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Recomeçar

Capítulo 13 – Recomeçar

RECOMECAR13

CENA 01. AVENIDA. EXT. NOITE.

Continuação imediata da última cena. Kadu desacordado e ferido dentro do carro. Júlia geme, mas não parece totalmente consciente. Há pouco movimento na avenida. Lorenzo parado, tocando em Júlia pela janela do carro. Emocionado:

LORENZO: – Que saudades, meu amor! Você não sabe como eu esperei por esse momento.

Agora, ele chama dois seguranças que estão na picape. Eles se aproximam. Lorenzo ordena:

LORENZO: – Levem ela para o carro.

Os seguranças o obedecem. Tiram Júlia do carro de Kadu e a carregam para o interior da picape. Lorenzo com os olhos em Kadu:

SEGURANÇA: – E ele, doutor? O que a gente faz com o playboy?

LORENZO: – Deixem esse idiota aí.

Lorenzo já está voltando pra picape. Todos entram no carro e saem com tudo. CAM volta pra Kadu, ainda desacordado e ferido. Mostrar que algumas pessoas tentam socorrê-lo. Falam fora de áudio. Corta para:

CENA 02. APART. DE DAVI. QUARTO. INT. NOITE.

No chão, Davi desperta de um desmaio. Zonzo. Filipe muito aflito.

FILIPE: – Davi, o que houve? Você desmaiou… Você caiu, escorregou, bateu a cabeça? Fala alguma coisa!

DAVI: – Não, tá tudo bem. Foi só uma tontura de repente.

FILIPE: – Como assim uma tontura? Que tontura é essa? É frequente? Você tá me escondendo alguma coisa, meu amor?

DAVI: – Não, bobagem. Deve ter sido o vinho.

FILIPE: – Será? Mas a gente sempre toma vinho. Eu não gosto nada disso. E tem ainda essas dores na coluna cada vez mais constantes. Você precisa procurar um médico, Davi.

DAVI: – Já disse que não é nada. Me ajuda aqui, me ajuda a levantar.

Filipe ajuda Davi a levantar. Davi sente dores nas costas. Vai pro banheiro tomar um comprimido. Filipe intrigado. Corta para:

CENA 03. APART. DE ABEL. SALA. INT. NOITE.

Gilda parada na porta com a cesta de chá nas mãos. Abel procura ser educado:

ABEL: – Entre.

GILDA: – Obrigada. (entregando a cesta) Trouxe pra você. É uma cesta de chá. Tem de tudo aí, você vai gostar.

ABEL: – Ah, obrigado. Não precisava. (T) Você disse que veio comemorar e me agradecer pela finalização do roteiro?

GILDA: – É, pois é. Eu fiquei muito satisfeita com o seu trabalho. Brilhante mesmo.

ABEL: – Mas o roteiro tá pronto há mais de dois meses. Não faz sentido/

GILDA: (corta) – Eu sei. Mas é que toda a fase de pré-produção tá no fim, vamos começar a gravar esses dias… então achei que devia te agradecer. Na verdade, eu queria ter vindo antes, mas fiquei com receio, não sabia se você me receberia bem.

ABEL: – Você achou o quê? Que eu bateria a porta na sua cara? Isso não é do meu feitio.

GILDA: – Abel, por mais que você tente ser educado, eu sei que a minha presença aqui é indesejável. Eu devo ser a pessoa que você mais odeia nesse mundo. Pra você, eu sou uma chantagista, uma mulher amoral, sem escrúpulos… E você tá certo. Eu posso ser isso tudo mesmo, embora viva dizendo que não. (T) Toda noite, quando eu coloco a cabeça no travesseiro, é em você que eu penso, é o seu rosto que veem à minha mente, às palavras duras que você me disse… Eu acho que eu nunca vou conseguir o seu perdão, não é?

ABEL: – Gilda/

GILDA: (corta) – Eu me arrependo disso tudo. Foi a maior burrada das burradas que já cometi nessa vida.

ABEL: – Os fins nunca justificaram os meios.

GILDA: – Eu sei disso. Aprendi a marretadas essa lição. (tira um pen drive da bolsa) Toma!

ABEL: – O que é isso?

GILDA: – O vídeo. O maldito vídeo que criou isso tudo. Esse é o único arquivo que existe dele. Toma! Acabou a chantagem!

Abel surpreso. Gilda com os olhos marejados. Corta para:

CENA 04. APART. DE DAVI. QUARTO. INT. NOITE.

Davi e Filipe deitados na cama. Filipe acaba de digitar uma mensagem no celular.

DAVI: – Vai ver ela tá no banho.

FILIPE: – A dona Gilda nunca perde essa mania de desligar o celular. Deixei uma mensagem de texto avisando que vou dormir aqui com você.

