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Jardim Brasil

Jardim Brasil [ep. 8]: A flor dos seios

 

 

MARIA LIS – VÍTOR RODRIGUES

 “A flor dos seios”

Na sala, Nazaré sentada no sofá com um livro na mão, ela lê tranqüila. O silêncio que dominava a casa é quebrado pelo barulho dos saltos de Maria Lis batendo no chão enquanto ela caminhava da sala para o quarto.

Maria Lis chega à sala e vê Nazaré sentada no sofá e estranha que ela não está arrumada pra sair.

Maria Lis: Por que você não se trocou ainda mãe? É a festa em comemoração a minha formatura. Eu sou advogada agora.

Nazaré abaixa o livro e olha pra Maria Lis: Meu amor. Eu estou tão feliz e orgulhosa de você. Você sabe disso. Mas eu não vou sair hoje não. Eu não to animada pra isso não. Mas eu quero que você vá e se divirta muito.

Maria Lis: Mas mãe… É a minha formatura. Você precisa ir.

Nazaré: Na colação de grau eu vou sim. Vou gritar seu nome. Vou tirar fotos. Mas balada não é pra mim. Ainda mais que é boate.

Maria Lis segura a mãe de Nazaré e a puxa, fazendo com que Nazaré se levante do sofá.

Maria Lis: Não vou aceitar isso. Meu dia especial. Papai já morreu há quatro anos, mãe. Tá na hora de superar. Arrumar um companheiro novo.

Nazaré: Eu vivi casada mais de 20 anos, você acha mesmo que eu quero me encravar com homem de novo? Tô fora.

Maria Lis: Uns paqueras pelo menos.

As duas ouvem o som de buzina de carro do lado de fora da casa.

Nazaré com um sorriso sarcástico: E quem disse que eu não tenho paqueras? Eu só não tô a fim de sair querida. O Matheus já tá lá fora te esperando. Mais um motivo pra não ir. Eu sei muito bem aonde vocês vão depois da boate.

As duas riem, Maria Lis beija o rosto de Maria e sai. Maria se joga de volta do enorme sofá e volta pro seu livro.

 

Na entrada da boate, Matheus e Maria Lis caminha de mãos dadas, cada vez mais adentrando a boate. Os dois conversam com dificuldade por causa da musica alta.

Maria Lis: Mas eu queria que ela estivesse aqui comigo. Não gosto de ver ela em casa numa sexta à noite.

Matheus: É o jeito dela, amor. Quando ela tiver vontade de sair, ela sai. Você conhece sua mãe melhor que eu.

Maria Lis: Minha mãe precisa de um namorado novo. Isso sim.

No meio da boate, Maria lis vê Fernanda de longe, sua melhor amiga, que também a vê. As duas correm uma em direção da outra gritando de alegria, ate que se encontram e se abraçam.

Maria Lis: Eu achei que você não iria vir.

Fernanda: Você acha mesmo que eu ia perder essa comemoração. Você é minha melhor amiga. Jamais deixaria de vir.

Maria: Eu to tão feliz. Você ta linda falando nisso.

Fernanda com tom de piada: Ta me cantando? Se tiver eu gostei.

Maria rindo: Boba.

Fernanda percebe que Matheus está atrás de Maria e sobrando na conversa e o cumprimenta com um beijo no rosto.

Fernanda: Tudo bem, Matheus?

Matheus: To ótimo. E você? Ainda ta em busca da mulher perfeita?

Fernanda: Sempre. Você deu sorte de encontrar rápido, mas eu não.

Maria: Enquanto isso você se diverte com as imperfeitas, que eu sei.

Fernanda: O meu problema é esse. Todas as mulheres são perfeitas pra mim. Acho que a gente precisa beber. Vêm.

Fernanda segura à mão de Maria e a puxa para o bar da boate. Matheus vai logo atrás delas.

Fernanda debruça no balcão do bar: Marquinhos, duas beats e uma cerveja.

Matheus: Beats? Você não vai beber isso não, né amor? Você é fraca pra bebida.

Fernanda o interrompe: Hoje é comemoração. Relaxa Matheus. Hoje a noite é das meninas.

Maria beija Matheus: Só uma.

