Lágrimas do Céu – Capítulo XIX
Alguns dias havia se passado, Willian estava muito empolgado com o trabalho, a parceria que firmara com um empresário argentino estava indo muito bem, faltava apenas alguns ajustes para pode dar início. Com esse novo projeto ganharia muito dinheiro, seu pai ficaria muito orgulhoso. Ele estava em pé em sua sala, copo de café na mão e olhos fixos na cidade por trás da grande vidraça. O dia tinha sido cansativo, porém proveitoso. Olhou para o relógio de pulso, percebeu que à hora havia passado rápido de mais, então deu seu ultimo gole de café, vestiu seu paletó, pegou sua pasta e rumou para fora da empresa.
Já escureceu, o transito não estava em um habitual descontrole. Willian ligou o som do carro e começou uma musica lenta tocada ao piado. Esta o fazia ficar relaxado, atirando para longe qualquer pensamento. Enfim em casa, pode de fato relaxar. Enxugou seus cabelos com uma toalha felpuda, após o banho, se olhou no espelho e pode perceber que a idade havia chegado depressa. Parou um pouco, pegou uma porta retrato de cima de um móvel ali perto e ficou a observar o quanto parecia com seu pai. O queixo quadrado, os olhos castanho-claros e o nariz redondo. Sentia muita falta dele, dos dias que passavam juntos no clube de golfe e as idas a exposição de carros antigos.
O pai dele era um admirador de carros antigos, possuía três deles, porém depois da morte dele não sabia o que fizeram com os carros. Pensou em ligar para a mãe para perguntar sobre isso, porém recuou da ação. Fazia um bom tempo que não a visitava ou falava com ela. Estava preocupando de mais com Ângela que esqueceu que tinha uma mãe e que estava à espera de visitas do filho há muito tempo. Andou ocupado para se preocupar com a família, isso com certeza não herdara do pai. Nesta noite não saiu de casa, nem ao menos para ir atrás de Ângela.
A manhã seguinte foi recebida por um sol frio, o empresário demorou a se levantar no sábado. Comeu algo na cozinha, pegou o carro e foi direto para o hospital a fim de visitar a Sra. Margarete. Ao chegar ao local se dirigiu ao elevador que quase se fechou, foi apertar o botão do segundo andar quando uma mão feminina o fez primeiro. Então observou que estava compartilhando o local com Ângela.
– Ha! Ângela, como vai? – ele falou com gentileza.
– Estou bem, obrigada e o senhor?
– Estou bem, me chame de você. Chegou agora, eu suponho – ela deu um sorriso amarelo.
– Resolvi ver minha mãe o mais cedo do dia, sei que precisa de mim e agora mais do que nunca – ela ficou seria.
– Entendo.
O elevador chegou ao andar desejado, o empresário cordialmente deixou à jovem sair primeiro e então a acompanhou. A porta do quarto ao qual estava a Sra. Margarete estava aberta, dentro havia um médico acompanhado de um estudante de medicina que estava fazendo residência naquele hospital, dava para escutar do corredor que acontecia algo não muito bom lá dentro.
– TIRE ELE DAQUI. TOM SAIA AGORA, SAIA. ESSE CARA MACHUCOU MINHA CAICHINHOS DOURADOS, QUERO ELE FORA – a idosa estava gritando com o residente enquanto o médico tentava acalmá-la.
– Sra. Margarete fique calma, esse é Bruno, ele trabalha aqui – o médico falou em um tom baixo e calmo.
– MENTIRA, SAIA TOM DAQUI – ela parecia muito nervosa e irritada.
– Tudo bem ele já vai sair. Prometo que não aparecerá mais aqui, fique calma – o médico virou para o residente e falou baixo para que a idosa não escutasse – melhor você ir, depois conversaremos – o rapaz saiu em silêncio do local passando por Willian e Ângela que estavam perto da porta.
A jovem estava um pouco assustada com o acontecido, mas resolveu entrar no local sendo seguida pelo empresário.
– Senhorita, ela está agitada. Vocês estavam ai há muito tempo? – falou o Dr. Mark.
