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Mente Incondicional

Mente Incondicional – Episódio 04

de Pedro Paulo Gondim

Episódio 04 | ATROZ

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Participação estrelar: Consuelo Nardelli.

[Voz de Ivanna – em off] Ha… Ha… Quando se poderia imaginar que o próprio pai lhe mostraria as portas do Inferno? Nada mudaria aquilo. Uma criança. Um homem. Um ato. Um árduo caminho para se perambular, isto até que a dor fosse finalmente embora. Ela berrou! Muito alto! A tal mãe foi. Três olhares. Três garrafas vazias. Três balas. Duas vidas. Dois corações ardentes. Uma árdua indulgência. Um ato atroz.

[…] Abril de 2016 – Rio de Janeiro (RJ) – Brasil

“Savabian” (Hotel)/ 15º andar/ Quarto 1503 [Tarde]

Um amplo espaço, de móveis predominantemente brancos, se estende a uma varanda que apresenta ao hóspede uma vista revigorante de vários pontos da praia. Risinhos são escutados. Com uma toalha amarrada em sua cintura, o corpo molhado, e o cabelo arrepiado, Jonathan caminha em direção a pequena adega no canto. Ele desliza os dedos sobre as garrafas. Ao encontrar o vinho que procurava, ele o segura numa mão e duas taças na outra. Virando-se e deixando os itens sobre o balcão, se assusta quando “certas” mãos correm pelo seu abdômen, subindo e massageando seu forte peitoral.

Jonathan: [abre a garrafa; serve o vinho] Então, Mariano… Está animado hoje?

Mariano ri. Ele também está somente de toalha. Jon analisa o “objeto” e sorri.

Mariano: [alegre] Ah, Jon, se depender de mim, eu vou de “bola-gato” e ainda “atraco de ré”! Acordei me sentindo… Renovado. Quanto tempo eu dormi?

Jonathan: [olhando para o relógio da parede] Hã… Umas 10 horas. Normal, chegamos aqui de uma viagem um pouco longa. Cansou bastante!

Mariano: Sim, eu nem dormi no voo! [olha para cima] A vista era incrível!

Jonathan: Você sabe que pode abandonar escola, família… Ter tudo o que quiser. [acariciando o rosto de Mariano] Sabe que eu sempre estarei aqui, pra você.

Mariano deixa uma risada meiga pairando no ar e avança seu corpo em direção ao de Jonathan. Ele estala alguns beijos em seu pescoço antes de encontrar em seus lábios. Eles se beijam de modo suave, como se realmente estivessem em paz. Jonathan se afasta.

Jonathan: O desfile de hoje será tenso! Nunca houve uma parceria tão grande quanto a da “Collins” com a “Quotardelli”. Quem será Dolce Cabana quando dominarmos o sucesso? Falando nisso… Lembrou de ligar para sua mãe?

Mariano: [afirma com a cabeça] Liguei, mas… Ela tá meio estranha. Como se estivesse com medo que eu descobrisse algo. Aliás, EU é quem deveria estar com medo!

Jonathan: [lhe entregando uma taça] Relaxa. Aqui… está tudo bem!

Mariano: Bem, Jon… [olhando-a] Eu nunca bebi antes. Não sei se devo…

Jonathan aperta as mãos de seu amado e arqueia as sobrancelhas. Seu olhar triunfante convence Mariano. Do primeiro gole ao terminar da 4ª garrafa de vinho. Eles gargalhavam, contavam piadas e batiam palmas como focas amestradas.

Mariano busca sua consciência. Sua visão turva também não o ajuda. Olhando para aquele homem à sua frente, ele pensa nas consequências. Era 30 contra 16. Como explicar aquilo que estava vindo. “Efeito do vinho”, ele pensa. Mas… No fundo, ele sabia o que era. Finalmente estava se sentindo alegre, vivo… E não era por ter dormido o bastante. Não é o fato de estar “alterado”. A alegria vinha daquele homem. “Jonathan” vinha como um letreiro em sua mente. Aqueles olhos, cabelos, a pele, a boca, o desejo… Tudo!

Jonathan estava no meio de um engraçado conto sobre pinguins. De repente, suas palavras emudecem. Sua boca estava presa nas mãos de um jovem ameaçador. Mãos que vagarosamente resvalam a pele do homem. Toques fugidos em tua barba, tua garganta, teus braços, teu peitoral e teu abdômen.

