O ESCURO – edição especial: capítulo 02
Depois de tudo que aconteceu, eu fugi de tudo e de todos. Fui para bem longe, onde ninguém me conhecesse.Eu não sei se fugia de minha família ou do que eles me lembravam. Na verdade, eu fugia de mim mesma, mas infelizmente eu não posso deixar de ser quem sou.
É época de Finados, está de noite e estou em casa com portas e janelas fechadas. Vultos passam lá fora pela janela.Na minha casa nova vejo vultos, escuto passos, risadas e uma mulher cantando, coisas caem sem explicação, sinto presença e às vezes vejo pessoas que não estão lá.
Os barulhos estranhos aumentaram, foi quando resolvi descer as escadas, eram três da manhã quando algo tocou meu ombro, fazendo com que não pudesse mover nenhum membro de meu corpo.Quando o rádio e a TV começaram a ligar e desligar sozinhos. A TV sai do ar e fica chuviscos cinzas e chiando. Foi quando vi um menino e um velho sentados na sala, eles me olharam e logo depois desapareceram.
Fui até a sala e desliguei a Tv e o rádio e perguntei:
* Quem são vocês? Querem ajuda?
Mas nada aconteceu. Voltei para o quarto, o Jota me esperava lá.
– Até quando você vai fugir?
– Não sei do que você está falando.
– Não sabe ou não quer saber?
– Os dois.
-Você não pode fugir do destino.
– Que destino Jota?
– Você é uma grande médium, quando você irá parar de fugir e aceitar?
– Eu tenho medo.
– O medo faz parte. E você não pode fugir de você mesma.
– Eu sei, mas não estou pronta ainda.
– Você tem 27 anos. Com quantos anos acha que estará pronta?
-Não sei. Só o tempo dirá.
-Então me avise quando este dia chegar.
Ele se virou e começou a ir em direção da janela.
Quando eu disse:
– Jota me ajude?
– Com o que?
– Não consigo dormir.
– Por quê?
-Por causa dos olhares deles, sei que estão me observando.
– Não posso ajudar, só te dar um conselho.
– Qual?
-De hoje em diante, se ponha no lugar deles.
Depois disso, Jota sorriu e sumiu. Pelo visto, o tempo passou e ele continuava engraçadinho.
Quando o dia amanheceu, fui tomar um banho bem quente. Eu precisava relaxar e distrair a cabeça. Ao sair do banho, fui me vestir quando de repente, jogaram os cabides de roupas no chão. Me virei e não vi ninguém, quando me acertaram com um cabide nas costas, me virei e vi o menino da noite passada. Terminei de me arrumar e fui tomar café, quando cheguei lá.
Ele me perguntou:
– Onde está minha mãe?
– Eu não sei.
-Ela me abandonou?
– Eu não sei!!!
– Qual é o seu nome?
– Bernardo.
– Você morava aqui?
– Sim. Mas faz tempo que ninguém fala comigo. Por que?
-Eles não podem te ver.
– Por quê?
– Você está morto.
-Como assim?
– Digamos que você é um Gasparzinho.
– E a minha mãe?
– Eu não sei.
-Quem é aquele velho que estava com você na sala ontem de madrugada?
-Ele disse que é o dono desta casa e que não gosta de você.
– Por quê?
-Ele disse que você é uma intrometida, e que a casa não é sua.
Escutei um barulho no quarto, quando cheguei lá as roupas do guarda roupas estavam espalhadas pelo chão. Depois desse dia, as coisas começaram a sumirem e nunca mais aparecerem. Pratos se partirem ao meio.
Resolvi pesquisar a história de minha casa e descobri que em 1.925, um senhor muito rico morava aqui. Ele tinha três filhos que nunca gostaram de trabalho e o Senhor Miguel Sobral não queria deixar a casa de herança para nenhum dos filhos.
Então, quando ele ficou doente, seus filhos começaram a brigar pelos seus bens, e o Senhor Miguel Sobral pediu a um funcionário que colocasse fogo na casa com ele dentro.
E anos depois, a casa foi reconstruída e coisas sinistras começaram a acontecer, como rádio e TV que ligam sozinhos, vultos, e cheiros de perfumes do nada.
Depois disso, resolvi chamar um padre para benzer a casa e tudo ficou normal. Mas depois de alguns dias tudo começou novamente.
Já estava sem dormir a um bom tempo e por isso, fui vencida pelo cansaço.
