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Maçã do Amor

Maçã do Amor – Capítulo 07

Capítulo 07

 

Cena 01/ Apartamento de Eva. Sala. Noite

Eva – Mas é claro que nã-… – e antes de terminar sua resposta, Adão já tinha dado um passo à frente, entrando no apartamento – Que ousadia é essa? Pode sair agora senão chamarei a segurança para tirá-lo a ponta pé daqui!

 

Adão caminha até o centro da sala, cruzando os braços:

Adão – Chame quem quiser. Eu só quero ver quando está pra nascer uma fera que me dome.

Eva (desafiadora) – Pois então tome cuidado com o que diz. Quem sabe essa “fera” ao qual citou, já nasceu, hum? – e cruza os braços também.

Adão – Só acredito vendo. – e os dois ficam trocando olhares.

 

Éden entra no meio, separando os dois:

Éden – Ninguém vai ver nada aqui não, tá legal? Os dois já estão muito grandinhos para ficarem com briguinhas.

Adão e Eva (uníssono) – Foi ele(a) que começou!

Éden – Aí! Estão vendo?

 

Éden (para Adão) – E Adão, não acha melhor a gente ir embora? Já entregamos a bolsa pra moça. Não temos mais nada para fazer aqui.

Adão – Nada disso! Antes, eu tenho uma coisa para descobrir!

Naja – E o que seria? – pergunta, se interessando no assunto, aproximando-se da ‘rodinha do barraco’ no centro da sala.

 

Adão se ajeita para pegar algo do bolso. Instantes depois, destaca em sua mão o celular:

Adão – Quero saber de qual das duas é o número que eu peguei da balada de ontem?

 

Eva e Naja se olham.

 

Cena 02/ Posto de Gasolina. Área aberta. Motel. Quarto. Noite

Papis, Mamis e Canadense se encontravam em volta do carro, enquanto aguardavam o funcionário do posto completar o seu trabalho:

 

Funcionário – Prontinho! – disse, saindo de baixo do carro e se levantando – Problema resolvido. – limpa as mãos sujas de graxa no tecido da roupa.

Canadense – Muito obrigado pela ajuda.

Funcionário – Que ajuda que nada, moço! Porque ajuda é de graça. Isso foi apenas um serviço. E serviço se paga. – rebateu, estendendo as mãos esperando o pagamento.

 

Canadense troca olhares com os patrões, suando frio. Pois sabia que as ‘verbas’ – o dinheiro – estavam escassas:

Canadense (gaguejando) – Po-pois é q-que…

Papis (interrompendo) – Pagaremos juntamente com a conta do quarto ao qual repousaremos esta noite.

 

O funcionário olha no fundo dos olhos de cada um, desconfiado:

Funcionário – Está bem. Deixarei o valor com a recepcionista para acertarem tudinho na conta final. – e ele se retira por alguns instantes.

Canadense (para Papis) – Mas senhor, não temos nenhum dinheiro no banco para pagá-los.

Papis – Eu sei.

Canadense – Então o que pretende fazer?

 

Nessa hora o funcionário retorna, entregando para Papis uma chave:

Funcionário – Essa é a chave do quarto de vocês. Número quarenta e dois. É só seguirem pela direita ali.

 

E eles caminham em direção ao local indicado:

Papis (para Canadense) – Disto, ninguém precisa saber. Eles só descobrirão amanhã de manhã, depois de nossa fuga.

 

Canadense arregala os olhos ao captar a ideia do plano maléfico do patrão, enquanto abria-se a porta do quarto. Mamis coloca a bolsa em cima da cama, e passa a reparar em cada detalhe do cômodo:

Mamis – Mas que moquifo de quinta é esse…

Papis – É a nossa única opção no momento, esposa.

Mamis (se sentando na cama) – Compreendo, marido. Infelizmente, nesta vida, já tive oportunidade de dormir em lugares muito piores do que este.

Canadense – Senhores, vejo que neste quarto só tem uma cama.

Papis – Sim. Estamos vendo.

Canadense – E como nós três caberemos aí?

Papis – Nós três como, Canadá?

Canadense – Me refiro da cama de casal. Casal são dois. E nós, somos três.

Papis – Oras, eu e minha esposa somos um casal. Portanto, nós é quem irá dormir na cama de casal.

Canadense – Mas … e eu? Aonde vou dormir?

Papis e Mamis (uníssono) – No chão! – respondem, se acomodando na cama, e jogando um travesseiro para Canadense. O casal se deitam, apagando as luzes – Boa noite.

 

Cena 03/ Apartamento de Eva. Sala. Cozinha. Noite

Adão – Ah! Ficaram sem palavras por que?

