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Maçã do Amor

Maçã do Amor – Capítulo 08

Capítulo 08

 

Cena 01/ Apartamento de Eva. Cozinha. Sala de Jantar. Noite

Éden estava ao lado de Naja na cozinha, observando ela botar mais ‘água no feijão’. Naja é muito vaidosa quando o assunto é: Cozinha. Ele(a) adora cozinhar, e agora que terá mais bocas novas pra provar do seu tempero, caprichará ainda mais.

Enquanto isso, Adão fuxicava pelo apartamento com uma vela nas mãos para facilitar seu campo de visão – o apartamento tomado pela escuridão do apagão.

 

Adão (com um retrato nas mãos) – Nossa, que bebezinho fofinho é esse! Quem é? – pergunta, olhando a foto, iluminando-a com a luz da vela.

Eva (brava) – Sou eu, seu fuxiqueiro! – diz, tomando a foto de suas mãos.

Adão – É mesmo? Como que uma coisinha tão fofinha e bonitinha como essa se transforma em uma megera azeda como esta, hum?

Eva – Da mesma forma que sua mãe foi obrigada à ter que olhar para essa sua cara feia todos os dias, seu brutamontes!

Naja (vindo da cozinha) – Já vão brigar é?

Éden – Até no escuro vocês ficam se bicando.

Adão e Eva (uníssono) – Mas foi ele(a) que começou!

Naja – Não importa.

Éden – Vocês podiam aproveitar que não estão fazendo nada e ajudar a pôr a mesa, né?

 

Os dois cruzam os braços, indo até a cozinha. Um abre a porta do armário, retirando de lá pratos e copos; o outro, estende o pano pela mesa e, Naja e Éden, colocavam as panelas.

Todos se sentam. Éden acende mais velas na mesa, iluminando o espaço. Ambos se servem:

Adão (olhando para Eva) – Que romântico. Um jantar à luz de velas – e arqueia uma de suas sobrancelhas, como um tradicional galanteador. Eva passa a comer de boca aberta, demonstrando seu incomodo.

Éden (para Naja) – Está deliciosa sua comida. Realmente, é um talento.

Naja (se exibindo) – Eu sei, queridinho! Não precisa me lembrar toda hora que sou uma estrela e nasci para brilhar. Mas se quiser me elogiar mais, fique à vontade. – Éden ri.

Adão – E vocês? Contem-me suas histórias.

Naja – Como assim?

Adão – Ah, sei lá. Quero conhecer mais um pouco sobre vocês.

Naja – Bom, a minha vida é uma longa história. Sempre morei aqui em Sampa. Cresci numa família de classe média, não passei fome mas também não ostentei. Comecei trabalhar com dezesseis anos de idade. E foi nessa parte que meu pai se perdeu na bebida. Chegava todas as noites em casa alterado e batia na minha mãe. Eu sempre tentava defendê-la, por isso, na maioria das vezes, era eu que apanhava no lugar. Mas minha mãe sofria muito, e acabou caindo em depressão. Meu pai foi embora para outra cidade, deixando a gente sozinhos. Batalhei muito para cuidar dela, mas, ela não suportou, e se suicidou em um de seus surtos depressivos. Eu fiquei muito mal, e para sobreviver, comecei a … me prostituir. Não quero dar muitos detalhes disso. Mas um tempo depois, conheci um cara, rico, e me casei com ele, e meses depois … “tic” – sinal de tesoura com as mãos – foi quando mudei de sexo. Mas nos divorciamos. Abri o salão com a minha parte que recebi do divórcio, e aí conheci Eva.

Éden (olhando para Naja surpreso) – Nossa, que história..

Adão (olhando para Eva) – E você?

 

Eva fica alguns segundos em silêncio, tentando ser durona, mas começou à contar:

Eva – Eu nasci em uma família rica, e morei minha infância toda no litoral. Porém, como diz o ditado, dinheiro não traz felicidade. Nunca conheci minha mãe de sangue, porque ela me abandonou ainda nova. Fui criada por meu pai, um político, que dava mais atenção ao trabalho que à mim; e minha madrasta, uma pé no saco, que só se importava em torrar a grana do meu pai. Quando finalmente pude tomar minhas próprias decisões sem depender dos responsáveis, vim buscar uma vida nova aqui na capital. É isso. Procurei emprego no salão. E aqui estou.