Quando eram exatamente, três da manhã senti algo me segurando e me sufocava. Me impedindo de gritar, não conseguia me mover e não tive coragem para abrir os olhos.
Quando decidi pedir a Deus que ajudasse. Foi quando comecei a voltar ao normal, algo sussurrou em meu ouvido:
-“Eu sou ARDDHU e voltarei, me aguarde”.
Naquela noite, tive a certeza de que logo eu teria que enfrentá-lo novamente. Desci e fui assistir TV, e lá da sala escutava como se alguém estivesse andando pelo quarto.
Fiquei na sala até o dia amanhecer, e quando fui ao quarto, as cobertas e travesseiros estavam jogados no chão.
Com o tempo as coisas pioravam, torneiras se abriam sozinhas, as coisas eram arremessadas nas paredes, o piano da sala tocava sozinho.
Foi ai que tive uma ideia, tentar conversar com o Senhor Miguel Sobral.
-Apareça Miguel Sobral, apareça. Pois sei que está aqui.
Depois de tanto insistir, surgiu um cheiro de fumaça e o vulto todo chamuscado de Miguel Sobral que com muito ódio me disse:
-O que você quer?
-Quero falar com você?
-Não temos nada para conversar.
-Temos sim.
-Você é uma intrometida, vá embora.
– Não!!! Você está morto, você que tem que ir.
– Está casa é minha.
– Não é mais.
– Se você não for, não deixarei você em paz.
-Paz? Faz tempo que não sei o que é.
-Você esta avisada.
– Eu não sairei.
– Aguente as consequências.
– Por que você não vai embora? Aceite evoluir!
– Não!!! Eu sou o dono desta casa e não vou permitir que ninguém fique com ela.
– Você já morreu anos atrás.
– Eu estou vivo.
– Sim, e preso aqui nessa casa.
– Eu não vou deixá-la.
– Você prefere viver para sempre com seu egoísmo.
– Sim.
– Tenho pena de você.
– Eu sou um homem importante, não preciso de você.
– Será que você não consegue entender que não importa quem você era, pois agora você está morto.
Foi quando um copo foi arremessado em minha direção, eu me joguei e o copo acertou a parede. Não iria ser fácil me livrar do espirito do Miguel Sobral. Então resolvi ir até o cemitério levar flores e água ao seu tumulo.
Quando cheguei lá o mausoléu estava abandonado, os matos já haviam tomado conta de tudo.
Pedi para um funcionário do cemitério que me ajudasse a limpar um pouco. Depois que limpamos, o funcionário do cemitério me perguntou:
-Desculpe a intromissão, mas a senhora é parente dele?
-Não…
– Então porque está fazendo isso?
– Eu moro na antiga casa dele.
Ele me olhou com espanto e disse:
– Entendo…
– Você deve estar me achando louca.
-Não!!! Pois todos que moram lá naquela casa não são normais. E se são, quando saem de lá não são mais.
– Como assim?
– Um antigo morador foi parar no hospício.
– Por quê?
– Ele colocou fogo na casa e disse que foi o fantasma do velho Sobral.
– E você acredita nele?
– Claro que não.
– Por quê?
– Vou te contar um segredo, fantasmas não existem.
– Será?
– Claro que sim, eu pelo menos nunca vi um.
Peguei a garrafa, abri e comecei a jogar no mausoléu do Sobral. O funcionário do cemitério me observava atentamente. Até que ele disse:
– Porque você está fazendo isso?
– Dizem que jogar água no tumulo de quem morreu em incêndio alivia sua alma.
– Será que é verdade?
– Ninguém nunca reclamou….
Aquele cara deve ter me achado uma louca, mas fazer o que, isso não era novidade.
Antes de voltar para casa, passei na igreja para pegar água benta. Aproveitei e pedi para o padre fazer dezesseis missas na intenção da alma do Senhor Sobral.
Na cidade, não se falava em outra coisa a não ser da garota que mora na casa assombrada. Mas o que eles não sabiam, era que logo mais a casa não seria mais assombrada pelo espirito de Sobral.
Ao chegar em casa, peguei a água benta e com um ramo de arruda comecei a jogar a água benta na casa. Enquanto eu jogava a água benta na casa, fazia também a prece:
“ São Miguel Arcanjo, protege-nos no combate, cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do Demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e vos, príncipe da milícia celeste. Pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo. Para perder as almas.São Miguel Arcanjo, rogai por nos. Vinde logo para nos socorrer e esmagai nossos inimigos. Amem.”
