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Meu Rio

MEU RIO – Capítulo 11

[Rio de Janeiro – Madureira – Quarto de Beatriz – Noite]

Início imediato da última cena.

BEATRIZ – E então Teodoro, estou esperando uma resposta, o que você vai fazer em São Luís?
TEODORO – (falando no telefone) Vicente é só isso, amanhã as nove estarei no aeroporto, boa noite (desliga).
BEATRIZ – E então?
TEODORO – Eu vou cuidar de nossos negócios, como sempre fiz.
BEATRIZ – E logo para São Luís?
TEODORO – Você sabe que lá é a porta para o nosso empreendimento, é necessário ir.
BEATRIZ – Então eu vou com você.
TEODORO – Não precisa e você sabe que tem que ter alguém aqui, pra tomar de conta da empresa.
BEATRIZ – Você sabe muito bem, o que eu penso sobre você ir para São Luís
TEODORO – Negócios são negócios, Bia.

***

[São Luís – Restaurante Reviver – Noite]

Marcelo entra na cozinha para trabalhar.

MARCELO – Boa tarde pessoal, vamos produzir hoje.
TODOS – Boa tarde!

Marcelo vai fazer a higienização das mãos e Pietro se aproxima.

PIETRO – Pow Marcelão, valeu pelo bolo de ontem.
MARCELO – Desculpa parceiro, mas eu tinha que saber alguma notícia da Anita, eu amo essa mulher.
PIETRO – E então conseguiu alguma notícia dessa sua amada?
MARCELO – Ela ligou pra mãe dela ontem e disse que tava bem.
PIETRO – Falou quando volta, onde está?
MARCELO – Não né.
PIETRO – Marcelo, Marcelo, ela já tem é outro, pelo visto nem perguntou por você.
MARCELO – (pensativo) deve tá ocupada.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Casa de Beatriz – Cozinha – Noite]

ABIGAIL – Tem que colocar o que no liquidificador Raimunda?
RAIMUNDA – Eu sei lá, estou toda perdida nesse site.
ABIGAIL – Ôh coisa lerda, deixa eu ver. Ta aqui ó, bater o vinagre, o sangue, o pimentão, a hortelã e o tomate… (pega o sangue que está em um saquinho) não sei como o povo tem coragem de tomar o sangue da bichinha, credo.

Abigail pega uma tesoura pra abrir o saco.

RAIMUNDA – Cuidado pra não se sujar.
ABIGAIL – Olha pra mim Raimunda, eu sou “profissa” com a tesoura (corta o saquinho e o sangue espirra em seu rosto)
RAIMUNDA – (rindo) to vendo a “profissa” que você é.
ABIGAIL – Ah, não enche (coloca o restante do sangue no liquidificador e começa a se limpar) quer saber vou colocar é tudo na panela e ver o que dar, tenho certeza que eles não vão nem notar a diferença.
RAIMUNDA – Abigail faça direito, dona Beatriz já está uma fera por causa da demora do outro dia, melhor fazer como está na receita.
ABIGAIL – Vai por mim, vai ficar de lamber os beiços.

***

[Rio de Janeiro – Madureira –Hotel – Noite]

RICARDO – Foi um dia bem cheio hoje.
ANITA – Acho que já te agradeci um milhão de vezes, mas obrigado uma vez mais.
RICARDO – Agora eu preciso ir, ontem já cheguei tarde, mas amanhã você vai logo lá em casa para conseguir a vaga de cozinheira.
ANITA – E vou chegar lá, assim sem nada?
RICARDO – Já conversamos sobre isso, você vai lá, diz que foi a procura a vaga de emprego e que me conhece. Invento que conheço você de algum lugar. Relaxa você vai conseguir… Agora tenho que ir boa noite.
ANITA – Boa noite, dorme bem.

Ricardo se dirige para o elevador.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Sala da Casa de Beatriz – Noite]

BEATRIZ – Raimunda, pode mandar servir o jantar.
RAIMUNDA – Sim senhora (sai para a cozinha)
TEODORO – (descendo as escadas) E então, esse jantar é pra hoje.
BEATRIZ – Temos que contratar uma cozinheira, mas não tem uma competente nessa cidade.
TEODORO – Pelo cheiro que está vindo da cozinha parece está ótimo, cadê os meninos?
BEATRIZ – Max está lá em cima e Ricardo ainda não chegou.

