe uma mulher como aquela. Sempre ficava bebendo por ai, tentava se matar… E o meu pai, outro canalha. Traia ela sempre, e achava que a gente não sabia. Além de tudo, um corrupto, que jogou o meu nome na lama.

Psicóloga: E você acha que o comportamento dos seus pais lhe deixou assim?

Laura: Não… Eu sempre fui assim, desde que eu me lembre. Nunca senti esse afeto que as pessoas sentem umas pelas outras, sabe? Pra mim as pessoas são um meio, de eu ter o que eu queria. E quando eu queria.

Psicóloga: Então, as pessoas pra você são como coisas?

Laura: Não… Coisa tem valor, as pessoas não.

Psicóloga: Ok Laura, foi o suficiente por hoje…

Laura: Posso te perguntar uma coisa antes?

Psicóloga: Pode, claro…

Laura: Você descobriu o que eu te pedi aquele dia?

Psicóloga: Sobre aquele seu amante né? Rick?

Laura: Ele mesmo… O que aconteceu com ele?

Psicóloga: Olha, veja bem… Não tenho boas notícias… – ela respira fundo e prepara-se para falar –  Teve uma rebelião no presídio dele, e ele acabou morrendo em uma briga de facções…

Laura olha para a psicóloga e dá de ombros:

Laura (indiferente): Imaginei… Sabia que o Rick não ia durar muito aqui dentro, isso aqui é selva.

Psicóloga: Então, te vejo semana que vem?

Laura: Se eu ainda estiver aqui, sim

Psicóloga: Laura, você sempre fala isso. Entenda, você foi condenada! Não vai sair daqui tão cedo…

Laura: A gente nunca sabe o dia de amanhã Doutora. Cadeia é pra bijuteria, eu sou uma joia…

CENA 9/ MANSÃO HOLSTEIN/ QUARTO DE ALICE/ DIA

Marcelo veste seu smoking e termina de arrumar a gravata borboleta enquanto Alice retoca a maquiagem:

Marcelo: Meu amor, você tem certeza que tá se sentindo bem o suficiente pra ir nesse casamento? Se você não tiver sentindo bem eu ligo e aviso que a gente não vai…

Alice: Larga de bobagem Marcelo, eu não perco esse casamento por nada nesse mundo! Se eu sobrevivi a tanta coisa nessa vida, com certeza aguento mais essa!

Marcelo: Eu já falei o tanto que eu te amo?!

Alice: Acho que não tô lembrada… Fala de novo, só pra eu ter certeza…

Marcelo se aproxima da esposa e lhe dá um beijo delicado

Marcelo (sussurrando): Te amo…

CENA 10/ PARIS/ TORRE EIFFEL/ DIA

Fábio e Guilherme se deitam sobre o gramado da torre e sorriem enquanto conversam:

Fábio: Não te falei que valia a pena largar tudo e vir comigo!

Guilherme: Eu nunca fui tão feliz assim Fábio… Ainda bem que você insistiu em mim…

Fábio: Você não achou que eu ia te deixar escapar fácil assim né meu bem? Se tem uma coisa que eu adoro é um desafio!

Guilherme: Você realmente mudou a minha vida…

Fábio: E você mudou a minha…

Fábio se aproxima de Guilherme e o beija. Em seguida eles riem um para o outro:

Guilherme: Bem, agora eu que vou mudar a sua vida Fábio Holstein

Fábio: Posso saber como?

Guilherme: Fica de pé então

Fábio se levanta e observa Guilherme se ajoelhar em sua frente. O rapaz tira do bolso uma aliança:

Guilherme: Fábio Holstein, aceita se casar comigo?

Fábio (exultante): Claro! Óbvio! Claro que sim! Agora!

Guilherme se levanta e dá um beijo apaixonado no noivo

CENA 11/ SÃO PAULO/ HOSPITAL/ DIA

Lourdes entra em um quarto de hospital e vê Luís deitado na maca, totalmente debilitado devido à doença:

Luís (feliz): Ainda bem que você veio…

Lourdes: Eu nunca ia deixar de vir, você sabe disso…

Luís: Ninguém mais veio… Ninguém…

Lourdes: Calma, eu tô aqui agora Luís

Luís: Esses são os meus últimos dias, você sabia disso?

Lourdes: Sim…

Luís: O que eu fiz pra merecer isso Lourdes?

Lourdes: Você só colheu o que plantou Luís… Não só você… Mas não pensa mais nisso, eu tô aqui.

Lourdes aperta a mão do seu ex amante e segura firme

Lourdes: Vai ficar tudo bem tá… Eu tô aqui…

CENA 12/ SÃO PAULO/ APARTAMENTO LUXUOSO/ DIA

Em um quarto muito luxuoso, Dante veste um smoking e se arruma. O rapaz passa um bom perfume, escolhe uma bela gravata e fica pronto para ir ao casamento. Ele pega as chaves do carro e anda pelos corredores do apartamento até a sala, onde se vê emoldurado em um quadro o seguinte recorte de jornal: “Jovem paulista ganha sozinho prêmio de 30 milhões na loteria federal”

CENA 13/ SÃO PAULO/ IGREJA/ TARDE

A igreja se encontra totalmente ornamentada para o casamento, com belíssimas flores e arranjos luxuosos. Os convidados aos poucos vão tomando seus lugares e com o tempo a igreja fica lotada.

Gustavo espera nervoso no altar quando de rente o carro que traz Catarina chega.

Ela desce deslumbrante em seu vestido de noiva e entra impecável na igreja, totalmente desacompanhada. A marcha nupcial toca e ela atravessa o corredor encarando os olhares dos convidados e do noivo.

A cerimônia prossegue e após algumas palavras o padre então parte para os finalmentes:

Padre: Gustavo de Goytacazes Gurgel, aceita Catarina Silveira Holstein como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na saúde na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?

Gustavo: Aceito!

Padre: E você, Catarina Silveira Holstein, aceita Gustavo Goytacazes Gurgel como seu legítimo esposo?

Catarina olha para o lado e vê Dante de pé, em um canto da igreja, a encarando. Ela olha fixamente para o rapaz por alguns segundos e uma lágrima escorre do seu rosto. Em seguida ela volta o olhar para o seu noivo e profere as palavras:

Catarina: Aceito!

CENA 14/ SÃO PAULO/ AEROPORTO DE GUARULHOS/ EMBARQUE INTERNACIONAL

Aos poucos os passageiros da fila vão embarcando para o voo que vai para Bruxelas e começam a entrar no avião. Uma mulher de óculos escuros e cabelos curtos e loiros espera na fila até que é chamada. O atendente pede o passaporte e ela o tira da bolsa:

Atendente: Senhora Alice Holstein?

Laura: Eu mesma…

Atendente: Aqui está Dona Alice, aprecie o seu voo e boa viagem!

Laura: Obrigado…

Laura embarca no avião e em sua mente se passam alguns flashs, desde o dia da invasão da mansão até os dias na prisão e a sua passagem por um túnel pelo qual escapou.

Ela se senta na primeira classe e a comissária de bordo lhe traz uma taça de champanhe:

Laura (para si mesma): Cadeia é para bijuteria. Eu sou uma joia…

FIM

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