Lágrimas do Céu – Capítulo XVII
Um grito foi ouvido no quarto, Willian acordou surpreso e olhou para a mulher que estava junto a ele. Esta havia se sentado, o rosto pálido, possui suor no rosto e o medo pairava sobre ela. O empresário tratou de se virar para a jovem com olhos atentos esperando alguma nova reação, porém percebeu que ela estava paralisada. O que será que tinha acontecido para ela gritar dessa forma.
– Ângela o que aconteceu? Você está bem – Willian estava preocupado – me fale alguma coisa – ele a sacudiu de vagar, até que a jovem acabou “acordando”.
– Ha! Willian está ai ainda – ela estava com a voz embargada – eu gritei?
– Sim, me assustou muito sabia. Mas porque fez isso? – ele mantinha os olhos na jovem.
– Eu… – ela engoliu em seco – estava sonhando, não, na verdade tendo um pesadelo ou me lembrando de algo… Que seja – ela passou uma das mãos sobre o rosto até chegar aos cabelos os bagunçando.
– Tudo bem, mas o que você viu?
– Não sei se poderei lhe contar – ela se virou ficando de costas a Willian.
– Não se preocupe, não contarei a ninguém sobre esta conversa. Você sabe que pode confiar em mim, não tenha medo. Você tem tido esse sonho muitas vezes? – ouve uma pequena pausa.
– Com a pessoa do sonho sim, mas de um tempo para cá os sonhos estão se repetindo – Willian sentou ao lado da jovem e ficou a espera da resposta de sua primeira pergunta que fez a ela – Nele eu estou em um quarto meio escuro, deitada na cama, as coisas ao meu redor estão rodando – ouve uma pausa – então percebo que estou com meus braços amarrados e escuto um barulho – ela se levanta, vai em direção a janela do local, Willian se levanta e a acompanha.
– O que produziu esse barulho?
– Willan, eu acho melhor parar por aqui – ela não parecia estar bem.
– Não fique com medo, pode me contar, é bom colocar para fora. Coisas ruins não podem ser guardadas – ela voltou para a cama, sentou nela, respirou fundo e continuou.
– Então depois que a minha vista melhorou um pouco pude perceber que um homem havia entrado no local e vinha em minha direção – ela engoliu em ceco novamente – Não sei se devo continuar – o empresário segurou na mão dela.
– Pode continuar, estou aqui com você – ele deu um beijo na mão dela.
– Tudo bem, eu continuo. O homem veio em minha direção e… – ela fechou e abriu os olhos de repente – ele fez coisas ruins comigo.
– Que tipo de coisas? – o empresário franziu a testa.
– Bom, eu estava nua – ela estava com a voz embargada.
– Ha! Eu entendi, não precisa continuar, mas quem era o homem? Deu para você vê o rosto dele? – ele parecia preocupado.
– Eu prefiro não falar sobre isso, já disse coisas de mais – ela se levantou pegou seu vestido e tratou de colocá-lo.
– Pode pelo menos me dizer se conhece o homem do sonho? – Willian não queria deixar essa conversa terminar, estava curioso.
– Eu… Talvez o conheça sim, mas não o vejo a um bom tempo. Podemos, por favor, parar por aqui – ela arrumou a alça do vestido e tratou de calçar as sandálias, mas o empresário, que ainda estava apenas de trajes íntimos foi até ela a abraçou, deu um beijo no pescoço e depois em sua boca. Isso acabou deixando a jovem mais calma.
Não demorou muito para Ângela estar sentada na sala, teve ligada, mas sua mente estava longe de mais. A moça do noticiário acabara de anunciar que o time da cidade havia avançado na disputa do campeonato estadual, apareceu imagens do jogo, entretanto Ângela estava com os olhos virados para a grande tela, mas seus ouvidos e mente estava em outra orbita. Willian chegou ao local, estendeu a mão para ela e saíram juntos até o estacionamento do prédio. Estavam a caminho de uma cafeteria que havia perto da li, passaram o caminho todo sem trocarem sequer uma palavra.
Minutos depois eles estavam sentados em um local aconchegante, pequeno e tomando seu café da manhã. Era um sábado calmo, a frente do local dava para uma praça, nela havia algumas pessoas caminhando.
– Está mais calma? – Willian falou depois de dar um gole de seu café.
– Estou sim. Podemos depois andar um pouco por aquela praça a li à frente?
– Claro que sim, será muito bom.
