MEU RIO – Capítulo 4
[Cidade de Mororó – Maranhão – Manhã]
O coronel Araribe entra na cidade e vai em direção ao bar.
CORONEL – Eta, que isso aqui ta pior que merda de cavalo!
FRANCISCO – Coroner, a que devemos a sua visita?
CORONEL – E desde quando tenho que dar satisfação da minha vida para alguém? Fecha o bico, quero beber isso sim… Alguém sabe onde está o prefeito dessa cidade? Parece que está se escondendo de mim.
FRANCISCO – A última vez que o vi, tava lá para as bandas da cooperativa.
CORONEL – Ah então ele está indo pro outro lado, ele ainda tem uma dívida comigo e vai me pagar hoje nem que seja na bala (retira o revolver da cintura).
FRANCISCO – Calma coroner! Tenho certeza que tudo vai se resolver.
CORONEL – Cabra mais froxo. (Guarda a arma) E o que anda acontecendo por essa cidade?
FRANCISCO – Com a morte de José, o Josaniel assumiu a presidência da cooperativa, pelo o que eu ouvir falar está uma arara porque o senhor desfez o acordo para a construção da escola.
CORONEL – Esse povo não precisa estudar e sim trabalhar, escola só vai fazer eles ficarem mais burro, um desperdício de tempo, eles ainda vão me agradecer por isso.
***
Casa de Beatriz
JOSANIEL – (gritando) Oh Tião… Tião.
TIÃO – Nhó!
JOSANIEL – Ocorreu tudo bem por aqui?
TIÃO – Tudo sim, está até calmo dentro da casa, parece que elas entenderam o seu recado.
JOSANIEL – Ah! Muito bom, assim que eu gosto.
Josaniel entra em casa e percebe o silêncio.
JOSANIEL – (Gritando) Joana?… Joana?… Beatriz?… Sebastiana?… Será que não tem ninguém aqui.
Vai ao quarto e não ver nenhuma roupa da mulher no guarda-roupa.
JOSANIEL– Eu não acredito que elas fizeram isso.
Josaniel saí da casa.
JOSANIEL – (Gritando) Tião?… Tião?
TIÃO – Algum problema?
JOSANIEL – Onde está Joana, Beatriz e aquela velhota?
TIÃO – Em casa, não?
JOSANIEL – O que eu te avisei que iria acontecer se elas saíssem? (pega a arma)
TIÃO – Calma patrão, eu não tirei os pés da frente dessa casa.
JOSANIEL–Mas elas saíram, porque dentro de casa não estão, é bom você acha-las até o fim do dia, se não, você não verá o dia de amanhã nascer.
TIÃO – Sim senhor, vou encontra-las.
Tião sai.
JOSANIEL – Elas não podem ter voltado para aquela casa… não mesmo.
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Fazenda dos Araribe – Manhã]
SEBASTIANA – Tem alguma coisa para comer ou aqui já foi gasto todo o dinheiro que tinha?
EVA – Estávamos almoçando.
SEBASTIANA–Será que podemos nos juntar a vocês? As nossas coisas vão ficar aqui na sala?
EVA – Podem sim, mandarei Diná preparar os quartos para você, agora sentem-se a mesa.
SEBASTIANA – Muito bem, vamos Joana e Beatriz.
As três mulheres entram na sala de jantar.
TEODORO – (levanta e vai correndo ao encontro de Joana) Irmã, quanto tempo, eu saudades.
JOANA – Como você cresceu Teo, já ta homem feito.
TEODORO – E quem é está bela senhorita que acompanha você? (Beija a mão de Beatriz)
JOANA – É minha filha de coração, na verdade é filha de Josaniel com outra mulher.
TEODORO – E essa filha de coração tem nome?
BEATRIZ – O meu nome é Beatriz, prazer.
SEBASTIANA – (com ironia) Deus te abençoes também meu filho.
TEODORO – (desanimado) Ah! A senhora ta aí.
EVA – Que tal nos servimos, Diná traga o prato principal.
DINÁ – Sim senhora.
TEODORO – Você voltou para ficar irmã?
JOANA – Ainda não sei, tenho que resolver com mainha ainda, pelo menos um tempo sei que vamos ficar.
TEODORO – Mas por que voltou?
Joana fica tensa e olha para a mãe.
SEBASTIANA – Ela não veio passar tempo nenhum, ela veio foi assumir o lugar dela como herdeira de seu pai.
