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Lágrimas do Céu

Lágrimas do Céu – Capitulo II

A semana começou agitada para William, com papelada para analisar e relatório a fazer. Afinal o mês estava acabando e precisa verificar o desempenho da empresa, se ouve crescimento, corrigir os erros encontrados, buscar melhorias e ampliação de ações. Seria uma semana muito corrida e trabalhosa, mas ele buscou foco e agilidade.

Ele estava em sua sala, que é limpa, arrumada e silenciosa. Dava apenas para ouvir ao longe o som das máquinas trabalhando a pleno vapor. Seu pai ficaria orgulhoso em ver que a empresa que montara está dando fruto, cresceu e se modernizou. A única coisa que deixaria seu pai triste seria ver apenas o filho mais velho trabalhando nela.

Pelo que se sabe Roberto, seu irmão do meio, não gosta da área da administração e muito menos de trabalhos em fábricas, ficando trancado em um escritório seria como uma prisão para ele. Seu sonho sempre foi sair pelo mundo praticando esportes radicais, escalando montanhas, cachoeiras e com o mergulho marinho. Disso a família não pode se queixar, pois Roberto se formou e hoje é um pesquisador do alto mar. Apesar de ter trancado a faculdade por um tempo e retomado depois, fez isso para seguir com suas aventuras meio adolescentes e impensadas. Isso é a única coisa que não traz discórdia entre William e o irmão. Na verdade Roberto tem raiva do irmão por estar na direção da empresa do falecido pai, mas William tinha quase certeza que se ela ficasse nas mãos do irmão não duraria muito tempo.

Sua irmã é mais nova que os demais irmãos, a doçura da família, educada e se dá bem com todos. Fez faculdade de direito, mas seu grande sonho sempre foi ser bailarina profissional. Porem largou o sonho para fazer o que seus pais desejavam para ela, a faculdade. A mãe de William se orgulha da filha, mas se queixa não ter deixado a Shofie ter seguido a carreira da dança.

William não é um filho presente e sempre coloca o trabalho a frente de qualquer compromisso, isso inclui os familiares. Ultimamente sua mãe tem ligado bastante, a fim de saber notícias e cobrando a visita dele. Roberto saiu de casa assim que terminara a faculdade, mas visita a mãe sempre que pode. Shofie á algum tempo se casara com um advogado que conheceu logo que começou a advogar e divide com ele um belo escritório que lhe rende bons frutos. Possi uma filha chamada Alice, em que dedica seu tempo fora do escritório à educação dela, com mimos e pequenas puxadas de orelha.

A morte do patriarca trouxe mudanças à família Burk, pois William passou a dirigir a empresa e os demais deixaram a pobre mãe a viver sozinha em uma casa grande e vazia. O avô não teve a oportunidade de conhecer à pequena e adorada Alice, pois quando está veio à vida ele já havia falecido há três anos. Mas, mimos não faltam por parte da avó materna, com brinquedos, guloseimas e passeios. A pequena menina é a felicidade dá avó, pois é a única neta que possui.

William estava concentrado trabalhando no computador, digitando rapidamente e não estava ligando para a hora. Parou um pouco para beber café e logo voltou ao trabalho. Ele não havia parado para almoçar, tinha feito apenas um pequeno lanche, depois de um tempo parou e virou-se para a grande janela que estava logo atrás dele. Observou que o sol já estava se pondo, isso indica o fim do seu expediente. Pegou o telefone, ligou para um amigo e confirmou o jantar ao qual fora convidado, isso ocorreria em um dos restaurantes que fica perto da sua empresa.

Cansado, desligou o computador, arrumou suas coisa e saiu da empresa a passos rápidos. Pegou o carro e se dirigiu ao encontro do amigo, mas no caminho se deparou com um engarrafamento. Esquecera que era hora de pico na cidade, mas ligou o som e ficou a escutar a leve melodia de um piano a tocar, isso o acalmava depois de um pesado dia de trabalho. O som o fez lembrar-se do seu pai, pois ele adorava ouvir musica instrumental clássica e exclusivamente a que ele estava a escutar.