Enquanto comiam Willian ficou imaginando quem seria o homem que apareceu no sonho de Ângela? Porque havia feito aquilo? Sabia que não seria fácil ter essas respostas, pois Ângela não parecia querer lhe contar. Então ficou lembrando-se da noite em que a encontrou com o filho do seu amigo, a imagem a sua mente não o deixava nada bem. Lembrou também que naquela noite no momento em que estava à espera de sua amada, do lado de fora do bordel, sentado no meio fio acabou lendo um pouco o conteúdo do diário. Mas porque havia se lembrado disso? Parou um pouco com seus pensamentos, tentou se lembrar o que havia escrito no diário, então veio algumas coisas em sua mente.
Willian observou que sua amada estava quieta, acabara de pegar uma revista que havia a um canto do local e ficou lendo-a. Na capa tinha a imagem de uma bela mulher ruiva, magra e estava escrito “a moda da beleza natural”. Então ele olhou para Ângela e viu que o que continha na revista já estava projetada a sua frente. Minutos depois voltou a pensar nos últimos acontecimentos e lembrou que se esquecera de perguntar a Ângela quem era Tom? Mas ela ficaria surpresa com a pergunta e o indagaria querendo saber onde ele havia escutado tal nome. Tinha algumas perguntas a fazer, porém não podia indagar a jovem sobre isso se não ela acabaria descobrindo que fora intrometido e leu o diário da Sra. Margarete.
Ângela baixou a revista, olhou para Willian que deu um pequeno sorriso, chamou o garçom, pagou a conta e logo estavam andando pela praça. O sol estava brilhando no céu, algumas arvores estavam floridas, o empresário foi até uma mais baixa, retirou uma flor branca e deu à jovem. Andaram por um tempo até resolverem sentar em um dos bancos da praça. O empresário pensou em perguntar algo sobre o diário, porém como faria isso sem parecer que o tinha xeretando seu conteúdo.
– Ângela desculpe eu perguntar, mas onde conseguiu aquele diário? – ele falou olhando para ela.
– Bom eu estava em casa vasculhando uma caixa que tem uns pertences da minha mãe, então acabei o encontrando por acaso.
– Porque você estava com ele no dia que a deixei em casa? – Willian estava avançando lentamente até poder chegar onde desejava.
– Eu pensei que poderia ler o conteúdo dele, acho que minha mãe não iria se importar afinal fala um pouco sobre mim – após dizer isso a jovem colocou as mão sobre a boca mostrando que fizera algo que não deveria.
– Sobre você? – Willian ficou surpreso.
– Esqueça o que lhe disse – ela ficou nervosa – Eu não posso falar mais nada.
– Espere um pouco, se na foto é você e sua mãe, atrás tem escrito “cachinhos dourados”, é assim que ela lhe chama não é? – ele falou gesticulando com as mãos.
– Sim, mas não me peça para falar mais nada – ela estava nervosa.
– Então quando a Sra. Margarete fala “minha cachinhos dourados” ela se refere a você. Então estou começando a entender – ele coçou a cabeça.
– Como assim? Você não… – ela colocou uma das mãos sobre a boca – Você leu o diário? Como pode? – ela deu um pequeno empurrão no ombro dele.
– Ângela me desculpe, não tive a intenção. Eu estava a sua espera sentado fora do bordeu, sei que não devia, mas acabei lendo, me desculpe.
– Você não deveria ter feito isso – ela se levantou do banco – Vou embora, não precisa me seguir – ela andou a passos largos para fora da praça, porém o empresário a segurou pelo braço.
– Não vá, eu a levo para casa. Desculpe-me não era minha intenção – ele continuou segurando o braço da moça – Não se preocupe, o que li ficará só para mim. Deixe-me levá-la para casa – ele enfim soltou o braço da jovem.
– Tudo bem, aceito a carona, mas estou muito chateada com você.
Os dois saíram rumo ao local em que o carro do empresário estava estacionado. Ângela andou o caminho com uma expressão fechada no rosto, não pretendia realizar nenhum diálogo, o dia já fora cheio de mais para ela. Porém, Willian não havia recebido todas as respostas que desejava, pensou em esperar a moça aceitar as suas desculpas, mas não resistiu e a indagou:
– Sei que eu não devia falar mais sobre isso, mas poderia me dizer quem é Tom? – Willian não pode ver que a jovem acabou ficando chateada após a indagação.
– Não sei do que o senhor está falando – ela deu de ombros.
– Me desculpe Ângela, mas não precisa ficar assim. Você sabe que pode confiar em mim, afinal eu te amo – ele parou o carro no sinal em uma rua larga.
– Willian, eu já falei de mais por hoje. Podemos continuar o caminho em silêncio, por favor.
