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O Anjo abre suas Asas

O Anjo Abre Suas Asas – Capítulo 07

Capítulo 07

Cena 01 – Horas mais tarde. Floresta.
Maria e Gabriel estão os dois sentados nas margens de um lago, observando o pôr-do-sol. Maria abre sua mochila e tira uma barra de chocolate.
Maria, oferecendo: Quer chocolate?
Gabriel, pegando a barra: Obrigado!
Maria, encantada: Puxa, esse lago, esse pôr-do-sol, que lugar lindo!
Gabriel: É verdade. Maria, me responde uma coisa, o seu nome é só Maria?
Maria: Não, é Maria Luísa.
Gabriel: Luísa?
Maria: É, mas eu não gosto muito, dá a impressão de que eu sou mais velha, se é que me entende.
Gabriel: Sei, mas sabe que nome combinaria com você? Malu!
Maria: Malu? Malu! É, gostei.
Gabriel, brincando: Malu, a maluca!
Maria: (risos).
Gabriel: Imagino como você deve estar achando estranho estar aqui nessa floresta nesse final de tarde, conversando com um garoto estranho que voa.
Maria: É diferente, mas eu acho incrível. Eu sempre tive curiosidade de saber o que havia por debaixo da sua corcova, mas eu nunca poderia imaginar que fossem asas.
Gabriel, cabisbaixo: Eu só queria saber por que meu pai sempre quis fazer eu me sentir um monstro.
Maria: Talvez ele só quisesse te proteger, é o que os pais fazem, mas nem sempre eles aceitam que os filhos crescem um dia. Mas sabe o que eu acho? Você está longe de ser um monstro, você é um anjo, tem até o nome de um.
Gabriel: Minha mãe é que foi um anjo na vida do meu pai.
Maria: Se sua mãe era um anjo, você é como um semideus.
Gabriel: Um o quê?
Maria: Na mitologia grega, semideuses eram os filhos de deuses com humanos, alguns eram heróis fortes e valentes, enfrentavam os mais terríveis monstros para defender quem amavam.
Gabriel, sem jeito: Para Maria, até parece que eu chego perto de um desses.
Maria, pondo a mão no ombro de Gabriel: Você me ajudou, você é meu herói. Acredite em mim Gabriel, assim como sua mãe, você um dia também vai despertar o amor naquele coração de pedra do seu pai.
Gabriel dá um sorriso tímido.

Cena 02 – Noite. Casa dos Oliveira. Quarto de Maria e Felipe.
São 21h. Felipe se prepara para fugir.
Felipe coloca a mochila nas costas: 21h, a mamãe tomou um calmante, o papai foi dormir mais cedo, minha mochila está pronta, é agora ou nunca!
Felipe se aproxima da janela.
Felipe: Ainda não acredito que vou fazer essa loucura por causa da Maria, é sempre tão estranho fazer algo legal pra sua irmãzinha.
Felipe abre a janela e sai.

Cena 03 – Fazenda Medeiros. Quarto de Paulo.
Paulo está sentado numa cadeira com uma fotografia na mão. É a foto de Teresa, sua falecida esposa e também mãe de Gabriel. Uma lágrima desliza pelo rosto de Paulo e cai em cima da foto.
Paulo, começando a chorar: Teresa, por que você teve que me deixar?

FLASHBACK.
Ano de 2001. Fazenda Medeiros.
É noite, está caindo uma terrível tempestade quando Paulo chega em casa da cidade.
Paulo, entrando em casa: Querida, cheguei. Que chuva, hein!
Ele pendura joga sua capa de chuva em cima do sofá.
Paulo: Teresa, onde você está querida?
Paulo de repente ouve gritos, são de Teresa e parecem ser de muita dor. Paulo segue a voz da esposa e vai até um dos quartos. Ao entrar, ele encontra Teresa, que está no seu 9º mês de gestação, em cima da cama, suada e gritando, com suas asas abertas.
Paulo, preocupado: Teresa, o que aconteceu?
Teresa, ofegante: Paulo, chama um médico, rápido, chegou a hora, o nosso filho vai nascer.
Paulo, nervoso: Ah meu Deus, um médico não, ele vai ver as suas asas. Calma querida, eu posso fazer isso.
Passam-se os minutos. Chove cada vez mais forte. Os gritos de Teresa ecoam por toda a casa vazia. A cama já está quase que totalmente cheia de sangue. Paulo está conseguindo, o parto está quase terminando.
Paulo: Estou conseguindo Teresa, estou conseguindo, aguenta firme!
Paulo consegue. Ele segura o bebê e o levanta.
Paulo, aliviado e feliz: Consegui meu amor, eu consegui, é um menino lindo.
Teresa, fraca: Paulo, deixe-me segurá-lo.
Paulo entrega o bebê a Teresa. A mulher levanta o filho e o bebê, chorando, abre um pequenino par de asas completamente sem penas.
Paulo, emocionado: Amor, ele nasceu com asas iguais às suas!
Teresa, quase sem voz: Paulo promete que nunca… Nunca você vai deixar nada de mal acontecer com ele?!
Paulo, acariciando o cabelo da esposa: Eu prometo querida, nunca vai acontecer nada de mal com ele.
Paulo e Teresa olham um nos olhos do outro. Teresa fecha os olhos, seu rosto vira para o outro lado e sua mão cai para o outro lado.
Paulo, nervoso: Teresa? Teresa?
Teresa morre com o bebê em seus braços.
FIM DO FLASHBACK.

