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O Anjo abre suas Asas

O Anjo Abre Suas Asas – Capítulo 04

Capítulo 04

Cena 01 – Casa dos Oliveira. Quarto de Felipe e Maria.
Maria entra no quarto com um prato com biscoitos e três copos de suco de laranja. Ela serve os garotos. Gabriel deixa os modos de lado e come como um desesperado.
Maria se senta em sua cama: Pelo jeito você está faminto.
Gabriel, de boca cheia: Não comi nada o dia inteiro.
Felipe: Percebe-se.
Maria: Será que agora você pode nos contar sobre essas suas asas?
Gabriel: É uma história comprida, começou antes que eu nascesse. Há mais ou menos 15 anos, essa fazenda era bem diferente do que é hoje.
Felipe: Como assim?
Gabriel: Meu pai. Desde criança ele tem um gênio bem forte, pessoas já me disseram que ele era a dor de cabeça dos meus avós, ele era brigão, teimoso e bagunceiro, isso ainda criança.
Maria, irônica: Puxa, ele me lembra alguém.
Felipe: Cala essa boca, Maria.
Gabriel: Quando ele cresceu a situação ficou pior, meu pai se envolveu com companhias perigosas.
Felipe: Perigosas?
Gabriel: Quase todas as noites ele chegava muito tarde, bêbado, brigava muito com os pais e quebrava as coisas, e claro, não se interessava nem um pouco pelos negócios da fazenda.
Maria, surpresa: Minha nossa.
Gabriel: A situação piorou quando meus avós morreram.

FLASHBACK.
Ano 2000. Fazenda Medeiros.
Paulo começa a quebrar tudo em cima da mesa, chorando desesperado.
Gabriel, narrando: Meu pai entrou em uma depressão séria, ele ficou tão agressivo que todos fugiram com medo dele, até os trabalhadores da roça. Com isso, as plantações da família estavam morrendo e a situação piorava, ele bebia e prejudicava cada vez mais sua própria saúde.
Paulo, gritando e chorando: Por quê? Que droga de vida!
FIM DO FLASHBACK.

VOLTA AO PRESENTE.
Maria: Que coisa horrível!
Felipe: Mas como foi que tudo isso terminou?
Gabriel: Quando certo dia apareceu uma moça na fazenda.

FLASHBACK.
Ano 2000. Fazenda Medeiros.
Alguém bate na porta. Paulo atende, é uma mulher.
Paulo: Oi, quem é você?
Teresa: Eu me chamo Teresa.
Paulo: E o que faz aqui?
Teresa: Muita gente na cidade fala do senhor, dizem que mora sozinho, bebe muito e pelo que vejo sua casa está velha.
Paulo: E o que você tem a ver com isso?
Teresa: Eu sou médica, estou preocupada com o senhor e quero ajudá-lo.
Paulo: Eu não preciso de ajuda, não.
Teresa: Estou vendo pela sua aparência, sua condição física e o estado em que está a sua casa que o senhor precisa de ajuda sim, nem adianta tentar mentir, eu vou ajudá-lo.
FIM DO FLASHBACK.

VOLTA AO PRESENTE.
Gabriel: E essa mulher, a doutora Teresa, era a minha mãe.
Felipe: Puxa, mas e aí, o que aconteceu?
Gabriel: As coisas aqui mudaram radicalmente aqui depois da chegada dela, a mulher era como um anjo em forma de gente, fez meu pai recuperar a saúde e ter vontade de assumir a fazenda em questão de dias, em pouco tempo as plantações estavam todas vivas de novo.
Maria: Impressionante! Eu só não entendi aonde essas suas asas entram nessa história.
Gabriel: Meu pai disse que ela tinha uma estranha corcova nas costas como a minha, mas não era uma corcova, eram asas.
Felipe: Asas?
Gabriel: Ela era um anjo, foi mandada para salvar a vida do meu pai, ele estava se matando.
Felipe: Espera aí, essa história agora está ficando meio maluca.
Gabriel: Quer dizer, eu prefiro pensar assim, mas não era bem isso.
Maria: Então o que era?
Gabriel: Minha mãe era filha de um cientista maluco. Ele era tão desesperado pra fazer história na ciência que um dia quando acabaram as cobaias no laboratório dele, ele enlouqueceu e usou a própria filha como cobaia.
Maria, boquiaberta: Meu Deus!
Felipe: Então ele fez experiência com ela e daí vieram as asas?
Gabriel faz que sim com a cabeça.
Gabriel: Sim. Mesmo assim, meu pai não se afastou dela, eles viveram felizes, escondidos, e ela engravidou de mim. Eu nasci de parto normal num quarto da fazenda, ela não resistiu. Mas eu sobrevivi e nasci com asas que nem as dela.
O silêncio se espalha no quarto.
Maria: Minha nossa, que história.
Gabriel: Desde que eu nasci meu pai sempre me faz cortar as minhas asas, é uma tortura pra mim não poder voar.
Felipe: Por isso você fugiu? E o que vai fazer agora?
Gabriel: Eu não sei, mas eu não quero voltar pra fazenda.
Maria: Você pode passar a noite aqui.
Felipe: Ficou maluca Maria? O papai trabalha pro pai do Gabriel, se ele o ver aqui aí nós três vamos estar enrascados.
Maria: Nós não podemos deixar ele dormir lá fora. Gabriel, eu posso ir pegar um colchão velho que tem ali num quarto vazio, você quer?
Gabriel se levanta: Não obrigado, é melhor eu ir embora.
Maria: Nem pensar, eu insisto, você hoje dorme aqui.
Felipe: Eu posso te emprestar uma roupa.
Maria: Então está decidido.