Ao parar no sinal fechado uma imagem veio a mente do administrador, uma não muito feliz e nem tão pouco desejada, a morte do seu pai. William estava trabalhando na empresa, havia acabado de fazer a supervisão de um setor de produção e resolveu subir para o seu escritório com a finalidade da construção de um relatório, porem antes decidiu passar na sala do pai. Ao entrar pode observar o velho empresário falando ao telefone, com uma voz brava e muito forte. Ele não queria interromper, mas logo percebeu que era uma ligação estrangeira por conta de ouvir o pai falando inglês com um pouco de sotaque. Uma das coisas que deixava William fascinado era saber que seu pai falava três línguas, alem do inglês, o alemão e espanhol. O sotaque inglês do pai se dá por conta de ter morado durante dois anos na Inglaterra para estudar. Foi lá que ele conhecera a esposa e viveram felizes até o dia de sua partida.

William observou seu pai desligar o telefone com uma expressão preocupada, com isso pegou um pouco de água e entregou a ele. Preocupado em saber o que se passava o filho resolve perguntar ao pai:

– O que aconteceu meu pai, qual o problemas desta vez? – William falou com foz forte.

– Filho, recebi uma ligação, como você pode ver, de um dos investidores cancelando o acordo firmado há dois meses. Já é o segundo que corta relações com nossa empresa, se isso continuar nesse rumo penso eu que não continuarei mantendo esse empreendimento – ele possuía uma expressão pesada no rosto.

– Calma pai, será encontrada uma saída para a situação. Isso é só uma crise que vai ser superada – o filho tentou passar tranquilidade ao pai.

De repente William começou a ficar preocupado quando olhou atentamente para o pai e viu que estava suando, porem a sala estava resfriada por um ar-condicionado. O empresário já vinha se queixando de dores nos ombros e no braço esquerdo, porém achou que isso fora provocado por excesso de trabalho. Mas, o velho administrador estava suando fora do normal, expressando estar com mal estar e ao se levantar quase desmaia. O filho imediatamente pegou o telefone e ligou para a emergência hospitalar, que não demorou a chegar ao prédio em que estavam.

William correu para o hospital e no caminho avisou a sua irmã sobre o que havia ocorrido, mas pediu que não contasse a mãe. Hospital não era o lugar preferido dele, pois já tinha ido lá várias vezes. Não queria ter que voltar, porém não teve alternativa. Shofie logo chegou com Roberto e a mãe deles surgindo na sala de espera do Hospital Universitário da Capital da Paraíba. Mesmo William tendo dito para não avisarem a mãe sobre o fato ocorrido, foi em vão. A tensão tinha tomado conta dos três no local e cada vez que uma enfermeira passava por lá eles se entreolhavam esperando uma notícia animadora.

Passado algumas horas o médico que realizou a cirurgia cardíaca no renomado administrador apareceu para dar noticias. O rosto do profissional de saúde se manteve calmo durante todo o relato, ele informou que fez o possível, mas a cirurgia cardíaca é muito delicada e acabou tendo complicações, com isso ocorreu à morte do ente querido deles. William não gostava de lembrar a expressão consternada da mãe que não aguentou saber da fatalidade ocorrida com o marido.

Essa lembrança invadira a mente de William há alguns dias, pois na sexta-feira seguinte fará 10 anos de falecimento do pai. Todos os anos a família Bork se reuni no dia da morte de Marcelo para irem ao túmulo, rezarem e realizarem homenagens. William neste ano sabe que vai ter que encontrar os familiares e isso inclui seu irmão, mas resolveu manter a paz. Seria um bom motivo para visitar sua querida mãe e contar como anda as coisas.

William demorou um pouco para chegar ao restaurante ao qual havia marcado um jantar com o seu amigo John. Foi uma calorosa e amigável recepção, e o administrador recebeu uma taça de vinho tinto assim que sentara a mesa. John se antecipou e resolveu dar uma notícia ao amigo:

– William, tenho uma boa notícia para lhe comunicar – a expressão em seu rosto era de grande felicidade.

– Pela sua expressão deve ser uma coisa muito boa. Será que ganhou na loteria. – ele brincou com o amigo.

– Pena que não, mas eu o chamei aqui. Na verdade o convidei e o digníssimo amigo aceitou o meu belo convite – os dois riram juntos – bom sem mais delongas, você sabe o porquê da minha vinda a esta maravilhosa cidade.

– Claro você me contou na visita que fizeste ao meu apartamento.