– Chegamos agora a pouco – disse o empresário.
– Ha! Tudo bem, se precisarem de mim, só mandar me chamar – o médico saiu do local deixando os dois sozinhos com a paciente.
Eles entraram no local em silêncio, andaram devagar até perto da cama em que a Sra. Margarete estava deitada, agora havia se acalmado, porém possuía uma expressão fechada.
– Mãe, a senhora está bem? – Ângela falou com calma e delicadeza, não queria assustá-la.
– Eu? O que você disse quem é mãe de quem aqui? – a idosa voltou sua atenção para a jovem que estava ao seu lado.
– Sou eu mãe, sua filha – Ângela falou engolindo em seco.
– Minha filha? Onde está minha cachinhos dourados? – ela ficou procurando algo pelo quarto.
– Sou eu mãe, sua cachinhos dourados – nesse momento foi como se a ficha tivesse caído imediatamente e a idosa sorriu.
Eles ficaram um bom tempo com a idosa, conversaram, riram. Ângela percebeu que sua mãe não estava nada bem, mostrou várias vezes estar sem fôlego e que estava sentindo um aperto no peito, porém logo passou. Algum tempo depois o Dr. Mark apareceu no quarto para falar com Ângela sobre o estado da paciente, eles foram para um lugar reservado e Willian também os acompanhou. Ficaram em uma sala reservada, pequena em que havia uma mesa retangular, algumas cadeiras e um pequeno armário.
– A Sra. Margarete andou tendo alucinações, fala enquanto dorme e como puderam perceber acha que o residente Bruno é Tom. Sei que não devo perguntar, mas quem seria Tom? – o médico estava sentado na ponta da mesa, Ângela e Willian estavam sentados perto dele.
– Ha! É uma pessoa que fez a minha mãe sofrer bastante, não gosto de falar dele – Ângela baixou o rosto um pouco enquanto falava.
– Compreendo. Tive que aumentar a dose dos remédios, porém acho mais adequado que ela inicie um tratamento mais eficaz – houve uma pequena pausa – Eu conheço um médico, o Dr. Cortez que é neurocirurgião especialista em Alzheimer e está iniciando um tratamento experimental em um hospital aqui da cidade. Não é um tratamento barato, mas é uma chance de sua mãe ter a cura da doença.
– Mas é um tratamento experimental, será que ela terá a cura? – Ângela franziu a testa enquanto falava.
– Não posso afirmar com certeza, mas uma coisa eu a seguro, lá ela terá uma estrutura melhor. Eu não sou especialista em neurologia, o ultimo médico que tínhamos aqui com essa especialidade nos deixou, pois se aposentou. Não temos ainda previsto outro médico para ficar no lugar dele.
– Eu acho que seria maravilhoso ver a Sra. Margarete em um hospital bem estruturado, não que este não seja, mas tendo um tratamento específico para o caso dela – Willian falou olhando para Ângela e para o médico respectivamente.
– O senhor tem toda razão. Mesmo que ela não venha ter a cura, tenho certeza que o Dr. Cortez fará tudo para que ela possa conviver normalmente com a doença – o médico queria encorajar Ângela para aceitar a transferência de sua mãe.
– Olha doutor eu sei que tem boas intenções, mas não posso pagar pelo tratamento… – ela foi interrompida por Willian.
– Ângela nos já conversamos, basta você permitir que eu lhe ajude – Willian falou olhando atentamente para Ângela.
– Não vamos tratar disso aqui na frente do doutor – Ângela pareceu preocupada.
– Eu darei mais um tempo para pensarem, mas informo que ela tem que ser transferida o mais depressa possível. O caso dela é grave, se precisar ser feito algum procedimento aprofundado, um que precise de tecnologia avançada pode ser que não a disponhamos, então – o médico deu uma pausa – me desculpe dizer, mas pode ser fatal.
Nesse momento duas lágrimas escorreram pelo rosto de Ângela, Willian a abraçou e lhe deu um beijo da bochecha.
– Queiram me desculpar, mas tenho que ver mais uns pacientes. Caso tenham alguma posição me procurem – o médico saiu deixando Willian e Ângela sozinhos na sala.
