Lágrimas do Céu – Capítulo XXII
O tempo havia passado rápido, tanto que a Sra. Margarete já havia saiu do hospital fazia um mês. Ângela estava muito feliz com a recuperação da mãe, porém está estava tendo que ir a unidade de saúde com freqüência, pois está participando de uma pesquisa experimental sobre Alzheimer. Fisicamente a idosa está com um boa aparência, porém seu celebro recuará bastante, isso quer dizer que ocorre momentos em que ela não reconhece a filha. Para a doença isso é esperado, entretanto tem tido brigas sem motivos com a filha, tudo por conta da doença. Ângela espera que a pesquisa ao qual sua mãe esteja participando acabe com a doença ou pelo menos dê uma melhora significativa.
A Sra. Margarete está alocada no apartamento de Willian. Ângela não acha a ideia boa, pois teve que morar lá com ele para poder cuidar da mãe. Ela preferia residir com o amado após o casamento, mas as circunstancias a obrigara a mudar. Ângela estava no quarto em que a Sra. Margarete permanecia deitada dormindo, terminava de guardar os remédios no armário quando sentiu um enjôo. A jovem vem sentindo isso há alguns dias, no começo achou que fosse apenas um pequeno mal estar, entretanto com o aumento da frequência deles começou a achar estranho, porém não contou isso para ninguém. Antes de sair do local observou um quadro que colocara na parede em que havia lembretes e um dele dizia: “exame pré cirúrgico as 10:00 na terça-feira, Sra. Margarete”. Ela tinha se esquecido que sua mãe vai ser operada daqui a dois dias. Saiu do local, foi até a sala e ficou assistindo televisão.
Willian entrou no carro, se encaminhando para casa e com o telefone no ouvido. Saiu apressado pela rua movimentada tentando driblar o engarrafamento. Mas antes de ir para sua casa resolveu visitar a mãe, queria falar com ela sobre Ângela. Desde o dia em que sua ela brigou com sua noiva não tinha levado ela lá, mas tinha ido algumas vezes conversar com sua mãe, porém não obteve sucesso. Sempre que Willian toca no assunto de casar com Ângela a Sra. Burk se irrita. Ele pegou um atalho e chegou antes do esperado no seu destino. Estava sentado na sala conversando com a Sra. Burk.
– Eles já estão preparados para trabalhar como nós aqui do Brasil, dei a eles a liberação na semana passada – ele estava falando sobre a filial de sua empresa na Argentina – podemos ver uma data para viajarmos com a senhora.
– Há meu filho estou muito velha para isso, mas espera um momento, você disse nós? – ela franziu a testa.
– Sim mãe. Podemos viajar eu, a senhora e Ângela.
– Viajar com ela? Muito obrigada, prefiro ficar no Brasil – ela falou irritada.
– Mãe nós já conversamos, ela não é uma má pessoa – ele parou um instante – olha, enquanto a senhora não estiver de bem com Ângela eu não participarei das reuniões familiares – ele falou subindo o tom da voz.
– Você quase não aparece nelas mesmo, faça como desejar – ela deu de ombros.
– É bom a senhora ficar sabendo que logo vou marcar a data do meu casamento. Eu quero que a senh… – ele foi interrompido.
– Não hesite em me convidar, porque não irei participar desta balburdia – ela cruzou os braços.
– A senhora não vai me levar até o altar? Eu quero muito a sua presença – ele se levantou do sofá e ficou caminhando pela sala – me desculpe informar, mas casarei assim mesmo.
A Sra. Burk ficou calada, não é do feitio dela prolongar uma discussão. Willian se despediu da mãe a deixando desgostosa e foi para casa.
A terça-feira enfim chegou, Ângela foi liberada do trabalho e pode acompanhar a Sra. Margarete até o hospital. Elas estavam localizadas em um dos quartos quando um médico de cabelos grisalhos entrou no local.
– Bom dia, desculpe o atraso acabei de sair de uma cirurgia de ultima hora – ele estava arrumado o jaleco – como está Sra. Margarete?
– Quem aqui é senhora? É senhorita e me traga meu pudim já pedia faz horas – ela falou como e estivesse em um restaurante, isso mostrou que a doença havia avançado bastante.
– Tudo bem eu providencio um para a senh… – ele deu uma pausa – senhorita comer depois que dermos um passeio – ele chamou uma enfermeira que estava mais a diante fazendo sinal para que a paciente fosse levada para realizar exames – pode ir com Jaqueline, eu as encontrarei em um instante – ele pegou o prontuário da idosa e se virou para Ângela – Bom, isso tem ocorrido com frequência?