Teodoro vai até o pé da escada e grita.

TEODORO – Max… Maxwell, olha a janta rapaz, desça logo.
MAXWELL– Que gritaria é essa?
TEODORO – Ta na hora do jantar, venha, vamos jantar juntos.

Maxwell desce a escada.

TEODORO – Você me acompanha meu amor?
BEATRIZ – Claro que sim.
RICARDO – (entrando em casa) Boa noite família.
BEATRIZ – Ôh meu filho ainda bem que já chegou,mandei preparar uma comida bem gostosa para jantarmos, venha.

Todos se sentam na missa, Raimunda e Abigail começam a colocar a mesa.

BEATRIZ – Para o jantar de hoje mandei preparar algo que não comia faz tempo, galinha da terra, espero que vocês gostem.
RICARDO – O cheiro tá ótimo.
MAXWELL – Agora aqui em casa virou restaurante de comida típica.
BEATRIZ –Você vai gostar meu amor (abri a panela e coloca um pouco no prato de todos, com uma porção de arroz).

Maxwell come a primeira colher e se engasga.

MAXWELL – (tossindo) é pra ter esse gosto mesmo.
BEATRIZ – Que gosto (prova a comida) credo isso tá horrível.
TEODORO – Que isso não pode estar tão ruim assim (prova a galinha) valha-me Deus.
BEATRIZ – Raimunda, chame a outra incompetente agora.
RAIMUNDA – Sim senhora (sai)

Raimunda volta com Abigail.

BEATRIZ – Que porcaria é essa que vocês fizeram?
ABIGAIL – Foi a galinha da terra que a senhora mandou prepararmos.
BEATRIZ – Isso aqui nunca que foi galinha da terra;
TEODORO – Raimunda, Abigail, isso aqui está muito ruim.
ABIGAIL – Tenho certeza que não está tão ruim assim.
BEATRIZ – Então prove sua incompetente.

Abigail come um pouco da galinha.

ABIGAIL – É, tá ruim mesmo, mas eu avisei que não sabia fazer.
BEATRIZ – E nem procurar na internet… Retira isso tudo daqui e joga no lixo.
ABIGAIL – Tanta gente passando fome no mundo dona Beatriz.
BEATRIZ – Acho que nem os cachorros iriam comer isso.
MAXWELL – Eu vou pedir uma comida japonesa, alguém quer?
BEATRIZ – Qualquer coisa é melhor do que essa gororoba que fizeram.

[Rio de Janeiro – Área portuária – Galpão 64 – Noite]

EUPÁTRIDA – Senhores boa noite, “seu na vida, seu na morte”.
TODOS – “Seu na vida, seu na morte”
EUPÁTRIDA – Nós somos uma família e quem entra nela faz o juramento de se dedicar totalmente ao Basileu durante toda a vida e mesmo depois da morte. Hoje 6 iniciantes pedem para fazerem parte de nosso seleto grupo, porém, só temos duas vagas. O juramento “seu na vida, seu na morte” é válido a partir do momento que você manifesta o desejo de ingressar em nossa fraternidade, essa última parte da jornada para fazer parte do nosso grupo é a roleta russa, quem tiver sorte vive, já quem não tem só lamento, mas o nosso segredo precisa permanecer secreto. Que os Iniciados venham até a frente.

Os seis homens ficam a frente e se ajoelham.

EUPÁTRIDA – Que os iniciados façam o juramento.
INCIADOS – Juro lealdade a fraternidade de corpo e alma, vivo e após a morte, prometo dar meu sangue no que eu for chamado, jamais terei medo e prometo dar a minha vida pela causa da fraternidade, “seu na vida, seu na morte”.
EUPÁTRIDA – O jogo é bem simples vou colocar uma bala no tambor da arma e girá-lo, vocês só terão quer apertar o gatilho, quem tiver sorte vive, quem não tiver, fazer o que né.

O Eupátrida coloca a bala na arma e gira o tambor, depois fecha e entrega a arma aos iniciados que estão em fila, os demais da sociedade fazem um círculo em volta deles.

O primeiro aponta arma da cabeça e aperta o gatilho a bala sai e se aloja no crânio do iniciado que cai morto.