Cena – 02. Manhã seguinte.
Os três garotos acordam logo cedo.
Maria, se espreguiçando: Bom dia, dormiu bem querido?
Felipe: Mais ou menos, você ronca muito.
Maria: Eu estava falando com o Gabriel.
Gabriel: Sim, eu dormi bem. Vocês não vão pra escola?
Felipe: Gabriel, hoje é sábado.
Gabriel: Ah é. Obrigado pela ajuda, mas agora eu preciso ir.
Felipe: Ir pra onde?
Gabriel: Pra floresta.
Maria: Espera aí, você vai voltar pra floresta?
Gabriel: Vou, eu não posso ficar aqui, se seus pais me virem vão me levar de volta pra fazenda, e por mais que eu goste do meu pai, eu não quero mais voltar pra aquela prisão.
Gabriel tira a camisa que Felipe o emprestou e a entrega a ele.
Gabriel: Obrigado pela ajuda, e por favor, não contem pra ninguém sobre as minhas asas.
Maria: Pode deixar, seu segredo está a salvo com a gente. Não é Felipe?
Felipe: É sim.
Gabriel abre a janela do quarto e sai por ela. Felipe e Maria ficam olhando. No jardim, Gabriel abre as asas e levanta voo.
Maria, olhando Gabriel voar: O anjo abre suas asas!

Cena 03 – Horas mais tarde.
Felipe e Maria estão no quarto. Felipe está ouvindo música no seu mp3 d percebe que Maria está meio abatida tentando ler um livro.
Felipe tira os fones do ouvido: Maria, tá tudo bem com você?
Maria: Tá, tá bem sim.
Felipe: Até parece, você tá assim por causa do Gabriel é?
Maria: Não vou negar, eu fico preocupada com ele, lá sozinho dentro daquela floresta enorme, cheia de animais, e se ele estiver em perigo?
Felipe: Não se preocupe, qualquer coisa ele só faz sair voando.
Maria: Mesmo assim, eu ainda sinto pena dele. Sempre teve que crescer preso, se escondendo e se achando anormal, ainda mais porque muitos de nós ríamos da corcova dele, sendo que ele tem asas.
Felipe: Pois é, eu antes achava ele esquisito, mas eu bem queria ser como ele, ter asas e poder voar.
Felipe se levanta.
Felipe: Olha, eu vou na casa de alguns amigos, a gente marcou uma competição de videogame. Quer ir junto?
Maria: Pra que? Só vai ter garotos lá, e você sabe que eu detesto videogame.
Felipe: (risos), ok, então até mais tarde.
Felipe sai do quarto. Maria pensa no que Felipe disse a ela na escola na manhã seguinte.
Maria: Será que ele tem razão?

FLASHBACK.
Casa dos Oliveira. Cozinha. Manhã anterior.
Maria: Papai, ontem quando você foi pra fazenda, você viu por lá o Gabriel?
Antônio: Quem?
Felipe: Gabriel, o filho do senhor Paulo, a Maria é a fim dele.
Maria: Não sou nada!
Felipe: É sim, você fica babando toda vez que ele passa perto de você.
Maria: Cala a boca, seu boboca.
Laura: Parem os dois com essa briga agora.
FIM DO FLASHBACK.

VOLTA AO PRESENTE.
Maria: Será que isso que eu sinto pelo Gabriel é o tão famoso primeiro amor? Eu não sei. Mas eu estou tão preocupada com ele naquela floresta. Já sei, eu vou fugir atrás dele.

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