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O anjo com asas de papel

O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 10

Capítulo 10

Confiança E Fidelidade

 

 

   Cena 01 – Orfanato Coração de Mãe. Sala. Noite.

Gabriel está sentado no chão escorado numa poltrona. O garoto está distraído, pensando em tudo o que vem acontecendo, sua fuga, seu pai, sua mãe, seu possível irmão…

Gabriel, falando sozinho: Meu Deus, papai, será que dessa vez o senhor vai conseguir me perdoar?

Sofia, descendo as escadas: Falando sozinho Gabriel?

Gabriel, surpreso: Sofia? Você tá aí há muito tempo?

Sofia: Não, acabei de chegar. Me diz, tá fazendo o quê?

Gabriel: Nada, eu tô só aqui, pensando um pouco.

Sofia senta-se ao lado de Gabriel: Imagino que sua cabeça deve estar toda bagunçada, né?!

Gabriel: É, pode crer, tá tudo acontecendo tão rápido.

Sofia: Eu sei como é, também foi assim quando cheguei aqui.

Gabriel: Como assim? Eu achava que você tivesse crescido aqui.

Sofia: Não, eu moro nesse orfanato só há mais ou menos 2 anos.

Gabriel: E como você veio pra cá?

Sofia: Bem, eu morava com meu pai em um bairro pobre da cidade, minha mãe morreu quando eu era bem pequenininha. Uma noite quando eu e meu pai voltávamos de um passeio, teve um tiroteio da polícia com uns bandidos e ele morreu.

Gabriel: Eu sinto muito.

Sofia: Eu vim pra cá, meu único parente vivo era meu tio, mas ele está na cadeia. Às vezes eu acho que eu devia estar com ele.

Gabriel: O quê? O que você está dizendo?

Sofia: A culpa de tudo foi minha, nada teria acontecido se eu não tivesse pedido pra sairmos naquela noite.

Gabriel: Não, não pensa assim…

Sofia, começando a chorar: Meu pai vivia se matando de trabalhar pra poder me sustentar e eu ficava o tempo todo brigando com ele, reclamando que ele não me dava atenção nem tinha tempo pra mim, ele tava morto de cansado naquela noite e só resolveu sair porque eu pedi. Foi tudo minha culpa.

Gabriel, enxugando as lágrimas da amiga com os polegares: Escuta, não foi sua culpa, não fica assim.

Sofia, chorando:Eu devia ter morrido, seria um peso a menos na vida dele.

Gabriel abraça Sofia: Calma, não diz isso, não chora.

Maria entra na sala: Gabriel, o jantar está…

Maria vê os dois abraçados e fica irritada.

Maria, irritada: Posso saber o que está acontecendo aqui?

Sofia se afasta de Gabriel e enxuga os olhos: Nada, não foi nada Maria.

Maria: É mesmo? Então por que vocês estavam assim?

Sofia se levanta: Nada, não foi nada. Eu já vou.

Sofia sai da sala. Gabriel se levanta.

Gabriel, irritado: O que foi isso Malu?

Maria, irritada: Eu é que pergunto, o que foi isso? Pelo jeito você e a Sofia estão bem próximos, não é?

Gabriel: Como é que é?

Maria: Gabriel, que ideia é essa de ficar por aí se abraçando com ouras garotas? Mesmo que estejamos fingindo, você ainda é meu namorado.

Gabriel: Você tá pirando, eu tava consolando a Sofia, ela tava me contando de quando o pai dela morreu.

Maria, mais calma: Ah, era isso?

Gabriel: Era, e você não devia ter falado de maneira tão grosseira. Qual é Malu? Por acaso você não confia em mim, é isso?

Maria: Não, não é o que você tá pensando…

Gabriel sai da sala bravo. Maria fica constrangida.

 

   Cena 02 – Jardim.

Sofia está sentada no canto da varanda olhando para o céu. Maria se aproxima e senta-se ao lado dela.

Maria: Você está bem?

Sofia, olhando pro céu: Estou.

Maria: Tem certeza? Não quer conversar?

Sofia, séria: Eu queria saber o que foi aquilo Malu, por que você ficou tão nervosa?

Maria: Eu não fiquei nervosa.

Sofia: Será mesmo?

Maria: Olha Sofia, eu admito que às vezes eu ajo meio por impulso e acabo me arrependendo.

Sofia:Hum…

Maria: Sofia, me responde uma coisa, você gosta do Gabriel?

Sofia: Por que você acha isso?

Maria: Por nada, é que você me perguntou aquilo sobre ele não ter namorada e eu fiquei pensando nisso.

Sofia: Maria, eu admito, eu achei sim o Gabriel bonito, simpático, interessante, essas coisas, mas e daí? Você tem tanto ciúme assim do seu irmão?

Maria: Olha, não é que eu tenha ciúme dele com outras garotas, é ciúme de irmã, entende?

Sofia: Sinceramente não.

Sofia se levanta para ir embora. Maria segura a amiga pelo braço.

Maria: Espera.

Sofia: Eu não tiro sua razão Maria, eu não tenho irmãos, mas acho que se tivesse ia me preocupar se ele começasse a se aproximar de pessoas desconhecidas ainda mais depois de tudo que vocês passaram.

Maria: Sofia, olha, não leva isso tão a sério.