– Pois bem, eu fui à entrevista de emprego e estava muito animado. Minha noiva achava que eu não deveria mostrar muito entusiasmo, mas fui assim mesmo. Não demorou muito e hoje mais cedo que recebi uma ligação, eu fui aceito para trabalhar no Centro de Advocacia.

A alegria invadiu os dois, logo deram um abraço caloroso e um brinde ao sucesso de John. A vinda do amigo ocorreu em boa hora e a permanência dele na cidade seria de grande proveito. William estava se sentindo muito sozinho e amigos são muito bons para preencher vazios causados por excesso de trabalho e falta de família. Os dois ficaram por horas conversando e não ligaram para o tempo que avançava.

William acabou chegando por volta da meia noite ao seu apartamento, estava exausto, só queria tomar um banho e deitar no aconchego da sua cama. Ele colocou a pasta na pequena mesa da sala entrou no quarto, retirou os sapatos, a gravata listrada, a camisa e jogou-as sobre a cama desarrumada. Pegou logo a toalha e se dirigiu ao banheiro, lá tratou de retirar o restante de sua vestimenta e deixou que a água morna caísse pelo seu corpo branco, magro, mas sem músculos. Possui um pouco de pelos ao longo do peitoral, mas não gostava de deixar crescer muito naquele local. Sua feição era serena e estava desfrutando do momento e lembrando-se de como adorava realizar essa atividade com Helena.

Sentia falta do corpo macio da ex-noiva e o perfume que o sabonete fazia ao tocar a pele delicada dela. Eles eram um casal feliz, mas nesse momento o que importava era finalizar o dia bem. William acabou o banho, mas antes parou a frente da pia para escovar os dentes e observou que possuía uma pouco de barba no rosto o que lhe deixava mais velho, mas não com charme. Possuí um nariz um pouco grande, olhos castanhos claros e sobrancelhas grossas. O rosto dele não é bonito, mas o cabelo ondulado, curto e preto com alguns fios brancos dava um pouco de beleza ao conjunto da obra refletida no espelho prateado.

Ele terminou de se arrumar e deitou na cama que era macia, mas observou que deixou a cortina aberta e foi ate ela. Encontrou a janela aberta e deu para ver que a cidade estava calma e silenciosa. Escutou apenas o som de uma coruja que parecia estar ao longe, o céu não possui estrelas e não dava para ver a lua. Ventava um pouco e o clima estava frio o que fez William logo fechar a janela e dormir enrolado em uma coberta macia.

A sexta-feira não demorou a chegar e William resolveu trabalhar apenas no período da manhã, a tarde fora reservada para arrumar a barba e o cabelo, pois ao fim da tarde irá à reunião familiar. O início do dia foi corrida e depois de um belo almoço em um pequeno restaurante William saiu para se a barbearia, pois sabia que se aparecesse com aquele visual sua mãe lhe daria um belo carão. Fazia um tempo que não ia à barbearia, mas não pode colocar a correria no trabalho como desculpa. O dia estava calmo e logo estava com aparência renovada, passou em casa apenas para trocar a camisa que sujará de molho de tomate em quanto almoçava, colocou uma azul clara com listras fininhas brancas.

Ele foi um dos primeiros a chegar à casa da mãe, isso porque estava fora do horário marcado. Ao estacionar o seu carro pode observar que outra pessoa já havia chegado antes dele, olhou mais um pouco, porem não identificou de quem seria o carro prata. Desceu logo do automóvel, tocou a campainha e a empregada logo abriu a porta para ele.

Entrou na casa e viu que o local estava calmo, limpo e bem arrumado como sua mãe gostava que ficasse. Ele olhou mais adiante, viu o esposo de Shofie na sala a brincar com a pequena Alice. Esta ao ver o tio correu lhe deu um belo abraço e foi chamar a avó. A senhora de cabelos grisalhos apareceu em um canto mais afastado do local, vestia um belo vestido azul marinho e tinha um chalé cinza sobre os ombros. Seu cabelo curto bem arrumado a deixava mais bonita.

– Meu filho, que bom vê-lo. Não esperava você aqui tão cedo, pensei que chegaria encima da hora como no ano passado – a Sra. Bruk deu um pequeno sorriso.

– Trabalhei apenas pela manhã e como à senhora anda cobrando visitas minhas, resolvi vir mais cedo. Espero que minha presença tenha sido boa.