Jonathan: [olhar tenso] Então… Eu não tenho pressa. Se não quiser…

Mariano: É diferente. [aproximando seus lábios aos dele] Desta vez, eu quero!

Ele sabia. Estava apaixonado por Jonathan. Dessa vez, ele sentia ser real! Seus beijos ficaram mais intensos. Sua respiração, cada vez mais ofegante. Jonathan estava meramente assustado. Estava sentindo o extinto selvagem do jovem. Jonathan se afasta por um momento e olha de frente para o perigo.

Jonathan: Maro… Eu te adoro! [ri baixinho] Mesmo!

Acompanhamos a cada gesto, cada toque e cada curva do trajeto dos dedos do jovem pelo corpo do homem. Eles desejam cada vez mais! Com facilidade, adentram por baixo do fino tecido da toalha. Tua mão acaricia o membro do homem. Enquanto o jovem sorri, o homem fecha os olhos e grita por mais!

Mariano: Acho que eu também te adoro, Jon!

Eles voltam a se beijar calorosamente. A visão para o tapete revela garrafas e taças caídas. As toalhas caem.

Sul Real (MG) [Brasil]

Casa dos “Nardelli”/ 1º andar/ Sala de estar [Tarde]

Emburrada, Cindy quase afunda os botões do controle remoto. Os canais se passam com presteza, porém ela não presta atenção nas imagens. Ao abrir a porta e vê-la assim, Consuelo Nardelli {65 anos; cabelos curtos – grisalhos – lisos; olhos castanho-escuros; peso médio-alto; estatura baixa} senta-se ao lado de sua neta.

Consuelo: [sorrindo] Ooooiiii!

Cindy: Oi.

Consuelo: Ih, minha filha! [olhar preocupado] Tá doente?

Cindy: Não, vovó, é raiva mesmo! Sabe… Minha mãe levou Santiago ao Rio de Janeiro e eu “não poderia ir”. [olhando-a furiosamente] Me diga o que eu fiz de errado?

Consuelo: Criatura, mas você não tem aquele passeio de campo amanhã? Se tu não for, vai ficar com nota baixa na escola, e eu não quero neto burro não!

Cindy: [olha pra cima] Ah, tá bem vó! Espero que eles se divirtam lá.

Consuelo: [passando a mão em seu cabelo] Mas olha… Eu fiz um lanche especial. Só procê! Tem queijo, bolo de fubá, peta, pamonha, curau, leite, achocolatado e mais uns trem lá. Ainda vai ficar aí com raiva?

Cindy: Puf! Eu? Com raiva? [levanta-se rapidamente] Que nada! Eu tô é com fome mesmo.

Cindy corre para a cozinha. Consuelo ri.

“Collins” (tecelagem)/ 3º andar/ Diretoria [Tarde]

Duas batidas à porta. Uma triunfante entrada. A cadeira do “chefe” estava virada para a esvoaçante paisagem da avenida. Ivanna está segurando uma pasta cheia de papéis e, mesmo com todo peso, sorri deliberadamente.

Ivanna: Hã… Cof! Cof!

Liliane: [virando a cadeira] Docinho?

Ivanna: V-Você aqui? [expressão tensa] Eh… oi! [vira-se]

Liliane: Oi! [ri baixinho] Como está?

Ivanna: Lili… E-Eu vou bem.

Liliane levanta-se da cadeira e abraça Ivanna. Lili afasta-se e aperta suas mãos.

Liliane: Olha só, Nana! Agora somos… mulheres! Destemidas e responsáveis! É difícil pra mim também. Tenho que acordar todos os dias e olhar para uma família que eu… não suporto. Eu tinha que fazer alguma compensação à tudo, mas você sabe… O mundo agora está diferente, tudo está mudado! E nunca poderei esquecer da minha “melhor amiga para todo o sempre”.

Ivanna: Lili… [a pasta cai] Foi algo tão lindo que… Eu me recuso a lembrar.

Liliane: Mas deve se lembrar. [elas caminham em direção aos sofás]

Ivanna: Antes “isso” era tão difícil… Tudo o que você passou, tanta dor…

Liliane: Ainda é, porém… Podemos lutar juntas para que “isso” se torne fácil. [olhando para a janela] Mesmo que estejamos na “flor da idade”… Acho que não viveu tudo o que ainda poderia ter vivido. E você sabe como!