A jovem estava chorando no obro do amado, ele fez carinho nela e ficaram assim até que Ângela se acalmou. Um tempo depois os dois estavam em um lanchonete perto da li. O local era pequeno, havia poucas mesas e eles já tinham pedido algo para comer. A jovem parecia estar sem fome, pois pediu apenas um pequeno pão de queijo e um suco de uva. Willian estava saboreando sua torta de chocolate com menta quando baixou o garfo para iniciar um diálogo.
– Você não comeu quase nada, não fique assim estou aqui com você.
– Tenho passado por coisas difíceis, a minha mãe doente, faltei várias vezes ao trabalho, ando não trabalhando direito e ainda tendo sonhos estranhos – Ângela falou enquanto mexia no pãozinho que estava em seu prato com um garfo.
– De novo tendo aquele sonho? – ele pareceu preocupado.
– Ha… O mesmo sonho, mas não me peça para falar sobre ele – ela falou com irritação.
– Tudo bem, mas me diz uma coisa, quem é Tom? – ele pode ver que a jovem arregalou os olhos surpresa com a pergunta.
– Ha… O que tem ele. É só um nome, minha mãe deve ter inventado, ela está doente – a jovem quis desdobrar o assunto.
– Sua mãe não o inventou não, esse nome estava escrito no diário dela – ele comeu mais um pedaço de bolo.
– Você não devia ter lido ele. Esse homem ai não fez coisas boas para a minha mãe, você não gostaria saber quem ele é – ela mostrou estar chateada.
– Me desculpe mais uma vez, eu não devia ter lido. Eu percebi que ele não fez nada de bom a vocês duas, principalmente a você.
– Que parte do diário você leu? – ela franziu a testa.
– Não importa, pode me dizer quem é Tom, depois não lhe pergunto mais nada – ele observou à jovem colocar uma das mãos sobre a testa e bufar de raiva.
– Tudo bem eu conto. Tom é, foi na verdade meu pai – ela deu um grande gole de sua bebida.
– Porque foi? Por a caso ele morreu?
– Até onde eu sei, ele ainda está vivo, não o vejo a um bom tempo e pretendo me manter a distância dele.
– Agora tudo se encaixa, por isso a raiva de sua mãe.
Nesse momento a jovem pegou sua bolsa e rumou para fora do estabelecimento. Willian abriu rapidamente a carteira, deixou algumas notas sobre a mesa e saiu apressado atrás de sua amada.
– Ângela espere! – ele se apressou, conseguiu chegara até a jovem esta parou e virou para ele – me desculpe, mas fico preocupado com você.
– Está tão preocupado que não liga em se intrometer em coisas que só cabem a mim e minha mãe – ela subiu um pouco o tom.
– Já lhe pedi desculpas, o que posso fazer para que fique bem comigo?
– Olha sei que fez uma coisa errada, mas… – ela respirou fundo – me fez companhia quando eu precisava. Posso estar com raiva de você, mas gosto da sua companhia.
– Eu entendo que você está passando por um momento difícil, mas vai passar – ele chegou mais perto dela.
– Eu estou precisando ficar sozinha – ela deixou lágrimas caírem sobre seu rosto – pensar um pouco no que devo fazer.
– Venha aqui – ele pegou na mão dela e deu um abraço – não precisa ficar assim, vamos para um lugar calmo – ele segurou o rosto da jovem com as duas mãos.
– Eu preciso ir para casa – ela continuava chorando.
– Me deixe ficar com você, prometo não lhe fazer perguntas. Eu quero te fazer feliz – ele falou olhando para os lábios da moça e a beijou. Eles não se importaram com as pessoas que estavam passando no local, apenas trocaram sentimentos um com o outro.
Willian acabou convencendo a moça que seria melhor que eles fossem ao apartamento dele, pois ela precisava de companhia. Ela estava na varanda, vento sobre o rosto e olhos para o horizonte. Estava com a cabeça cheia, precisava esvaziá-la, precisava se distrair ou se desligar por um tempo. O empresário chegou ao local, estava apenas vestido com uma calça de moletom cinza, sem camisa e ficou atrás da jovem a abraçando.