– Mas é claro meu filho, aceita uma xícara de chá? – ela pegou uma xícara de porcelana branca pintada com detalhes de flores em tons rosados e colocou um pouco de chá antes mesmo que o filho respondesse a pergunta.

– O brigado. Não sabia que Shofie já estava aqui e com sua família – ele olhou discretamente para o homem sentado no sofá e logo a irmã veio lhe cumprimentar.

– Nós almoçamos com a mamãe hoje aqui mesmo no apartamento – Shofie falou com um ar sereno no rosto e olhou para a filha que estava a brincar sobre o tapete da sala – Alice vá brincar no quarto de hóspedes.

– Deixa filha, quando for mais tarde ela vai para o quarto. Os outros só chegaram mais tarde à final de contas hoje é dia de trabalho.

 William tomou o chá, agradeceu à gentileza a mãe e saiu para a sala sentando-se ao sofá junto ao esposo de sua Irma. Por um tempo ficaram apenas a vislumbrar a pequena garota brincando com sua boneca e mais alguns brinquedos. Branca como a mãe, mas com cabelos finos, encaracolado e castanho claro. O pai da pequena Alice se levantou, foi até a varanda e William o acompanhou.

– William como anda a empresa que era do seu pai? – o senhor de bela feição perguntou olhando para a rua.

– Anda bem, com lucro e progressos. Meu pai não devia ter se preocupado tanto, pois após aquela crise logo a empresa melhorou e hoje rende bons frutos.

– Dá para ver que sim, pelo belo carro lá fora e a bela casa que sua mãe possui. Ela fala muito bem de você, sabia? Só se queixa de não vir visitá-la mais vezes – o homem observou a calma expressão no rosto de William.

– Eu sei e já expliquei a ela o motivo.

Eles ficaram conversando um bom tempo quando a Sra. Burk resolveu ir até o cemitério em que o falecido marido estava enterrado. O sol já estava a se por quando a família Burk e amigos entraram no cemitério e ficaram a frente da lapide de pedra, nela estava o nome e a foto do falecido empresário. Não era um dos lugares mais bonitos da cidade, porém o sol de tom alaranjado no céu dava uma beleza a onde não se tinha. Ficaram por ali um bom tempo entre orações e o som do vento a passar pelo local. William não havia percebido que o seu irmão Roberto estava lá, os dois a distancia um do outro, o que foi prudente da parte deles permanecerem assim.

A noite caiu sobre a cidade quando a família se reuniu na sala de jantar da casa da Sra. Burk. A mesa ficou pequena para tanta gente ali sentada, a louça de porcelana com detalhes em prata mostrava o quanto à dona da casa se preocupava com os pequenos detalhes. William se sentou a mesa em um lugar aleatório ao lado de sua tia Marta, irmã do seu falecido pai, mas logo percebera que o irmão estava a sua frente o que lhe deixou um pouco desgostoso. Pensou em trocar de lugar, porém recuou da ação, resolveu permanecer ali e olhando os demais familiares. Discretamente ele pode ver que o irmão possuía a mão enfaixada e um corte no canto de uma das sobrancelhas.

A Sra. Burk pediu para todos ficarem em silêncio em quanto a musica preferida do seu falecido marido ecoava pela sala de jantar. Era o som de um piano e um violino tocando uma melodia calma, mas era apenas instrumental. A pós o fim da musica ela fez um pequeno discurso e deu início ao jantar, porém um dos irmãos da Sra. Burk se levantou segurando a taça não direita e falou aos entes presentes:

– Querida família, sei que hoje não é um dia de alegria, apesar de estarmos todos bem… – o velho senhor gordo, de óculos deu uma pequena pausa – mas, quero agradecer a mais esse jantar. Minha querida irmã como sempre faz tudo impecável. Quero dedicar esse brinde a ela.

O senhor ergueu sua taça, os demais presentes o acompanharam batendo seus copos. Nesse momento Roberto deu uma olhada com uma expressão fechada para William, isso não parecia nada bom. O jantar seguiu como de sempre, com conversa e pequenos discursos. Logo depois todos ficaram espalhados pela casa, cada um conversando e as crianças a correr pelo local. William caminhou ao encontro do irmão que estava olhando um quadro de natureza morta pendurado na parede e resolveu conversar:

– Meu querido irmão – ele falou com um sorriso sarcástico – como estas?