Flashback: Setembro de 1989 – “Mariah Barny” (Colégio). Biblioteca [Manhã]

Aberto em páginas já desgastadas, um livro suportava as dores das mais pesadas lágrimas que já tivera visto. Ali, estava um menino. Seu nome, Juliano Collins {14 anos; cabelos curtos – tom loiríssimo; olhos azuis-escuros; peso médio; estatura alta}. Ele ouve a cadeira ao seu lado ser puxada. Alguém senta e arrasta-se mais para frente e deslisa os dedos pelo seu cabelo. Abrindo os olhos imediatamente, sente-se totalmente incômodo ao olhar para “ela”, Ivanna Ayalla {15 anos; cabelos médios – tom castanho-claros; estatura média; olhos castanhos; peso médio-baixo}.

Juliano: [olhar desprezível] O que você quer? Me deixa!

Ivanna: Te deixar? [sorriso bobo] Lógico que não! Aqueles meninos são babacas. Você não tem culpa de ter nascido assim… [olhar tímido] Vamos, tira essa jaqueta!

Juliano: [furioso] Eu não quero! Não é você que recebe o apelido de “Desnascido”.

Ivanna: Bom, o certo seria eles procurarem primeiro, um dicionário. Depois… [expressão misteriosa] Vergonha na cara. Olhe bem pra mim… [eles se olham fixamente] Por que eu sou sua amiga? Por que eu te defendo ou por que nunca te “xinguei”?

Juliano, cabisbaixo, chora ainda mais. Ivanna fecha o livro e olha para a capa. “Os Nascidos Errados: A Cura Através do Sacrifício”. Ela se levanta e, com o sangue fervendo, puxa Juliano em direção à saída do local.

(…) “Mariah Barny” (Colégio). Banheiro feminino [Manhã]

A porta range bruscamente ao se abrir, dando passagem para Ivanna entrar puxando Juliano pelo braço. Parando de frente a um longo espelho, Juliano chora e acaricia a região puxada, que dói, porém não mais que sua consciência.

Juliano: [soluçando] Eu… Não deveria estar aqui! É… o banheiro feminino.

Ivanna: Sim, Juli. Um lugar que você deve aceitar dentro de si! [levanta-lhe a cabeça] Olhe para você. Agora me diga… O que vê?

Juliano: Não! [o choro se intensifica] E-Eu sou um… menino…

Ivanna: Verdade! [tosse] Bom… Você é quem deve decidir. Juli, por que não para de se esconder por trás dessa jaqueta horrenda? [eles se abraçam] Sabe o que faz o mundo único? Não são as semelhanças que existe nele, mas as diferenças!

Os olhos de Ivanna reluzem o mais rápido que podem. Eles eram amigos, nada mais. Porém… Parecia algo mais! Ela não estava tão segura e queria apenas ajudar um amigo em decadência emocional.

Juliano: Ivanna… eu não sei o… o que sou! [olhando-a nos olhos] Não me vejo agindo como os meninos agem e nem falando como eles falam. Talvez seja… Difícil para mim, para meus pais, pra todo mundo, mas…

Juliano assusta-se ao se sentir puxado mais uma vez. Ivanna não ignora sua mente e mergulha num profundo ósculo. E a cada toque, o beijo parecia mais profundo e mais denso. Juliano não queria sair dali. Ivanna também não. Tudo parecia flutuar. Não havia condições. Mente trabalhando de forma leve e fora do mundo. Aquilo era o que parecia. Era proteção, era aconchego, era amor.

Por um instante, eles param. Olham-se fixamente um para o outro. Juliano sorri e levanta um dedo. Ivanna expressa curiosidade. Juliano desabotoa os botões da jaqueta e atira-a contra a parede.

Juliano: [estupefato] Sim, Ivanna! Acho que sou… o que eu devo ser! [sorri]

Ivanna: Nosso melhor segredo!

[…] Maio de 1996 Ruiz Azevedo (Cartório). Estacionamento [Tarde/Nublado]

Ivanna: {20 anos} Ooiii!! [abraça-a] Tudo bem?

Liliane: {19 anos} Tudo, docinho! [elas riem] Olhe e maravilhe-se.

Ivanna segura um registro oficial do juiz autorizando a mudança de nome de “Juliano Luis Fernando Collins de Mello” para “Liliane Maria Collins de Mello”. Elas se beijam.

Ivanna: [sorridente] Eu estou muito feliz por você! Nem me lembro direito de onde tiramos o nome…

Liliane: Não lembra? Você me chamou de “Julili”. Eu gostei desse “Lili” final e quis “acrescentar” mais alguma coisa. Maria é um nome que sempre gostei mesmo. E agora, vamos ser muito perigosas juntas! As meninas superpoderosas!