– Ah! Isso o que exatamente? – ela franziu a testa.
– Isso dela não saber onde está – ele apoiou o prontuário na pequena mesa ao pé da cama.
– Sim, isso está mais frequente. Será que ela ficará boa doutor? – ela possuía uma expressão de tristeza.
– Essa doença até o momento é irreversível, mas com o avanço do meu estudo podemos obter sucesso, vamos torcer para isso – ele deu um pequeno sorriso – bom a paciente será operada a uma da tarde, faremos exames agora pela manhã, não dê nada para ela comer. Se ela reclamar deixe ela apenas beber água, certo? – ele esperou Ângela confirmar ter entendido o que disse.
– Sim, claro. Vou ficar na sala de espera.
– Tudo bem, assim que os exames terminarem mando chamá-la.
Ângela estava a caminho da sala de espera quando parou em frente à recepção e vomitou. Uma das atendentes chamou de pressa uma enfermeira que veio com uma cadeira de rodas. Ela foi levada para uma sala pequena em que estava uma mulher de cabelos castanhos preso em um rabo de cavalo e jaleco branco.
– Doutora ela vomitou em frente ao corredor, não foi examinada, preferi trazê-la ate à senhora – falou uma enfermeira que saiu logo em seguida.
– Então vamos ver. O que comeu hoje? – a médica estava apalpando a barriga de Ângela.
– Comi o de sempre, mas não acho que seja mal estar – ela fez uma expressão que ia vomitar novamente, mas logo recuou da ação.
– Tudo bem, mesmo assim vou fazer uns exames – a médica pegou um aparelho e começou a aferir a pressão da jovem.
– Eu tenho que lhe falar, minha menstruação está atrasada – ela cochou a cabeça.
– Ah! Então vamos fazer exame de sangue para saber se está grávida. Sua pressão está excelente, eu não demoro vou pegar o material para colher seu sangue – a médica colocou o aparelho sobre uma pequena mesa e saiu do local.
Ângela ficou parada onde estava, observou que a sala em que está tem um quadro estranho branco na parede, mais adiante um aparelho que não soube disser o que era. Estava sentada em uma cadeira que possuí um braço acochado em que dava para encaixar o antebraço perfeitamente. A médica entrou, retirou o sangue da jovem e disse que logo sairia o resultado. Então Ângela foi para a sala de espera e ficou assistindo televisão. Estava um pouco cansada, pois passou a noite cuidado da mãe, então acabou dando um cochilo. Nesse instante estava em um corredor escuro, caminhou pelo local e mais a diante viu uma luz por baixo de uma porta, quando abriu viu sua mãe em pé vestida com uma roupa branca e falou:
– Seja muito feliz filha. Esse bebê que está na sua barriga é o início de um ciclo de felicidade. Eu vou ficar bem e deixar que siga a sua vida com sua nova família – a Sra. Margarete falou com a voz firme.
– Mãe que lugar é esse? Porque está vestida assim? Porque essa luz? – ela falou olhando por todo o local.
A Sra. Margarete não falou mais nada, então Ângela foi se afastando da sala, sendo puxada, não se sabe pêlo que. Nesse acordou quando escutou o seu nome.
– Ângela Machado – uma mulher de roupas verde estava olhando pra as pessoas sentadas.
– Sou eu – ela levantou o braço e foi em direção a profissional.
– Muito bem, venha comigo – elas caminharam – seu exame já está pronto a Dra. Marta está a sua espera na sala 5 e… – ela deu uma pausa, olhou para um pedaço de papel que retirou do bolso – você é a filha da Sra. Margarete Machado?
– Sou sim – ela balançou a cabeça afirmando o que acabou de dizer.
– O exame da sua mãe também está pronto e já foi analisado. Sua mãe se encontra no andar de cima quarto 12. Depois que for atendida pela Dra. Marta pode ir vê-la, o médico que dar uma palavrinha com a senhorita.
– Certo. Muito obrigada por me informar – ela se despediu e rumou para a sala indicada.
Na sala havia uma mesa, com comutador e alguns papeis. Mais a diante uma espécie de maca. Ângela entrou, sentou em uma cadeira a frente da mesa da médica e esperou esta falar.
– Muito bem, sei que não fomos apresentadas. Sou a Dra. Marta, eu analisei o seu exame e pode comemorar está grávida – ela deu um sorrido e observou a expressão de Ângela.
