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Lágrimas do Céu

Lágrimas do Céu – Capítulo XV

 

Ao chegar a seu apartamento tratou logo de guardar o carro na garagem, desligou o som, pegou uma pasta que estava no banco traseiro e travou as portas. Enquanto caminhava em direção ao elevador colocou a mão nos bolsos a procura do celular, mas não havia nada, então voltou ao automóvel, abriu a porta do passageiro, nesse momento observou que tinha um caderno, pegou-o e também seu celular e caminhou para o elevador.

Já em seu apartamento sentado na sala, televisão ligada no jornal, uma xícara de café no pequeno centro e o caderno do lado dele no sofá. A Jornalista anunciava que no lado leste da cidade havia ocorrido um assalto em uma casa lotérica. William assistiu as notícias dando pequenos goles de seu café e esperou a jornalista dar uma boa noite habitual para deixar a xícara de lado e desligar o grande aparelho a sua frente.

William estava cansado, desfez o nó de sua gravata, mas como era uma noite quente retirou-a assim como sua camisa, deixando o vento que entrava pela janela o refrescar. Olhou para o seu lado esquerdo, pegou o caderno, que era preto de capa dura. Não sabia a quem ele pertencia, então o abriu e leu na primeira página “Sra. Margarete Gomes”. Nesse momento a imagem de uma senhora deitada na cama do hospital veio à mente do empresário, mas como este objeto havia chegado ao seu carro? Pensou um pouco e verificou que Ângela pode ter o deixado cair.

Ele não pensou em ler-lo, mas o foliou rapidamente o fazendo verificar que se tratava, na verdade, de um diário. Neste momento caiu ao chão uma foto, nela tinha a imagem de uma mulher branca, cabelos claros, um sorriso no rosto e junto a ela uma menina de cabelos loiros, branca e olhos muito azuis. William ficou observando a foto com atenção, as duas tinham traços parecidos, o que fez pensar que eram mãe e filha.

O empresário ficou a imaginar quem seriam na foto, mas logo percebeu que a jovem mulher parecia muito com a Sra. Margarete. Resolveu virar a foto para verificar se havia alguma coisa escrita e para sua surpresa tinha “12 de março de 2004 – Margarete e Cachinhos Dourados”. Logo uma dúvida invadiu sua mente, quem seria a Cachinhos Dourados? Será que ele a conhecia ou apenas a dona do diário sabia quem é? Dúvidas pairaram no ar, mas William tratou de guardar a foto onde a encontrou, colocou o objeto sobre um móvel de seu quarto e deitou para descansar.

O dia estava agitado na empresa, pois uma de suas melhores máquinas acabara de dar defeito, fazendo um setor inteiro parar de funcionar, atrasando todas as encomendas. William estava muito preocupado, tinha prazos a cumprir, não poderia atrasar nem um dia sequer. Telefone a mão ele falava com um técnico, explicou toda a situação e desligou poucos minutos depois.

O empresário se endireitou em sua cadeira, se debruçou sobre uma pequena pilha de documentos. Estava prestando atenção a cada detalhe que continha nos papeis e só assim assinou um por um. Estava muito ocupado e ao mesmo tempo preocupado, pois precisava fazer a empresa melhorar suas vendas. William não havia ainda dado início ao projeto da sua filial na Argentina, mas após resolver o problema da máquina defeituosa e de verificar toda a papelada a sua frente tiraria um bom tempo para pensar nisso.

O dia passou rápido na grande cidade de João Pessoa, as ruas estavam calmas, pois era uma quinta-feira, um pouco fria. Ângela estava terminando de ajeitar sua maquiagem quando sua colega de trabalho entrou no quarto:

– Ande logo Ângela, não podemos nos atrasar. Hoje temos poucos clientes, se demorarmos muito eles podem acabar indo embora – a moça de vestido preto falou segurando a porta.

– Já estou terminando, pode ir descendo, chegarei a instantes – ela falou mantendo os olhos fixos no espelho e terminando de passar lápis em um dos olhos.

A moça fechou a porta deixando Ângela sozinha no local, que não tardou a descer as escadas e se dirigir ao palco ao qual vai realizar um pequeno show junto a outras belas mulheres. O piano soou como habitual, as moças realizaram uma apresentação muito bem ensaiada, os homens não tiravam os olhos delas, davam salva de palmas e assobios. Ângela se concentrou na dança, tratou de prestar atenção na musica que estava tocando, mas uma coisa não saia da sua mente, a imagem de William a frente do palco lhe observando com uma expressão não muito boa no olhar.