Willian obedeceu ao pedido da jovem, andaram calado o resto do caminho, nem ao menos ele ligou o rádio ou colocou alguma musica para tocar. Ângela estava muito chateada com ele, já estava por causa dele ter se intrometido no seu trabalho e agora por ter lido algo que não o pertencia. Havia coisas que Ângela não queria que ninguém soubesse, nem mesmo alguém como ele. Enfim eles chegaram à casa da jovem, ela tratou de descer o mais de pressa possível, mas antes de entrar no prédio o empresário se adiantou:
– Espere Ângela, me prometa que não vai mais trabalhar naquele bordeu – ela franziu a testa.
– Como assim? Não posso largar o meu trabalho, tenho despesas você sabe disso – ela mostrou estar ainda irritada com ele.
– Eu posso lhe dar um emprego melhor. Sabe que também posso pagar pelo tratamento de sua mãe.
– Não precisa se preocupar, eu me viro sozinha. Que emprego pode me oferecer? – Willian pensou que a jovem estava mostrando interesse.
– Na minha empresa, posso ver algo para você lá.
– Não sei se seria uma boa ideia, as pessoas podem falar. Eu e você andamos tendo relação intima de mais.
– Não se preocupe com isso, é apenas um emprego o que faremos fora dele não cabe aos outros se preocuparem. Isso não vai me atrapalhar, na verdade ficarei feliz e menos preocupado com você.
– Já conversamos de mais hoje, até mais – ela fechou a porta do carro e rumou para dentro do prédio sem deixar que o empresário pudesse dizer mais alguma coisa.
A noite chegou vestindo a cidade com seu manto preto com pequenas luzes douradas. Ângela estava pronta para descer, queria trabalhar e esquecer-se dos problemas que a assola. Ela fez como de costume, dançou no show e depois ficou a andar pelo salão. Esta noite a dona do bordeu resolveu deixar um espaço no local para que os homens pudessem dançar com as moças. Ângela estava gostando muito disso, dançou bastante até que acabou sendo puxada por um homem bem afeiçoado que ela já conhecia.
– Sabia que você não teria feito o que lhe pedi – Willian falou ao ouvido dela. Ângela o largou e começou a andar pelo salão a fim de manter distância dele – Ângela não vá, preciso falar com você – a voz dele estava um pouco alta por conta do som do local.
Eles subiram uma escada grande que dava para o andar de cima, ela estava tentando ao máximo se afastar do empresário. Misturou-se a algumas pessoas que passavam no momento, ele acabou perdendo-a de vista. Willian estava determinado a ter ela em sua vida, entretanto não queria que ela levasse mais essa vida. Ele olhou por todos os lados até a encontrar ao fundo de um corredor, chegou perto dela e sem pensar segurou o seu braço.
– Venha agora comigo, já lhe disse que não quero você trabalhando aqui – ele falou com a voz forte com um tom de sermão.
– Eu não vou a lugar nenhum. Deixe-me – ela puxou o braço e conseguiu se livrar dele.
Correu pelo local, desceu as escadas, Willian atrás dela. O dia estava agitado, a casa estava cheia. O empresário acabou batendo em uma garçonete que derrubou um copo no chão fazendo um estardalhaço, porém ele não ligou e continuou indo atrás da jovem. Ângela foi até o bar onde estava um dos seus colegas de trabalho, pediu para ele não deixar que Willian a levasse embora, porém antes que ela terminasse de dizer ele chegou e a pegou pelo braço.
– Deixe a moça em paz, ela não quer nada com o senhor. Aqui temos outras, pode escolher – o barman falou com a voz forte e soltou a moça das garras de Willian.
– Eu não vim para me divertir. Ela me conhece, não quero que ela trabalhe aqui, este lugar não é digno para uma moça como ela – Willian falou apontando para frente do barman.
– Então vá embora, ela está a trabalho – Willian não queria deixar Ângela ali, então acabou dando uma tapa na cara do funcionário.
Isso fez iniciar uma briga, o rapaz acabou dando um soco no nariz de Willian, o mesmo partiu para cima do funcionário. As pessoas que estávamos perto se afastaram, pois um acabou empurrando o outro e caíram no chão. Ângela não estava acreditando no que estava acontecendo, não achou que Willian fosse capaz de tanta brutalidade. Eles acabaram se levantando, continuaram atacando um ao outro com socos até dois homens apareceram, apartaram a briga. A dona do bordeu não tardou a aparecer, chamou Ângela para uma conversa particular e pediu para que um dos seguranças do local não deixasse que Willian saísse.
Elas passaram por de trás do bar, por uma passagem secreta e chegaram a uma sala pequena em que havia uma mesa de madeira, duas cadeiras acolchoadas e um móvel comprido no outro lado do local. A dona do bordeu que vestia um longo vestido preto com detalhes dourados sentou a frente da mesa e apontou para uma das cadeiras afim de que Ângela pudesse sentar.
– Primeiro quem é o homem que estava a brigar com Gaspar? – a senhora estava com uma expressão seria.