– Nossa, isso é… – ela fez cara de surpresa – muito bom.
– Sim, aqui está o resultado e antes de você ir quero fazer uma ultra-som para saber com mais precisão quantas semanas você está.
– Ah doutora a minha mãe está aqui no hospital e mais tarde fará uma cirurgia, então isso vai demorar muito, eu preciso vê-la – ela se mostrou preocupada.
– Não, isso vai ser rápido.
Elas saíram juntas, atravessaram um corredor, entram no elevador e chegaram à sala de exames. Ângela se sentou em uma cama, a médica arrumou o monitor, levantou a blusa da jovem, passou gel sobre a barriga dela e posicionou um instrumento no local. Não dava para entender a imagem no monitor, mas a médica observou-a com atenção. Ficou em silêncio por um tempo então:
– Você está com quatro semanas, o que corresponde a um mês. Ainda está muito novo, mas seu bebê está bem – ela estava limpando a barriga da jovem.
– Que bom – ela sorriu.
– Se você quiser que eu acompanhe sua gravidez será um prazer – a médica anotou algo em um prontuário.
– Bom saber, vou falar com o pai da criança e então veremos. Muito obrigada.
Uma onda de felicidade invadiu o coração de Ângela, tudo estava caminhando bem. Sua mãe melhorando e entrando fazendo parte de um tratamento, ela está grávida e irá se casar. Ela estava no elevador quando pensou em ligar pra Willian e contar a notícia, mas achou melhor esperar um bom momento para falar sobre isso. Ângela entrou no quarto e viu sua mãe deitada na cama e uma enfermeira arrumando uma almofada nas costas dela.
– Mãe, como foi com a médica? – a idosa olhou para a filha, mas não falou.
– Ela se comportou muito bem enquanto realizava exames nela, vou chamar a médica para falar com a você – a enfermeira saiu deixando as duas sozinhas.
– Não encontrei aquele médico que estava com a gente no apartamento – ela falou com um ar de tristeza.
– Ele deve estar ocupado – Ângela sabia que a mãe estava falando de Willian seu noivo.
O médico entrou no quarto trazendo um residente ao seu lado. Os dois pareciam estar animados.
– Senhorita Ângela está melhor? Eu soube que passou mal – ele falou olhando para Ângela.
– Estou sim – ela chegou perto do médico e sussurrou – eu prefiro não falar sobre isso aqui – passou a mão sobre a barriga fazendo o médico ter uma ideia do que ela queria dizer.
– Ah! Que bom. Então os exames de sua mãe foram finalizados, está tudo certo para ela fazer a cirurgia à tarde – o médico pegou o prontuário – ela vai passar por um procedimento no celebro, será introduzido um medicamento em um ponto específico, não se preocupe ela ficará bem – o profissional passou segurança.
– Entendi. Sei que a cirurgia demora um pouco, mas ficarei aqui pelo hospital a espera do fim do procedimento.
– Certo, então lhe deixarei informada.
Ângela estava sentada na sala de espera, celular no ouvido e olho no relógio. Já era mais de uma hora da tarde.
– Ela entrou agora a pouco para a cirurgia.
– Me deixe informado de tudo. Eu queria estar ai com você, mas estou cheio de trabalho que não posso adiar – Willian estava falando ao telefone enquanto digitava algo no computador.
– Sem problema, eu sei que está torcendo pela minha mãe. Eu lhe informo como foi à cirurgia. Beijo – ela desligou o telefone.
A jovem estava muito nervosa, não sabia se o procedimento daria certo, mas sua mãe está em boas mãos. Ela tocou a barriga com se esperasse algum sinal do bebê que está em seu ventre, porém este não pode dar sinal algum porque ainda é novo. Ângela não tinha ideia da reação que Willian fará ao saber que vai ser pai, mas ela espera que seja de felicidade. Tinha certeza que ele será um bom pai, amoroso e um pouco rígido. Ela ficou imaginando as roupinhas que irá comprar, o berço, a decoração do quarto. Pensar no bebê que terá lhe distraiu um pouco o pensamento. O tempo foi passando e nada de notícias de sua mãe, ela ficava apreensiva toda vez que alguém de jaleco branco aparecia pelo local. Chegou um momento que a televisão não estava lhe distraindo mais, muito menos os seus pensamentos. Ela pegou o celular e observou que já era cinco horas da tarde, a cirurgia estava se prolongando muito. Então ela caminhou para a recepção e resolveu falar com uma atendente:
– Por favor, minha mãe, a Sra. Margarete está em uma cirurgia com um neurologista, preciso de notícias – ela mostrou nervosismo.