EVA – Como é?
SEBASTIANA – Isso mesmo que você ouviu.
EVA – Você está louca se acha que Araribe vai aceitar uma coisa dessa.
SEBASTIANA – Eu já disse que com o coronel eu me entendo.
BEATRIZ – Mas mainha você é herdeira de que mesmo.
SEBASTIANA – De tudo isso aqui, das fazendas, do dinheiro.
EVA – Quase tudo, Teo também tem direito a uma parte.
TEODORO – Deixe, ela já esqueceu que tem outro filho, como meu pai fez com a Joana, esqueceu que ela me abandonou aqui?
SEBASTIANA – Nunca mais fale isso, nunca abandonei e esqueci você, eu fui ajudar a sua irmã, que tinha ninguém.
TEODORO – E me deixou com o coronel, né.
SEBASTIANA – Eu tinha outra escolha?
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Socorro – Tarde]
SOCORRO – (Brincando com Maria Tereza) Que bebêzinha mais linda… Quem é a bebê linda? Quem é?… Por que será que dona Sebastiana deixou você aqui comigo? O que será que deve ter acontecido? Será que você é filha de quem?
Pega o bebe nos braços.
SOCORRO – Você deve está com fome, mas ainda é muito pequena, deve ser recém-nascida ainda e deve tomar só leite da mãe, espero que ela volte logo com sua mãe para te dar de comer, se não terei que me virar pra arranjar uma de leite para você. (Começa a cantar) boi, boi, boi… boi da cara preta, pega essa menina, que tem medo de careta… boi, boi, boi… boi da cara preta, pega essa menina, que tem medo de careta. Você me lembra muito a minha filha que perdi, ela morreu durante o parto, todos os dias me lembro dela.
Socorro volta a cantar.
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Susana – Tarde]
SUSANA – Estava delicioso mainha.
MARIA HELENA – Quem bom que gostou, espero que tenha aprendido, assim poderá fazer para o seu futuro marido, mas agora você vai me ajudar com a louça, né mocinha?
SUSANA – Claro
Alguém bate na porta incessantemente.
SUSANA – (gritando) já vai, já vai… (abre a porta) Josaniel?
JOSANIEL – A Beatriz está aqui?
SUSANA – Não, ela sumiu?
JOSANIEL – Ela não comentou nada com você sobre para onde iria, o que ia fazer?
SUSANA – Não, está me deixando preocupada, o que está acontecendo?
MARIA HELENA – Susana quem é?
SUSANA – É o pai da Beatriz.
MARIA HELENA – Ah sim,aconteceu alguma coisa?
JOSANIEL – Você viu a Beatriz, Joana ou dona Sebastiana?
MARIA HELENA – Não, nenhuma veio aqui, elas sumiram?
JOSANIEL – Aparentemente sim, mas já tenho uma ideia para onde foram, obrigado e desculpem o incomodo.
MARIA HELENA – Tudo bem, nos mantenha informadas caso encontre elas.
JOSANIEL – Passar bem.
As duas entram.
SUSANA – Será que aconteceu algo com a Beatriz ou com o filho que a mãe dela tava esperando.
MARIA HELENA – Não sei, espero que fique tudo bem, mas, se tiver acontecido algo ruim logo saberemos, notícias ruins correm rápido.
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Fazenda dos Araribe – Tarde]
EVA – O almoço estava ótimo Diná, uma cozinheira de mão cheia.
DINÁ – Obrigado dona Eva, devo tudo a vocês, posso colocar a sobremesa?
EVA – Claro que sim.
Errado.
TEODORO – Imagine quando o coronel chegar, a bagunça que isso não vai ser, mas espero que você não vá embora nunca mais minha irmã.
SEBASTIANA – Com licença, vou até a cozinha ajuda a Diná.
EVA – Não precisa se incomodar, você é visita.
SEBASTIANA – Querida, eu sou mais dona dessa casa que você, eu vou e quero ver quem vai me impedir. (Saí)
EVA – Não sei quem ela pensa que é, a mulher do seu pai sou eu, desculpe Joana, sei que ela é sua mãe, como a do meu filho de coração Teo, mas essa casa não é mais dela.
JOANA – Mainha é assim mesmo, releve.
BEATRIZ – Estava tudo muito bom.
Coronel Araribe entra em casa e vai direito para a sala de jantar, para o almoço.
CORONEL – O que é isso? O que essa maldita está fazendo aqui?
Todos se levantam.
