Lágrimas do Céu – Capítulo XIV
A enfermeira estava terminando de colocar o soro na Sra. Margarete que se encontra dormindo. Ângela se localizava sentada em uma cadeira perto da cama da idosa, sua bolsa encima de um móvel e o diário em seu colo. Ela ficou apenas observando a idosa dormir tranquila e permaneceu em silêncio. Nunca tinha imaginado que a Sra. Margarete viesse a ficar naquela situação, acamada e sem saber nem ao menos quem é. Tudo que Ângela poderia saber sobre a idosa está contida no diário que tem em mãos.
A jovem estava cansada de tanto trabalhas, fez horas extras, mas não havia conseguido dinheiro suficiente para realizar a transferência da idosa, isso a deixou entristecida. Ela ficou a olhar a capa do diário, imaginando que a Sra. Margarete está sentada a frente de uma pequena mesa de madeira retangular, diário aberto, caneta na mão, a lua lá fora e o silêncio como seu companheiro. Era mais nova do que hoje, cabelos loiro escuro solto a altura dos ombros, olhos cor de mel e algumas rugas em sua face.Imaginou também algumas cenas do que tinha lido no diário, algumas boas, mas outras nem tanto.
Passado um bom tempo Ângela não queria ir para casa, precisava da companhia de alguém, mesmo que fosse de alguém que nem ao menos pode realizar um diálogo com ela, mas se sentia melhor mesmo assim. Pegou o diário, começou a folheá-lo, parou em uma página aleatória e leu o conteúdo com atenção:
Sábado, 03 de maio de 2004
Minha pequena cachinhos dourados está dormindo serena em sua cama, hoje foi um dia não muito bom para ela. Tive que sair para trabalhar mais cedo, deixe-a com a Sra. Fátima, minha vizinha, porém quando cheguei tive uma surpresa, a pequena não estava com ela. Fiquei muito preocupada, perguntei a vizinha onde está Ângela e ela me respondeu que o pai dela a levou consigo, ele estava com uma expressão de raiva no rosto, pegou a menina e saiu sem dizer para onde. Então resolvi ligar para o celular dele, mas foi inútil, então me lembre de um lugar que costuma ir quando está irritado.
Peguei minha bolsa, sai às pressas, entrei em um ônibus, queria andar o mais rápido possível, mas não pude. Parei em uma rua estreita, subi uma ladeira e enfim parei enfrente a uma casa com porta de metal. Sem pensar duas vezes bati na porta e um senhor de barba grisalha, meio careca abriu apareceu. Não esperei ele dizer uma só palavra, entrei na casa e fiquei a procura de minha filha. O homem gritava para que eu saísse do local, mas não dei ouvidos a ele.
A casa é pequena então não tive dificuldade de encontrar um aos quarto nos fundo, abri a porta de supetão e para minha surpresa estava Thom com as calças arriadas enfrente a cama. Ele se virou do susto, então pude observar que tinha alguém embaixo dele, cheguei mais perto e percebi que era Ângela. Fiquei irritada, tentei tirá-lo de cima dela, mas foi em vão, fui agarrada pelo velho dono da casa. Eu tentei me soltar mais não consegui, fiquei no local observando Thom fazer relações sexuais com nossa filha.
Nesse momento Ângela fechou o diário rapidamente, sua expressão era de medo e tristeza ao mesmo tempo. Não gostou do que leu, isso não lhe trouxe lembranças boas, ela deixou uma pequena lágrima cair sobre o rosto, mas logo a enxugou para que ninguém percebesse o que havia acontecido. Ela estava distraída quando William entrou no local, então colocou o diário ao lado de sua bolsa. O empresário foi ao encontro dela em silêncio, pois percebeu que a idosa estava descansando e falou baixinho:
– Como ela está? – William falou perto de Ângela.
– Ela está descansando, foi medicada já faz um tempo – Ângela estava com tristeza no olhar.
– Aconteceu alguma coisa? Estou achando à senhorita triste, mas não me parece ser só por causa da Sra. Margarete – William falou enquanto a jovem andava pelo local.
– Não é nada, não se preocupe. Como o senhor está? – Ângela falou com gentileza.
– Eu estou bem. Eu me preocupo com a senhorita, desde o nosso ultimo encontro não a vejo sorrir – William continuou falando baixo.
– Já disse ao senhor que não precisa se preocupar comigo e não podemos nos ver mais – Ângela voltou para a cadeira ao qual estava sentada um tempo atrás.