– Está mais calma?
– Estou sim. Obrigada por tudo que está fazendo por mim.
– Mas eu não fiz nada, não me deixa fazer – ele deu um pequeno beijo na bochecha dela.
– Você sabe dos meus motivos.
Eles ficaram calados por um tempo, apenas admirando a vista a frente deles. Willian estava fazendo carinho na amada, isso a deixou relaxada. Ele a levou para a sala ligou a televisão, achou um canal em que estava passando o filme “Sempre ao seu lado”. Willian sentou no sofá, deixou à jovem deitar em seu colo e ficou fazendo cafuné nela enquanto assistiam ao filme, que tinha começado há poucos minutos. Ela estava adorando que mexesse me sue cabelo, tanto que acabou adormecendo. O empresário ficou a olhar para a jovem adormecida, admirando sua beleza, com delicadeza levou-a para a cama dele, cobriu-a e a deixou quieta.
O dia foi passando quando o sol estava se pondo, a jovem acordou, virou-se de lado na cama e percebeu que havia mais alguém com ela. Olhou atentamente e viu que era Willian. Primeiramente achou que eles tinham feito amor, mas percebeu que adormecera na sala, o que acabava com essa suspeita. Ela se levantou, calçou suas sapatilhas, foi até a cozinha, pegou uma caneta e um pedaço de papel, deixou um recado para o amado no móvel ao lado da cama. Certificou-se que ele estava dormindo e saiu do apartamento.
Desculpe-me mais estava tarde, tive que ir. Espero ver você novamente em breve.
Ângela.
Willian imaginou que a amada teria ido para casa, posteriormente se dirigido ao trabalho. Adorou passar o dia com ela, queria que isso acontecesse mais vezes, bastava à jovem aceitar namorar-lo. Sentado na cama ficou a pensar sobre o diário, algumas dúvidas haviam sido respondidas, mas precisava encaixá-las dentro do um contexto. Tom é o pai de Ângela, este fez sexo com ela quando pequena, por isso a raiva da Sra. Margarete e da filha tem com ele. Pelo que se sabe a idosa tem apenas a filha como parte de sua família e que ambas parecem não terem mais contato com Tom. Falar com Ângela sobre acontecimentos do passado a deixava irritada, ela parecia não ter tido uma infância tranquila.
O empresário continuou sentado na cama, olhou para o relógio que marcava sete e meia da noite, preferiu ficar em casa. Então olhou para a cama, se lembrou do dia em que sua amada tinha dormido lá e acordado gritando. Qual será o motivo dela ter tantos pesadelos? Porque sonhava que era estuprada? Quem é o homem do sonho? Várias perguntas ainda pairavam no ar, Willian estava atrás de respostas. Sentado na cama colocou sua mente para trabalhar, então depois de um tempo percebeu que o pesadelo ao qual tivera Ângela se tratava de uma recapitulação do que sofrera quando criança. As coisas começaram a se encaixar como em um quebra cabeça. Pensou mais um pouco com sigo mesmo e constatou, não com muita certeza, que o homem no sonho poderia ser Tom. Essa era a razão dela ter acordado gritando.
A noite avançou, Willian estava na cozinha tomando café e comendo um sanduíche, ele não tirava Ângela da mente um só segundo. Não gostava de lembrar-se da jovem desesperada chorando como vinha ocorrendo ultimamente e nem dela no bordeu. Nesse instante uma coisa veio repentinamente à mente dele, se a jovem não gostava do que aconteceu quando criança porque trabalhava no bordeu? Seria um fardo trabalhar naquele local tendo um passado como o dela. Isso o deixou intrigado. Ele terminou de comer e foi para a sala assistir ao noticiário.
