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O Diário de um Nerd

O Diário de Um Nerd – Capítulo 04 (Penúltimo Capítulo)

Capítulo 04 (Penúltimo Capítulo)
Ele Precisa de Ajuda

“Você pode pegar tudo o que eu tenho, você pode quebrar tudo o que eu sou, como se eu fosse feita de vidro, como se eu fosse feita de papel. Vá em frente e tente me derrubar, eu vou me levantar do chão como um arranha-céu.” Demi Lovato – Skyscraper

Cena 01 – Casa de Léo. Banheiro.
Léo começa a suar frio, seu coração bate tão acelerado que ele está sem conseguir se mexer direito de tão nervoso que está. Ele fecha os olhos e se prepara para cortar os pulsos.
De repente Léo começa a pensar em seus pais. Pensa como seria a vida deles a partir do momento que o encontrassem morto naquele banheiro. O quanto sofreriam, o quanto seria difícil pra eles viverem depois que aquele filho que eles tanto amaram e a quem eles dedicaram 14 anos de vida, tirou a própria vida.
O estilete começa a pesar. Ele começa a chorar e desliza pela parede. Ele se senta e em seguida se deita encolhido no chão frio.
Léo, chorando e soluçando: Meu Deus… Eu não posso… Mas eu não aguento… Não aguento mais…
Ele abraça os seus próprios joelhos.
Léo, sussurrando e chorando: O que tem de errado comigo?… Eu só quero ser normal… Mas o que é que eu tenho de errado, meu Deus? Por quê?

Obs.Bulicídio é o termo atribuído ao caso de uma morte ou suicídio ou assassinato de uma vítima de bullying. Existem inúmeros casos reais de bulicídio.

Cena 02 – Escola Elementar. Pátio. Manhã. Dias depois.
Alice e Roberta estão conversando no pátio.
Roberta: Me diz uma coisa Alice, você não vai desistir dessa besteira?
Alice: Se você tá se referindo ao Léo, não! Não vou!
Roberta: O que você ganha com isso afinal? O máximo que vai conseguir é virar motivo de piada também.
Alice: Ótimo, assim eu sinto na pele todo o mal que fiz a ele.
Roberta: Olha, se você quer mesmo perder tempo com aquele garoto, você que sabe, mas não conte comigo pra isso.
Alice: Então tá, eu faço questão de ajudar ele sozinha.

Cena 03 – Biblioteca. Minutos depois.
Léo está sentado na mesa lendo um livro, um dos bem grossos e sem gravuras, pra variar. Alice entra na biblioteca e logo que avista o colega ela se aproxima.
Alice, puxando uma cadeira: Com licença, posso sentar?
Léo responde que sim com a cabeça.
Alice se senta: Então, como você tá Léo.
Léo, em voz baixa e tímido: Tô bem.
Alice:Quebom. E o que você tá lendo?
Léo, tímido: Ciência.
Alice resolve ir direto ao ponto.
Alice: Olha Léo, eu imagino que você está nervoso, mas relaxa, não precisa se preocupar, estou aqui pra te ajudar.
Léo: O quê?
Alice põe sua mão sobre a de Léo: não se preocupa, eu sou sua amiga, se precisar conversar qualquer coisa pode contar comigo.
Léo puxa sua mão de volta imediatamente. Ele levanta da mesa e sai andando, como se estivesse fugindo. Roberta, que estava ali perto e assistiu a cena toda, se aproxima de Alice.
Roberta, batendo palmas, irônica: Olha Alice, parabéns! Sua tentativa de ajudar ele deu super certo. Muito bom. Eu te avisei que era perda de tempo.
Alice não diz nada, ela simplesmente se levanta e vai atrás de Léo.