Adão – Com essas histórias, parece até que fazemos parte de uma novela, não é? – todos riem na mesa.

Naja – E a história de vocês?

Adão – A minha foi … normal. Sou filho único, daí a atenção era toda voltada para mim. Concordo em certas partes que isso me deixou um pouco mimado-…

Éden (interrompendo) – Um pouco?! Seja franco, meu brother.

Adão (revirando os olhos) – Ok, seu chato. Tá. Isso me deixou ser essa coisinha linda que eu sou. – Eva revira os olhos – Quando completei dezoito eles deram um ponta pé na minha bunda, dizendo: “Tá na hora dessa cria aprender a se virar sozinho!” Dai, junto com os pais do Éden, que já era meu amigo na época, arranjamos um duplex nessas bandas. E infelizmente conseguimos esse maldito emprego com aquela velha chata do caramba.

Éden – Não é maldito, reclamão! É melhor um emprego na mão, que dois otários desempregados voando.

Adão – Por acaso nos chamou de otários?

Éden – No caso desta história seria você.

Naja (para Éden) – E a sua bonitão?

Éden – Eu também não tenho muita história pra contar. Sou o filho do meio. Sempre me relacionei mais com meus irmãos do que com os meus próprios pais, que trabalhavam o dia todo pra botar comida na mesa. Conheci o Adão no time da escola. E crescemos nessa vibe. Daí aos dezoitos, nossos pais fizeram essa armação para aprendermos à nos virar sozinhos.

Eva – Que legal essa ‘armação’.

Adão – Agora nossa novela está formada. Qual de nós será o protagonista?

Naja – Com certeza, eu! Serei a vilã má, que espalhará sua maldade pela terra – fala, soltando uma risada maléfica.

Éden – Eu tô de boa. Não curto câmeras. Passo a vez.

 

Adão e Eva se olham:

Adão – É, pelo jeito sobrou nós, gatinha. – e lança um beijinho à distância.

Eva (se levantando da mesa) – Melhor pararmos por aqui antes que nossa audiência caia. – se espreguiça e finge estar com sono –Está na hora de dormir, não está?

Adão – Pois é, tô mortaço de sono também. – e se levanta – Em qual das camas eu vou dormir?

Eva (mudando de reação na hora) – Como assim em qual?! O senhor irá ir dormir na sua casa, que lá terá uma cama esperando por você.

Adão – Não posso ir embora agora. E se eu morrer nessa escuridão?

Eva – Isso já não é problema meu. – cruzando os braços.

Naja – Eva, pare de ser má porque a má dessa história sou euzinha aqui. E deixe os pobres coitados dormirem esta noite. O que custa?

Eva – Mas Naja…

Naja – Nem mais nem menos, miga. – ela se vira para os rapazes – Vamos garotos, eu vou mostrar para vocês o quarto.

 

Eva fica mais emburrada ainda. E caminha estressada até seu quarto, batendo a porta com tudo. Naja no seu quarto, arruma um colchão velho, onde Adão e Éden se deitaram. Após cada um estar acomodado, foi dado um “boa noite” e, a noite seguiu. (* Eles nem imaginavam que nesse tempo todo a energia já havia voltado).

 

Cena 02/ Barracão do Mc Bolacha. Dia.

Imagens Descontinuas do amanhecer na cidade de São Paulo. Efeito Sonoro de fundo (Bang – Anitta).

Corta para Griselda descendo do ônibus, e entrando no barracão, para o teste de elenco das novas bailarinas do Mc.

 –

Ao terminar de abrir o portão, se assusta com a enorme quantidade de garotas presentes lá dentro. Mc Bolacha caminha até ela, com duas mulheres sensuais em sua volta, uma de cada lado.

Mc Bolacha (para Griselda) – Olha quem apareceu! Demorou mas chegou.

Griselda – Olá Bolacha. – diz, olhando as meninas de cima à baixo, com um certo “recalque” no olhar.

Mc Bolacha – O teste vai começar daqui a quinze minutos. Acho melhor colocar seu shortinho coladinho, pois quero ver se tu é memo boa como diz.

Griselda – Você já provou da fruta aqui. Sabe muito bem que o que eu digo eu provo.