Eva – Não ficamos sem palavras.

Naja – Pois é! Você que está convencido demais.

Adão – Então por que não querem responder essa simples perguntinha, hum?

Eva (gaguejando) – Po-porque…

Adão (para Eva) – Vai Eva, assume logo que é você!

Eva – Mas nunca irei assumir isso, seu louco-pervertido! – berra, irritada ao extremo.

Adão (desafiador) – Não vai por que está com vergonha ou por que não quer confessar a verdade?

Eva – Eu não vou porque-…

Naja (interrompendo) – Ela não vai porque quem é a dona desse celular sou eu!

 

Nessa hora todos param e ficam olhando para ela. Principalmente Adão, que no fundo do fundo, estava completamente decepcionado.

 

 Cena 04/ Terreno baldio. Noite.

 

Efeito sonoro de fundo (suspense).

Mostra algumas imagens descontínuas de becos e vielas de alguma parte da cidade, enquanto se via e ouvia passos de uma pessoa vestida completamente de preto até esse local, um terreno grande e espaçoso, mas parecendo em sua aparência estar abandonado.

 

Essa pessoa de preto vestia um sobretudo e um capuz tampando seu rosto. Caminhou por esse terreno, com obstáculos e lixos espalhados pelo chão ao longo de seu trajeto.

 

– Psiu!  – se escuta, vindo de alguma parte próximo de um monte coberto por lixo, como nos lixões.

 

Essa pessoa caminha até lá. Ao chegar, o homem que tinha lhe chamado deu um passo à frente. O sujeito de sobretudo abaixa seu capuz, se revelando.

 

Ambos os dois já se conheciam. Eram bem mais de meros conhecidos. Mas sim, cúmplices.

O sujeito ao qual tinha o chamado era Deputado Cunha, um político desonesto e corrupto – parceiro de Papis nos negócios. E o homem do capuz, era Trevas, um homem pilantra e maldoso:

Deputado Cunha – Trouxe o que pedi?

Trevas – Sim, trouxe. – responde, entregando um pacote fechado para Deputado.

Deputado Cunha – Pois bem, isso aqui dará para cobrir alguns custos pra montarmos a nossa “empresa”.

Trevas – Tudo culpa dessa “lava-jato”. Descobriram-nos. E agora, teremos que montar nosso negócio em outro lugar. Está vendo o tanto de trabalho que temos apenas por desviarmos algumas merrecas dessa prefeitura? Depois esse povo diz que a gente não tem trabalho.

Deputado – Eu compreendo. Mas demos sorte de um carinha, que nem conheço, ter comprado este terreno. Pelo menos essa maldita polícia não nos deixará com tanto prejuízo assim.

Trevas – O mínimo. Sorte que os serviços da prefeitura são terceirizados, e no contrato basta apenas colocar o endereço. O tempo para sermos descobertos é menor.

Deputado – Pra garantir nossa ‘mesada’ nos próximos anos, fiz um negócio com um novo candidato para as eleições.

Trevas – Mas como pode afirmar que ele irá ganhar? São Paulo é uma cidade grande, a concorrência sempre será maior.

Deputado – O partido em que ele está é grande e importante. E conseguimos importantes coligações com outros. Aposto que ele tem 90% de chance de ser eleito esse ano. Seu nome é Papis. Um sujeito frouxo, fácil de manusear.

Trevas – Que bom. Vamos indo agora, antes que o novo dono deste terreno, que não nos é mais útil, chegue.

 

Trevas recoloca seu capuz, e Deputado um traje discreto também. Ambos desaparecem pela escuridão predominante do local.

 

 Cena 05/ Apartamento de Eva. Sala. Noite.

Adão – Como assim você? – pergunta, não acreditando – Eu me lembro da voz da ligação. E era a de Eva.
Eva (argumentando) – A voz até pode ter sido minha, mas é melhor ir abaixando a sua bolinha aí, meu amor, pois o celular era dela!

 

Adão começa a andar de um lado para o outro nervoso e agitado:

Adão (pensando em voz alta) – Mas não pode ser …

Eva – Há-há, é quando estamos bêbados que revelamos a nossa verdade interior. Se mordeu e gostou da fruta, aceita. Não adianta ficar se condenando.

Adão – Não fale bobagens, sua doida. Eu posso até ter bebido. Mas eu lembro da maioria das coisas que faço. E não me lembro de ter visto ele-…

Naja (corrigindo) – Ela, por favor!

Adão – E não me lembro de ter visto ELA em momento algum da balada.