Ivanna: Acho que terei o que sempre sonhei. [sorri] E se sente confortável com a mudança de sexo? Sente falta do…

Liliane: [tom baixinho] Às vezes… [olhar sério] Mas não é o que realmente aprecio!

Ivanna: [expressão perigosa] Então é hoje, né? Vamos ser doidas juntas!

[…] Outubro de 1997Aeroporto de Sul Real. Embarque 09 [Noite/Chuva]

Um abraço que deveria durar horas, não poderia suportar mais que um minuto. Ivanna enfrenta suas lágrimas, mas Liliane deseja que elas corram. Que se deixe fluir todo aquele sentimento de bondade e felicidade.

Liliane: {21 anos} É incrível a dor do parto!

Ivanna: {22 anos} Ainda fazendo piadas, mesmo numa hora dessas? [elas riem] Bom… Espero que seu irmão fique bem.

Liliane: Incrível como Jonathan me dá trabalho! O menino tem que ficar doente justo agora e… Minha família anda ocupada demais pra cuidar dele. A doença da vovó parece que está por se espalhar dentre a família “Collins”.

Ivanna: Lembre-se de mandar um beijo pra todos!

Elas se olham e, sem importarem com o mundo, beijam-se entre prantos. Ivanna abraça a si mesma enquanto olha Liliane seguindo para o embarque, rumo aos Estados Unidos. Ivanna cai de joelhos e desprende suas emoções.

– Fim do flashback

“Collins” (tecelagem)/ 3º andar/ Diretoria [Tarde]

Liliane pressiona delicadamente suas mãos nos ombros de Ivanna. Chorando, Ivanna tenta enxergar o brilho no olhar de Lili.

Ivanna: Eu… só… quero… ser… feliz.

Liliane: [sorrindo] Eu também!

Ivanna consegue enxergar todas as faíscas perdidas ao longo dos anos. Sua alma se enche de felicidade e ela se joga em Liliane. Elas se olham por um momento e sedem um beijo de liberdade e justiça.

Casa Abandonada/ Interior [Tarde]

Dedos ágeis se atrapalhavam com a raiva. Está chamando…

Manão: [voz tensa] Oi, Rack! Tudo bom contigo?

Raquel: “Tudo bom contigo”? [furiosa] Eu quero saber onde estão vocês!

Manão: Ah, tu sabe que o Igor é esparradão. Deve tá com a mina dele e…

Raquel: Hã… Que? [confusa] Igor está namorando?

Manão: Mals aí! Ele deve ter esquecido de falar. Achou uma gatinha lá no “lugarzinho” que ele tanto gosta de frequentar. E a menina não é de se jogar fora!

Raquel: Claro, até porque não se joga pessoas fora, mas as matamos. [sorri] E você, filho de quenga com carroceiro… Está com ele?

Manão: Tô resolvendo “aquele” assunto com o funcionário da “Quotardelli”. Logo teremos nosso 2º round!

Raquel: Ah tá! Então… Até mais! [ela desliga a chamada; olhar profundo] Pois parece que o “2º round” será em outra situação.

Rio de Janeiro (RJ) – Brasil

“The Mercy’s” (Eventos)/ Backstage/ Sala 7 [Noite]

A inquietude de Jonathan já estava mexendo com os nervos de todos! Observando cada movimento, cada ser, cada passo para o que seria o melhor desfile do ano. O “Keep Up Wolf Magic” [Kuwoma] envolvia a parceria da “Collins”, da “Quotardelli” e das outras três maiores empresas da indústria têxtil da América Latina. E aquele momento onde a adrenalina está a mil, os protagonistas mostram o quanto são gente como a gente, e os coadjuvantes tentam lidar com o frio na barriga que essas ocasiões proporcionam.

Uma mulher, que aparenta uns 30 anos, carrega uma prancheta nas mãos. Sua expressão é tensa e tudo que corre em seu olhar é a chance do sucesso. Ela anda em direção ao louco homem e toca levemente seu ombro esquerdo.

Jonathan: Ah… Amanda? Oi! [sorri]

Amanda: [encarando-o] Filho duma rapariga! Eu vou cortar teu pinto fora!

Jonathan: Calminha aí! Não mexe no meu “precioso” não! [olhar ameaçador] Você sabe que a única coisa que espero de você… é que seja atropelada por um trem.