Mc Bolacha – Melhor deixarmos o passado lá pra trás. O que quero dizer é que o jurado não será eu.

Griselda – Não? Quem vai ser então?

Mc Bolacha – Vai ser o meu mais novo empresário. Um cara chique, que trabalhou até em televisão. O nome dele é Edu Cado.

Griselda – Como assim empresário? Deis de quando você tem essas coisas de famoso?

Mc Bolacha – Musa, eu tô começando ir pro ‘hall da fama’. Euzinho tá subindo na vida. Tenho que me garantir, né?

Griselda – Aposto que ele não é de confiança. – cruzando os braços.

(off) – Posso lhe garantir que sou. – diz uma voz masculina atrás dela. Griselda se vira lentamente para trás, se deparando com bíceps e um peitoral invejado. Pelo fato dele ser mais alto que ela, sua cabeça se levantou automaticamente, encontrando os olhos castanhos escuros mirados em sua direção – Prazer, Edu Cado. Mas pode me chamar apenas de Edu.

 

Cena 03/ Quarto do Motel. Posto de Gasolina. Dia.

Canadense acorda, e se levanta do tapete no chão – ao qual tinha sido sua cama essa noite. De pé, apenas escuta-se os estalos feitos de todas as partes de seu corpo. Quando olha pra cama, se assusta ao encontra-la arrumada e sem sinal da presença de seus patrões:

Canadense – Ué. Cadê eles?

 –

Corta para a lanchonete do Posto de Gasolina, onde Papis e Mamis tomavam o café da manhã tranquilamente em uma das mesas próximo ao balcão. Logo depois, Canadense aparece, terminando de abotoar seu paletó:

Canadense (se aproximando deles) – Até que enfim eu encontrei vocês!

Papis – Bom dia, Canadá. – cumprimenta, após terminar de beber seu capuchino. – Dormiu bem?

 

Canadense apenas lhe lança um olhar ameaçador, pelo fato de ter dormido no chão.

 

Canadense – Vocês podiam pelo menos ter me acordado para o café.

Papis (se levantando) – É, poderíamos.

Canadense – E como irão pagar tudo isso, senhor? Você não tem mais um tostão no bolso. – pergunta, caçando algo na mesa para comer.

Papis – Não iremos. – pega sua maleta – Já lhe contei do nosso plano, não contei?

Canadense – Sim, senhor Papis. O da fu-…

Papis (interrompendo) – Esse mesmo. Está preparado?

Canadense – Preparado para quê?

Papis – Colocaremos o plano imediatamente em ação.

Canadense – Mas é que agora eu queria comer alguma coisa…

Papis – Come outra hora, Canadá. Vamos. Levante-se. É agora ou nunca!

 

Cena 04/ Apartamento de Eva. Quarto. Dia.

O sol saia da janela e se espalhava por todo o quarto. Eva terminava de acordar, levantando preguiçosamente da cama. Cabelos despenteados, a mesma cara mal-humorada de todas as manhãs. Pega seu roupão, saindo do quarto. Forçou a vista para visualizar no relógio da sala: oito horas da manhã.

 

Eva – Putz, tenho que me apressar para abrir o salão. – disse, acelerando os passos até o banheiro.

 

Aperta a maçaneta, abre a porta, fechando-a rapidamente. Assim que se vira em direção ao vaso sanitário, encontra a seguinte cena: Adão sentado nele, com um jornal nas mãos, e, completamente pelado, fazendo suas higienes matinais:

Adão – Bom dia – diz, ao perceber sua reação de espanto.

 

Quarto de Naja.

 

(off) – Ahh!!!!!!!!!….. – o grito de Eva se espalha por toda a casa.

 

Naja e Éden acordam com o grito, percebendo que, dormiam de conchinha na cama.

Éden – Isso entre nós…

Naja – Se contar pra alguém te mato! – disse, se levantando.

Éden (pensando em voz alta) – Essa era para ser a minha fala não era?

 

Nesse momento Eva entra no quarto desesperada, agarrando-se em Naja:

Eva (dramática) – Bicha, foi horrível! – e gruda em seus ombros, fingindo estar chorando.

Naja – Calma, miga. Comece do começo por favor.