Fernanda entrega a garrafa long neck de cerveja pra Matheus e a de beats pra Maria e fica com uma na mão.

Fernanda: Noite das meninas, então nós vamos dançar. Vem amiga.

Matheus: Você sabe que se algum marmanjo beirar você eu chego na porrada.

Maria: Então bebe logo e vem dançar comigo. Não sei por que você tem que ficar bêbado pra dançar.

Matheus: Sou tímido.

Maria beija Matheus e vão pra pista de dança com Fernanda. Na pista de dança, Maria Lis e Fernanda dançam juntas. Elas se divertem como se essa noite fosse única, como se estivesse apenas as duas na pista de dança.

 

Matheus e Maria entram no quarto de motel. Maria estava embriagada e muito excita. Ela observa o quarto grande, com banheira, cama redonda e um enorme espelho no teto.

Matheus: Você está bem amor? Acho que você bebeu demais.

Maria Lis: Eu tô ótima. Sabe o que eu quero? Quero dançar pra você. Quero fazer um strip-tease pra você.

Matheus: Você tá falando serio? Acho que você bebeu além da conta.

Maria: Eu bebi a conta certa. Eu quero fazer um strip-tease porque eu te amo.

Maria puxa Matheus pela camisa e o joga na cama. Matheus se acomoda na cama, enquanto Maria Liz liga o som e se prepara pra dançar pra Matheus. De costas pra cama, rebola no ritmo da musica, e olha para trás com o canto dos olhos e sorri de uma maneira sexy. Matheus sentado na cama começa a se excitar com o balançar do corpo de Maria Lis. Ela puxa uma pequena alça do vestido amarrada no pescoço, desamarrando e fazendo com que o vestido caísse no chão, deixando Maria apenas de calcinha e sutiã. Não era a primeira vez que Matheus via o corpo de Maria Lis nu, mas toda vez pra ele era única. E dessa vez não foi diferente. Hipnotizado pelas curvas da amada ele se levanta da cama e vai até ela e a beija.

Matheus: Você é muito gostosa. Eu amo ver o seu corpo assim.

Maria Lis: Ta gostando? Então volta pra cama que eu não acabei.

Matheus tira a camisa e senta na cama. Maria Lis continua dançando no ritmo da musica e sobre em cima da cama. Ela tira o sutiã e joga pra Matheus que pega e cheira, Maria Lis tem pé entre as pernas dele, tira a calcinha e se inclina pra frente até beijá-lo. Maria empurra o tronco de Matheus até que ele fique totalmente deitado na cama, Maria beija o peito de Matheus e desce para barriga, a beija e desce até o pênis. Completamente excitados, Maria faz sexo oral em Matheus por um bom tempo enquanto ele se contorcia de prazer e tesão.

Maria sentada no colo de Matheus, ela cavalga no namorado. Completamente apaixonados um pelo outro eles se olham. Olho no olho. Sentia o fogo dessa paixão ao redor dos dois. O momento íntimo e prazeroso que apenas reforçava essa paixão. Matheus passa a mão sobre os seios de Maria Lis que se incomoda e sente um pouco de dor.

Maria: Ai. Espera.

Matheus preocupado: O que foi amor? Apertei demais?

Maria lis sem graça: Não. Acho que só estou um pouco bêbada.

Matheus vira Maria na cama e a coloca deitada.

Matheus: Então relaxa que é a minha vez de fazer você ficar tranqüila.

Matheus desce até o meio das pernas de Maria e faz sexo oral nela.

No banheiro, Maria Lisa dentro do box toma banho, lava os longos cabelos escuros enquanto lembra da noite quente de amor que teve com o Matheus na noite anterior. Maria Lis passa a mão sobre os seios e percebe um caroço. Estranhando a presença do caroço, ela pega a toalha se enrola nela e sai do banheiro.

 

Na sala da Dra. Carla, Maria em pé com a blusa de botões aberta e os seios amostras, Carla faz o exame físico apalpando os dela. Maria Lis se mostra impaciente e preocupada.

Maria Lis: E ai Doutora? Fala que não é nada. Por favor.

Carla: Calma. Espera.

Maria Lis: Já da pra saber, não dá? É coisa da minha cabeça não é?