– É um homem que eu conheci há um tempo a trás, mas não sei por que ele veio atrás de mim e fazendo isso – Ângela estava com um ar de preocupação na voz.
– Nunca aconteceu uma coisa desse tipo aqui neste estabelecimento. Espero que não volte a ocorrer – a senhora falou com firmeza – Se você tem algo com esse homem, que deixe isso para fora daqui. Se isso ocorrer novamente, vou ter que tomar medidas drásticas, está entendido?
– Sim senhora, não vai acontecer novamente – Ângela se levantou e saiu do local.
Willian tinha sido levado para um lugar reservado ao lado do palco em que acontecem os shows. Um guarda estava ao lado dele para garantir que nada mais iria acontecer de ruim nesta noite. Ele não sabia o que iria acontecer daqui por diante, mas sabia que não seria nada bom. Sua tentativa frustrada de tentar retirar Ângela do bordeu fracassou, agiu como um brutal deveria ter pensado em outra forma mais sensata para realizar sua ação. O salão voltou à normalidade, algumas pessoas estavam dançando colados uns nos outros, já outras sentadas às mesas conversando.
Minutos depois uma senhora de vestido preto que falara com Ângela chegou até o empresário o chamando para irem até o escritório dela. Ela pediu para o guarda ficar do lado de fora na porta e não deixasse que ninguém os atrapalhasse. Willian entrou loco depois da senhora, esta se sentou no mesmo lugar de antes e pediu para que ele sentasse também. A senhora abriu a gaveta da sua mesa, pegou um leque de penas e ficou se abanando olhando atentamente para o homem a sua frente. Estava calada, assim ficou Willian a esperar que ela iniciasse algum diálogo.
– Já sei o que lhe trouxe aqui, foi Ângela não é? – ele se manteve em silêncio – Pois bem, sei que já estou acostumada a ver alguns homens se interessarem pelas moças desse local, porém nenhum fez o que o senhor acabou de realizar esta noite.
– Sinto muito, não pretendia causar tamanho problema para seu estabelecimento e muito menos para Ângela, só quero dar uma vida melhor para ela – Willian falou olhando para a senhora.
– Não quero me intrometer em sua vida e muito menos na de Ângela, mas acho que vocês deviam conversar melhor fora daqui. Se quiser um conselho, vá com clama com ela, a moça está passando por um período difícil – ela continuou se abanando.
– Eu sei que a mãe dela está internada no hospital, ela me contou. Por isso que quero ajudá-la. Não estou atrás dela simplesmente pela profissão que tem, eu nem sabia que ela trabalhava aqui há um tempo – ele observou à senhora baixar o leque e colocar uma das mãos sobre o queixo.
– Bom, não sei ao certo o que pretende com ela, mas vá com calma. Se ela está sentindo algo pelo senhor acabará cedendo um pouco. Peço-lhe que não faça mais o que fez hoje, prefira procurar ela fora daqui ou quando estiver calmo, sem forçá-la a nada – ela falou com firmeza na voz.
– Tudo bem, eu não pretendo brigar novamente aqui por causa dela. Posso falar com Ângela antes de ir embora? – a senhora franziu a testa.
– Não acho uma boa ideia, ela não vai querer falar-lhe nada hoje – a senhora se levantou abriu um armário ao lado direito do local, retirou uma garrafa pequena e gorda, um copo e despejou um pouco do conteúdo amarelado nele – Está servido?
– Não obrigado. Será que posso então deixar um recado para ela com a senhora? – Willian falou observando à senhora dar um grande gole da bebida.
– Acho uma ideia sensata – ela foi em direção a sua mesa, pegou um pedaço de papel e uma caneta que estavam largadas ali – Tome, escreva aqui que eu entregarei a ela.
O empresário tratou de escrever em poucas linhas a fim de tentar não perder o contato com a amada.
Ângela,
Desculpe-me pelo acontecido, sei que está chateada comigo, mas espero que entenda que faço isso por amor. Quero me desculpar com a senhorita pessoalmente, pode me encontrar em um restaurante ao lado de minha empresa na próxima segunda-feira às 12:30. Preciso muito falar com a senhorita, eu te amo muito. Deixarei aqui o endereço e meu telefone caso queira me procurar.
Restaurante – Il Vienna
Rua Macedônia, Bairro dos Bancários, na esquina perto do Banco do Brasil.
Ele escreveu seu telefone, assinou e dobrou o papel, escreveu o nome de sua amada e o entregou à senhora. Despediu-se dela e saiu do escritório, disse ao guarda que não precisava ser escoltado para fora do local, pois não pretendia fazer mais nada ali. Ele foi para casa desgostoso e sem a presença de sua amada.