Penúltimo Capítulo – Como Nossos Pais
Capítulo 4 (Penúltimo Capítulo)
Cena 1. Casa de Reynaldo. Sala de estar. Tarde. Int.
Dona Irene: Aconteceu uma tragédia!
Heloísa começa à chorar.
Reynaldo: Fala de uma vez!
Dona Irene: O Leonardo foi preso!
Heloísa (Chorando): O que?
Dona Irene: Se eu fosse vocês, iria imediatamente até a delegacia tentar reverter essa situação, os presídios estão muito perigosos e sabe-se lá, qual deles seu filho será levado.
Heloísa: Vamos, Reynaldo!
Reynaldo: Não! Eu vou sozinho! Por enquanto, fique aqui e ligue para os nossos pais para que fiquem comunicados.
Heloísa: Comunicar nossos pais? Num momento desses, você pede pra mim perder meu tempo ligando pra nossos pais?
Reynaldo: Foi o único pretexto que encontrei para te segurar aqui, enquanto, resolvo a situação de Leonardo.
Reynaldo põe o livro na estante, pega a chave do carro em cima de uma mesinha de centro e desfere um singelo beijo em Heloísa, para constrangimento de Dona Irene que observava tudo.
Reynaldo: Vai dar tudo certo, meu amor.
Reynaldo se vira e ver Dona Irene com as mãos nos olhos, tampando a sua visão.
Reynaldo: O que foi, Dona Irene? Até parece que nunca beijou na boca de ninguém!
Dona Irene: Misericórdia, eu sou evangélica, eu!
Reynaldo: Ata. (Risos)
Heloísa: Vai logo, nosso filho está correndo perigo.
Reynaldo se afasta dali.
Dona Irene: Safadinho, seu marido, hein?
Dona Irene esbanja um sorriso extravagante no rosto, enquanto, Heloísa se direciona ao telefone e disca um número.
Cena 2. Delegacia. Escritório. Noite. Int.
Reynaldo adentra-se no local, se aproxima de uma porta e abre-a, se deparando com o delegado virado para a parede em sua poltrona giratória.
Reynaldo: Com Licença.
Ao ouvir a voz, o delegado se direciona à porta e a fisionomia dele é muito familiar, Reynaldo e o delegado trocam olhares e em poucos segundos, um grande flashback invade a mente de ambos, até firmarem-se novamente e soltarem algumas lágrimas.
Reynaldo (Chorando): Não pode ser! Thiago?
Delegado: Reynaldo?
Reynaldo corre abruptamente na direção de Thiago, enquanto, esse se levanta e ambos se abraçam.
Reynaldo: Eu achei que você tinha morrido, meu amigo.
Delegado: Após, você sair de lá, eu e os outros sofremos muito nas mãos do General-mor Fernão de Luxemburgo.
Reynaldo: E como você sobreviveu?
Delegado: Fernão de Luxemburgo achou graça em mim, me pôs em sua casa e me obrigava à ter relações com ele todas as noites, em troca bancava a minha faculdade. E você, meu amigo? O que faz?
Reynaldo: Me tornei Jornalista! Casei com uma bela esposa e estou aqui, à procura de um filho usuário de drogas, ao qual, foi preso hoje pela tarde.
Delegado: Um daqueles usuários era seu filho? Nossa! Um revolucionário pai de um usuário!
Reynaldo: Um revolucionário exercendo um cargo como oficial da justiça.
Delegado: Nos tornamos ambíguos e hipócritas, devemos admitir.
Reynaldo: É, tudo o que fiz meu pai passar, estou passando agora com o meu filho!
Delegado: Eu vou mandar chamar seu filho e enquanto, eles trazem, conversaremos mais um pouco.
Reynaldo: Ok!
O delegado pega o telefone, disca um número e o anônimo atende.
Anônimo: Alô, quem está falando?
Delegado: vocês deveriam gravar meu número nesse telefone.
Anônimo: Oh me perdoe, Delegado!
Delegado: Tranquilo! Tranquilo! Eu quero pedir o regresso de um vândalo que foi levado pra aí hoje.
Anônimo: Qual é o nome dele?
O delegado afasta o telefone do ouvido.
Delegado: Como é o nome dele mesmo, Rey?
Reynaldo: Leonardo Albuquerque.
O delegado retorna o telefone.
Delegado: Um tal de Leonardo! Leonardo Albuquerque!
Anônimo: Olha, esse indivíduo foi levado diretamente para o hospital Central.
Delegado: Por que?
Anônimo: Ele sofreu um atentado dentro do presídio! Recebeu uma surra daquelas!