Carla: Você está me desconcentrando Maria. Eu preciso ter certeza. Isso é serio.

Maria Lis: Desculpe. Mas eu estou preocupada.

Carla: Eu sei.

Carla solta o seio de Maria e volta pra sua mesa. Maria se veste e senta à mesa de frente pra calar.

Maria Lis: Eu to morrendo?

Carla: Eu identifiquei sim um nódulo no seu seio. E acredito que não foi agora que você percebeu que havia um caroço no seu seio. Ele não está tão pequeno assim.

Maria Lis: Na verdade, já faz um tempinho. Mas eu tava preocupada com as provas finais do meu curso e… Fala de uma vez, eu vou morrer não é isso?

Carla: Não fala besteira. Você não vai morrer. Eu vou encaminhar você pra fazer uma biopsia da mama. Quero ter certeza do diagnostico.

Maria Lis desesperada: É câncer não é? Eu tenho certeza que é. Olha a sua cara. Fala de uma vez que eu estou com câncer. E que eu não tenho mais tempo de vida.

Carla tenta acalmar Maria Lis: Calma, Maria. Você pode sim está com câncer. Mas só vamos ter certeza depois desse exame. Você não vai morrer. Temos tratamentos pra isso. Você precisa acreditar. Não dá pra ficar assim. Sofrendo por antecipação. Você vai fazer a biopsia da mama. Eu vou te acompanhar nisso.

 

Sozinha no consultório de Carla, Maria sentada à mesa fica pensativa e apreensiva com o resultado do exame. Seus pensamentos se perdem junto com as lamentações de que se ela não tivesse deixado a saúde de lado pra concluir seu curso, ela talvez não estivesse ali, nessa situação. Carla entra a sala com o resultado do exame nas mãos.

Maria Lis apreensiva: Vamos acabar logo com essa tortura.

Carla se senta à mesa: O resultado biopsia demora em media uns dias pra ficar pronto, mas eu pedi urgência pra você.

Maria Lis irônica: Eu estou tão mal que precisou pedir urgência. Que animado isso.

Carla: Eu pedi urgência por que você estava desesperada… Mas infelizmente, você realmente está com câncer de mama.

Aquelas palavras entram em Maria como um soco forte no rosto. Ela estava meio zonza e sem chão.

Maria Lis: Não… Fala pra mim que é mentira – Com a voz embargada – eu vou morrer?

Carla: Não. Para de falar isso Maria Lis. Hoje em dia existem vários tipos de tratamentos. Você não morrer. Você tem que ter fé.

Maria Lis desespera: Você disse que eu devia ter vindo antes. Que não está mais em estagio inicial. Eu li, eu fiz pesquisas sobre o câncer de mama e ele é o que mais mata mulheres. Eu sei que eu estou condenada.

Carla tenta acalmá-la: Você não pode ficar assim. Nós temos que dar início ao tratamento. Você precisa se acalma. Maria Lis… Eu vou pegar um pouco de água pra você.

Maria Lis desesperada: Não quero.

Maria Lis pega a bolsa e sai da sala desesperada.

 

Na sala, Nazaré anda de um lado para o outro. Preocupada com o sumiço da filha o dia inteiro.

Nazaré: Meu Deus. Onde essa menina se meteu? Eu vou ligar para a polícia.

Nazaré pega o telefone e começa a digitar os números e Maria Lis entra na sala. Uma expressão desesperada. Ela estava pior do que quando havia saído de manhã. Isso era nítido e Nazaré percebeu.

Nazaré: O que aconteceu filha? Onde você estava?

Maria Lis chateada e sem querer conversar: Agora não mãe.

Maria Lis caminha em direção ao seu quarto e Nazaré vai atrás.

Nazaré: Conversa comigo filha. Eu to preocupada com você. Você desapareceu o dia inteiro. O Matheus ligou pra cá umas 20 vezes hoje. Ele também está preocupado. O que aconteceu.