Eva – Você não vai acreditar no que eu vi. Eu fui no banheiro, como todas as manhãs. E quando eu abro a porta, encontro a maldita imagem de-…

 

E nesse momento, Adão entra no quarto – ainda pelado – parando na frente delas. Dessa vez foi Naja à ficar de boca aberta, não tirando os olhos um segundo de seu corpo:

Eva – De novo não! Ahhh!!!… – grita, fingindo desmaiar na cama.

Naja (olhando Adão de cima a baixo) – Que corpinho, hein…

Éden – Se acostumem. Esse aí vive pelado dentro de casa. – (para Adão) – Mas brother, tu pegou mal agora, né? Você não tá na sua casa não.

Adão – Eu sei. Mas é que quando eu vou cagar não consigo ficar com roupa, é natural. E sem querer deixei a porta aberta. Sei lá, parece que é da minha natureza ficar pelado, entende?

Naja (babando) – Entendo perfeitamente…

 

Éden joga um travesseiro para o amigo tampar suas partes íntimas:

Eva – Esse é meu travesseiro, idiota! Joga o seu – berra, pegando o travesseiro de volta.

Éden – Vista logo suas roupas porque já estamos atrasados pro trabalho. Dona Geralda vai nos matar… – fala, abotoando sua camisa.

Adão – Sim, capitão! – assente, virando-se para pegar sua roupa no banheiro. E ao virar, revela suas nádegas – ainda sujas, por não ter tido tempo de limpá-las por ter corrido.

 

O tesão de Naja se transformou em nojo:

Naja – Tá, agora você pegou pesado, boy. Vamos Eva – e cada um começa a se arrumar para o trabalho.

 

Cena 05/ Barracão do Mc Bolacha. Dia

Edu – Próxima! – grita, da mesa onde avaliava as dançarinas.

 

A candidata da vez era Griselda, que caminha até o centro do pátio:

 

Edu – Pode começar. – diz, e em seguida, uma batida de funck começa à tocar.

 

Griselda começa a dançar no ritmo da música. Em todas as oportunidades que tinha, tentava não olhar nos olhos dele, que estavam mirados atentamente na jovem. O fato dele ser fortão e musculoso, típico cara de academia, lhe incomodava ainda mais – já que suas genéticas não se deram muito bem, e digamos que esse gato não entraria na sua lista de possíveis ficantes.

Poucos minutos depois a música acabou:

Griselda – E aí? Estou dentro ou não, senhor importantíssimo jurado? – pergunta, num tom irônico.

 

 Cena 06/ Quarto do Motel. Estrada. Dia

A recepcionista bate na porta mais uma vez. E por ninguém atendê-la, ela abre-a com sua segunda chave:

 

Recepcionista – Desculpe senhores – diz, entrando no quarto – Mas é que ninguém me atendeu e … – ao se deparar com o quarto vazio os nervos lhe subiram a cabeça – Pilantras! Foram embora sem pagar! – sai do quarto correndo até o posto – Polícia! Chamem a polícia!

 

 Estrada

 

O carro de Papis se encontrava na estrada novamente:

Papis – Acelera aí, Canadá! Não vai demorar muito para descobrirem a nossa fuga.

Canadense – Estou tentando, senhor. Mas essa estrada não colabora muito – responde vendo a pista emburacada, ouvindo sua barriga roncar de fome.

 

Mamis (para Papis) – Marido, quando chegarmos na capital, promete que tomaremos um banho na melhor suíte do hotel? Preciso de um pouco de lucho para tirar as sequelas daquele moquífo de pobre caindo aos pedaços.

Papis – Prometer não posso, meu bem. Mas tentarei assim que vendermos o nosso apartamento de Sampa.

Mamis (resmungando) – Quero voltar pra nossa mansão… – e aos poucos, o carro vai perdendo velocidade.

Papis (ao Canadense) – Canadá, por que o carro está parando?

Canadense – Vixi, patrão, esquecemos de reabastecer o carro antes de partimos. A gasolina tá acabando. – o carro parou na estrada – Tá. Acabou.

Papis – Era só o que me faltava.

 

Não demorou muito para o barulho de sirenes ecoar pela estrada. Todos olham para trás, encontrando viaturas de polícias se aproximando deles:

 

Mamis – Meu Deus, é a polícia!

Papis – Canadá, o que vamos fazer agora?

 

Continua …

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