EUPÁTRIDA – (rir) esse não teve sorte, vamos continuar (pega a arma da mão do morto, enquanto outro retiram o corpo dali) pronto (entrega a arma para o próximo).

O iniciado 2 aperta o gatilho, mas não dispara, ele passa para o terceiro que aperta o gatilho e também não dispara, depois de uma rodada sem a arma disparar, o iniciado dois recebe a arma de volta.

EUPÁTRIDA – Só tem mais duas tentativas, antes de a arma disparar, ou é você ou o próximo.

O Iniciado 2 tremendo aponta a arma para a cabeça e aperta o gatilho, a arma não dispara, depois passa para o iniciado 3 que chora.

INICIADO 3 – Eu não quero mais entrar.
EUPÁTRIDA – Não tem volta.
INICIADO 3 – Eu não quero, quero ir embora (levanta e tenta correr)

O Eupátrida saca uma arma, junto com outros 2 atiram no Iniciado 3 que cai morto.

EUPÁTRIDA – Alguém mais quer desistir? assim poupamos tempo, na fraternidade não tem lugar para covardes. Vamos prosseguir (refaz a mesma coisa que fez anteriormente e entrega a arma para o Iniciado 4)

O iniciado 4 aperta o gatilho e não dispara, o iniciado 5 faz a mesma coisa e cai morto no chão. O restante da irmandade rir a cada tiro que é dado, satisfação com cada morto.

EUPÁTRIDA – Finalmente chegamos aos três últimos, porém, só dois vão permanecer conosco, boa sorte aos três.

O iniciado 2 pega arma e aperta o gatilho, mas não dispara, passa para o iniciado 4 que aperta o gatilho e nada acontece, o número 6 pega a arma faz o mesmo que os outros mas não acontecer nada.

EUPÁTRIDA – Isso está muito fácil, vamos fazer o seguinte (pega a arma e coloca mais uma bala, gira o tambor e fecha a arma) agora são duas balas e oito disparos.

Recomeça mais uma rodada na roleta russa e quando chega a vez do iniciado 6 ele aperta o gatilho e dispara.

EUPÁTRIDA – Iniciados 2 e 4 sejam bem-vindos a fraternidade. “seu na vida, seu na morte”.
INICIADOS 2 e 4 – “Seu na vida, seu na morte”

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Mercadão de Madureira – Manhã]

LEONARDO – Mãe, a senhora parece que não dormiu nada está a noite.
DONA ROSA – Preocupação, não preguei os olhos essa noite.
LEONARDO – Preocupação com o que?
DONA ROSA – Com o rumo com que sua irmã ta conduzindo a vida dela, uma ganancia por dinheiro, uma vida que ela não tem, quase uma doença.
LEONARDO –Isso passa, é só uma fase.
DONA ROSA – Ela sempre foi assim, interesseira, desde criança, só dava um beijo se recebesse algo em troca, tenho medo de onde ela vai parar sendo assim.
LEONARDO –Quando ela começar a ter mais responsabilidades ela vai se endireitar.
DONA ROSA –Também, imagino se ela soubesse do passado.
LEONARDO – E o que aconteceu no passado.
DONA ROSA – Nada filho, vamos nos concentrar na banca, que daqui a pouco chega mais fregueses.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Casa de Beatriz – Manhã]

BEATRIZ – Você precisa mesmo ir, meu amor?
TEODORO – É uma viagem rápida, hoje à noite ou amanhã pela manhã estarei de volta.
BEATRIZ – Não gosto de você ir sozinho para São Luís.
TEODORO – Eu já disse que é por necessidade
BEATRIZ – Tudo bem, mande notícias.
TEODORO – Cadê os meninos?
BEATRIZ – Nos seus quartos, parece que hoje os dois amanheceram dormindo.
TEODORO – Diga que deixei um beijo para os dois, agora preciso ir.

Os dois se dirigem até o portão de entrada.

BEATRIZ – Vá com Deus.
TEODORO – Fique com Ele.

Teodoro entra no carro e vai embora, Anita se aproxima.