No outro lado da cidade uma moça de belos cabelos ruivos e maças do rosto coradas entregaram o adorno de cabeça a Ângela que logo o colocou sobre suas madeixas. As moças no quarto estavam agitadas, conversavam e riam muito, eram cinco. Ângela estava distraída com a mente longe da li. Enquanto se arrumava sua expressão não estava boa, parecia entristecida, mas logo irá colocar um sorriso no rosto e dançar divinamente. Algumas das moças do local saíram juntas, descendo para o grande salão. Ângela ficou no quarto acompanhada de uma moça que estava pregando algumas pedrinhas que haviam caído de seu vestido. A jovem terminou de passar o batom sobre os lábios delicados quando escutou um som, este vinha de sua bolsa. Ela se levantou, foi até o cabide de chapéus, pegou a bolsa, retirou o celular e imediatamente o atendeu.
– Alo! – o quarto estava silencioso – Sim é ela mesma… Como?… O que? – a jovem arregalou os olhos surpresa – estou indo para ai imediatamente – ela desligou o aparelho, enfiou-o na bolsa e uma lágrima escorreu sobre o rosto, que ela tratou de enxugar imediatamente.
– Ângela aconteceu alguma coisa? – sua colega de trabalho percebeu que ela estava nervosa.
– Eu preciso ir para o hospital, minha mãe piorou – ela se levantou, estava retirando sua vestimenta às pressas – preciso ir até lá agora mesmo. Você pode dizer as outras colegas que não poderei participas da dança hoje, mas não fale o porquê, diga apenas que tive motivos pessoais.
– Claro que digo. Quer que eu informe a dona do bordeu?
– Sim, muito obrigada – Ângela estava muito nervosa.
– Você está bem? Quer que eu vá com você – a colega dela se mostrou preocupada.
– Não é preciso.
Ângela pegou o primeiro táxi que encontrou em uma duas ruas depois do bordeu, demorou um pouco, porém conseguiu chegar ao hospital. Pegou o elevador com mais duas pessoas, porém não travou diálogo com ninguém, estava apreensiva. Quando chegou ao segundo andar, se dirigiu a recepção e falou com uma moça vestida com uma blusa verde claro.
– Com sua licença, eu gostaria de saber como está à paciente Margarete – ela falou de pressa.
– A senhorita é?
– Sou a filha dela. Ligaram-me a gora a noite, me disseram…
– Que a paciente está em cirurgia, lamento, mas não tenho nenhuma notícia sobre ela – a atendente falou enquanto arrumava alguns prontuários sobre sua mesa.
– Como não tem nada para me informar? É a minha mãe – Ângela subiu um pouco o tom da voz.
– Senhorita eu entendo. Melhor você ficar a li esperando o médico ou um enfermeiro aparecer e lhe dar alguma informação. Eu sou apenas uma atendente – ela apontou para um dos lados dela informando o local que era à sala de espera.
– Me desculpe, estou nervosa. Vou esperar lá – saiu rumo ao local e se sentou em uma cadeira vazia.
Uma dor de cabeça invadiu a mente da jovem, estava preocupada de mais. O que teria acontecido com sua mãe? Passaram-se alguns minutos e ninguém se dirigiu a ela para informar algo. Estava com o rosto vermelho por ter chorado, porém as lágrimas pararam de cair por um instante. O tempo estava passando e a aflição aumentava. Ângela não parava de olhar para o celular verificando o horário, tanto que percebeu que estava lá a mais de duas horas. Ela tentou chamar um funcionário de jaleco branco que passou apressado pelo local, mas não conseguiu. Depois de tanto esperar o Dr. Mark se direcionou a ela.
– Senhorita, sei que está há bastante tempo a espera de notícias sobre a Sr. Margarete – Ângela se levantou olhando atentamente para o médico.
– Estou aflita, me diga o que aconteceu com minha mãe doutor – ela possuía o rosto vermelho por ter chorado.
– Eu estava fazendo rondas pelas alas hospitalares quando uma enfermeira me chamou avisando que a idosa estava passando mal.
– O que ela estava tendo? – Ângela fez um ar de preocupação.
– Estava com falta de ar, foi entubada e levada às pressas para cirurgia – o médico observou que a jovem chorava – Foi observado que ela estava com um problema no pulmão, mas hoje foi diagnosticado um coágulo no celebro. Moça fique calma – a jovem continuava a chorar – Ela está estável, medicada, porém precisa de cuidados específicos. Eu não sou o médico adequado para realizar a cirurgia no celebro da paciente, sinto muito.