– Me desculpe, mas não posso deixar de ver a senhorita – William fez uma expressão de preocupação.
Nesse momento Ângela se levantou da cadeira, foi andar um pouco pelo quarto, porém sentiu uma tontura. William correu ao encontro dela, segurou-a bem firme, colocou-a novamente sentada na cadeira e olhando para ela disse:
– Cuidado Ângela, vou chamar uma enfermeira – William saiu em direção à porta do quarto.
– Não é preciso – Ângela parecia cansada.
– Precisa sim, já volto – William saiu do quarto.
No corredor avistou uma enfermeira que estava saindo de um dos quartos do corredor, ele a chamou e explicou à situação, seguiram juntos até onde estava Ângela. Chegando ao quarto tratou de verificar com uma das mãos se a jovem estava com febre, depois aproveitou que estava com um aparelho pendurado no pescoço e a auscultou. A enfermeira saiu do local, mas logo voltou, aferiu à jovem e verificou que a pressão dela estava baixa.
– A senhorita está com a pressão baixa, melhor ficar sentada, preciso dos seus documentos, vou chamar o médico e preparar um prontuário – a enfermeira falou com um ar serio.
– Ela está com alguma coisa séria? – William se mostrou preocupado.
– Só verifiquei que está com a pressão baixa, vou chamar o médico para medicá-la e precisará de repouso – a enfermeira saiu assim que terminou de falar.
William se agachou ao lado da jovem que estava com uma das mãos sobre a cabeça. Não demorou muito para um médico de óculos aparecer, verificou novamente a pressão de Ângela, pediu para a enfermeira colocar o soro na veia da jovem e disse para que ficasse quieta no quarto.
William não saiu de perto da jovem em nenhum momento, se manteve preocupado. Enquanto Ângela toma soro William sentou ao lado dela e ficaram em silêncio por um tempo. O empresário iniciou um diálogo com a jovem a fim de saber como ela está:
– Está melhor? – William falou olhando para a jovem que olhava para a porta do quarto.
– Me sinto cansada, mas vou ficar bem – Ângela fechou um pouco os olhos como se fosse dormir, mas logo abriu os olhos.
William segurou a mão de Ângela, a que não estava com a mangueira do soro. Ele não aguentou, deu um beijo na bochecha da jovem e continuou segurando a mão dela. Nesse momento o empresário verificou que a Sra. Margarete acordou, os viu e falou:
– O que ouve com a cachinhos dourados? – a idosa falou se sentando na cama.
– Ela teve uma tontura, está tomando soro, mas vai ficar bem, não tem nada de grave – William falou ainda segurando a mãos de Ângela.
– Cuide bem dela ta doutor e pode falar para aquela enfermeira de cabelos vermelhos que eu não quero mais aquele líquido amarelo que me dá – Margarete fez uma carreta.
– É seu remédio Sra. Margarete, mas vou falar com ela para trazer algo gostoso para aliviar o gosto ruim dele – William falou com ar de riso.
– Você viu Thom por ai? – Margarete ficou com a expressão fechada.
– Não senhora, é algum parente seu? – William franziu a testa.
– Aquele cafajeste, ele que não apareça aqui. Não gosto da presença dele, ainda mais com minha cachinhos dourados aqui e nesse estado – Margarete falou gesticulando – poço lhe pedir uma coisa?
– Claro que sim – William soltou a mão de Ângela e se voltou para conversar com a idosa.
– Chegue mais perto, por favor – Margarete fez um movimento com as mãos chamando o empresário e falou baixo – não deixe Thom entrar nesse quarto, não o deixe saber que estou aqui e muito menos que a cachinhos dourados vem me visitar – ela fez uma cara feia ao falar.
– Sim senhora, tomarei conta das duas, não deixarei que nada de rum aconteça com as damas – William fez um sinal com as mãos como se batesse continência para um oficial do exército.
Depois que terminaram de conversar a Sra. Margarete se endireitou na cama e ficou quieta. O empresário voltou para perto de Ângela, percebeu que ela adormeceu, então deu mais um beijo na bochecha dela e voltou a segurar sua mão.
– Pelo que percebi o senhor gosta dela não é? – Margarete falou olhando para os dois.
– Tenho um grande apreço por ela – William deu um pequeno sorriso.
– Você ama minha cachinhos dourados, está perdido de amores por ela. Eu sinto isso, fez carinho nela – Margarete falou com certeza.