DAVI: – Já disse que estou bem. Não se preocupe.

FILIPE: – Como não vou me preocupar? E se você tem outro desmaio? Sozinho aqui nesse apartamento… Não, não, eu vou ficar aqui essa noite.

DAVI: – Mas você não tem um trabalho pra concluir, Filipe? Pode ir pra sua casa, eu tô bem.

FILIPE: – Primeiro vem você, depois o trabalho. Além do mais, é só mais um freela.

DAVI: – Você e seus freelas. Tá na hora de começar a procurar um emprego fixo, um trabalho que te dê um salário X no final do mês… Você tem uma excelente formação acadêmica, é talentoso, não devia se conformar com esses bicos que não vão te levar a lugar algum.

FILIPE: (meigo) – Mô, esse assunto agora não.

DAVI: (safado) – Tem razão. Tem coisa muito melhor pra fazer agora.

FILIPE: – Tipo?

DAVI: – Isso.

Davi beija Filipe com gosto. Muita pegada. Vão transar. Música: “Running Up That Hill” – Placebo. Corta para:

CENA 05. APART. DE ABEL. SALA. INT. NOITE.

Abre no pen drive na mão de Abel. Ele está surpreso com a atitude de Gilda. Ligeiramente tocado. Gilda chorou um pouco.

ABEL: – E o filme? Você vai desistir? O roteiro tá pronto, toda a equipe já tá mobilizada pro início das gravações/

GILDA: (corta) – Eu vou tentar negociar com a Leonor. Mas se ela não quiser mais produzir, tudo bem, eu pego tudo e ofereço pra outra produtora. O projeto já tem corpo, patrocinadores certos… não vai ser difícil levá-lo adiante. Enfim, não importa… O fato é que eu estou acabando com esse circo, recolhendo a lona e colocando um ponto final nesse espetáculo patético.

Gilda vai sair. Abel se apressa e a pega pelo braço.

ABEL: – Espere, Gilda.

Os rostos ficam bem próximos. Clima. Expectativa de beijo. Gilda sai. Corta para:

CENA 06. HOSPITAL. RECEPÇÃO. INT. NOITE.

Leonor e Horácio sentados. Esperam o médico. Leonor aflita. Horácio calmo.

LEONOR: – É o cúmulo! Cadê esse médico? 40 minutos plantada aqui sem saber o estado do meu filho.

HORÁCIO: – Acalme-se, Leonor. Nós já sabemos que, felizmente, não foi um acidente grave. Os médicos devem estar fazendo alguns exames apenas.

LEONOR: – Um hospital público! Nesse lugar não deve ter nem soro fisiológico, que dirá um aparelho de raios x que funcione.

O médico chega. Leonor mais aflita.

HORÁCIO: – Olha o médico vindo aí.

LEONOR: – Ah, doutor! Como está meu filho? Carlos Eduardo Galvão.

MÉDICO: – Bom, já o submetemos a exames de raio x, tomografia e demais procedimentos. Felizmente, nada grave foi diagnosticado.

LEONOR: – Graças a Deus!

MÉDICO: – Há um corte superficial na altura da sobrancelha e alguns hematomas. Mas nada grave. Fiquem tranquilos.

HORÁCIO: – Podemos vê-lo, doutor?

MÉDICO: – Poder, podem. Mas ele está dormindo. Está sedado. Só deve acordar pela manhã.

LEONOR: – Quero vê-lo assim mesmo.

MÉDICO: – Me acompanhem.

Os três saem. Corta para:

CENA 07. CASA DE LORENZO. QUARTO. INT. NOITE.

Antes de cortar pro quarto, vemos stock-shot da casa. Uma grande casa de praia no Rio. Já no quarto, um médico aplica uma injeção no braço de Júlia, que está desacordada sobre uma enorme cama. Lorenzo por perto. Um segurança próximo à porta.

MÉDICO: – Pronto. Com isso ela vai dormir por umas doze horas.

LORENZO: – Ótimo.

MÉDICO: – Aparentemente, ela não sofreu nenhuma luxação ou coisa parecida, mas o aconselhável seria levá-la a um hospital pra se fazer alguns exames e/

LORENZO: (corta) – Não creio que seja necessário. Se está tudo bem com ela, o doutor já pode ir. Eu saberei cuidar da minha mulher.

O médico sai acompanhado pelo segurança. Lorenzo senta na cama e começa a alisar as pernas de Júlia, subindo a mão até suas coxas.

LORENZO: – Acorde logo, meu amor. Nós temos muita saudade pra matar.

Ele caminha até a porta da sacada e olha pro horizonte, sentindo que tem o domínio do jogo. Corta para:

CENA 08. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.