Ao acabar quebrei o ramo de arruda em sete vezes e joguei na natureza.
Sabe, depois disso senti a casa mais leve, foi como se tivesse tirado um peso das costas. Eu só precisava fazer isso mais algumas vezes para estar definitivamente livre dele.
Mas antes, fui ao hospital psiquiátrico para visitar o antigo morador da casa do Sobral.
Daniel é um rapaz alto, forte de aproximadamente 32 anos. Ele fica imóvel olhando a parede e repetindo:
– Não fui eu!!! Não fui eu….
Eu entrei no quarto, mas ele não notou, então coloquei a mão em seu ombro e disse:
– Daniel?
Ele com o olhar de espanto e medo disse:
– Quem é você?
-Eu sou Leila. Sou a nova moradora da casa do Sobral.
Ele levantou, me segurou pelos braços e disse:
-Você corre perigo, fuja de lá.
– Não!!!
– Por quê? Você é louca?
-Talvez eu seja.
– Fuja agora, pois depois será tarde demais.
-Você tentou fugir?
– Sim!
– E o que aconteceu?
– Ele não deixou.
– Como assim?
– Ele colocou fogo em casa.
– Porque?
– Ele disse que meu castigo seria viver com ele para sempre.
– Então foi ele que provocou o incêndio?
– Sim, mas ninguém acredita em mim.
– Eu acredito.
Ele levantou a cabeça, me olhou bem no fundo dos meus olhos e disse:
-Você acredita em mim?
-Sim!
– Por quê?
– Porque eu vi e falei com o espirito do Sobral.
– Serio?
– Sim.
-Então, vamos falar com o medico?
– Para que?
– Você tem que dizer que não estou louco.
– Não posso!
-Por quê?
– Você acha que vão acreditar?
– Não!..
– Então, eu vou tentar tirá-lo daqui.
-Como?
– Vou pedir que você seja reavaliado, mas tenho que te pedir uma coisa.
– O que?
– Se você quer sair daqui não fale de fantasmas ou dos acontecimentos na casa do Sobral.
– E será que vai adiantar?
– Tenho certeza que sim
– Então, farei isso.
Fui até a porta, me virei e disse:
– Obrigada!!
– Por quê?
– Por me fazer me sentir bem. Pois eu estava prestes a enlouquecer.
– Eu que agradeço, pois estava prestes a perder a batalha. Juro que não iria aguentar mais uma noite.
-Usamos mascaras para sermos considerados normais pela sociedade.
– E vivemos um pesadelo chamado de realidade.
– Pois é todos escondemos dentro de nós as sombras.
– E você esconde algo terrível.
-Como assim?
– Sinto que no seu passado aconteceu algo que você não superou. Mas que no futuro irá enfrentar novamente.
Eu fiquei parada ali, sem saber o que dizer. Foi quando a enfermeira foi até o quarto e disse:
-A senhora tem que ir.
– Por quê?
-O paciente tem que descansar.
Eu olhei para o Daniel que sorriu e disse:
-Te vejo lá fora.
Foi bom ter ido falar com o Daniel, às vezes é bom encontrar alguém que seja igual a nós. Quero ajudá-lo, pois poderia ser eu em seu lugar.
Porque será que é tão difícil acreditar em vida após a morte? Foi quando o Jota apareceu e disse:
-Não é difícil, mas é que as pessoas preferem acreditar que a morte é o fim.
– Por quê?
– Pensar assim dá menos trabalho.
– Você está chamando as pessoas de preguiçosas?
– Algumas!!!
– Ok. Gostei de ter ido ajudar o Daniel. Ele é bom, mas estava perdido na vida.
– E porque você não o ajudou?
– Você sabe que não posso interferir.
– Sei, mas você sempre encontra uma maneira. Ele rindo diz:
– Eu planto uma ideia, mas as pessoas tem o livre arbítrio. A decisão final é delas.
-E o Sobral?
– Depois que você o expulsou de casa, ele não teve escolha. Teve que aceitar ir para um hospital espiritual.
– Eu não expulsei ele de casa.
– E como você chama o que você fez?
– Ele está morto.
– E dai?
-Como assim?
– Os mortos também precisam de casa.
– Sinceramente eu não te entendo.
– Calma!!! Eu estava só brincando. Ele terá uma casa sim, mas em uma colônia espiritual.
– Que bom que ele aceitou evoluir.
-E você?
– Eu o que?
– Já aceitou ser quem você é?