Maria Lis entra no quarto e fecha a porta na cara de Nazaré. Ela tranca a porta e se lembra das palavras da Doutora Carla e chora. Completamente fora de si, ela pega um porta retrato de vidro e joga em direção ao espelho na parede. Os dois se quebram com o impacto. Maria passa a mão sobre as coisas em cima da sua escrivaninha. Do lado de fora Nazaré ouve os gritos e o choro desesperado da filha. Nazaré bate na porta tentando entender o que aconteceu.

Nazaré: Filha. Abre a porta. O que aconteceu? Fala comigo, por favor. Maria Lis. Fala com sua mãe. Eu to desesperada aqui fora.  Filha. Filha…

Enquanto Nazaré bate na porta tentando ajudar a filha, Maria chora sentada no chão em meio à bagunça que se tornou quarto.

 

Em pé na sala, Nazaré e Matheus conversam. Nazaré estava visivelmente abalada. Uma noite mal dormida de preocupação com a filha.

Nazaré: Eu não sei Matheus. Ela saiu cedo e voltou à noite. O jeito que ela voltou foi pior que o jeito que ela saiu. Aconteceu alguma coisa. Eu não sei o que é. Eu não sei como ajudar a minha filha. Você tem noção de como eu estou me sentindo incapaz.

Matheus: Calma. Eu vou falar com ela.

Nazaré: Eu tentei falar com ela a noite toda e ela não abriu a porta. Tomara que você consiga.

Matheus caminha até a porta do quarto e bate na porta.

Matheus: Amor? Ta tudo bem? Abre a porta, por favor.

Matheus não tem resposta de Maria Lis e bate na porta de novo.

Matheus: Maria… Abre a porta, por favor. O que ta acontecendo com você?

Maria Lis abre a porta do quarto, Matheus vê que ela está com os olhos inchados, a maquiagem borrada por causa do choro, o quarto todo bagunçado.

Matheus: O que aconteceu com você amor?

Maria Lis de uma maneira fria: Acabou.

Matheus: Acabou o que? Do que você está falando?

Maria Lis: Da gente. Acabou. Eu não quero mais. Eu quero que você me esqueça. Eu quero te ver mais. É disso que eu to te falando.

Matheus sem acreditar: Você não ta falando serio. O que aconteceu? Você não está bem. Olha seu estado.

Maria Lis: Vai embora. Eu não quero te ver. Você não entende isso?

Matheus: Eu não vou. Você não está bem. Olha o que você fez no seu quarto. Que quero te ajudar.

Maria Lis: Mas eu não quero que você me ajude. Eu quero que você desapareça da minha vida. Acabou. Eu não te quero mais. Aceita isso.

Matheus: Não. Vou ontem me disse que me amava.  A gente fez amor e você disse que me amava. As coisas não mudam assim. O que aconteceu? Fala pra mim.

Matheus se aproxima de Maria Lis.

Maria Lis: Eu menti. Eu não te amo. Eu falei por falar. Eu não quero mais nada. Foi divertido, mas acabou.

Matheus: Eu não aceito isso. Maria… Você ta fora de si. Eu não sei o que aconteceu, mas nós vamos passar por isso juntos.  Porque eu te amo e você me ama. Eu sei disso.

Maria Lis: Eu te traí.

Matheus se assusta com as palavras de Maria Lis e a encara.

Maria Lis: Eu te traí e te traio há algum tempo. Não quero mais isso. Você não merece isso.

Matheus desacreditado: Você não está falando sério.

Maria Lis empurra Matheus pra fora do quarto e fecha a porta.

Maria Lis grita: Vai embora.

Nazaré chega ao corredor dos quartos e vê Matheus desolado.

Nazaré: O que aconteceu?

Matheus desacreditado: Sua filha não presta.

Matheus sai do apartamento com raiva.

 

No corredor dos quartos, Nazaré com uma bandeja com lanche, caminha até o quarto de Maria Lis e percebe que a porta está apenas encostada. Nazaré abre a porta e vê Maria Lis sentada no chão, olhando as fotos com Matheus.

Nazaré: Licença. Eu trouxe um lanche pra você.

Maria Lis: Quero comer nada não mãe.

Nazaré coloca a bandeja na mesa e se senta do lado da filha.

Nazaré: O que ta acontecendo com você filha? Você não é assim. Eu não sei mais o que fazer pra tentar te ajudar.

Maria lis: Eu só quero ficar sozinha mãe.