– Estou muito bem obrigado, longe de você morando em um lugar belíssimo ao ar livre, trabalhando com a natureza. Diferente de você que vive entre quatro paredes do escritório da fabrica do nosso falecido pai, aliás, você roubou dos seus irmãos e da nossa mãe, não é? – a expressão no rosto de Roberto mostrava um pouco de raiva.

– Eu herdei a empresa e foi nosso pai que colocou no testamento que a direção dela deveria ser realizada por mim e pela mamãe. Mas, ela abdicou do cargo e me deixou com a maior parte das ações, pois confia em mim para gerir o nosso tesouro familiar que você nunca teve interesse em fazer parte. Você, mais do que ninguém sabe que nossa mãe recebe um salário maior do que as ações dela dão direito – William também estava com a expressão fechada e eles estavam mais perto um do outro.

– Eu tentei dar um rumo melhor para a empresa, mas o papai nunca me ouviu, só queria saber do filho prodígio. Eu nunca passei de… Como é mesmo que você me chama. Ha! Sim de adolescente inconsequente.

– É isso mesmo que você é um adolescente. Isso dá para ver no seu machucado no rosto e nessa mão enfaixada. A posto que isso foi mais uma das suas peraltices – William estava a tratar o irmão como uma criança, apesar dele ter 32 anos.

A Sra. Burk chegou perto dos dois a fim de cumprimentar os filhos, porém percebeu que algo de errado estava acontecendo.

– Roberto meu filho o que foi isso na sua mão – a senhora possuía uma expressão de preocupação.

– Não foi nada de mais – disse Roberto olhando com raiva para o irmão.

– Roberto Burk me conte direito o que sucedeu. Sei que não deve ter sido “nada de mais” – a Sra. Burk estava pronta para dar uma bronca.

– Isso Roberto fala para a mamãe o que aconteceu no dia da escalada na cachoeira – o irmão mais velho possuía um tom forte na voz.

– Como você sabe que eu estava escalando a cachoeira? – Roberto focou surpreso.

– Claro que eu sei, pois uma enfermeira ligou lá para o escritório informando que Roberto Burk havia desmaiado após cair quando estava escalando uma cachoeira.

Nesse momento Roberto fez um movimento querendo machucar o irmão, isso deixou a mãe deles nervosa. Os dois irmãos insinuaram uma briga, mas logo foram separados.

– Roberto, você foi para o hospital e nem ao menos ligou para informar a sua mãe? – o rosto da senhora estava um pouco pálido.

– Eu não queria preocupar a senhora mãe. E esse engomadinho não deveria ter aberto a boca – Roberto fez um movimento como se fosse fechar a boca do irmão, mas o mesmo retirou a mão com força.

– Este moleque perto das nossas vistas já era um perigo imagine longe de nós. Só podia ter ocorrido isso – William tocou no corte na sobrancelha do irmão.

– Eu sei me virar sozinho não preciso preocupar a mamãe com nada. Eu tenho meus amigos onde moro que fizera companhia a mim. Falando em companhia, onde será que está Helena. Há! Que pena ela deixou a vida monótona para procurar uma melhor. Que mulher adorável, educada e de belas pernas e que corpo gotoso o dela. Acho que você não sabe, mas ela me procurou várias vezes com a finalidade de uma companhia e que companhia gostosa essa em – Roberto deu um leve piscada do olho esquerdo para o irmão e um sorriso sarcástico.

Isso provocou ira em William que quase acertou outro soco no irmão, mas Roberto logo o pegou e empurrou para um canto da sala desarrumando todo o local. Os dois trocaram tapas e socos, porém só pararam ao ouvirem um grito fino e verem a mãe deles caída ao chão. Duas pessoas que estavam perto dela levantaram-na e levaram para o quarto. Shofie se adiantou, ligou para o pronto socorro hospitalar e solicitou uma ambulância. Em quanto isso algumas pessoas estavam conversando preocupadas, logo um dois irmãos da Sra. Bruk se dispôs a levá-la ao hospital, porém foi repreendido e resolveu esperar pela ambulância. Esta demorou um pouco a chegar.

