Lágrimas do Céu

Lágrimas do Céu – Capítulo XVIII

 

Já era quase 1 hora da tarde, William estava comendo uns petiscos, sentado em uma mesa mais próxima da entrada do local, esperava a sua convidada chegar, mas será que viria mesmo? O celular estava ao lado de seu prato, tinha a esperança de que se ela não viesse ao menos ligaria. Sua barriga estava roncando de fome, lembrou que tinha marcado uma reunião importantíssima logo mais, não poderia esperar muito. Desapontado escolheu um prato simples, o saboreou desgostoso, sozinho em meio a um restaurante meio agitado.

Sabia que sua amada estava chateada com ele e não era por menos, afinal tinha sido brutal a forma com que tentara retirar Ângela do seu local de trabalho. Será que ela o perdoaria? Como faria para reconquistá-la novamente? Estava a divagar por pensamentos que o deixava desgostoso e preocupado. Terminado o almoço, Willian deixou uns pedaços de cogumelos no prato, pagou a conta e rumou para o trabalho.

As cores, perfumes e formas chamavam muito a atenção de Ângela, estava passando uma tarde agradável. A tenda ao qual se localizava o festival das flores era só beleza, cada planta mais delicada que a outra. A jovem acabara de entrar em uma seção reservada as orquídeas, parou para admirar uma de cor azul que se localizava em um grande vaso quadrado. Nesse instante um homem de avental sujo de terra que estava do outro lado da bancada, onde estavam os vasos das flores chegou perto dela.

– Boa tarde, posso ajudar a senhorita – ele falou após deixar uma espécie de pá sobre a bancada.

– Ha! Não se preocupe estou apenas dando uma olhada – ela produziu um pequeno sorriso.

– Tudo bem, mas andei percebendo que gostou dessa orquídea. Desculpe lhe dizer, mas ela combina com seus olhos – Ângela corou suas bochechas – Bom ela é uma das mais raras que tenho aqui e posso lhe contar curiosidades sobre essa planta se desejar.

– Se não for incômodo, seria muito bom.

– Essa orquídea possui essa coloração não por espontânea vontade da natureza, foi modificada geneticamente pelo homem…

Eles ficaram um bom tempo conversando, o rapaz se mostrou muito educado, deu a ela de presente sementes e um saquinho com terra adubada de uma flor chamada Hortência da mesma cor da planta que estava admirando anteriormente. Ângela agradeceu o presente, saiu pela grande tenda encantada com as belezas da natureza, eis que nesse momento algo vibrou dentro de sua bolsa. Ela tratou de sentar em um pequeno banco que havia a li perto e atendeu a ligação. De início não identificou o número, porém pela voz soube que era uma funcionária do hospital ao qual sua mãe está interna, o coração dela deu um salta, não conseguiu falar direito. Sua mão começou a suar, quase derrubou o que estava segurando, seus olhos estavam marejados.

Andou a passos apressados saindo do local, pegou o primeiro táxi que encontrou e se dirigiu para o hospital. Seu coração estava batendo rápido de mais, ela pediu para o motorista ir o mais depressa que pudesse. Logo a jovem estava conversando com uma enfermeira, no segundo andar do prédio a um canto do corredor que dava acesso a sala de espera.

– A pressão sanguínea da senhora estava baixa, alem de ter ficado sem respirar, conseguimos a primeiro momento estabilizá-la, porém percebemos que necessitava de cirurgia imediatamente, por isso está sendo operada nesse momento… – a enfermeira explicou o que havia ocorrido com a paciente e Ângela acabou chorando, sem saber o que fazer – Não se preocupe ela está em boas mãos, trarei novas notícias assim que puder. Peço que a senhorita fique aqui na sala de espera aguardando, se quiser pode tomar um copo d’água no final do corredor – a enfermeira apontou a um canto diante delas – caso precise de algo pode se dirigir a recepção.