Nazaré: Eu quero te ajudar filha.

Maria Lis: Então me deixa sozinha. Por favor. Sai.

Nazaré levanta e sai do quarto.

 

Maria Lis toda mal arrumada com os cabelos desgrenhados, caminha pelo corredor e vai até a sala, ao chegar ela percebe Fernanda e Nazaré conversando sentadas no sofá.

Maria Lis: O que a Fernanda está fazendo aqui mãe?

 

Fernanda: Sua mãe está preocupada com você. Não só sua mãe. Todo mundo. Você sumiu o dia inteiro e quando voltou está se comportando de uma maneira muito estranha. O que aconteceu com você?

Maria Lis: Não aconteceu nada.

Nazaré: Você está toda desarrumada. Você era tão vaidosa. Claro que aconteceu alguma coisa.

Fernanda levanta e vai até Maria, a pega pela mão e a sentado lado de Nazaré, Fernanda senta no chão, ficando as três próximas.

Fernanda: Eu te conheço há alguns anos e sei que você está com problemas. Imagina sua mãe que te pôs no mundo… Ela esta destruída vendo você assim. Nós queremos te ajudar.

Maria Lis com a voz seca: Eu to com câncer de mama – Escorre lagrimas dos seus olhos – Eu to morrendo.

Fernanda em choque: Meu Deus.

Nazaré desacreditada abraça Maria Lis: Você não pode está falando sério.

Maria Lis chorando: Mas eu to mãe. Eu tô. E eu ao quero que vocês fiquem com piedade de mim. Vocês têm que se afastar de mim igual o Matheus.

Nazaré: Você terminou com o Matheus pra ela não saber que você tem câncer?

Maria Lis: Eu quero ver ele preso a minha por causa de uma doença. Ele não precisa sacrificar a vida dela por causa de uma moribunda.

Nazaré: Para de falar assim. Você não vai morrer. E o Matheus não vai aceitar isso.

Maria Lis: Ele não pode saber. Vocês estão me ouvindo? Eu não quero que vocês contem isso pra ele. Eu to confiando em vocês. Eu não agüentaria ver o homem que eu amo com olhar de pena pra mim.

Fernanda: Ninguém está com olhar de pena pra você. Mas foi um choque pra todos. Você já começou o tratamento?

Maria Lis: Você não entendeu. Eu estou morrendo. Não adianta o tratamento que fizer. Eu vou morrer de qualquer forma. Então acho melhor vocês fazerem igual o Matheus e se afastarem de mim.

Nazaré: Jamais eu vou me afastar de você. E não quero você desistindo da sua vida assim. Você não vai morrer. Tem tratamento pra câncer de mama. E você vai fazer e vai se recuperar.

Maria Lis: Não adianta, mãe. A médica já disse que está avançado e que eu vou morrer.

Fernanda: Desculpa amiga, mas eu duvido que uma médica tenha dito isso a um pacientes.

Nazaré: Vai se arrumar filha. Nós vamos ao médico agora.

Maria Lis: Não. Eu não quero. Eu não quero ver mais pessoas. Eu não quero que fiquem me olhando com pena. Com piedade.

Fernanda: Para de bobagem. Ninguém sabe que você tem câncer. Para com isso. Você vai nem que eu tenha que te arrastar.

Maria Lis: Tudo bem eu vou me trocar.

 

Na sua sala, Carla sentada à mesa conversa com Nazaré, Fernanda e Maria Lis.

Carla: Eu fico mais aliviada que voltou. Aquele dia você saiu desesperada. Não teve jeito de conversarmos.

Maria Lis: Eu sei que eu vou morrer. Não queria estar aqui. Elas que me obrigaram.

Nazaré: Para de falar isso. Você não vai morrer.

Carla: A luta pela vida tem que partir principalmente de você. Se você não quer viver, seu corpo não vai aceitar o tratamento da maneira que devia. Você tem que acreditar em você.

Maria Lis: Mas eu tenho chances de viver?

Carla: Claro que tem. E nós vamos fazer de tudo pra isso.

Maria Lis: Obrigada.

Fernanda: E como vai ser o tratamento dela?

Carla: Bom. Vamos dar inicio a quimioterapia.