EVA – Calma carinho, elas chegaram quando você saiu.
CORONEL – Eu não quero saber, vai embora, não quero essa vadia aqui em minha casa.
TEODORO – Ela é sua filha, já esqueceu disso coronel?
CORONEL – Eu não tenho nenhuma filha, saí daqui e quem é essa vadia mirim?
JOANA – Não fale assim de minha filha, eu sou sua filha sim e herdeira dessa casa e de todos os seus bens.
CORONEL – Eu prefiro colocar fogo em tudo que deixar algum centavo para você.
EVA – Vamos se acalmar e sentar para conversarmos.
CORONEL – Eu não quero conversar, você vai sair daqui por bem ou por mal.
Coronel pega Joana pelo braço, Teodoro se mete na frente.
TEODORO – Você não vai tirá-la daqui, só passando por cima do meu cadáver.
CORONEL – Não seja por isso (tira arma da cintura e aponta para Teodoro), sai da minha frente.
EVA – Araribe! Não faça isso.
CORONEL – Não se meta (empurra Eva)
TEODORO – Pare com isso.
CORONEL – Eu já disse pra sair da minha frente (dá um tiro para cima)
EVA – Está louco.
BEATRIZ – (nervosa) Mainha vamos embora daqui.
TEODORO – Ela não vai embora daqui.
CORONEL – A primeira bala foi para o teto, o segundo será pra você se não sair da minha frente.
TEODORO – Então atire, porque ela não vai sair daqui.
JOANA – Saia Teo, é melhor.
EVA – Não faça isso Araribe.
O Coronel mira para o peito do filho.
SEBASTIANA – O que está acontecendo aqui? Pare já com isso coronel!
CORONEL – Você tinha que tá junto né Sebastiana? (solta Joana e se vira para Sebastiana)
SEBASTIANA–Claro, nunca deixarei minha filha.
TEODORO – Mas deixou seu filho.
CORONEL – Para ir atrás dessa safada que agora você defende, ela vai embora junto com essa cobra da mãe.
SEBASTIANA – Ela vai ficar aqui, a cumeeira da família ainda sou eu e quero ver quem vai nos impedir de ficar, solte ela agora.
CORONEL – Eu não tenho medo de você, se reparar que está com a arma na mãos sou eu.
SEBASTIANA–Eu não preciso de arma pra te destruir, agora venha Joana e Beatriz, vamos para os nossos quartos.
EVA – Mas a senhora não sabe onde são.
TEODORO – Eu ainda me lembro onde é o quarto da minha filha e os de hospede.
As três mulheres sobem para o andar superior.
CORONEL – Insolente.
EVA – Você não quer comer alguma coisa carinho?
CORONEL – Não, me deixe de mão.
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Josaniel – Tarde]
JOSANIEL – (gritando) Tião!… Tião…
TIÃO – Senhor, estou aqui.
JOSANIEL–Arranje mais dois cabras, vamos buscar minha filha e minha mulher.
TIÃO – E onde elas estão?
JOSANIEL – Na casa daquele coronelzinho, assim mato dois coelhos com uma cajadada só.
TIÃO – Como o senhor sabe?
JOSANIEL – É o único lugar que aquela velhota iria.
TIÃO – É pra já. (sai)
JOSANIEL – Vocês vão me pagar.
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Fazenda dos Araribe – Tarde]
TEODORO – Assustada? (entra no quarto de hospede)
BEATRIZ – Um pouco, minha vida deu uma reviravolta de ontem pra hoje.
TEODORO – O coronel é assim mesmo, mas uma hora ele se aquieta.
BEATRIZ – Mas por que ele odeia tanto a minha mãe?
TEODORO – Longa história, resumindo, ele pegou minha irmã com seu pai e expulsou ela debaixo de cintadas, ai fiquei sem irmã e sem mãe. Pouco tempo depois ele se casou novamente com Eva, que cuidou de mim até que fui estudar lá na capital.
BEATRIZ – Que complicação, mas como eles se conheceram? Meu pai e minha mãe?
TEODORO – Ele era empregado aqui da fazenda, tinha um cargo importante, mas quando o coronel pegou eles dois, ele saiu a baixo de tiro daqui.
BEATRIZ – Eu lembro quando ela chegou lá em casa, foi difícil no início porque minha mãe biológica tinha acabado de nos abandonar.