ANITA – Bom dia.
BEATRIZ – Tem pão velho aqui não garota, o abrigo para mendigo fica mais lá embaixo.
ANITA – Não, não é nada disso, eu vim por causa da vaga de cozinheira.
BEATRIZ – Ah sim, entre (as duas entram na casa). Você é muito nova pra saber cozinhar bem.
ANITA – Eu faço o que posso, garanto que não vou decepcionar a senhora.
BEATRIZ – Então vou testar você, ontem pedi para as incompetentes fazerem uma galinha da terra, só que fizeram algo tão ruim que nem os cachorros mereciam comer, me faça uma galinha da terra descente e vamos falar sobre a vaga.
ANITA – Pode deixar.
BEATRIZ – (gritando) Raimunda… Raimunda…
RAIMUNDA – A senhora chamou?
BEATRIZ – Essa é… (faz um sinal com a mão)
ANITA – Anita, meu nome é Anita.
BEATRIZ – Essa é Anita, candidata a cozinheira de nossa casa, instrua ela sobre sua função, recomendei que ela fizesse uma galinha da terra pro almoço (pegando a bolsa e retirando o dinheiro), toma aqui e compra outra galinha.
RAIMUNDA – Sim senhora.
BEATRIZ – Agora podem ir… Ah, é melhor ficar bom.
ANITA – Farei o meu melhor.
BEATRIZ – Assim espero.

Na cozinha.

RAIMUNDA – Essa é Anita candidata a vaga de cozinheira… Anita essa é Abigail, empregadas daqui da casa, elas vão te orientar aqui na cozinha e dizer onde fica as coisas.
ABIGAIL – Graças a Deus alguém chegou, esse negócio de cozinha não é pra mim.
RAIMUNDA – Mas ela pediu que a moça fizesse galinha da terra e disse pra você ir no mercadão comprar uma pra a Anita preparar.
ABIGAIL – Ela cismou com essa galinha, tá me dá aqui (pega o dinheiro), eu compro.
ANITA – Não esquece de trazer o sangue também.
ABIGAIL – Eu em, até você. (sai)
ANITA – Aqui tem cheiro verde?
RAIMUNDA – Dentro da geladeira, eu vou dar uma arrumada nos quartos, e você fica a vontade, qualquer coisa só perguntar pra mim ou para a Abigail.
ANITA – Ta bom, obrigada.

[Rio de Janeiro – Madureira – Mercadão – Manhã]

DONA ROSA – Abigail, o que faz por aqui?
ABIGAIL – Dona Beatriz cismou agora que quer comer galinha da terra.
DONA ROSA – (sentido de desejo)Hum, faz tempo que não como uma.
ABIGAIL – Eu não como isso, vai até sangue (com nojo) ui, me dar até arrepio, tentei fazer ontem e não deu nada certo, hoje chegou uma cozinheira nova e ela vai fazer, Dona Beatriz disse que é o teste dela.
DONA ROSA – E como ta Dona Beatriz?
ABIGAIL – Muito bem, exigente como sempre, aquilo ali faz briga com qualquer coisa, temos que deixar aquela casa um brinco sempre. A conversa ta boa, mas deixa eu ir compra a galinha.
DONA ROSA – Bom dia.
ABIGAIL – Bom dia.

***

[Rio de Janeiro – Galpão 64 – Zona Portuário – Manhã]

No telefone.

BASILEU – Amanhã estará chegando várias meninas, eu não quero erro.
EUPÁTRIDA – Claro, terá gente nossa esperando por elas no aeroporto, de onde vem esse carregamento?
BASILEU – De São Luís do Maranhão, falando em São Luís e a garota que escapou outro dia, conseguiram encontrá-la?
EUPÁTRIDA – Ainda estamos tentando localiza-la, ainda estamos com os documentos dela.
BASILEU – Se alguma coisa der errado eu mato vocês seus incompetentes.
EUPÁTRIDA –Vai dar tudo certo.
BASILEU – Assim espero, deligando.

Eupátrida ficam nervoso.

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Casa de Beatriz – Hora do almoço]

RAIMUNDA – O almoço está servido senhora.
BEATRIZ – Muito bem, vá chamar meus filhos.
RAIMUNDA – Com licença

Beatriz vai para a mesa e espera os seus filhos descerem.