Música: “Save Room” – John Legend. Sol nascendo. Imagens clipadas de um novo dia. Encerra na fachada da casa de Lorenzo, que está saindo de carro. Corta para:

CENA 09. HOSPITAL. QUARTO. INT. DIA.

Leonor sentada próximo ao leito de Kadu. Cansada, uma vez que passou a noite inteira ali sem dormir. Kadu vai despertando. Está com um curativo na altura da sobrancelha. Leonor aproxima-se depressa.

KADU: – Mãe? O que aconteceu?

LEONOR: – Você tá no hospital, meu amor. Bateu o carro, ou bateram no seu carro, não sei ao certo. Você consegue lembrar? Tá sentindo alguma dor?

KADU: (recordando-se) – A Júlia… Onde tá a Júlia? Ela estava comigo… Onde ela tá? Ela tá aqui? Ela tá nesse hospital?

LEONOR: – Como é que eu vou saber?!

KADU: – Fala, mãe!

LEONOR: – Tá, tá, tá… Dizem que ela sumiu depois do ocorrido. Evaporou. Virou fumaça.

KADU: – Como é? Sumiu? Você tá brincando comigo?

Horácio entra no quarto. Leonor mostra-se alheia ao fato de Júlia ter sumido e afasta-se. Kadu num desespero crescente.

HORÁCIO: – Acordou, meu filho?!

KADU: – Ô pai, pelo amor de Deus, me diz: o que houve com a minha namorada, o que aconteceu com a Júlia?

HORÁCIO: – Você não contou pra ele, Leonor?

LEONOR: – Não enche, Horácio.

KADU: (exaltado) – Que porra aconteceu que vocês estão me escondendo? Falem de uma vez!

HORÁCIO: – Calma, Kadu! Procura ficar calmo. Se exaltar não vai adiantar nada.

Horácio abre a gaveta de uma mesinha ao lado da cama e tira de lá a bolsa de Júlia e entrega a Kadu.

HORÁCIO: – Só encontraram isto. Quando o socorro chegou, só você estava no carro.

KADU: – Como é que pode? Isso não é possível. Eu lembro bem… eu estava indo levar a Júlia em casa, aí, de repente, um carro atravessou a pista e bateu no meu. Foi tudo muito rápido, tudo muito/ (racional) Calma, isso é só uma grande confusão. Cadê o meu celular? Eu preciso dele, eu preciso fazer uma ligação.

HORÁCIO: (tirando do bolso) – Está aqui. Mas o que você vai fazer?

KADU: (digitando) – Ligar pro celular da Júlia, é claro.

Dentro da bolsa, o celular de Júlia chama.

KADU: – Ai que droga! Droga! (T) Talvez a Tia Sofia saiba de alguma coisa.

Kadu ligando. Corta para:

CENA 10. APART. DE TIA SOFIA. SALA. INT. DIA.

Sozinha em casa, Tia Sofia fala ao telefone com Kadu:

TIA SOFIA: – Não, meu filho, não vejo a Júlia desde ontem à noite, quando ela saiu com você. A cama nem foi desfeita, achei que/ (objetiva) Vem cá, o que tá acontecendo, Kadu? Eu tô começando a ficar nervosa.

Tia Sofia ouve o que Kadu diz (fora de áudio). Abalada, não consegue dizer mais nada e deixa o telefone cair. Nesse momento, Belita vai chegando da rua.

BELITA: – Pronto, agora que já deixei o Javier na escola, vou/ (percebe a situação) O que aconteceu, Tia Sofia? A senhora tá branca feito uma vela. Tá passando mal? É, parece que sim.

Belita ajuda Tia Sofia a sentar no sofá.

BELITA: – Vou pegar uma água pra senhora.

Belita vai atrás da água. Tia Sofia aluída. Corta para:

CENA 11. SHOPPING. INT. DIA.

Música: “Otra Luna” – Carlos Libedinsky. Cena costurada por cortes descontínuos. Lorenzo faz compras numa loja de roupas femininas. Conversa com vendedoras. Passa numa loja de brinquedos. Sai do shopping com algumas sacolas. Corta para:

CENA 12. ESCOLA INFANTIL. PÁTIO. INT. DIA.

Segue a música. Lorenzo observa Javier brincando com os coleguinhas. Sem preocupação em ser visto. Num dado momento, o menino o vê e, reconhecendo-o, corre até ele. Se abraçam e matam a saudade. Uma professora, desconfiada, está de olho. Lorenzo vai conversar com ela e sai da escola levando Javier. Cena com cortes descontínuos e fora de áudio. Corta para:

CENA 13. APART. DE DAVI. QUARTO/BANHEIRO. INT. DIA.

Davi dorme. Logo desperta, olha o relógio na cabeceira e levanta apressado. Filipe entra, carinhoso, já pronto pra sair.