– E eu tenho outra escolha?
-Sim, todos temos.
Jota me olhou como se não concordasse com o que eu estava dizendo. Foi quando eu falei:
-Tenho que te perguntar algo?
Ele me olhou curioso e perguntou:
– O que?
-Preciso saber o que aconteceu com a mãe de Bernardo.
-O garotinho?
-Sim, ela está viva?
– Sim.
-Que bom!
– Porque pergunta?
– Bernardo quer encontrar a mãe.
-Isso não é bom.
– Porque?
-Ele está morto, não pode ficar com sua mãe.
– E o que faremos?
– Eu posso conversar com ele.
– Mas será que ele vai entender?
-Temos que tentar.
– Jota como ele morreu?
Ele ficou em silêncio, virou-se para a janela e olhando para o jardim disse:
– Em um acidente.
– Como?
– Você não acha que quer saber demais?
– Não, eu acho que tenho esse direito.
– Está bem!!! Foi em acidente de carro.
– Quem dirigia o carro?
– Sua mãe!!!
-Ela estava bêbada?
– Não!!
– Então…
-Pelo contrario, ela nunca bebeu. Mas teve o azar de encontrar um motorista bêbado em seu caminho. Ele ultrapassou o sinal vermelho, Bernardo morreu na hora e sua mãe ficou dias em coma.
– E o motorista?
– Ele teve apenas alguns ferimentos.
– Nossa!! Como a vida é injusta.
– Leila a vida é um eterno desfalecimentos e recomeços.
– Mas ele era só uma criança.
– Sim, ele já cumpriu sua missão aqui na Terra.
-E qual era a missão dele?
– Ele veio ao mundo para ensinar sua mãe a acreditar em si mesma, veio ensiná-la a amar.
Foi quando ouvimos um barulho de choro de criança. Quando olhei paras trás, Bernardo estava perto da TV chorando. Jota foi até ele e se ajoelhou, colocou as mãos em seus ombros e disse:
– Você escutou tudo?
Bernardo chorando disse:
– Sim!!
Jota o abraçou e uma grande luz branca os rodeou. Uma grande sensação de paz nos dominou. Bernardo se acalmou e olhando para o Jota disse:
-Eu posso ver minha mãe?
-Sim, mas com uma condição.
-Qual?
– Depois você terá que vir comigo.
-Eu não posso ficar com minha mãe?
– Não!!
– Por quê?
– Você não pertence mais a esse mundo.
– Eu não quero deixá-la.
– Você não irá deixá-la, você sempre estará com ela, eu te prometo.
– Você jura?
– Sim.
Bernardo deu um pulo no colo de Jota. E os dois se abraçaram. Jota me olhou sorrindo e disse:
– Nós já estamos indo. Alias, já passou da hora.
– Obrigada! Jota rindo disse:
– Que isso! Você sabe que sou um ser Angelical.
Os dois caminharam até a janela e desapareceram.
Semanas depois tudo estava na maior paz, eu estava na cozinha quando a campainha tocou. Quando abri a porta levei um susto, era o Daniel.
– Daniel?
– Olá!!!
– Tudo bem?
-Sim!!
– Quando você saiu da clinica?
– Já faz alguns dias.
– Que bom!!
– Eu devo tudo isso a você.
– Imagina!
– Eu sempre vou te agradecer.
– Você está morando por aqui?
– Eu estava resolvendo umas coisas, mas agora vou embora. Vou para uma colônia.
– Colônia?
– Sim.
– Onde?
– Longe.
– Nossa!! Quanto mistério.
– Me desculpe, mas não sei se você vai me entender.
– Daniel, você pode confiar em mim.
Ele caminhou até o sofá e disse:
– É estranho vir aqui depois de tudo que aconteceu.
– Eu imagino.
– O Sobral se foi mesmo?
– Sim!
– Os fenômenos paranormais acabaram?
– Eles diminuíram. E não acontecem com a mesma frequência de antes.
Daniel ficou calado, era como se ele não estivesse ali. Até que ele disse:
-Essa casa não me traz boas lembranças.
Eu tentei me aproximar dele, mas ele levantou-se e saiu de perto de mim. Achei estranho, mas não falei nada. Foi quando ele muito nervoso, disse:
– Eu preciso te contar uma coisa.
– O que?
– Antes de falar, eu preciso dizer que eu precisava fazer isso.
– Você está me assustando.
-Eu vou embora sim, pois vou morar em uma colônia espiritual.