Maria Lis: Quimioterapia é aquele tratamento que o cabelo cai? Eu vou ficar careca?

Carla: Um dos efeitos da quimioterapia é esse. O mais importante aqui é você se curar.

Fernanda: Cabelo cresce de novo.

Nazaré: Eu te dou o meu, se você quiser.

Carla: A quimioterapia age impedindo ou retardando o crescimento das células cancerosas, que crescem e se dividem rapidamente. Vamos fazer de tudo pra conseguir controlar ele na quimioterapia.

Maria Lis: E se não conseguir controlar? Se a quimioterapia não funcionar.

Nazaré: Não pensa assim.

Carla: Vamos precisar retirar o seio.

As três ficam apreensivas

Fernanda: Mas não vai precisar disso. A quimioterapia vai funcionar sim. Eu tenho certeza.

 

Na sala de tratamento, Maria Lis deitada em uma poltrona recebe o tratamento pela veia, Nazaré sentada do seu lado de filha segura sua mão. Carla se aproxima das duas.

Carla: Como você está se sentindo?

Maria Lis: Cansada. Um pouco fraca.

Nazaré: É normal não é?

Carla: É sim. Pode ficar tranqüila. Eu vou fazer algumas verificações se está tudo certo.

Nazaré: Claro. Fique a vontade.

Nazaré se levanta e caminha até a porta da sala. Ela faz o sinal da cruz e sussurra uma oração. Ela observa a filha sendo tratada.

 

Na cozinha, Nazaré no fogão prepara o jantar e sente que tem alguém na porta, ela se vira e vê Maria Lis e em seguida percebe a maquina de cortar cabelo nas mãos dela.

Maria Lis com os olhos cheios de lagrimas: A pia do banheiro ta cheia de cabelo. Eu já estou com falhas.

Nazaré abraça a filha: É normal. É um dos efeitos da químio.

Maria Lis: E você ainda querendo que eu falasse a verdade para o Matheus. Eu não quero que ele me veja assim. Eu tô horrível.

Nazaré: O Matheus te ama e eu tenho certeza de que a queda do seu cabelo não ia mudar isso.

Maria Lis: Corta pra mim?

As duas se encaram. Olhos nos olhos.

Na sala, Maria Lis sentada no sofá, Nazaré passa a maquina na cabeça da filha cortando o seu cabelo. Maria Lis que sempre foi vaidosa e adorava cuidar do seu cabelo, vê sua vaidade indo embora junto com os fios cortados caindo da sua cabeça.

Maria Lis completamente careca se olha no espelho de mão e chora. Nazaré se aproxima dela e enxuga suas lagrimas.

Nazaré: Você está linda.

As duas se abraçam.

 

Na sala, Nazaré arruma a bolsa enquanto Maria Lis sentada no sofá observa a mãe.

Maria Lis: Mãe.

Nazaré: Fala querida.

Maria Lis: Eu to achando que eu não vou ao shopping não. Não quero que me vejam assim.

Nazaré: Mas nós vamos lá pra comprar lenços, chapéus. Não é o que você queria?

Maria Lis: Sim. Mas eu tô ainda com um pouco de vergonha. Você se importa se eu não for?

Nazaré: Claro que não meu amor. Eu já vou.

Nazaré sai do apartamento. Maria vai pra cozinha e pega a jarra de suco da geladeira e coloca no copo. Ela ouve o som da campainha.

Maria Lis: Aposto que esqueceu a chave.

Maria Lis vai até a sala e abre a porta e vê Matheus. Maria se assusta e deixa o copo cair no chão. Matheus já estava preparado pra ver Maria Lis um pouco debilitada, mas não imaginava que ela estaria careca. Um pouco assustado ele não conseguiu falar muita coisa.

Matheus: Maria…

Maria Lis tenta fechar a porta e Matheus segura a porta.

Matheus: Espera. Me ouve.

Maria Lis: Não. Vai embora. Eu não quero que você me veja assim. Sai.

Matheus: Eu quero te ajudar. A Fernanda me contou tudo. Para de resistir isso. Porque você está fazendo isso comigo?

