O Anjo Com Asas de Papel – Capítulo 03
Capítulo 03
#Partiu_Rio
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Cena 01 – Lago.
Maria: Eu acho que não entendi Gabriel, você vai o quê?
Gabriel: Entendeu sim Malu, eu vou atrás do meu irmão.
Felipe: Você ficou maluco? Daquela vez nós fugimos, mas foi
pra floresta, perto daqui, você por acaso sabe a quantos quilômetros fica o Rio de
Janeiro?
Gabriel: Não interessa, ele passou 16 anos num orfanato sem
família e agora que eu sei da verdade eu preciso fazer alguma coisa.
Maria: Gabriel, você mesmo disse, um orfanato, 16 anos, ele pode muito bem já ter sido adotado.
Gabriel: Mesmo assim, eu vou até lá.
Felipe: Mas como você pretende ir até lá? Vai migrar como as andorinhas?
Gabriel: Claro que não!
Felipe: Então?
Gabriel: Eu já planejei isso: as colheitas do meu pai estão dando muita safra, eu fiquei sabendo que algumas delas estão sendo
vendidas pra mercados que ficam no Rio de Janeiro, é só questão de eu conseguir entrar em uma das caminhonetes que fazem o transporte e eu chego até a cidade.
Felipe: Essa ideia é muito maluca.
Maria: Gabriel, nossos pais ficaram malucos da última vez
que fugimos, e se essa viagem for em vão? E se depois que voltar seu pai te proibir de voar
de novo?
Gabriel: Eu preciso correr esse risco e vocês não precisam ir
se quiserem, eu quis pelo menos avisá-los.
Felipe e Maria ficam em silêncio por um instante.
Gabriel se levanta e sai andando: Acho que já entendi a decisão de vocês.
Maria segura Gabriel pelo braço: Espera Gabriel eu vou com
você.
Gabriel: Jura?
Felipe: Eu também vou, vou ficar segurando vela a viagem inteira, mas fazer o quê?
Gabriel: Vocês tem certeza?
Maria: Claro, a gente não vai te abandonar, pode contar com a
gente como da última vez.
Os três se abraçam.
Gabriel: Muito obrigado gente, sabia que podia contar com vocês.
Cena 02 – Fazenda. Noite.
Gabriel está deitado no sofá mexendo em seu celular. Paulo
chega e se senta ao lado do filho.
Paulo: Tudo bem Gabriel?
Gabriel: Oi papai.
Paulo: Você não me disse nada o dia inteiro, está todo bem?
Gabriel: Tá sim!
Paulo: Meu filho, me desculpa pelo que houve ontem à noite,
é que…
Gabriel: Tudo bem papai, eu que peço desculpas, eu não devia ter dito aquilo.
Paulo: Meu filho, eu entendo que você queira muito ter um irmão, mas é improvável que você o encontre.
Gabriel se senta: Papai, se não for pedir demais, eu prefiro não falar mais sobre isso, tudo bem?
Paulo: Jura?
Gabriel: Sim, eu acho que não vale a pena.
Paulo: Tudo bem, se é o que você quer.
Gabriel se levanta: Eu acho que eu vou me deitar.
Paulo: Tão cedo? O jantar ainda nem safala Gabriel: Eu tô muito cansado, voei muito hoje.
Gabriel dá um abraço no pai.
Paulo: Boa noite filho.
Gabriel: Boa noite papai, amo você.
Cena 03 – Quarto de Gabriel. Horas mais tarde.
Gabriel olha para o relógio, já são quase 22h.
Gabriel: Tá quase na hora do caminhão sair, melhor eu agir.
O garoto pega sua mochila já pronta no canto da parede e a
coloca nas costas. Gabriel sai pela janela.
Gabriel: Desculpa papai, mas esse é o único jeito.
Cena 04 – Celeiro.
Gabriel está parado escondido atrás do celeiro. Na frente,
em um caminhão estão sendo colocadas as caixas cheias de alimentos da última
colheita.
Gabriel: No momento de distração daqueles caras eu entro no
caminhão.
Gabriel sente uma mão em seu ombro.
Gabriel se vira, assustado: Papai?
Felipe, sussurrando: Calma, sou eu!
Gabriel, ofegante: Ah eu susto. Por que demoraram tanto?
