Maçã do Amor – Capítulo 04
Capítulo 04
Cena 01/ Rua. Fachada da Lanchonete Pague & Coma. Interno do ônibus. Dia.
Adão – A moça de ontem da balada. Ela tá me ligando!
Éden – Tem certeza?
Adão – Sim! Olhe aqui – afirma, mostrando a tela de seu aparelho.
Éden (agitado) – E está esperando o quê para atender? Vai logo, seu jegue!
Adão respira fundo, com o seu corpo tensionado, e desliza o dedo pela tela. Éden observava atentamente Adão enquanto ele atendia a ligação:
Ligação atendida:
Adão (ao telefone) – Alô?
Voz feminina (off) – Oi! O seu número me ligou hoje, mas não consegui atender.
Adão – É! Liguei sim!
Voz feminina (off) – Espero que o que tinha para me dizer não seja nada grave…
Adão – Não! não era não. Pensando bem, um pouquinho.
Voz feminina (off) – E o que era então, hum?
Adão (ansioso)– É que … – toma fôlego para respondê-la, mas logo em seguida, retorna para um estado desconfortável, guardando o celular no bolso da calça.
Éden – O que foi? Ela falou alguma coisa?
Adão – Não é isso. – responde, cabisbaixo.
Éden – Então o que aconteceu?
Adão – A ligação caiu.
Éden – Ah … quem sabe uma outra hora ela liga para ti novamente?
Adão (refletindo) – Que estranho … Quando eu ouvi a voz dela, bateu aquela sensação de “já ouvi essa voz antes”, sacou?
Éden – Sei … – responde, enquanto acenava para o ônibus que se aproximava.
Adão (repreendendo ele) – O que está fazendo?
Éden – Acenando para o ônibus parar, ué. Até parece que eu irei à pé até a feira.
Adão – Mas com que dinheiro vai pagar a passagem, bobão?
Éden – Tenho uns trocadinhos aqui. Usamos ele com as compras, e depois é só repor no caixa da lanchonete.
Adão – Cuzão! E você tinha me dito que estava duro, né? – adverte, enquanto o transporte parava na frente deles, abrindo as portas.
Éden – E quem disse que eu menti? – responde, enquanto entravam no ônibus, lotado pelo jeito – Eu estava duro de verdade. – disse, deixando no ar um grau de malícia.
Adão revira os olhos ao processar todas as informações. As portas se fecham, e o veículo segue a diante pela rua.
Cena 02/ Salão de Beleza. Dia.
Eva entrega o celular para amiga, enquanto ela curiosa se desespera por informações:
Naja – E aí, amiga? Era boy mesmo?
Eva – Era sim, bicha! Ele tinha uma voz grossinha até. E você nem imagina …
Naja (transbordando de curiosidade) – O quê?
Eva – Ele disse que foi ele mesmo quem ligou e que tinha uma coisinha para lhe contar.
Naja – Tinha?! O que era? Conta, conta, conta?
Eva – Eu não sei o que era pois os seus créditos acabaram bem na hora.
Naja – Eu não avisei que os meus créditos estavam acabando? Daí dá nessas. Curiosidade.
Eva – Relaxa, bicha. Depois é só ligar de novo.
Naja – Fo bom mesmo tu ter atendido em meu lugar, porque se não quebraria o meu celular no chão por causa dessa operadora.
Eva – Mas tem que tomar cuidado com essas coisas, sabia, Naja? Vai que vocês resolvem se encontrar, e ele vê que tu não é-…
Naja (interrompendo ela) – Queridinha, tecnicamente eu não sou mais um homem, ok? Porque eu “tic!” Já cortei. E segundo, estou pouco me lixando se ele gostar ou não, porque um a mais ou um a menos não irá fazer falta. E três, pega logo a sua bolsa, porque você atiçou o leão que existe dentro de mim e pretendo me entupir de pastel e fritura até não couber mais. – falava, enquanto capturava sua bolsa e saia do salão, impaciente, controlando sua raiva.
Eva – Eu estou de regime, bicha.