Eva – Querido, aceita. Pois se está achando que conseguirá tudo isso aqui tão fácil assim, saiba que está engana-…

Naja (interrompendo) – Vamos fechar as boquinhas os dois? Quero falar. – cala-os, com seu jeitinho natural de ser. Caminha até o centro da sala – Deixa eu corrigir este engano.

Eva – Vai, Naja. Mostra pra este paspalho do que ele realmente gosta. – encoraja a amiga.

Naja – Eu vou falar do que ele tá gostando, mas acho que você não gostará muito da ideia.

Eva – Por quê? – confusa.

Naja – Porque pode até ter sido o meu celular e o meu número ao qual ele ligou. Mas amiga, quem foi pra balada foi você e não eu.

Adão – Então como o seu número foi parar justo na minha agenda de contatos?

Naja – Eva sempre sai apressada antes de sair de casa, e a bebida não fez ela perceber isso, mas ela levou o meu celular, não o dela.

Eva (decepcionada) – Não pode ser…

Adão – É, acho que não pode ser mesmo. Porque nem bêbado eu sairia com uma ‘coisa birrenta’ como essa.

Eva – Imagine eu?!

 

Adão se vira para Eva, ambos prontos para uma nova discussão:

Naja – Aceitem que dói menos, queridinhos! – os dois se calam novamente – Eva, se lembra que eu falei no salão que você não tinha voltado sozinha ontem à noite? Pois então, criaturas! Era ele, Adão, quem havia lhe trazido até aqui. E pelo fato de eu estar dormindo, e só ter acordado um pouco antes dele ir, acabei não comentando nada. Mas agora que vejo, era ele mesmo, miga!

Éden (para Adão) – Por isso que você chegou mais tarde do que o normal ontem à noite.

 

Os dois se abalaram com a revelação, não aprovando a ideia:

Eva – Então isso significa que…

Naja – É! Isso significa que vocês ficam brigando aí, mas no fundo aposto que estão apaixo-…

Eva (interrompendo) – Não fale essa palavra!

Adão – Não mesmo! Isso foi só por uma noite. Ok, posso até ter vacilado nessa, confesso. Mas se ficamos um dia, não significa nada que terminará em casamento.

Eva – Com certeza! – e cruzam os braços novamente.

 

Até que todas as luzes se apagaram, deixando-os atentos:

 

Eva (indo até a janela) – Legal, era só o que me faltava. Um apagão. – disse vendo toda a cidade na escuridão.

Adão – Agora que não irei embora mesmo!

Éden – Muito menos eu – indo ao seu lado.

Eva – Claro que irão sim, intrometidos! A casa é minha, quem decide sou eu. Senão saírem agora, chamarei os seguranças.

Adão – Pois que dê uma de corajosa indo até lá. Eu ficarei aqui pra garantir minha sobrevivência temporária. – diz, se sentando em uma cadeira.

Éden – Olhe, comida! – vibra, rodeando o fogão, olhando algumas panelas – Eu estava com fome mesmo. – Adão de imediato vai até lá também.

Naja – Podem tirando a mão da minha comida!

Éden (dramático) – Ora, façam essa solidariedade pra gente? Não nos deixe aqui nesta escuridão fria e solitária famintos?

Adão e Éden – Por favor? Por favor?

Eva – Larguem a mão de serem abusados!

Adão – Isso já somos por natureza meu bem, é impossível de mudar.

Naja – Está bem. Eu deixo vocês ficarem.

Eva – O quê, amiga?!

Naja – Deixe os coitados ficarem. Nunca ouviu aquele ditado: “Onde come um, comem dois?”

 

Eva cruza os braços, não gostando nadinha da ideia. Naja vai até o armário pegando mais pratos para a mesa.        Adão mostra a língua pra a careta feia que Eva fazia.

 

Cena 06/ Terreno baldio. Noite.

Mostra imagens descontínuas da cidade às escuras, devido ao apagão.

E no terreno, outra vez, se escuta passos, só que era de uma outra pessoa agora. O novo proprietário do terreno.

 

Após alguns passos, ele parou em uma parte do terreno – ainda não revelando seu rosto – e fica observando o local. O terreno era uma terra sem forma e vazia, coberta por lama barro e lixo. Completamente abandonada. A escuridão da noite se unia com a escuridão do apagão, deixando tudo praticamente um breu. Esse homem ergue o rosto, levantando uma das mãos para o céu, dizendo:

 

Senhor – Haja luz! – de imediato, a luz por toda a cidade retornou, inclusive no terreno, que antes não estava iluminado. E com isso revela Senhor no centro do terreno, o novo proprietário.

 

 Continua…

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