TEODORO – Eu compreendo como deve ser difícil perder uma mãe, a mesma coisa aconteceu com a Eva, mas com o tempo ela se mostrou uma “Boadrasta”.
BEATRIZ – (rir) como sua irmã, apesar do sofrimento.
TEODORO – Mas por que vocês vieram para cá?
BEATRIZ – Outra longa história, meu pai se tornou muito agressivo após minha mãe ter uma filha mulher, espancou ela e minha vó resolveu voltar para cá.
TEODORO – Minha nossa e onde está a criança?
BEATRIZ – Eu não sei só a minha avó que sabe, ela que levou.
TEODORO – Eu prometo que vou descobrir.
BEATRIZ – Obrigado senhor Teodoro.
TEODORO – Nada de Senhor, temos praticamente a mesma idade, pode me chamar de Teo.
BEATRIZ – Obrigado Teo.
TEODORO – Você é muito bonita, sabia?
BEATRIZ – Muito obrigado.
TEODORO – Você tem namorado?
BEATRIZ – Eu não, painho nunca deixou, disse que os homens são demônios.
TEODORO – Mas deve ter muito pretendentes.
BEATRIZ – Eu dificilmente saiu de casa, de vez em quando ele me deixava, mas coisa bem rápida.
TEODORO – Então quer dizer que você nunca beijou?
BEATRIZ–Esse assunto está me deixando envergonhada (baixa a cabeça e segura o vestido timidamente).
TEODORO – Desculpe não foi minha intensão, mas você é muito linda (se aproxima de Beatriz e pega nas mão delas.)
Sebastiana entra no quarto.
SEBASTIANA – O que está acontecendo aqui?
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Quarto do Coronel – Tarde]
CORONEL – Agora mais essa, não basta os problemas com o prefeito, me aparece aquela velhota, com a vagabunda e um projeto de concubina.
EVA – Tudo vai se acertar.
CORONEL – Teodoro que era pra dar continuidade ao nosso legado parece estar nem ai para o nosso nome, onde foi que eu errei? Me diz Eva.
EVA–Vamos tentar manter a paz Araribe
CORONEL – Tenho que dar um jeito de me livrar dessas três mulheres, sei que Sebastiana vai ser osso de pescoço, mas a menor posso dar um jeito.
EVA – Em que você está pensando?
CORONEL – Ainda não sei, mas quero ver algo que eu tire proveito.
EVA – Mas carinho, seria bom aproveitarmos que a família está reunida de novo.
CORONEL – A minha família é você e aquele ingrato do Teodoro.
***
Quarto de hóspede da Fazenda.
BEATRIZ – Nada voinha.
SEBASTIANA – Teodoro acho melhor você ir para o seu quarto.
TEODORO – Eu já estava de saída mesmo. (sai)
SEBASTIANA – Não é conveniente um rapaz ficar no quarto de uma moça, especialmente quando ela estiver sozinha, podes ficar mal falada e eu sei como são os empregados dessa casa.
BEATRIZ – Tudo bem, mas estávamos fazendo nada demais.
SEBASTIANA – Beatriz, lembre-se de uma coisa, o seu maior tesouro é sua honra, defenda ela, independentemente de tudo… Eu vim aqui te avisar que eu e sua mãe precisaremos dar uma saída, para resolvermos algumas coisas referente a sua irmã, algum problema em ficar aqui sozinha?
BEATRIZ – Claro que não
SEBASTIANA – Lembre-se do que acabei de lhe falar e não seria muito bem você ficar rodando pela casa, você viu como foi a nossa recepção, né?
BEATRIZ – Podem ir tranquilas… Há eu queria ver a minha amiga Susana.
SEBASTIANA – A noite vamos pra novena na igreja, com certeza ela vai estar lá, aproveite para estudar as ladainhas.
BEATRIZ – Ta bom.
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Casa de Socorro – Tarde]
SEBASTIANA – Socorro, Oh Socorro!
SOCORRO – Que foi mulher.
SEBASTIANA – Eu trouxe a mãe para dar de mamar para a criança.
SOCORRO – Eu já tava era preocupada se você vinha ou não, entre.
As mulheres entram
SEBASTIANA – Essa é minha filha Joana, mãe da pequena Maria Tereza, ela vem todos os dias aqui para alimentar a criança e também trouxe algumas coisas para ajudar você, além de dinheiro para ajudar nas despesas.
JOANA – Onde ela está? Por favor, quero ver a minha filha.