– Espere um momento vou verificar isso – a atendente se levantou deixando Ângela no local.
A atendente não demorou a voltar, não parecia estar com uma expressão muito boa no rosto.
– Senhorita. Não me deram muita informação, mas o que posso lhe dizer é que houve uma complicação na cirurgia, porém o médico está revertendo o caso e mandou informar que vai ficar tudo bem – a atendente ao terminar de falar voltou sua atenção para seus afazeres.
Essa informação não deixou Ângela muito animada, ela ficou andando de um lado para o outro, estava apreensiva quando sentiu algo vibrar em sua bolsa, então retirou o celular e o atendeu imediatamente.
– Alo! – ela estava com as mãos tremulas.
– Oi amor, terminou a cirurgia? – Willian falou enquanto dirigia.
– Ainda não, espero que acabe logo – ela mostrou nervosismo na voz.
– Calma amor vai dá tudo certo, esse tipo de cirurgia demora mesmo – ele tentou tranquilizá-la.
– Me informaram que… Teve uma complicação na cirurgia – ela estava com a voz tremula.
– Se acalme amor, eu já estou chegando. Tome um pouco de água, se sente. Não vou demorar a chegar.
– Tudo bem, eu te espero – ela se despediu do noivo e voltou para a sala de espera.
No local haviam pessoas sentadas, algumas conversando. Ângela se virou para observar o movimento e percebeu que todos tinham uma expressão parecida com a que ela possuía no rosto. Nesse momento apareceu um funcionário alto de roupa verde que ficou parado em pé no local. Ângela se endireitou na cadeira e ficou a espera que lhe chamasse, porém ele acabou chamando Pedro Martins, então um homem meio careca se levantou e foi ao encontro do profissional. Não demorou muito para Willian chegar, deu um abraço, um beijo na noiva e se sentaram.
– Teve mais alguma notícia? – ele segurou a mãos dela que estava gelada.
– Ainda não – ela falou olhando para o chão – a atendente disse para esperar.
Eles estavam sentados perto da parede, então Willian se encostou a ela e deixou a noiva colocar sua cabeça sobre o peito dele. Ele passou o braço sobre ela a abraçando. Ângela preferiu ficar em silêncio enquanto estavam à espera de notícias, Willian preferiu assistir o noticiário. Ângela não achou que seria um bom momento para dar a notícia de estar grávida, queria um momento apropriado. Estava mais nervosa do que nunca e com medo que sua mãe não saísse bem da sala de cirurgia. Então uma enfermeira chegou ao local e chamou por Ângela, que insinuou se levantar, porém parou a ação até a profissional chegar perto dela e de Willian.
– Então a cirurgia acabou? – Ângela falou enquanto segurava a mão do noivo.
– Ainda não, só quero deixar vocês informados – a enfermeira respirou fundo – a Sra. Margarete teve uma complicação, quando foi aplicado certa substância em um local específico do celebro e pressão sanguínea dela começou a cair – a enfermeira observou que a jovem a sua frente estava nervosa – mas o médico conseguiu estabilizá-la, porém ele quis corrigir um pequeno nódulo que encontrou quando fez os exames na paciente.
– Nódulo? Não me falaram sobre isso – ela franziu a testa.
– O médico achou que era uma coisa pequena e preferiu não informar sobre isso para não deixar à senhorita preocupada – a enfermeira quis tranquilizar Ângela.
– Mas ele devia ter informado a ela tudo o que a Sra. Margarete tem – Willian falou com um pouco de irritação.
– Me desculpe, mas não posso questionar a conduta do médico. O que posso dizer a vocês é que a cirurgia se complicou um pouco, então fiquem calmos porque o médico que está com a idosa é muito experiente.
– Nós sabemos nos deixe informados, por favor – Willian mostrou estar apreensivo.
Ângela não sabia como realmente estava a sua mãe, as notícias que estavam chegando não eram nada animadoras. O dia era para ser de alegria, pois soube que estava grávida, porém não conseguia por no rosto nenhum sorriso. A noite chegou trazendo um pouco de frio para a cidade. Willian retirou seu paletó e colocou sobre os ombros da amada, estavam tão apreensivos que não conseguiam iniciar diálogo algum. O empresário estava muito cansado que dormiu com a cabeça encostada na parede e abraçando a noiva.