Ela continuou dançando até ouvir a musica ir diminuindo, fazendo-a perceber que estava no fim. As jovens moças finalizaram a dança em meio a aplausos de vários homens que estavam à beira do palco. Ângela queria sair logo do local, se dirigir a um quarto, ficar sozinha, mas sabia que isso seria impossível de ser realizado. Desceu as escadas juntamente com as demais colegas, sentiu um braço a segurar firme e observou que era um homem de aparência jovem, não tanto quanto ela, porém bonito.

– Poderia ter uma noite com a senhorita? – o jovem se mostrou educado, mas Ângela não queria aceitar o convite, porém não pode recusar, afinal estava a trabalho.

– Sim senhor. Podemos subir para um dos quartos lá em cima – ela apontou para uma escada em espiral.

O jovem rapaz se mostrou muito atraente, bem vestido, educado, carinhoso, mas isso não fez Ângela deixar de pensar no empresário. Fez tudo aquela noite como sempre realiza, deixou as outras coisas que perpassavam pela mente de lado. Não foi uma noite muito boa, pois depois de ter encontrado com William no bordel, não se sentiu mais a vontade naquele local. Ficava sempre em alerta, pensando que a qualquer momento ele pode aparecer querendo tira-la de lá.

A jovem adormeceu deitada no peitoral do rapaz, não era a noite que desejara, mas sabia que receberia uma boa gorjeta por isso. Para ela a satisfação do cliente estava em primeiro lugar, acima de qualquer coisa. Ela acordou e verificou que o rapaz a acariciava com delicadeza. Ela levantou a cabeça para observá-lo.

– Bom dia moça bonita – ele deu um beijo na cabeça da jovem que ficou calada.

O rapaz saiu de baixo da jovem a deixando de lado, virou de frente a ela e deu um beijo. Eles acabaram dormindo despidos. Enquanto a beijava o rapaz fazia carinho nela, mas não queria prolongar o ocorrido na noite passada. Nada aconteceu como desejava o rapaz não queria ir embora, isso deixou Ângela chateada, mas não demonstrou. O dia foi longo assim como a noite passada, até que finalmente o rapaz vestiu sua roupa e falou:

– Obrigado por ter me feito companhia – ele chegou perto da jovem querendo beijá-la, mas esta desviou da ação. O rapaz havia vestido suas calças, a camisa aberta deixou a mostra seu peito branco e com músculos a mostra – me desculpe, sei que não devemos ter alguma intimidade, mas posso saber seu nome? – ele falou olhando para Ângela que terminou de abotoar o sutiã.

– Melhor não, me desculpe. Nós aqui não podemos dizer nossos nomes para não criar vinculo. Espero que o senhor compre… – nesse momento o jovem a atrapalhou beijando-a – Senhor, eu acho melhor ir embora. Já passou da hora do expediente – mas o jovem não estava ligando para isso e deu novamente um beijo nela.

Logo depois o rapaz ter vestido parte de sua roupa, sentou na cama e ficou observando Ângela terminar de colocar o vestido. Não parecia que o rapaz quisesse deixar o local, passou as mãos sobre o cabelo e falou:

– Me desculpe por algo, mas gostaria de sair comigo para comermos algo? – Ângela não se surpreendeu com o pedido, pois já havia sido chamada para sair várias vezes e recusou todas.

– Não posso como lhe disse, não podemos ter vinculo fora daqui com os clientes – ela estava à frente de um espelho passando a mão embaixo dos olhos retirando o borrado de sua maquiagem que estava a se desmanchar.

– Eu sei, mas seria apenas uma vez. Não se preocupe é por minha conta, serei respeitoso com a senhorita – ele falou enquanto amarrava o cadarço do sapato.

– Me desculpe, mas não posso aceitar. É um jovem muito bonito, porém é como eu lhe disse – ela pegou as sandálias, o colar que havia o deixado sobre um móvel e saiu do local.

Não tardou para Ângela estar em baixo do chuveiro quente no banheiro do bordeu. Não possui mais o rosto borrado de maquiagem, enxugou os cabelos, vestiu um vestido estampado que lhe caiu muito bem. Olhando para o espelho penteou os cabelos observando que não possui uma expressão de alegria. Não se importou, continuou a se arrumar, queria ir para casa e ficar sozinha.