Naja (lhe olhando de cima a baixo) – E deis de quando você virou fitness? Pra mim, continua a mesma participante do clube “Acimas do peso mas dá pro gasto Anônimos” como eu.
Eva (ficando irritada também) – Ah, bicha! Você sabe acabar com a graça dos outros, né? Vou comer uns trezentos pasteis também só de raiva! – comenta, pegando sua bolsa, e saindo do salão batendo o pé.
Cena 03/ Mansão de Papis. Fachada da mansão. Dia.
Mamis e o seu advogado estavam parados ao lado do carro, checando se tudo estava pronto para a viagem, enquanto Papis fechava a mansão:
Mamis (lendo um papel) – (…) Caviar?
Canadense (verificando no porta-malas) – Confere.
Mamis – Colar de pérolas com corrente de ouro maciço?
Canadense (se cansando) – Confere.
Mamis – Cartão Master Plaster Especial da Suiça?
Canadense – Senhora Mamis, o banco cancelou todos os seus cartões, esqueceu?
Mamis (dramática) – Não me lembre disso, incompetente! Só de pensar que não vou poder mais usar os meus ‘bebês’ de volta, até bateu um aperto no coração …
Canadense (para Papis) – Tudo pronto, senhor?
Papis – Sim. Tranquei toda a mansão e, daqui uns vinte minutos, irão vir os meus agentes secretos da CIA para vigiar a casa. O FBI não pôde vir porque estavam em uma missão ultra-secreta em Londres.
Canadense – Mas senhor, o pacote de Segurança Secreta não custará muito caro?
Papis – Sairá sim, Canadá. Mas o meu amigo, Deputado Cunha, me deu uma mãozinha. Ele irá cobrir todas as despesas e gastos que eu tiver com o dinheiro público até a época das eleições. Está ligado, né? Agora que coliguei a minha candidatura ao seu partido, nos tornamos “melhores amigos”.
Canadense – Entendo. – assente, fechando o porta-malas – Vamos então? – pergunta, balançando as chaves em mãos.
Papis – Let’s go! – responde, colocando os seus óculos escuros.
O casal entra no carro, no banco dos fundos. Canadense assume o volante, vestindo o cinto de segurança. Os portões elétricos se abrem automaticamente, dando passagem para o carro partir.
Imagem aérea do carro partindo pela rua ampla e arborizada do condomínio por um determinado tempo.
Imagens descontinuas de partes da cidade de São Paulo. As ruas, o movimento nas calçadas, o dia ensolarado. Até chegar no local onde acontecia a feira. Em que o som das buzinas dos automóveis foram trocados pelos gritos dos comerciantes e feirantes das barracas.
Cena 04/ Rua da Feira. Dia.
Mostra as diversas barraquinhas presentes naquele espaço, vendendo todos os tipos de frutos e verduras, etc. Em todas elas, os seus vendedores gritavam, para atrair a atenção dos clientes em que passavam e conferiam as mercadorias das barraquinhas. Um verdadeiro “mercado de peixe”.
Barraca das Frutas.
Adão e Éden caminhavam entre o espaço com grande número de pessoas. Éden, é claro, era quem segurava todas as sacolas e sacos com as mercadorias compradas, enquanto Adão, folgado e livre, caminhava em sua frente, guiando-o para a próxima barraquinha, com a lista em mãos:
Adão (apontando) – Acho que deve ser aquela amarelinha ali, não é?
Éden – Eu não sei que maldita fruta é essa daí. Deixa-me ver – e se aproxima, para conferir na lista.
Adão (não lhe dando ouvidos) – Ah, pega qualquer uma mesmo.
Éden locomove as sacolinhas nos braços, devido ao peso das frutas, enquanto bufava, entediado.
Adão (ao vendedor) – Ô, moço! me dê duas caixas daquela fruta amarelinha ali?
Vendedor (após visualizar para onde apontava) – Aquilo não é fruta, rapaz.
Adão (balançando os ombros) – Ah … me dê mesmo assim.