A jovem rumou para a sala de espera, sentou em uma cadeira vazia, baixou sua cabeça e continuou a chorar. Em sua mente estava a imagem dela quando pequena correndo em um gramado, o sol no alto do céu e sua mãe a correr atrás dela, pareciam estarem se divertindo. Ângela gostava muito de lembrar-se dos momentos felizes ao qual passou com a mãe. Os últimos anos ela não pode desfrutar de momentos de alegria, após ter o diagnóstico de que a Sra. Margarete estar com Alzheimer, sua vida de paz havia sido interrompida.

Aquele local era um dos que ela menos gostava de frequentar, porém era obrigada. Enfermeiros passavam, alguns outros funcionários entravam apressados, porém nenhuma noticia era dada sobre a Sra. Margarete. O sentimento de medo, de angustia e dor tudo tomou conta do coração da jovem nesta tarde que tinha tudo para ser a mais tranquila. Estava sozinha em meio a algumas pessoas que pareciam partilhar do mesmo sentimento no momento. Já estava a escurecer quando um homem vestido de verde e touca listrada na cabeça chegou até ela.

– Senhorita Ângela? – o homem a chamou tocando no ombro dela e se sentou em uma cadeira que estava à frente dela.

– Sim sou eu senhor – ela passou uma das mãos sobre o rosto enxugando algumas lágrimas.

– Sou o Dr. Mark, estava cuidando da Sra. Margarete, ela esta bem. Tive algumas complicações durante a cirurgia, mas consegui reverter à situação – Ângela manteve os olhos atentos no médico – Ela está estável na UTI neste exato momento, está sedada. Eu sinto muito ela não pode falar com a senhorita, mas tenho uma notícia não muito boa. Desculpa eu perguntar, a senhorita é o que da paciente? – ele se manteve serio durante todo o diálogo.

– Sou filha dela – a voz de Ângela estava embargada.

– Certo. Você ou a sua mãe tem plano de saúde? – a jovem arregalou os olhos de repente.

– Ha! Doutor eu… Não temos, infelizmente não. Por quê? – a jovem franziu a testa.

– A sua mãe vai necessitar de cuidados específicos, é uma paciente que tem Auzheimer. A doença avançou bastante, quando ela acordar pode ser que não reconheça você, mas ela terá que ser transferida para outro hospital. Aqui não podemos aprofundar o tratamento que ela necessita – nesse momento Ângela deixou escorrer mais algumas lágrimas pelo rosto – eu sinto muito, mas esse tratamento não existe pelo SUS, então terá que pagar com recursos próprios. Mas enquanto ela estiver aqui vamos cuidar dela. A senhorita terá um tempo para me dar uma posição, não vá embora, daqui a pouco mandarei chamá-la para que veja sua mãe – o médico deu um abraço na jovem – se precisar ligar para alguém pode ir até a recepção e falar com uma das atendentes – ele se despediu e a deixou sentada na sala de espera.

O medo que havia dentro do coração da jovem só aumentou o que faria para conseguir dinheiro para a transferência de sua mãe? Não possuía recurso algum no banco, nem mesmo plano de saúde, pois nunca pudera pagar por um. O coração dela estava batendo apressado de mais, não pretendia trabalhar neste dia, isso fora esquecido por hora. Olhou ao seu redor a procura de uma solução, porém esta não fora encontrada. Ela se levantou, então deixou cair sua bolsa, ela a apanhou e percebeu que dela saiu um cartão. Nele estava o número de Willian, neste momento uma luz havia surgido. Sentou-se novamente, ficou a pensar se devia ligar para o empresário. Estava muito chateada com ele, porém era o único que lhe estendera a mão nos momentos difíceis e várias vezes ele se ofereceu para ajudá-la. Pegou o celular, ficou olhando para ele por um momento.

Não era o momento de ser orgulhosa, precisava pensar na saúde de sua mãe e deixar as coisas de lado. Digitou o número com as mãos tremulas e esperou que a ligação fosse atendida o mais rápido possível. Não obteve resposta, tentou mais uma vez e enfim ouviu uma voz masculina do outro lado da linha.