Desceu as escadas, verificou que uma mulher de cabelos negros estava varrendo o salão e não deu atenção a Ângela. Esta saiu do prédio, com uma bolsa no ombro direito seguiu seu rumo. Mais a diante encontrou o rapaz que havia dormido com ela, percebeu que a esperava. Não queria ter nada com ele, então não deu atenção e continuou seu trajeto.

– Moça espere, por favor. Aceite sair comigo – Ângela continuou não dando atenção, mas o rapaz era insistente. Chegou perto dela e a segurou pelo braço – me desculpe, mas estou muito atraído pela senhorita, não sinto isso desde que terminei meu ultimo relacionamento.

– Senhor se quer ter mais algo comigo volte mais tarde para o bordeiu e teremos mais uma noite, mas só isso que podemos ter nada a mais que isso – ela se virou e saiu descendo a rua.

– Senhorita eu não quero apenas ter mais uma noite com você. Eu senti algo que não sei explicar – Ângela parou na esquina e virou para fitar o rapaz e repetiu novamente.

– Não podemos ter nada fora do meu estabelecimento de trabalho, quero que o senhor entenda – mas parecia que a jovem estava falando com o vento.

Ângela atravessou a rua, andou até o ponto de ônibus e ficou a espera de seu transporte. Minutos depois um carro preto parou a frente dela, o vidro baixou e ela pode perceber que era o rapaz.

– Eu não vou sair daqui, vou segui-la por toda a cidade se for preciso – dessa vez Ângela não escondeu a expressão de irritação – vamos apenas almoçar, conversar um pouco e eu prometo deixá-la ir – a jovem coçou a cabeça e percebeu que não tinha alternativa se não entrar no carro, desejou que nada de ruim acontecesse naquele dia.

Ela abriu a porta do automóvel, sentou no banco e ficou com uma expressão fechada no rosto. O rapaz dirigiu pela cidade com calma, ficaram calados por um tempo.

– Onde a senhorita gostaria de comer? Comida italiana, francesa, japonesa. Deixo a sua escolha – ele mantinha os olhos fixos na estrada.

– Desculpe, mas não estou com fome – mentiu – mas podemos ir ao restaurante mais próximo de onde estamos – o rapaz ligou um aparelho que estava no painel do carro.

– Restaurante, por favor – minutos depois o aparelho falou respondendo ao comando e indicou uma rota em que o rapaz logo identificou o local – espero que goste de comida italiana.

O rapaz quis quebrar o gelo que estava entre os dois ligando o rádio, mexeu um pouco nele e parou em uma musica que parecia um rock só que lento. Ele conhecia a musica, começou a cantar erra da banda Maroon 5. Ângela observou a empolgação dele, não se conteve e riu da cena. Isso os deixou descontraídos e aliviou a tensão.

Não tardou para chegarem ao restaurante, o local possui uma bela fachada em xadrez verde com letras em vermelho. O rapaz estacionou ao lado do estabelecimento, desceu primeiro e abriu a porta da jovem. Ela agradeceu, colocou o celular no bolso do vestido e seguiram juntos. Ele abriu a porta do local sentaram em uma mesa perto do vidro que separava o local com o resto da rua. Um garçom com um avental verde xadrez entregou a cada um o menu.

– Pode escolher o que quiser, fique a vontade. Não se preocupe como havia lhe dito é tudo por minha conta – ele falou olhando para a jovem. Ângela percorreu os olhos pelo menu.

– Bom eu quero esta pasta com molho verde, que acompanha batas temperadas e salada – ela falou olhando para o garçom e para o menu.

– Gostaria de algo para beber senhorita? – o garçom falou depois de anotar o pedido.

– Sim, acho melhor, hum… – ela mexeu no menu e observou que tinha uma porção de tipos de bebida até escolher a desejada – pode me trazer um suco de morango por favor.

– Sim senhorita. O que o senhor deseja? – o rapaz deixou o menu na mesa.

– Eu quero espaguete ao molho vermelho com camarões, salada simples, pode trazer aquelas torradinhas com pasta de alho e como estou dirigindo quero um refrigerante – o garçom anotou tudo e saiu em seguida levando consigo os menus.

– Porque a senhorita não escolheu uma bebida alcoólica? Não se preocupe com o preço – ele falou olhando para a jovem.

– Não bebo bebidas desse tipo – ela desviou o olhar e ficou a observar o local.

Ângela nunca tinha estado em um local tão agradável como aquele, estava bem iluminado, a um canto tinha um móvel com garrafas que pareciam serem de vinho bem arrumado. Observou que de onde estavam dava para ver o movimento da rua, era uma sexta-feira comum em uma cidade grande. Enquanto esperavam o almoço, saborearam as torradas, mas o rapaz resolveu quebrar o silencio que havia entre os dois.