– Eu entendo… – ela deu um abraço no médico – como ela está agora? – Ângela passou as mãos sobre o rosto enxugando as lágrimas.
– Ela está estável, mas não pode deixar a UTI. Uma enfermeira está fazendo vigília, todo cuidado é preciso nesse momento, mas lhe digo que ela precisa ser transferida imediatamente.
– O senhor pode me deixar pensar um pouco, resolverei isso hoje mesmo.
– Deixo sim, vou avaliar o caso e procurarei uma alternativa – o médico se mostrou prestativo e saiu do local deixando a jovem a se debruçar em lágrimas.
Com o coração apertado Ângela sentou na cadeira, colocou uma das mãos sobre a cabeça, não sabia o que fazer, não possui recursos para pagar o tratamento de sua mãe. Preocupada, percebeu que ainda estava com o celular na mão, então como se algo tivesse feito um clique em seu celebro, ela resolveu ligar para quem sempre lhe estendera a mão.
– Willian… – ela não estava conseguindo falar – por favor, me ajude… Eu preciso… De você – ela estava nervosa.
– Calma, aconteceu alguma coisa com sua mãe? – ele se levantando da cama.
– Eu estou no hospital… Pode vir até aqui?
– Claro, já estou indo.
Willian pegou rapidamente a primeira roupa que encontrou em sua frente e a vestiu, colocou sua carteira no bolso, pegou as chaves do carro e rumou para seu destino. Estava preocupado e passou o caminho todo apreensivo. Estacionou o automóvel no primeiro lugar vago que encontrou, subiu depressa e logo estava no segundo andar. Não foi difícil encontrar Ângela que estava sentada em uma cadeira a um canto na sala de espera. A moça ao ver que seu amado havia chegado tratou de correr até ele e o abraçou. Sem hesitar a jovem beijou William tão forte que parecia que ia retirar todo o seu ar.
– Eu fiquei apreensiva, não sabia o que fazer para quem recorrer, seu nome veio a minha mente, eu… – ela falou rápido de mais até ser interrompida pelo empresário.
– Calma, fique calma – ele segurou o rosto dela com as duas mãos e percebeu que estava molhado de tanto chorar – estou aqui, sente-se e me conte com calma o que está acontecendo.
Ângela tirou uma garrafa de água da bolsa e tratou de tomar o reto que havia. Respirou fundo e contou a ele o que ocorreu com sua mãe, não se esqueceu de nenhum detalhe. Willian escutou tudo sem dizer uma palavra se quer, só depois disse o que queria.
– Eu entendo tudo o que você está passando, mas será que agora me deixará lhe ajudar? – ele olhou para a jovem atentamente.
– Faça o que você quiser, mas salve a minha mãe, por favor – ela enxugou o rosto mais uma vez.
– Claro que eu lhe ajudo. Estou aqui para fazer você feliz e ver a sua mãe bem – ele deu um pequeno beijo na testa da moça – Eu não posso pedir nada em troca, eu amo tanto você, só peço que saia daquele emprego.
– Sair do meu emprego? Vou viver de que? Não quero que me dê mesada, não sou mais criança – ela falou com firmeza.
– Tudo bem, não lhe darei mesada. Já falei que pode trabalhar em minha empresa, eu arrumo um emprego para você e ajudo a sua mãe pagando o tratamento dela – ele segurou as mãos da jovem, as beijou – Aceite namorar-me.
Ângela ficou surpresa com a ação dele, mas não deveria, pois este já a pedira em namoro tempos a trás. Os olhos dela brilharam com o que ele havia falado sem pensar ela o abraçou e em seguida falou:
– Deixar o meu emprego? – ela franziu a testa – Posso trabalhar na sua empresa, só se não for um cargo ligado diretamente a você. E… Quero muito namorar você – ele a beijou, depois se levantou, pegou na mão dela e a levou consigo.
– Vamos falar com o médico.