Eu não sabia o que dizer, até que eu disse:
– Você está morto?
– Sim!!
– Como?
– Eu morri no incêndio.
– Que?
-Eu morri no incêndio e fiquei preso aqui.
– Preso?
– Sim, para minha alma ser liberta, que precisava que alguém acreditasse em mim. Foi ai que você apareceu.
– Por que você não me contou?
– Fiquei com medo.
– Quer dizer que eu agi como louca no hospital?
-Sim!!
-Não acredito nisso….
– Não se preocupe!
– Eles devem achar que pirei.
– A cidade inteira acha isso.
– Por quê?
-Digamos que uma pessoal normal não moraria em uma casa assombrada.
– Você tem razão.
– Tenho?!!
– Sim, eu estava falando com você. E você não existe.
Daniel riu e disse:
– Eu pensei que você já tinha passado desta fase.
– Você está se divertindo né?
– Um pouquinho.
– Então, você libertou sua alma?
– Sim!!
– Como?
– Graças a você.
– Como assim?
-Eu precisava que alguém confiasse em mim. E que me fizesse confiar em mim mesmo. Eu esperei por você durante muito tempo.
– Como eu não percebi que você estaca morto?
– Às vezes é preciso olhar com os olhos da alma. E só assim veremos o que está diante de nós.
-Tenho muito que aprender.
– Todos nós temos.
-O que você aprendeu?
-Eu tive que morrer para aprender a viver.
– E o que vai acontecer agora?
-Vou seguir o meu caminho e procurar a evoluir.
-Eu encontrei um amigo e já vou perdê-lo.
-Eu vou ser sempre seu amigo. E mesmo que você não saiba, eu estarei do seu lado.
Foi ai que o Jota apareceu dizendo:
– Ela demora a arrumar um amigo e quando arranja ele é um fantasma.
Daniel respondeu:
– Veja bem, vale ressaltar que sou um fantasma que não é de se jogar fora.
E os dois começaram a dar risadas da minha cara. Isso só acontece comigo, fantasmas comediantes. Com tom de deboche eu falei:
-Vocês não são Maria, mas são cheios de graça.
Foi ai que o Jota disse:
-Daniel chegou a hora de partir.
Ele me olhou e disse:
– Então chegou a hora de ir.
Eu sorri e disse:
– Chegou a hora de dizer adeus.
– Eu não diria um adeus e sim um até logo.
– Então até breve.
Daniel sorriu e disse:
-Espero que esse dia chegue logo.
– Espera ai, você quer que eu morra?
– Não! Você entendeu o que quis dizer.
– Sim…. Mas a minha hora vai demorar.
-Eu vou contar as horas.
-Me prometa uma coisa?
– O que?
– Estude muito na colônia e evolua. Quem sabe a gente se encontre ainda nessa vida.
– Eu prometo.
Foi ai que o Jota disse:
– Eu não quero atrapalhar, as temos que ir.
Eu disse:
-Jota não fique com ciúmes, eu também gosto de você.
Jota se aproximou de Daniel sorrindo e disse:
-Eu já sabia.
Sabe, é muito bom ajudar as pessoas. Mas é muito ruim perceber que estamos sós. Eu sei que eles não podiam ficar aqui, mas vou sentir saudades deles. Quando a noite chegou, ela estava linda, um céu estrelado e uma lua cheia. Resolvi sair para caminhar um pouco e conhecer o bairro.
Depois de horas caminhando, vi um barzinho com musica ao vivo. Fui até lá.
Entrei e sentei em uma mesa, todos me olhavam, até que um cara foi até a mesa e disse:
-Você é nova por aqui.
– Sim. Faz pouco tempo que mudei para cá.
– Eu sou Mike.
– Prazer, eu sou Leila.
– Você era de onde?
– Eu sou de São Paulo.
– Nossa!! E por que veio para o Rio Grande do Sul?
-Estou tentando me encontrar.
-Espero que consiga.
– E você faz o que por aqui?
-Eu moro aqui e ainda não sai daqui.
– E pretende sair um dia?
– Sim!!
– Quando?
– Eu tenho uma banda, e quando ela fizer sucesso, eu vou conhecer o mundo.
Foi quando um cara chamou:
– Mike, cinco minutos para a banda entrar no palco.
Ele respondeu:
– Já estou indo.
Ele levantou, sorriu e disse:
* Você vai me ver tocar?
* Claro que sim.
-A gente se vê por ai.
E se foi…