Sofia: Eu imagino o quanto vocês devem ter sofrido na rua, se sentiram mal por terem sido abandonados por seus pais, mas vocês pelo menos tinham uns aos outros, eu não. Eu vi meu pai morrer na minha frente e fiquei sem ninguém desde então.

Maria: Sofia, não me leva a mal, eu imagino o quanto você deve ter sofrido e se você gosta do Gabriel, não tem problema se…

Sofia: Maria, eu não quero te roubar o seu irmão, tá bem? Eu sei como é ruim se sentir abandonado por alguém que a gente ama. Eu só queria ser gentil e receber vocês bem, que fôssemos amigos.

As duas ficam em silêncio.

Maria, abrindo os braços: Será que você pode me desculpar?

Sofia fica em dúvida, mas depois de um instante ela sorri e dá um abraço na amiga.

 

   Cena 03 – Dormitório dos meninos. Um tempo depois.

Gabriel está sozinho no quarto, ele está deitado em sua cama lendo o diário de sua mãe. Maria entra no quarto.

Maria, entrando devagar: Posso entrar?

Gabriel: Entra.

Maria, fechando a porta: E então, como vai indo a sua investigação?

Gabriel: Mais ou menos.

Maria: Ainda não tem nenhuma pista de quem é o seu irmão?

Gabriel: Não, aqui não tem nada.

Maria se senta na cama: Tá tudo bem Gabriel?

Gabriel: Eu é que pergunto Malu, tá tudo bem?

Maria: Eu não sei, me diz você.

Gabriel: Malu, eu até entendo que esteja nervosa, eu sei que quando se gosta de alguém é normal ter ciúmes da pessoa, mas o que você não pode é achar que eu vou ficar com a primeira garota que aparecer, que tipo de cara você acha que eu sou?

Maria: Desculpa Gabriel, não é isso que eu acho de você, mas é que pra mim às vezes é difícil me sentir firme num relacionamento como o nosso, de vez em quando vem um bando de garotas assanhadas querendo que você arranque as roupas e…

Gabriel: Mas não é com nenhuma dessas garotas que eu estou, não foi com nenhuma delas que eu pude contar no momento mais difícil da minha vida, não foi nenhuma delas quegostava de mim e me respeitava enquanto todos riam de mim, e não foi a nenhuma delas que eu confiei todos os meus segredos, eu acho que isso já é prova suficiente, não acha?

Maria, sem jeito: Você tem razão, eu fui uma estúpida.

Gabriel pega na mão de Maria: Sorte sua que eu adoro esse seu jeitinho esquentado, viu Maria Luísa?!

Gabriel beija Maria apaixonadamente. A porta do quarto se abre e um garoto entra. Maria e Gabriel se assustam e se afastam rapidamente. Para a sorte dele, é Felipe.

Felipe, fechando a porta: Mas o que é isso o que você tá fazendo aqui Maria?

Maria, aliviada: Ufa, quem bom que é você Felipe.

Felipe: Sorte mesmo, eu vi o que vocês estavam fazendo, se fosse uma das freiras a gente tava encrencado.

Gabriel; É, mas não foi, e a partir de agora a gente vai ser mais cuidadoso.

Felipe senta-se na cama: Mas e aí Gabriel, alguma novidade sobre a sua investigação?

Gabriel, desanimado: Na verdade não. Aquele caderninho que a gente encontrou só tem anotações datadas a partir de 2005, e nos registros de adoções, nenhuma consta um garoto que foi deixado aqui na noite em que minha mãe abandonou meu irmão.

Maria: Bem, de qualquer jeito isso é bom, significa que ele não foi adotado.

Gabriel: É, mas isso só me traz de volta a estaca zero.

Felipe: E o que vai fazer?

Gabriel: Por enquanto não sei, mas mais tarde vou devolver essas coisas à sala da madre Luiza antes que ela dê por falta.

 

   Cena 04 – Corredor. Meia-noite.

As luzes estão apagadas e todas as crianças estão dormindo. Gabriel está caminhando sorrateiramente pelos corredores do orfanato com o caderno e a escancela de registros na mão para a sala da madre.

Gabriel, sussurrando: Tenho que ser cuidadoso e não fazer barulho.

Gabriel anda bem devagar pelo corredor. Quando ele está chegando à sala da madre, ele repara que a porta do local está entreaberta e a luz está acesa. Ele pode ouvir vozes.

Madre Luiza: Está pronto, querido?

Ângelo: Sim madre, estou.

Gabriel caminha em silêncio até a porta. Ele dá uma olhada pela brecha para ver o que está acontecendo. Ele vê dentro da sala estão a madre Luiza e Ângelo, de pé. Ângelo tira a camisa e por baixo dela, o garoto está usando um longo pedaço de tira de pano branco enrolado como se fosse uma múmia. A madre Luiza está com uma tesoura na mão.

Gabriel, intrigado: Mas o que é isso?

Ângelo começa a tirar o pano em volta de seu corpo. Assim que ele o tira, ele se vira de costas e Gabriel se espanta: nas costas do garoto estão duas enormes asas iguais às suas. Madre Luiza se aproxima e começa a cortar as penas.

Gabriel sai andando dali e volta para seu quarto.

Gabriel, surpreso: Não posso acreditar, eu o encontrei!

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