MAXWELL – O pai não vai almoçar hoje conosco?
BEATRIZ – Ele teve que fazer uma viagem de última hora.
RICARDO – Assim? Sem nos avisar?
BEATRIZ – Como eu disse foi urgente.
RICARDO – Aconteceu algo?
BEATRIZ – Apenas negócios, mas deixou um beijo para vocês dois… Vamos comer? Hoje eu pedi novamente que fizessem a galinha da terra.
MAXWELL – Aquela porcaria de novo?
BEATRIZ – Ontem não foi galinha da terra, eu nem ouso chamar aquilo de galinha, quem dirá da terra e hoje temos uma candidata a cozinheira.
TEODORO – Quem é?
BEATRIZ – Ah esqueci o nome, depois apresento vocês, vamos comer logo, antes que esfrie.

Beatriz começa a servir os pratos.

BEATRIZ – Vamos provar, vamos provar… Hum, delicioso, colocou até cheiro verde que eu adoro.
RICARDO – Está bem gostoso mesmo, por mim já está contratada.
MAXWELL – É dá pra engolir, melhor do que ontem.
BEATRIZ – Raimunda, por favor chame a moça por favor.

Raimunda vai até a cozinha e volta com Anita, quando entra na copa o olhar vai direto em Ricardo.

BEATRIZ – Olha, você está de parabéns, viu? A galinha está deliciosa, como nunca comi antes.
ANITA – Só fiz o meu trabalho.
BEATRIZ – Continue assim, acho que podemos dizer que é nossa nova cozinheira, bem-vinda.
ANITA – Obrigada.
BEATRIZ – Agora pode voltar pra cozinha.
ANITA – Sim senhora. (sai)
MAXWELL – Gatinha ela em.
RICARDO – Mas não é pro seu bico maninho.
MAXWELL – E o que você tem a ver com isso?
BEATRIZ – Seu irmão tem razão, não quero vocês se misturando com empregados, estão me escutando?
MAXWELL – Beleza, agora vai controlar até quem ou não devo pegar.
BEATRIZ – Maxwell, você está sendo vulgar.
MAXWELL – Na hora vou dar um rolê com minha vulgaridade (se levanta)
BEATRIZ – Maxwell volte já aqui e termine de comer.
MAXWELL – Eu prefiro comer salgado na rua, que ta comendo essa comida de gente pobre.

Beatriz se levanta e vai até onde o filho.

BEATRIZ – Você tem que dar graças a Deus que tem isso pra comer, agora vá se sentar e comer.
MAXWELL – Eu não sou pobre pra tá comendo comida de gentinha.
BEATRIZ – (Exaltada) Comida é comida e você vai sentar pra come-la;
RICARDO – (levantando) Mãe, acalme-se.
BEATRIZ –Vai sentar e comer, você pode até ser grande, mas não é dois, mimado, sempre teve tudo em um estalar de dedo.
MAXWELL – Eu não vou comer nada senhora.
BEATRIZ – Sobe pro seu quarto, agora.
MAXWELL – Eu vou sair, tenho compromisso.
BEATRIZ – Você vai pro seu quarto e tá de castigo.
MAXWELL – Você ta de brincadeira né (rir) falou, saindo.
BEATRIZ – Maxwell Fernandes de Sá Araribe, suba para o seu quarto agora, se não.
MAXWELL – Se não o que? Vai me bater? Me poupe. (sai)
BEATRIZ – (gritando) Maxwell.
RICARDO – (se aproximando de Beatriz) Mãe, deixa ele, venha terminar de comer.
BEATRIZ – Eu devo ter pregado chiclete na cruz.

***

[Rio de Janeiro –Madureira – Casa de Dona Rosa – Hora do almoço]

Na mesa do almoço estava Dona Rosa, Benedita e Leonardo.