DAVI: – Caramba! Quase 11 horas! Por que não me acordou, Filipe?

FILIPE: – Bom dia, belo adormecido! Não tive coragem. Você dormia tão profundamente.

DAVI: – Tem muito trabalho me esperando na produtora.

FILIPE: – Eu também vou indo, preciso cuidar dos “freelas” que você tanto implica.

Agora já no banheiro. Davi escovando os dentes. Filipe abraçando-o por trás.

FILIPE: – À noite vamos jantar com a minha mãe. Você tá lembrado, né?

DAVI: – Claro que tô lembrado. As reservas já estão feitas.

FILIPE: – Quer apostar quanto que ela vai contar outra vez do encontro com a Michelle Pfeiffer?

DAVI: – Eu aposto que ela conta o da Rosanna Arquette.

FILIPE: – A dona Gilda é impossível! Bom, vou indo.

DAVI: – Não quer que eu te leve?

FILIPE: – Não, você já tá atrasado. Dá aqui um beso! (beija e vai saindo) Bom trabalho, meu amor.

DAVI: – Pra você também. Se cuida hein! O jantar é às oito e meia!

FILIPE: (off) – Já sei. Fui!

Filipe já foi. Davi sente dor na coluna. Leva as mãos como se pudesse contê-la. Toma um comprimido. Corta para:

CENA 14. PRODUTORA GALVÃO. ANTESSALA/SALA DE LEONOR. INT. DIA.

Leonor vai chegando. Flavinha sai da mesa e mostra serviço:

FLAVINHA: – Leonor, pensei que você não viesse hoje.

LEONOR: – E porque não viria? É feriado? Dia mundial da cafonice?

Vemos que Flavinha usa uma saia fora da moda. A secretaria fica sem jeito, mas já está habituada ao humor da patroa:

FLAVINHA: – Imagino então que esteja tudo bem com o Kadu. Não se fala em outra coisa aqui na produtora.

LEONOR: – Esse é o problema de vocês: falam demais e trabalham ‘de menos’. O Kadu está ótimo, não foi nada grave, até já recebeu alta. Bateu num hidrante pra lavar os paralamas do carro. Agora vai, vai trabalhar.

Flavinha vai saindo da sala e Gilda entrando.

FLAVINHA: – Dona Gilda, a senhora não pode ir entrando/

LEONOR: (corta) – Deixa, Flavinha, deixa. (para Gilda) O que foi dessa vez? Não me venha com problemas, Gilda. A minha noite foi péssima, não estou num bom dia/

GILDA: (corta) – Vim rescindir meu contrato.

LEONOR: – Como é?

GILDA: – Estou tirando o cano da minha pistola do meio da sua cara Leonor. Não tem mais chantagem, não tem mais negociação, não tem mais filme… Quero dizer, o filme eu vou oferecer pra outra produtora aí que já está interessada.

LEONOR: – O que foi? Tá voltando do exorcista ou da igreja mesmo? Cadê aquela Gilda combativa, cheia de ases nas mangas, colocando um pen drive na minha cara e dizendo o que eu devo fazer?

GILDA: – Essa Gilda não existe. Isso foi um ato de desespero. Já caí em mim. Mas confesso que me diverti muito com isso tudo. Te ver acuada não tem preço, Leonor.

LEONOR: – Quer dizer então que você não quer mais que a produtora realize o filme?! Não sei se comemoro ou lastimo.

Abel entra, açodado:

ABEL: – Lastima, claro que lastima. (para Gilda) Você não pode fazer isso, Gilda. Não pare a produção do filme.

Clima. Leonor sem entender. Corta para:

CENA 15. ESCOLA INFANTIL. PÁTIO DE SAÍDA. EXT. DIA.

Crianças saindo da escola com os pais. Belita vai chegando. Procura por Javier entre elas. Aproxima-se da professora.

BELITA: – Onde está o Javier? No banheiro?

PROFESSORA: – Não, o Javier foi pra casa mais cedo.

BELITA: – Como assim ‘foi pra casa mais cedo’? Eu estou vindo de casa, vim buscá-lo.

PROFESSORA: – O pai dele o levou. Lorenzo, né?! Ele disse que tinha acabado de chegar de viagem e queria fazer uma surpresa pra esposa.

BELITA: (em choque, consigo mesma) – Não acredito!

Corta para:

CENA 16. CASA DE LORENZO. QUARTO. INT. DIA.

Na cama, Júlia desperta. Estranha o lugar onde está. Lorenzo vem da sacada. Vento nas cortinas, gerando um efeito sobrenatural.

LORENZO: – Dormiu bem, meu amor?

Extremamente assustada, Júlia solta um grito de pavor. Nisso, efeito e corta para:

FINAL DO CAPÍTULO 13

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