– Alo! Quem fala?

– Willian é Ângela que está falando – ela possuía a voz embargada.

– Ângela que bom ter me ligado, porque não apareceu hoje mais cedo ao… – ele parou imediatamente o que pretendia perguntar – O que houve? – ele pode ouvir o som de choro – Calma, aconteceu alguma coisa? – a jovem não conseguia falar – Espere um pouco, onde a senhorita está? – Willian se mostrou preocupado.

– Estou… no hospital em que minha mãe está internada – ela se acalmou um pouco.

– Não se preocupe acabei de sair do trabalho, vou até você agora mesmo.

Willian estava dirigindo o seu carro, mudou a rota neste instante e rumou para o seu novo destino. O que será que havia ocorrido com a Sra. Margarete? Pelo tom da voz de Ângela não seria boa coisa. Ele estava mais preocupado, esqueceu que havia brigado com a amada, seguiu seu objetivo. Estacionou o carro próximo do hospital, deixou o paletó no automóvel e seguiu. Procurou no térreo por Ângela, porém não a encontrou, subiu algumas escadas e encontrou apenas alguns quartos. Andando pelo local viu o elevador abrir, entrou nele, apertou o número do segundo andar e esperou.

Ao chegar ao andar se dirigiu a sala de espera, olhou e adiante estava a jovem sentada a um canto com a cabeça encostada na parede. Foi ao encontro dela, sentou ao seu lado, ficou quieto por um instante então se abraçaram. Ângela estava precisando da presença e o apoio dele mais do que nunca.

– O que houve? Porque está a chorar assim? – ele passou uma das mãos sobre o rosto da jovem.

– Uma coisa ruim aconteceu hoje – ela engoliu em ceco.

– Me conte o que se passou. Será que posso ajudá-la? – ele tinha o semblante de preocupação. A jovem estava com as mãos tremulas em quanto falava, porém contou-lhe tudo em meio ao semblante de tristeza.

Willian escutou tudo com muita atenção, segurou uma das mãos enquanto ela contava o ocorrido. Sabia que sua amada estava passando por um momento muito difícil, entretanto estava disposto a ficar do lado dela.

– Ângela eu posso pagar pelo tratamento de sua mãe, ela pode ser transferida, podemos falar com o médico, resolver a papelada e fica tudo bem.

– Desculpe-me, mas não posso aceitar. Sei que você veio me dar apoio, agradeço muito. Isso para mim já basta – ela soltou a mão do empresário e se endireitou na cadeira.

– Deixe-me ajudar, sei que não tem recursos para pagar este tratamento.

– Vou fazer um empréstimo, trabalharei mais. Procurarei outro emprego, posso trabalhar de manhã, à tarde e também à noite – ela mostrou estar nervosa.

– Assim não terá vida, pode acabar adoecendo. Pode levar muito tempo para pagar o empréstimo e se precisar de mais dinheiro, o que fará? – Ângela coçou a cabeça, o empresário estava realmente certo, porém ela não queria ceder naquele momento -Vamos fazer o seguinte, por hoje não precisa me dar à resposta. Quando estiver em casa sozinha pense, só então me responda – ela olhou para o empresário, porém não disse nada.

Nesse momento uma enfermeira chegou ao encontro deles avisando que a paciente já estava liberada para receber visitas, porém eles tinham pouco tempo para vê-la. Ângela entrou primeiro na UTI, pode observar que sua mãe estava adormecida encima de uma cama, com aparelhos ligados ao corpo e com um tubo em sua boca. A imagem não lhe agradava, mas ver que sua mãe estava estável há deixava um pouco calma. Willian ficou com ela a durante um tempo da visita, mostrando estar realmente preocupado. O empresário saiu um pouco do local deixando mãe e filha sozinhas.