Vendedor – É pra já! – se vira, para atender ao pedido.
Éden (cutucando Adão) – E se isso não for o que a dona Geralda pediu, imbecil?
Adão – Por acaso, os clientes notam todos os ingredientes presentes no prato? Não. Então dane-se se é ou não, bocó.
Vendedor – Aqui está o pedido. – retorna, colocando as duas caixas no balcão.
Adão (ao vendedor) – Obrigado. – saiu andando naturalmente.
Éden (elevando a voz para Adão escutar) – Ei, não está esquecendo de nada não?
Adão – Do quê? – Éden indica para as caixas com a cabeça. – Ah, sim! Pode levar elas.
Éden – Mas com-…? – nem deu para contestar, Adão já estava longe.
Barraca do Pastel.
Naja (tentando chamar a atenção do vendedor) – Moço? Ô, moço? …
Pelo fato da barraca estar muito cheia, nenhum deles acabam lhe dando atenção. Buscando conseguir o que deseja, parte para a sua arma mais poderosa, a atuação:
Naja (ao vendedor) – Moço? Gestantes tem mais direitos, não tem? – pergunta, ajeitando a sua camisa para realçar mais ao seu corpo e passando a mão sobre sua barriga um pouco a cima do peso.
Vendedor (lhe olhando de cima a baixo) – Por acaso isso foi uma piada, meu senhor?
Naja (ofendida) – SENHOR?! Olhe aqui, seu moço dos infer-… – antes mesmo de armar um verdadeiro barraco em plena feira, Eva lhe impede, retirando-a pelos braços.
Eva (disfarçando, olhando para os lados) – Bicha, será que dá para dar uma segurada, por favor?
Naja (dramática) – Acho que a gente veio nesse mundo pra sofrer mesmo … – enquanto caminhavam para o final da fila. [corta].
–
Éden e Adão saiam de outra barraquinha. Éden sofrendo para conseguir levar todas as sacolas com as frutas em mãos, enquanto Adão, seguia tranquilamente, sem segurar sequer uma maçã.
Éden (exausto) – Ôh donzela, teria como me dar a graça de vossa ajuda, por favor?
Adão (apressado) – Anda mais rápido, molenga! Antes que os pastéis acabem. – fala, folgadamente, como sempre, caminhando em passos largos.
Éden balança a cabeça, derrotado:
Éden (resmungando) – Eu mereço …
Adão retira a sua camisa devido ao calor:
Adão – Tô com uma fome do caramba! anda mais rápido, lesma!
Barraca do Pastel.
Naja estava nervosa com a demora da fila:
Naja (para as pessoas que estavam em sua frente) – Isso aqui agora virou a fila do SUS pra ter toda essa demora, hein?!
Todos viram a cabeça para trás, lançando olhares para Naja, incomodados. Eva se encolheu, envergonhada. Naja nem se importou.
Nessa hora, chegou um rapaz que furou a fila na frente delas:
Naja (irritada) – Isto aqui virou o quê, afinal?!
Eva (cochichando) – Amiga, não…?
Naja – Ah, mas o que que este povo tão pensando? Virou centro de caridade? – cutucando o rapaz – Pode indo pro final da fila, queridinho!
O moço se virou, assustado:
Adão (amedrontado) – Ok, ok … Não foi por mal, cara …
Assim que ele se virou, e os olhos de Eva lhe encontraram, e os seus olhos encontraram os de Eva, ambos, espontaneamente, se arregalaram.
Nesta hora, passarinhos voavam harmonicamente no céu, entoando juntos uma linda ‘canção de passarinho’. No céu, azulado e ensolarado, havia nuvens, ao qual algumas delas possuíam formatos de elefantinhos e emojis sorridentes. Até que finalmente, os seus olhos encontraram os olhos à sua frente. Era um homem, digno de capa de revista. Estava sem camisa, exibindo um invejável peitoral. Braços largos, pele bronzeada, cachos loiros. Era sensacional aquele momento. Se sentia como se fosse no paraíso …
Continua …