– Gosto muito dela, me preocupo com ela e com a senhora também – William passou uma das mãos sobre o cabelo da jovem.
– O senhor não tem outros pacientes para cuidar não doutor? – Margarete estava achando que ele era o médico do hospital.
– Não senhora, estou de folga hoje – William sorriu e não disse a idosa sua real profissão.
– Há bom, mas mesmo que estivesse de serviço deveria deixá-lo e cuidar dela. Ela é uma jovem de sorte por ter o senhor ao lado dela – Margarete falou gesticulando.
– Nós não temos nada, somos apenas conhecidos – William estava acariciando o rosto da jovem.
– Como assim? Há não, mostre para ela o quanto o senhor gosta dela. Não perca tempo, mulher bonita como a minha cachinhos dourados não se encontra assim solteira – Margarete continuou gesticulando enquanto fala – há e a propósito eu adoro crianças, me sinto mais jovem e alegre com elas. Adoraria que vocês tivessem um filho – Margarete terminou a conversa após uma enfermeira entrar no local e retirar a mangueira ao qual passava soro.
William ficou olhando para Ângela que ainda estava dormindo, imaginou eles dois juntos como um casal. A Sra. Margarete parecia ter adivinhado o sentimento que o empresário sente pela jovem, mas achou difícil eles terem uma relação de amor. Mas isso não importava para ele, desejava apenas que a jovem tivesse a vida de alegria e que a Sra. Margarete saísse do hospital ficando bem de saúde. Tudo que queria é a felicidade de Ângela, só isso o bastava para sua vida. O telefone dele vibrou, ele verificou que havia uma mensagem, era da sua secretária o avisando um compromisso. William pensou um pouco e mandou uma resposta dizendo para cancelar todos os compromissos do dia, mas não disse o motivo. O sol estava se pondo quando Ângela acordou, observou que William estava ao seu lado sentado em uma cadeira, a Sra. Margarete cantava baixinho. O empresário olhou para a jovem e falou:
– Como está se sentindo? – William se mostrou preocupado.
– Estou bem melhor. Que horas são? – Ângela franziu a testa.
– São seis horas, já está escurecendo – o empresário falou olhando para seu relógio de pulso.
– Nossa é tarde, preciso ir – Ângela fez um movimento para se levantar da cadeira e estava com a expressão de preocupação.
– A senhorita não pode sair assim, tenho que chamar o médico, precisa receber alta para poder ir para casa. Porque ficou surpresa depois que soube do horário? Tem algum compromisso? – William falou franzindo a testa.
– Eu tenho que trabalhar, vou chegar atrasada se não sair logo – a jovem se levantou e foi em direção a sua bolsa, mas William não deixou ela sair.
– Por favor, fique aqui, vou chamar o médico e hoje não vai trabalhar – William falou com seriedade fazendo Ângela se sentar novamente na cadeira e saiu do quarto.
Não demorou muito para o médico aparecer, este verificou a pressão de Ângela e a temperatura, escreveu algumas coisas no prontuário que trouxe com ele e a liberou dando um atestado. O médico disse que a queda da pressão pode ter sido causada por excesso de atividade, preocupação e pediu para a jovem tomar cuidado. William e Ângela se despediram da Sra. Margarete, saíram juntos do hospital ficando a frente dele.
– Muito obrigada por tudo hoje, não precisava se preocupar. Acho que o senhor deveria ter trabalhado hoje a tarde não é? – Ângela falou olhando para o empresário.
– Tinha sim, mas não se preocupe a sua saúde está em primeiro lugar – William também estava olhando para Ângela – Bom preciso ir para casa, deixe-me levar a senhorita para casa e não aceito não como resposta – William falou ainda olhando para Ângela.
– Eu sei que o senhor vai insistir então aceito a sua carona – Ângela deu um pequeno sorriso.
No caminho os dois permaneceram em silêncio, se ouvia apenas o som do rádio e o locutor estava falando sobre as principais notícias do dia. Eles chegaram até o prédio onde Ângela mora, William gentilmente abriu a porta do carro e ajudou a jovem a descer do carro. Nesse momento ela deixou o diário cair encima do banco, pois sua bolsa estava aberta, mas ela não percebeu o que aconteceu. William se despediu da jovem beijando uma de suas mãos, ela retribuiu ação com um aceno de cabeça e um sorriso.