A sala de espera do Hospital Universitário de João Pessoa logo focou repleta de integrantes da família Burk. Todos estavam preocupados com a Sra. Burk e alguns olhavam com uma expressão não muito boa para William e Roberto. Shofie chegou perto do irmão mais velho e falou-lhe:

– Está vendo o que aconteceu graças a sua briga – ela estava desgostosa com o irmão.

– Eu não tenho culpa se o seu irmãozinho é um homem de ações inconsequentes e nem ao menos comunicou a nossa mãe sobre o fato. Aposto que você também não sabia disso não é? – William manteve o olhar para o corredor do hospital.

– Realmente não sabia e o que o Roberto fez não foi nada bom, mas você deveria ter deixado ele em paz – ela estava olhando fixamente para o irmão.

– Como poderia ficar calado ele estava me provocando, como sempre faz. Próxima vez que ele estiver na casa da mamãe eu vou embora.

 O hospital estava cheio e dava para ver os profissionais passando pelo local, mas nenhum deles vinha para dar notícias sobre a Sra. Burk. William resolveu andar um pouco até a janela do prédio e visualizou uma noite um pouco fria, mas a cidade estava no seu ritmo normal. Ele observou o seu reflexo no vidro, estava com o queixo roxo e nariz um pouco inchado, mas nada que se preocupar. Isso fez lembrar-se de uma briga que ele e o irmão tiveram quando mais novos.

William tinha acabado de sair da escola, foi um dia cansativo de treino de natação. Ele sempre fora para casa a pé, pois sua escola ficava próxima, com isso resolvei percorrer o caminho mais curto. No caminho passou por uma praça e observou que havia uma pessoa familiar sentada em um dos bancos, ele estava com o boné virado para traz, preto que possuía um desenho de skate vermelho. Ele olhou mais atentamente e viu que o rapaz estava acompanhado por uma garota, deu para perceber pelo rabo de cavalo. William resolveu chegar perto dos dois e vou que era o irmão dele com a namorada do irmão. Isso produziu fúria em William que foi logo os indagando:

– O que vocês estão fazendo aqui nessa praça sentados mais distante dos demais? – ele não possuía uma expressão muito boa no rosto.

– Irmão, está indo para casa é? Eu estou tomando conta de sua namorada, pois ela está um pouco nervosa, como você sabe, ela irá fazer apresentação amanhã no concurso de dança – Roberto estava calmo.

– Mas, aqui nesse lugar? – William continuou aborrecido.

– Calma William, não estamos fazendo nada de mais. O seu irmão me viu preocupada e resolveu dar um passeio comigo para me acalmar. Não aconteceu nada aqui e nem pretendia que ocorresse algo – a garota estava preocupada.

– Porque não me procurou? Eu estava no colégio treinando.

– Eu sei, mas não queria atrapalhar você com bobagens – ela continuava preocupada.

– Como sempre ocupado de mais para dar atenção a quem de fato merece que é a sua namorada não é querido irmão – Roberto falou com deboche.

– No mês que vem participarei de um campeonato de natação, mas se ela tivesse me procurado teria deixado tudo pra lá para ficar com MINHA NAMORADA – ele falou com propriedade.

Daí por diante os irmãos discutiram, acabaram tendo uma briga feia e ficaram machucados. William perdeu a namorada por conta da perseguição do irmão. Este sempre ficava atrás das namoradas do irmão mais velho, isso acabou trazendo discórdia entre os dois. William sempre fora um aluno aplicado, atleta de natação e o orgulho da família. Roberto sempre se metia em confusões, indisciplinado e acabou com um braço quebrado quando resolveu descer uma ladeira íngreme encima de um skate sem usar proteção alguma no corpo. Ele deu muita dor de cabeça à mãe e ainda dá.

O tempo passava e nada de notícias sobre o estado de saúde da Sra. Burk, isso estava deixando todos na sala de espera apreensivos. Eles se mantiveram quietos quando Roberto se levantou e resolveu quebrar o silêncio:

– Eu vou falar com a enfermeira, não podemos ficar aqui de braços cruzados sem fazer nada. Alguém tem que nos dar notícias, já faz tempo que estamos aqui à espera – ele possuía uma expressão de preocupação.

– Calma, sentes-se o melhor a fazer é esperar. Não podemos fazer nada – disse Shofie.