DONA ROSA – Pelo visto você resolveu não aparecer hoje na banca, né Benedita?
BENEDITA – Tava precisando de um tempo pra espairecer.
DONA ROSA – Só que se você não ajuda, vai espairecer de buxo vazio daqui a pouco, seu irmão tava lá.
BENEDITA – Claro ele só estuda, ontem eu cheguei tarde, estava com as minhas amigas.
DONA ROSA – Pois deveria fazer que nem ele, estudar e ajudar lá na feira.
BENEDITA – A senhora sabe que não gosto de lá.
DONA ROSA – Mas gosta de gastar o dinheiro que vem de lá né, com suas saídas, amigas, você a que menos trabalha, estuda e a que mais gasta com saídas.
BENEDITA – Não tenho culpa se sou popular.
DONA ROSA – Andei pensando sobre o que fazer com você e cheguei a conclusão de que você só vai poder gastar o que ganhar.
BENEDITA – É o que?
DONA ROSA – Eu explico melhor, você vai receber um salário por trabalhar lá na feira, se você faltar vai ser descontado, chegou atrasada também e no final do mês você pode gastar esse dinheiro pra suprir suas necessidades, não te darei nem um tostão a mais caso gaste todo ele.
BENEDITA – Mas isso é um absurdo.
DONA ROSA – Absurdo ou não já está decidido.
BENEDITA – Vai acontecer com o Leonardo também né?
LEONARDO – Eu sou o que menos sai e gasta dinheiro com coisas supérfluas, além de ajudar todos os dias desde cedo na feira.
DONA ROSA – Ele ta certo.
BENEDITA – Ele sempre tá né, eu não tenho culpa se ele não tem amigos, namorada, ah deve ser por causa dessa boia de gordura que tem na barriga, ou por causa dessa bochecha de buldogue? Ah não deve ser essa chatice insuportável que você tem, a feiura também, claro que você não tem com que gastar, é um solitário e sempre vai ser, sabe por que? Isso tudo não tem cura.
DONA ROSA – Agora você passou dos limites, peça desculpa para seu irmão, agora.
BENEDITA – Eu não vou pedir nada, eu disse apenas verdades, agora se me deem licença.
DONA ROSA – Você vai a lugar nenhum, volte aqui.

Benedita nem liga e sai da casa. Leonardo fica com uma expressão triste.

DONA ROSA – Não liga meu filho, você é lindo.
LEONARDO – Não precisa mãe, eu sei que ela falou a verdade, com licença.
DONA ROSA – Filho, não vai.
LEONARDO –Tudo bem (vai pro quarto).

***

[Rio de Janeiro – Madureira – Tarde]

BENEDITA – (Andando pela rua) Sempre protegendo aquele filhinho preferido dela, nem liga pra mim, não posso fazer nada que implica, sou uma prisioneira naquela casa, agora vem mais essa com negócio de salário, droga, droga! (Esbarra em Maxwell e cai) Só o que me faltava, pra completar a desgraça.
MAXWELL – Foi mal ai, não precisa ficar grilada não. (Estende a mão para ajudar)
BENEDITA –Foi mal não, foi péssimo, o dia já ta super ruim ainda tenho que passar por isso.
MAXWELL – Ei não é só o teu dia que tá ruim não e não tenho culpa de o seu tá assim.
BENEDITA – Mas ta piorando, eu não vou ficar discutindo com qualquer um no meio da rua.
MAXWELL – Qualquer um não, meu nome é Maxwell, prazer e o seu?
BNEDITA – Benedita, você não me parece ser desse subúrbio, não tem jeito e nem se veste como esse povinho daqui.
MAXWELL – Errou, sou daqui, mas não pertenço a esse subúrbio. Minha família vive aqui, mas tem posses.
BENEDITA – Ah sim, você não quer dar uma volta, vá que não conseguimos melhorar o dia um do outro?
MAXWELL – Melhor ainda, vamos lá em casa, creio que você vai gostar.
BENEDITA – Claro, vamos.

***

[Hotel Grand São Luís Hotel – Centro Histórico – São Luís – Maranhão – Tarde]

TEODORO – Vicente, faça pra mim uma reservar em um dos melhores hotéis do Rio de Janeiro, sem previsão de saída.
VICENTE – Pra quem seria chefe?
TEODORO – Coloque no nome de Susana Machado, ah não comente nada com a Beatriz sobre isso.
VICENTE – Tudo bem.
TEODORO – Por hoje é só, você pode tirar a noite de folga, mas amanhã cedo partiremos de volta.
VICENTE – Obrigado. (Sai)

Teodoro arruma algumas coisas no quarto, em seguida troca de roupa, pega o endereço que a secretária lhe deu e parte para a rua da Palma, algumas quadras dali. Chegando na casa ele toca a campainha e uma mulher sai de dentro.

SUSANA – Teodoro? Você aqui?

Lucas Serejo

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