O delegado desliga o telefone.
Reynaldo: E aí? Meu filho já está vindo?
Delegado: Meu caro Rey, sinto muito em te dizer que o seu filho está no hospital Central.
Reynaldo: Hospital Central? Por que?
Delegado: Sofreu um atentado.
Reynaldo: Eu vou ir direto pra lá!
Delegado: Qualquer novidade, pode me telefonar!
O Delegado entrega um papelzinho para Reynaldo.
Delegado: Vá com Deus!
O delegado leva Reynaldo até a porta.
Cena 3. Casa de Reynaldo. Sala de estar. Noite. Int.
Heloísa está sentada no sofá com uma xícara de café na mão ao lado de Dona Irene, ambas conversavam.
Heloísa: Meu Deus! Cadê o Reynaldo? Ele já devia estar aqui!
Dona Irene: É verdade! A novela do Pardal já deve ter acabado e ele ainda não chegou.
Heloísa: Como você pode pensar em novela num momento desses, Dona Irene?
Dona Irene: Ai, ai, ai! Não venha me importunar com seu mau-humor.
A campainha toca.
Dona Irene: Deve ser ele!
Heloísa: Ou é meus sogros! O ônibus pode ter se adiantado!
Heloísa se levanta e abre a porta, sendo surpreendida com a presença de homens mascarados e com armas em punho, eles empurra-a pra dentro e fecha a porta, deixando Dona Irene desesperada.
Homem: Eu vim cobrar a dívida do vagabundo do Leonardo! Cadê a grana?
Heloísa chora intensamente e o homem desfere um soco no olho.
Homem: Para de chorar! Eu nem fiz nada ainda! Anda! Onde está a grana?
Heloísa: Deixe eu pelo menos ligar pra meu marido passar no banco pra sacar o dinheiro.
Homem: Banco? Oh tiazinha, você sabe muito bem que não há bancos abertos à essa hora!
Heloísa: Sei lá! Eu posso pedir pra ele pegar emprestado com um de nossos amigos.
O homem pega o telefone.
Homem: Disca o número ai! Eu mesmo vou telefonar pra seu marido!
Heloísa apreensiva, treme abruptamente e aos poucos, disca os números.
Homem: Pronto! Pronto!
O homem espera o interlocutor atender, após alguns instantes de pura apreensão, Reynaldo atende o telefone.
Reynaldo: Alô.
Homem (Falando ao telefone): Alô nada, eu quero grana, dindim, dinheiro, dólar, grana! Entendeu?
(Voz) – Reynaldo: Quem está falando?
Homem (Falando ao telefone): Não importa! O que realmente interessa aqui é que a sua família corre perigo e se não arranjar um boa quantia pra mim até o amanhecer, eu mato a sua família.
Alguém bate na porta e um alto ruído se ouve.
Homem (Falando ao telefone): Olha! Parece que chegou mais visitas em sua casa!
(Voz) – Reynaldo: Fique bem longe da minha família! Daqui a pouco, chego ai com a tal quantia.
Homem (Falando ao telefone): Nem pense em chamar a polícia, hein! Quem está no comando aqui sou eu!
(Voz) – Reynaldo: Ok! Até mais tarde.
O homem desliga o telefone e com sagacidade, abre a porta com uma bengala, dois idosos entram no local, sendo mantidos reféns pelos outros homens que estavam ali.
Heloísa: Seu Donato? Dinorah?
Os dois idosos assustados expõe apenas um sorriso enrustido para a mulher que chora inconsolável.
Homem: Pronto! Quanto mais reféns maior a quantia. (Risos)
Cena 4. Hospital Central. Sala de espera. Noite. Int.
Reynaldo está desinquieto, o nervosismo era perceptível diante a reação de seu semblante inflável, até que, um médico se aproxima.
Médico: Senhor?
Reynaldo assustado olha para o médico com certo constrangimento.
Reynaldo: Oi doutor. Ah alguma informação de meu filho?
Médico: Sim! E infelizmente, são péssimas.
Com os olhos lacrimejando, Reynaldo senta-se num banco e chora em silêncio.
Médico: O seu filho foi levado para a UTI.
Reynaldo: UTI?
Médico: As pancadas interferiram diretamente na respiração do rapaz.
Reynaldo: E ele ficará bem?
Médico: Provavelmente sim! Com licença! Tenho que ir! Só peço que fiques aqui, há qualquer momento, seu filho pode precisar de sua presença.
O médico sai e deixa Reynaldo sentado, lágrimas caem e escorrem pelo seu rosto.
Reynaldo: Meu Deus, o que eu faço?
Continua…