O empresário se dirigiu a recepção, falou com uma atendente e logo estava conversando com o médico que estava à frente do caso da idosa. Eles ficaram um bom tempo discutindo detalhes sobre a transferência da paciente. Fora dito que para a idosa ser transferida para outra unidade de saúde era preciso que Ângela, a responsável pela paciente assinasse um temo de consentimento. Willian sabia que não seria fácil convencer a jovem a aceitar sua ajuda, teria que pensar em uma estratégia o quanto antes.

Willian falou ao médico que queria muito ajudar nesse caso, só que Ângela não queria aceitar. O médico não queria opinar na situação, mas deu uma ideia que alegou, o empresário. Ele pode fazer uma doação anônima para Ângela usar no tratamento da mãe. O profissional de saúde disse ainda que seu nome não será revelado em nenhuma circunstância. William ouviu com atenção toda à explicação do médico e como proceder da forma adequada.

Enquanto isso a jovem ficou segurando a mão da mãe por todo o momento que estava com ela, o rosto entristecido. Willian entrou no local após ter conversado com o médico, estava acompanhado de uma enfermeira que avisou que a visita havia encerrado. Eles saíram juntos do local, Willian levou Ângela para casa, porém no caminho não conversaram a noite preferia ser encerrada assim. A jovem agradeceu a companhia do empresário, desceu do carro, porém ele fez o mesmo.

– Espero que descanse, passou por muita coisa hoje.

– Não sei se vou consegui, mas vou tentar – ela enxugou uma pequena lágrima que caiu sobre seu rosto.

A lua estava reluzente no céu, a noite estava muito bonita, mas infelizmente não havia sorrisos no rosto dos dois no momento. Willian chegou perto da jovem, deu-lhe um abraço apertado, sentiu seu perfume doce. Foram se separando devagar, porém seus corpos queriam permanecer junto um ao outro, então sem esperar ele a beijou. Toda a preocupação fora deixada de lado, a desavença esquecida e o sentimento fora transferido para um ato já realizado outras vezes. Ficaram assim por um bom tempo. Para Ângela parecia que estava recebendo uma dose de remédio neste momento, só que de forma paliativa, remendando algumas feridas de seu coração.

Enfim estava em sua cama, cortina meio aberta, lençol sobre o corpo, porém o sono não havia chegado. Revirou-se na cama e se lembrou que tinha se esquecido de avisar no trabalho que faltaria, pensou em pegar o telefone, porém desistiu da ação, deixou isso para o dia seguinte. Então foi até o seu guarda roupa, retirou um frasco e extraiu um comprimido, pegou um copo com água e engoliu o remédio. Não gostava de fazer isso, mas o dia estava pedindo ações estremas. Voltou para a cama, ficou com a imagem e o gosto do beijo nem seus lábios naquela noite.

Ângela estava apaixonada pelo empresário, porém havia muitas coisas que a impedia de ficar com ele. Tinha alguns segredos que não queria que ele e nem ninguém soubesse. Achava que não era mulher para um homem rico, educado, do porte dele. O que os outros achariam disso? O destino dela era continuar a trabalhar no bordeu, viver sozinha sem amores e ter como preocupação apenas a sua mãe. A cabeça dela começou a doer, mas como estava sobre efeito de remédio, alguns minutos depois acabou adormecendo.

Alguns minutos depois sua mente a levou para um sonho que tinha tido há dias atrás, em que estava amarrada a cama, nua e um homem de feições grosseiras chegou até ela, beijou-a com força. O homem a contragosto da moça acabou fazendo sexo com ela. Ângela se revirou na cama, a imagem estava mais nítida dessa vez, ela pode ver claramente o rosto do homem. A cada avanço do pesadelo a jovem se remexeu mais e mais na cama até que acordou dando um grito, ficou sentada na cama, testa pingando de suor. Estava assustada, se levantou, acendeu a luz, pegou o copo com água que havia deixado em um móvel perto da cama, quase não conseguiu beber seu conteúdo, pois suas mãos estavam tremulas. Foi até o banheiro, jogou água sobre o rosto, o enxugou e voltou para a cama. Demorou a dormir, porém não teve mais pesadelos.

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