Cena 04 – Pátio.
Alice acelera o passo e segue Léo até o pátio.
Alice segura Léo pelo braço: Léo, por favor, espera…
Léo, irritado: O que você quer?
Alice: Calma, eu só quero conversar.
Léo: Comigo? Sobre o quê?
Alice: Por que você fugiu daquele jeito? Eu quero te ajudar.
Léo: Me ajudar? Você?
Alice: Sim.
Léo: Até parece, fala de uma vez, o que mais você quer de mim? Qual é a armação que vocês estão planejando pra me prejudicar?
Alice: Não, não é o que você tá pensando…
Léo: Você não é diferente de nenhum dos outros que pisam em mim, eu te conheço, por que quer falar com o esquisitão? Não é como me chamam?
Alice: Olha, eu sei que muitos de nós sempre fomos injustos com você, mas eu posso te garantir que eu me arrependi e quero te ajudar.
Léo: E por que eu deveria confiar em você?
Alice: Porque só eu me ofereci pra te ajudar, os outros estão lá falando mal de você, mas só eu vim aqui.
Léo fica quieto.
Alice estende a mão: vamos tentar, por favor, me dá uma chance?!

Cena 05 – Minutos depois.
Alice e Léo estão sentados em um banco perto da cantina da escola conversando.
Léo: Eu nunca entendi porque todo mundo sempre riu de mim. Eu sentia que eu tinha algo de errado, mas eu nunca sabia o quê?
Alice: Posso te contar uma coisa? Muitos de nós tínhamos é inveja de você.
Léo: Inveja de mim?
Alice: É, você sempre se saia melhor que todos nós nas provas, a gente achava que você se julgava melhor que nós e por isso não se enquadrava, por isso tentávamos te rebaixar.
Léo: Minhas notas altas sempre foram meu único orgulho. Pra mim a ideia de vir pra escola já era um pesadelo.
Alice:Euimagino.
Léo: É um inferno, um dia após o outro, anos e anos seguidos, você só ser motivo de humilhação…
Alice: Não posso imaginar, eu acho que isso demonstra que você é muito forte por ter suportado isso por tanto tempo. Mas por que você se calava?
Léo: Não sabia se ia ajudar, talvez só piorasse. E eu tinha a esperança de que um dia tudo ia melhorar naturalmente.
Alice: Mas pedir ajuda sempre é bom.
Léo tira os óculos, começando a chorar: É horrível viver assim, isolado, se sentindo odiado. Eu não sei mais por quanto tempo eu vou conseguir suportar.
Alice: Mas agora as coisas vão mudar, porque você tem a mim.
Léo: E o que você vai fazer?
Alice: Eu te ajudo e você tenta mudar. Eu vou fazer a minha parte, mas você também vai ter que colaborar.
Léo: Não sei não.
Alice: Acredita em mim, a partir de agora as coisas vao melhor. Está comigo?
Alice estende a mão. Léo hesita por uns instantes, mas ele enfia aperta a mão dá colega e dá um sorriso meio forçado.
Alice, enxugando as lágrimas de Léo com seus polegares: Ok, agora vamos começar melhorando essa sua cara.
Os dois se abraçam.

VOLTA AO PRESENTE.
Léo está digitando toda a história em seu notebook.
Léo, digitando: … E pra minha surpresa, o plano da Alice deu certo. De um dia pro outro, quer dizer, não totalmente, não foi uma mudança tão radical, mas eu aos poucos com a ajuda dela consegui começar a me misturar melhor com as pessoas. A Alice me chamava pras rodas de conversa, às vezes ela até deixava de falar com as amigas dela pra se juntar comigo. Assim eu e meus colegas começamos a nos conhecer melhor depois de tantos anos e finalmente eles pareciam me respeitar, eu ficava inseguro, mas buscava não guardar mágoa. Eu não me sentia mais tão sozinho. Parecia que era um sonho, pela primeira vez na vida eu sentia como era ter amigos. E um dia, a Alice chegou pra mim e disse que tinha chegado a hora da etapa final da minha transformação.

MESES ATRÁS.

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