VOLTA AO PRESENTE.
Paulo, chorando e olhando pra foto: Eu prometi que nada ia acontecer com ele meu amor, e eu vou cumprir, eu juro que vou encontrá-lo.

Cena 04 – Manhã seguinte. Floresta.
Maria e Gabriel estão caminhando pela floresta.
Maria, mexendo em sua mochila: Ih, meus lanches estão quase acabando, e agora?
Gabriel: Olha, foi você quem quis insistir nessa loucura de me seguir. Aqui temos que ser como os animais, lutar pra comer e sobreviver.
De repente, Maria avista algumas plantas se movendo atrás de uma moita.
Maria: Falando em animais, tem alguma coisa se mexendo ali.
Gabriel: Estou vendo, fica aqui que eu vou ver mais de perto.
Maria: Mas e se for uma onça faminta?
Gabriel: Não existem onças nessa floresta, Malu!
Gabriel se aproxima lentamente da moita, as plantas continuam se mexendo, Maria está nervosa. Gabriel chega até as plantas, dá uma olhada para ver o que está atrás dela. Ele se assusta. É Felipe.
Os três: (gritos).
Gabriel: Espera, espera, Felipe?
Felipe: Oi pombinhos!
Maria: Mas o que você tá fazendo aqui?
Felipe: Nada demais, admirando a paisagem, colhendo flores silvestres e… Estou atrás de vocês dois, o que mais poderia ser?
Maria: Não vai me dizer que você também fugiu de casa?
Felipe: É né?! Isso já tá virando epidemia.
Gabriel: Espera, você contou pra alguém sobre a nossa fuga?
Felipe: Não, eu não sou fofoqueiro, mas agora eu e a Maria vamos voltar.
Maria: Nem em sonho eu volto com você.
Gabriel: Calma Malu.
Felipe: Malu?
Maria: É o meu apelido, o que achou?
Felipe: Isso não importa, nós temos que voltar logo, os nossos pais estão doidos de preocupação e todos estão procurando o Gabriel.
Maria: Eu já disse que não vou voltar.
Felipe: Maria, você acha mesmo que vai durar muito tempo nessa floresta? É melhor que voltemos o mais rápido possível antes que deem pela minha falta, quanto antes voltarmos, menores serão os puxões de orelha que levaremos.
Maria, decidida: Eu já disse que não, não vou abandonar o Gabriel!
Felipe, irritando-se: Maria…
Maria: Felipe…
Gabriel, gritando: Parem já com essa discussão, os dois!
Os três ficam em silêncio.
Gabriel: Malu, vai com o Felipe.
Maria: Mas Gabriel…
Gabriel: Vai com o Felipe, eu tô falando sério. Eu já falei, eu não quero vocês envolvidos em problemas com o meu pai, voltem pra casa de vocês, eu já vi que vou ter que voltar pra minha.
Maria: Como assim?
Gabriel: Eu vou voltar pra fazenda!
Maria: O quê?
Felipe: Mas você não disse que não queria mais voltar pra lá, que o seu pai te aprisiona, que você queria voar e outras coisas?
Gabriel: E isso é verdade, mas essa história já foi longe demais e eu acabei envolvendo vocês dois, e eu acho que já chega disso.
Felipe: Olha Gabriel, não é pra tanto, nós podemos voltar e inventar uma desculpa sem te entregar.
Gabriel: Não, vocês já fizeram muito por mim.
Maria: Você não precisa se sacrificar assim só pra nos ajudar, a gente se vira.
Gabriel: É pra isso que servem os amigos, pra gente ter com quem contar em dificuldades. Agora venham comigo, eu os ajudo a achar o caminho de volta. E Felipe, me empresta uma camisa?

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