Ele não ligou para o que a irmã dissera, mas se dirigiu a recepção e perguntou sobre o estado da mãe mais não conseguiu a resposta que desejará nenhuma notícia no momento. Ele viu uma enfermeira passar perto dele, se virou e segurando no braço da profissional a questionou pedindo notícias da mãe, porém ela disse que não está no caso da familiar dele. Ela tentou acalmá-lo, mas ele se alterou e começou um escândalo no hospital, depois correu para o corredor mais próximo a procura de algum médico, mas dois enfermeiros o seguraram pelo braço e o retiraram do local. Roberto mesmo desgostoso foi levado à sala de espera e ficou lá sentado escutando a reclamação dos familiares presentes. Roberto havia se sentado, estava com as mãos sobre a cabeça e com uma expressão não muito boa. Para não gritar mais uma vez no local ele se levantou e descera as escadas, seu tio Murilo foi atrás dele e William fez o mesmo movimento, porém foi repreendido pela irmã sendo segurado pelo braço:

– William deixe o Roberto pra lá, nosso tio vai cuidar dele. O melhor é você ficar aqui conosco, nosso irmão não vai gostar de vê-lo ir atrás dele – Shofie possuía a voz forte o que fez o irmão se convencer de sentar e esperar no local.

Minutos depois viram Murilo que havia seguido atrás de Roberto voltar sem o sobrinho. Sua esposa foi até ele e o indagou:

– Querido onde está Roberto? Ele está bem? – ela estava preocupada assim como os demais familiares.

– Aquele safado saiu correndo, mas consegui alcançá-lo a frente do hospital. Tentei levá-lo a lanchonete para tomarmos café, entretanto ele pegou a chave do meu carro que estava pendurada no cinto da minha calça – nesse momento todos se entreolharam.

– Meu Deus, o que aquele maluco resolveu fazer dessa vez. Vamos ligar para ele para saber onde está enfiado – disse William.

– Deixa que eu mesmo faça isso, afinal o carro é meu – disse Murilo.

 O telefone de Roberto só estava dando caixa postal, isso fez todos ficarem mais preocupados ainda. A Sra. Burk doente no hospital e um dos filhos dela sumido de forma impensada. A chuva caia lá fora quando Shofie recebeu uma ligação inesperada, todos voltaram seus olhares para ela:

– Oi querido… – ela estava ouvindo com atenção – não temos noticias ainda, ela pode estar muito mal ou sei lá ninguém fala nada. Pra piorar a situação Roberto pegou a chave do carro do Tio Murilo e saiu Deus sabe para onde e… – ela foi interrompida pelo marido – o que? – ela deu uma pausa – está com febre, tenho que ir imediatamente para casa. Vou pedir para alguém me deixar ai… Eu sei querido, me espere.

Ela parecia preocupada, se levantou e pediu para William a deixar em casa, pois sua filha Alice adoecera e estava com febre. Ela pediu para que a informassem assim que tivessem notícias da mãe dela. O irmão gentilmente pegou a bolsa da irmã e saíram, mas ele avisou que voltaria. O tempo estava frio, caia uma chuva passada na cidade o que fez William manter cuidado ao dirigir. Ele deixou a irmã em casa e não quis subir, preferiu voltar para o hospital. No caminho percebeu que o seu carro precisava de gasolina, foi ao posto mais próximo. Com o carro abastecido resolveu ir até a conveniência do local e observou que um carro familiar estava estacionado lá, ele entrou no estabelecimento e comprou café. Ao sair da pequena lanchonete escutou um barulho, andou um pouco mais adiante e encontrou o irmão sentado na calçada com uma garrafa de cerveja na mão.

– Então é aqui que resolveste se esconder não é – William cutucou a cabeça do irmão com delicadeza – levante-se, eu te levo para casa.

– Não vou a lugar nenhum com você e estou de carro, não viu estacionado ali – Roberto permaneceu sentado e falou rispidamente.

– Carro este que é do nosso tio, venha comigo depois ele vem pegar o automóvel – William estava ficando irritado e forçou o irmão a se levantar a contra gosto.

– Eu até posso ir para a casa da mamãe, mas não com você. Aliás, que se dane, não estou a fim de ficar com você e com mais ninguém. Todos me odeiam mesmo, para que ficar no hospital – Roberto se apresou, entrou no carro antes que William o alcançasse e saio rápido do local. William acabou perdendo o irmão de vista.

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