– Posso saber o seu nome agora? – Ângela levantou as sobrancelhas mostrando surpresa.

– Não acho bom sabermos nossos nomes, não deveríamos estar saindo.

– Você já falou isso, mas eu insisto. Bom, prazer sou Pedro – ele estendeu a mão direita para ela.

– Há, muito prazer – ela apertou a mão do jovem e ficou calada por alguns minutos. Percebeu que o jovem não parava de olhar para ela esperando uma resposta então resolveu dizer seu nome – há! Tudo bem. Chamo-me Ângela.

– Viu, não doeu nada. A senhorita tem um belo nome, parece de anjo – ambos deram um pequeno sorriso.

Ficaram saboreando a comida enquanto Pedro falava um pouco sobre a vida dele, sobre suas metas pessoais. Para Ângela isso foi bom, porque não precisou falar muito sobre a vida dela. O tempo passou rápido, não tanto quando a jovem queria, mas o suficiente para o pequeno encontro terminar. Pedro pagou a conta, se levantou primeiro e ajudou a bela jovem a se levantar e saíram juntos do local.

– Então, obrigada por tudo e até mais – ela deu um aceno com uma das mãos e se virou para o lado oposto de Pedro, mas foi interrompida da ação.

– Me desculpe, mas a onde a senhorita vai? – Pedro estava segurando o braço da jovem.

– Bom vou para casa, vou descansar um pouco, pois trabalho mais tarde.

– Então posso dar uma carona a senhorita – ele soltou o braço da jovem e falou dando um pequeno sorriso.

– Há não, seria muito incomodo. Você já fez o bastante por hoje, posso pegar um ônibus ou táxi.

– Não me incomodo em levar a senhorita para casa, seria um prazer para mim – ele segurou a mão de Ângela a conduzindo para o carro dele.

– Pedro melhor não… – ela foi interrompida.

– Eu insisto, prometo levá-la para casa e não a perturbar mais por hoje – ele não cansava de ser insistente.

– Tudo bem, mas me prometa que não virá a me procurar em minha casa, certo? – ela expressou um pouco de preocupação.

– Sim senhora, como desejar – ele abriu a porta do carro de forma gentil e seguiram até o destino esperado.

No caminho tiveram um problema, pois havia ocorrido um acidente no trajeto, um carro colidiu com uma pequena camionete. Pedro se mostrou muito habilidoso, desviou do caminho pegando um atalho, demoraram mais que o normal a chegarem à casa de Ângela. A rua estava calma, Pedro estacionou perto do prédio ao qual a jovem vai ficar e antes que esta saísse resolveu se despedir.

– Ângela me desculpe pelo que fiz, eu não teria feito tudo se não tivesse sentido algo pela senhorita – ele falou mantendo os olhos na jovem.

– Desculpas aceitas. Então muito obrigada pela tarde hoje e até mais – ela abriu a porta do carro e desceu logo que se despediu.

– Espere! Quando poderei vê-la novamente? – a jovem manteve a porta do carro aberta.

– Sabe onde me encontrar, mas não pense que poderemos ter algo.

– Eu entendo. Então nos vemos mais tarde? – ele deixou sair um pequeno sorriso no canto dos lábios.

– Como quiser, estarei trabalhando como habitual – ela parou e olhou o relógio em seu pulso – bom preciso ir, quero descansar um pouco antes de… – ela deu uma pequena pausa – você sabe.

– Tudo bem, bom descanso – ele deu um pequeno aceno com uma das mãos sobre a cabeça e saiu do local.

Ângela colocou a bolsa sobre sua cama, retirou alguns pertences e procurou um item em especial, mas não o encontrou. Havia perdido o diário da Sra. Margarete, olhou pelo quarto se tinha caído por lá, porém não tinha nem um vestígio dele. Sentou na cama, ficou forçando a mente para se lembrar por onde tinha andado, quais possíveis lugares ele poderia ter ficado. Não poderia tê-lo perdido, era um diário precioso, tinha que o encontra rápido, só não sabia como. Retirou os objetos da cama a deixando livre, ela estava muito cansada, seus olhos começaram a pesar. A jovem pegou o despertador de cabeceira, o arrumou para chamar na hora exata de seu compromisso, retirou as sandálias e caiu sobre a cama adormecendo.

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