SOCORRO – Vou busca-la. (sai)
JOANA – Até quando será assim mainha?
SEBASTIANA – Até a poeira baixar, deixa o coronel se acalmar, ele já ta uma fera com nossa volta.
JOANA – Eu só quero que isso termine logo, que eu possa viver feliz com minhas filhas e você mainha.
SOCORRO – Pronto aqui está a sua filha.
JOANA – Obrigado… (olhando pro bebe) Meu anjo.
SEBASTIANA – Fique aqui enquanto dando de mamar para ela e vou conversar um pouco com Socorro lá fora.
Sebastiana e Socorro saem da casa.
SEBASTIANA – Eu não sei como agradecer você amiga, está me ajudando muito.
SOCORRO – Deixe disso, sabes que pode contar comigo.
SEBASTIANA – Logo, logo tudo vai ser resolver e a menina poderá vir conosco, só peço que possas aguentar mais um tempo, sei que mora sozinha e é difícil cuidar de uma recém-nascida.
SOCORRO – Ela é calma, não dar muito trabalho e pra mim não está sendo nenhum estorvo isso. Esse tempo que passei com ela, fez me lembrar a minha filha que perdi, me trouxe um pouco de alegria.
SEBASTIANA – Ainda sim agradeço muito.
***
[Cidade de Mororó – Maranhão – Fazenda dos Araribe – Jardim – Tarde]
BEATRIZ – (Cantando) Kirie eleison,
Cristo eleison,
Kirie eleison,
Cristo eleison de vós,
Parte de celio Deus misererenobis filho redentor mundi Deus miserere Espírito Santo e Deus misererenois Santa Trindade sanmus Deus misererenobis.
Teodoro anda pelo corredor e escuta Beatriz cantar e vai até o quarto dela.
TEODORO – Além de bonita, sabe cantar bem também.
BEATRIZ – Que nada só estou treinando para ladainha da noite.
TEODORO – Deve ser a melhor entre as moças (senta na cama).
BEATRIZ–Minha vó disse que não seria bom ficarmos sozinhos no quarto.
TEODORO – Acha que vou fazer alguma coisa?
BEATRIZ – Claro que não, mas ela diz que podem sair falando mal de nós.
TEODORO – Que tal darmos uma volta no jardim?
BEATRIZ – Adoraria.
Os dois descem e vão para o jardim.
TEODORO – Você sabe onde está sua mãe biológica?
BEATRIZ – Eu não sei, sumiu nesse mundaréu, mas como eu nunca vi você na cidade?
TEODORO – Eu estudei muito tempo na capital, vinha poucas vezes aqui e quase nunca na cidade.
BEATRIZ – Eu tenho vontade de conhecer a capital, ver o mar, como é?
TEODORO – O mar é lindo, as ondas vem e vão, o mesmo mar, mas sempre uma nova onda, você senta na areia da praia e fica olhando e esquece dos problemas, parece que eles vão embora quando vejo o mar e “existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem”
BEATRIZ – Parece mágico mesmo, espero um dia poder conhecer.
TEODORO–Se você ficar mais tempo aqui, quem sabe quando eu voltar pra São Luís eu não levo você.
BEATRIZ – (fala animada) Você promete?
TEODORO – Claro que sim.
BEATRIZ–Ai! Fico feliz (abraça Teodoro)
Do segundo andar.
CORONEL – (olhando os dois no jardim) Pelo visto terei que fazer algo rápido e já até sei como sair com mais aliados.
EVA – O que você está pensando meu amor?
CORONEL – Deixa comigo.
EVA – Melhor deixar essa menina em paz Araribe.
CORONEL – Ela vai me ser bem útil, até que a volta daquela vagabunda não foi tão ruim assim.
EVA – Não fale assim de sua filha.
CORONEL – Ela já foi, não é mais.
EVA – Ela sempre vai ser e sei que lá no fundo você está feliz de ela ter voltado.
***
JOANA – (entrando na fazenda dos Araribes) – Ainda bem que ela está bem mainha.
SEBASTIANA – Eu te disse que daria tudo certo, a Socorro é uma ótima pessoa e tenho certeza que ela cuidará bem de sua filha.
JOANA – Espero que ela venha logo, logo pra cá, para perto de mim.
SEBASTIANA–Ainda vai demorar um pouquinho, mas tenho certeza que você aguenta.
Josaniel aproxima-se.
JOSANIEL – (segurando o braço de Joana) Então é aqui que você está sua vadia!