Mariano: [empurrando-a] Ei! Sai daqui agora! Vamos, saia!

Um rugido alto. Duas lágrimas. Amanda anda violentamente e para, lançando a Jon um olhar feroz. Mariano também lhe lança um olhar feroz e cruza os braços, em sinal de insatisfação com ele.

Mariano: Muito bem… [aplaude] Bravo!

Jonathan: Maro… [tenta segurar-lhe as mãos; Mariano desvia] Por favor…

Mariano: Eu tive que me rebaixar a uma completa desconhecida por sua causa! [expressão furiosa] Agora me explica: como sabia que ela apareceria e o que fez a ela?

Jonathan: Nada de mais. Juro! [olhar meigo] Amanda acabou de saber que a irmã dela não irá mais desfilar. E então… Mandei uma mensagem pro meu “herói” para qualquer “eventualidade”.

Mariano: E assim… [expressão confusa] Por que ela não desfilará?

Jonathan: Ela desapareceu.

Mariano: QUÊ?

Jonathan: Sim, ela é doida! Não me vem ao caso agora o que aconteceu com ela, e sim o desfile. [beija-lhe suas mãos] Te vejo mais tarde! [caminha em direção ao palco]

Mariano: [aumentando o tom da voz] Espere! Para onde Amanda vai?

Jonathan: [gritando] Provavelmente num dos quartos de limpeza, pra jogar um alvejante na cara!

Analisando à sua volta, Mariano encontra um corredor para as áreas mais internas do espaço. A cada passo, o fragor se esvai e nada mais há do que portas amadeiradas, carpetes, lâmpadas amarelas e vasos de plantas mal cuidadas. Então, se tornara tão aconchegante… Somente até que um ruído pudesse lhe alarmar!

Mariano: [pávido] Será a menina?

A fresta alta da porta a sua direita lhe incomodava. Não sabia ao certo o que poderia ser. A luz branca do quarto chamava Mariano para lá. Esbaforido, desde já. Inspira. Expira. Não pira. Um. Dois. Três.

Estarrecido ficou. Mariano queria muito rir. Rir mesmo. Rir muito! Mas não pôde. Seus lábios não se mexiam. Seus olhos atentos em todos os pormenores. Não, não era a menina. Contudo, desejava que fosse. Pelo menos, não iria querer, neste exato segundo, que seus olhos sangrassem. Que sangrassem até a morte de seu próprio reflexo. Aquela… “coisa”! Aquilo era… tão… tão… atroz.

Expressava toda a desumanidade de uma amizade que havia chegado ao ápice da descrença. Mariano finalmente se conscientizou. E… riu. Riu muito. Mesmo! E ao se recompor, finalmente, Maro sorriu, deu mais um passo, e lhe olhou com desdém.

Mariano: Santiago Nardelli! [olha para o lado] Sabe pegar os boys mais gatos!

E lá estava ele. O menino que lutava por ser “comum”, beijando outro garoto. Mariano não ria disso. Ele estava nervoso. Era tudo que ele precisava: um amigo que o entendesse. Mas Santiago não tinha cedido a esse desejo. E agora, de expressão dolorosa, queria o perdão de Mariano.

Mariano: Pois bem… Espero que continuem se divertindo como… estavam! [sorri] Aproveite, Santi. [sorrindo] Ele tem uma neca grande! Por que pararam? Adoro um pornô “ao vivo”… Foda muito bem o rabo desse desgraçado, boy. [expressão enojada]  Lembrem-se de trancar a porta!

Santiago: Mariano…

Mariano bate a porta de forma estrepitosa e anda em passos firmes rumo à plateia. Santiago desaba-se ao chão se liberta ao pranto.

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Pedro Paulo Gondim

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4 comentários sobre “Mente Incondicional – Episódio 04

  • Eu nem fiquei triste… 😢😢😢😢😢 É muito bom ver, como seu comentário acima, a luta por direitos iguais! E ver como a mãe do Mariano teve que se reprimir por tudo aquilo… é realmente chocante!
    E admito 😂😂😂 Ri muito na cena do Mariano “sóbrio” kkkkkkk Mas já to preocupado com o Manão e a Raquel e suas ideias de um novo plano!
    Na cena final eu me senti totalmente o Mariano. Cada sentimento mais doloroso que o outro. Parabéns, Pedro!!! Amando a web cada dia mais!

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