Maria: Desculpa, mas é que hoje a nossa mãe ficou acordada
até tarde lavando a louça.
Felipe: Ok Gabriel, qual é o plano?
Gabriel: O caminhão tá lá na frente, antes de irem embora, um dos caras vai até dentro do celeiro para apagar as luzes e o motorista vai pra cabine, é o momento pra gente entrar na caçamba.
Os três ficam vigiando e esperando a hora certa. Felipe
observa por um buraco na parede quantas caixas ainda faltam serem colocados no caminhão.
Depois de um certo tempo, o motorista coloca a última caixa
no caminhão.
Felipe: Essa foi a última.
Gabriel: É agora gente, vamos ser rápidos e sem fazer barulho. O motorista vai para a frente do carro, a cabine enquanto o outro homem entra no celeiro para apagar as luzes. Os três garotos correm rapidamente em direção à parte de trás da caçamba e logo entram nela. Cada um deles se
esconde atrás de uma pilha de caixas. O rapaz volta e fecha a
porta da caçamba.
O motorista liga o caminhão e eles seguem para a estrada.
Lá atrás, os garotos saem detrás das pilhas. Eles se escoram
em outras pilhas lado a lado e cada um tira um cobertor de dentro da mochila.
Gabriel: Deu certo!
Felipe: Gabriel, tem certeza que a gente tá indo pro Rio de Janeiro?
Gabriel: Tenho, absoluta, eu ouvi quando o meu pai falou que
a carga dessa vez ia pra lá.
Cena 05 – Cidade. Manhã.
Às 5h15min, o caminhão estaciona atrás de um supermercado em um bairro simples da cidade. Gabriel acorda com o barulho.
Gabriel, acordando sonolento: Hum? Onde estamos?
Motorista, ao longe do lado de fora: Ei, venham nos ajudar
aqui a descarregar.
Gabriel: Chegamos. Malu, Felipe, acordem.
Gabriel começa a sacudir os amigos e eles acordam.
Gabriel: Acorda gente.
Maria, sonolenta: O quê? Que horas são?
Felipe, sonolento: Não mãe, eu não quero ir pra escola.
Gabriel: Eu não sou sua mãe Felipe. Chegamos gente, eles vão
abrir a caçamba e começar a descarregar as caixas, a gente tem que sair daqui.
Maria, ainda meio zonza: Ah, tá, mas como?
Gabriel: Quando eles dois saírem para carregar uma caixa a gente desce e corre antes que eles voltem.
Um dos homens abre as portas da caçamba. Ele entra e pega uma das caixas, o motorista logo em seguida entra pra pegar uma caixa para ajudar a descarregar.
Gabriel: É agora, rápido, antes que eles voltem.
Os três saem rapidamente e correm para fora do caminhão.
Eles seguem pelas ruas.
Gabriel: Beleza, deu tudo certo.
Felipe: Tá, mas e agora?
Gabriel: O quê?
Maria: É Gabriel, pra que lado fica o orfanato?
Gabriel, com as mãos na cabeça: Ah, eu não pensei nisso.
Cena 06 – Fazenda.
Paulo senta-se à mesa para tomar seu café.
Paulo, sentando: Ah, que noite.
Empregada: Bom dia patrão, como está?
Paulo: Vou ótimo, querida, ótimo! E o Gabriel, cadê?
Empregada: Acho que ainda não acordou.
Paulo olha no relógio do pulso: Ainda não? Vá chamá-lo porque se não ele vai acabar se atrasando e perdendo o ônibus, e você sabe que eu não gosto
que ela vá voando pra escola.
Empregada: (risos), claro senhor, vou chamá-lo!
A empregada sai da cozinha e vai para o quarto de Gabriel.
Paulo coloca um pouco de café em sua xícara e passa manteiga em um pão. A empregada
volta nervosa.
Empregada: Seu Paulo, o Gabriel não está.
Paulo, surpreso: O quê?
Empregada: Ele não está no quarto, nem no banheiro, nem na
cozinha, eu não o achei.
Paulo, nervoso: Mas como assim? Pra onde ele pode ter ido?
Empregada: Eu não sei senhor, eu não sei!
Paulo vai até o quarto de Gabriel. Ele vai direto até o guarda-roupa e ao abrir nota que muitas roupas sumiram.
Paulo: Não pode ser! Não pode ser que ele fez isso de novo!