Ele se dirigiu a recepção e pediu para a atendente chamar o médico que demorou um pouco a aparecer. Logo estavam em uma sala reservada tratando sobre os detalhes da transferência da paciente com o diretor do hospital. Tudo fora bem planejado para que a Sra. Margarete pudesse ser imediatamente encaminhada para a cirurgia que salvaria a vida dela. A paciente já estava a caminho da ambulância, que se localizava do lado externo da unidade de saúde, quando Ângela chegou perto do médico falou:
– Doutor eu quero ir com ela – a jovem não estava mais chorando.
– Lamento, mas a senhorita não pode ir dentro da ambulância, a paciente precisa de um enfermeiro e um auxiliar de enfermagem com ela. O móvel é pequeno.
– Entendo – ela ficou um pouco triste.
– Venha comigo, podemos ir com meu carro – Willian segurou na mão dela e a conduziu até seu automóvel.
O trânsito estava ruim naquele dia, isso fez com que os dois demorassem a chegar ao novo hospital. Eles não puderam acompanhar a ambulância, porque esta havia saído à frente deles. Ângela estava um pouco apreensiva, porém não chorava mais. Ao chegarem à nova unidade de saúde se dirigiram para a recepção e logo foram direcionados para a sala do diretor. Era uma sala grande, com um amplo vidro que dava para ver parte do prédio, é bem iluminada. Eles sentaram nas cadeiras a frente da mesa do diretor.
– O Dr. Mark me informou da transferência da paciente, então tratei da papelada no mesmo instante – o médico diretor retirou os documentos de um envelope verde claro que contem a logo do hospital.
– Muito bom. Vou dar uma olhada se não se importar – Willian se virou para Ângela.
– Tudo bem eu não entendo muito disso, você pode me ajudar – ela falou com calma.
O empresário leu cada linha do documento com cuidado, explicou a jovem parte por parte e informou que era comum esse tipo de documento. Então ela, após toda a explicação, assinou o documento e ficou na unidade de saúde com o amado a espera de a cirurgia ser finalizada. Eles estavam na sala de espera do local, está era no terceiro andar. Os dois estavam sentados um ao lado do outro, ela segurava a mão de Willian mostrando estar nervosa.
– Você está mais calma? – ele falou olhando para ela.
– Só um pouco – mentiu.
– Acho que essa cirurgia vai demorar horas. Vamos para a lanchonete lá me baixo, tomar alguma coisa.
– Tudo bem – falou à jovem que pegou a bolsa.
Minutos depois estavam os dois tomando café em uma lanchonete no térreo da unidade de saúde. Era um local calmo, com algumas plantas deixando o ambiente menos pesado, havia várias mesas quadradas e um longo balcão mais adiante. Eles ficaram se distraindo com a televisão no alto em uma parede a esquerda deles. Dialogaram sobre o que passava nela, isso deixou a jovem calma. Tempos depois os dois estavam novamente na sala de espera, o coração de Ângela disparou quando um homem de cabelos grisalhos e óculos redondos entrou no local e chamou pelo seu nome.
– Senhorita Ângela, tenho notícias sobre a paciente Margarete de 60 anos.
– Sou eu aqui – ela ergueu o braço e o profissional rumou até ela.
– Já é bem tarde, mas tenho notícias sobre a paciente. A cirurgia correu muito bem, ela agora está descansando em um dos quartos da UTI. Está em observação, se tudo correr bem ela poderá amanhã mesmo ser transferida para um dos quartos da ala hospitalar.
Ângela deu um largo sorriso e olhou para Willian que o retribuiu com o mesmo gesto.
– Vocês podem vê-la. Ela dorme, pois está sobre efeito da medicação utilizada na cirurgia.
O médico levou os dois até o quarto da UTI onde a Sra. Margarete está, Ângela chegou perto dela e deu um beijo em uma das mãos dela. Eles puderam observar que a idosa estava ligada a aparelhos e com uma facha enrolada na cabeça devido ao procedimento ao qual se submeteu aquela madrugada. Os dois ficaram ali um bom tempo, mesmo a idosa estando adormecida.