Maria Lis abre a porta: Você não sabe o que eu estou passando. Eu péssima. E você me ver assim só piora as coisas. Eu não quero seu olhar de pena. Eu não quero que você me veja assim. Sai daqui.

Maria Lis fecha a porta e encosta na porta assustada.

 

 

Na sala de Carla, ela conversa com Nazaré e Maria Lis, sentadas à mesa.

Nazaré: Então Carla? Como que a Maria está?

Maria Lis esperançosa: Regrediu não foi?

Carla com um tom sério: Maria Lis… Eu queria muito que a minha noticia fosse boa, mas…

Maria Lis: Não fala que eu vou ter que passar por toda a quimioterapia de novo. Eu não agüento mais isso.

Carla: Infelizmente não vai ser quimioterapia.

Nazaré: Como assim?

Carla: Eu pedi opinião de outro mastologista e ele só confirmou o que eu já sabia…

Maria Lis com lagrimas escorrendo no rosto: Eu vou ter que tirar os seios, não é?

Carla: Eu sinto muito.

Maria Lis desaba em choro: Não. Não.

Nazaré: Por favor, Carla. Fala pra mim que tem outra alternativa. Por favor.

Carla: Eu queria que te tivesse Nazaré. Mas o tumor não regrediu. A mastectomia é a solução indicada agora.

Maria Lis: Eu vou ficar menos mulher, mãe. Eu nunca vou conseguir me casar. Ninguém vai querer uma mulher sem peito.

Nazaré: Claro que não. Você vai ficar vem. Eu tenho certeza disso.

Carla vai até Maria e segura sua mão.

Carla: Já tem cirurgias de reconstituição de seios. Com plástica você vai conseguir um efeito ótimo.

Maria Lis desesperada: Não. Não. Mãe, eu não quero ficar assim. Por que meu Deus? Por quê?

 

No quarto, Maria Lis deitada na cama, desolada chora pelo diagnostico, Fernanda entra no quarto.

Fernanda: Sua mãe me contou o que diagnostico. Você está bem?

Maria Lis se levanta da cama: Sai daqui.

Fernanda: O que aconteceu? Eu quero te ajudar.

Maria Lis: Não. Você não quer me ajudar. Eu pedi pra ninguém revelar nada pro Matheus e você traiu minha confiança.

Fernanda: Eu sei que não devia ter falado nada. Mas foi sem querer. Eu não fiz por mal. Já se passou meses que você afastou o Matheus e não justifica você continue assim.

Maria Lis: Pra você. Mas sou eu quem está doente e não cabe a você julgar o que eu sinto.

Fernanda: Eu não to julgando nada. Você está me julgando por um deslize que eu dei, mas foi tentando ajudar.

Maria Lis: Um deslize que destruiu muita coisa. A minha confiança por exemplo.

Fernanda: Desculpa, mas se coloca no meu lugar. Eu vi vocês começarem essa historia de amor e sempre apoiei e de repente você o afastou, e eu só quis ajudar.  Você fala como se eu tivesse matado alguém.

Maria Lis: Mas você matou. Você matou a nossa amizade, você matou a minha confiança. Se eu estivesse no seu lugar eu nunca teria feito o que você fez. Eu guardaria o segredo.

Fernanda: O que eu posso fazer pra você me perdoar?

Maria Lis: Se afastar de mim, Fernanda.

Fernanda sai do quarto, Maria se joga na cama.

 

No quarto de hospital, Maria Lis sentada na cama, Nazaré em pé do lado e Carla no pé da cama.

Carla: A sala de cirurgia já está sendo preparada. Daqui a pouco nós vamos te operar e tudo vai ficar bem.

Nazaré: A cirurgia é demorada?

Carla: Umas duas horas mais ou menos.

Maria Lis: Eu estou com medo.

Nazaré: Não precisa ficar com medo. Eu já to aqui agarrada com minha Nossa Senhora e eu tenho certeza que ela vai interceder por você.  Não tem nenhum risco não, né Carla?

Carla: Toda cirurgia tem seu risco. Mas nesses casos, o risco é mínimo. Eu vou me preparar. Daqui a pouco a enfermeira vem te buscar.

Maria Lis: Tá bom. Obrigada.

Carla sai do quarto. Nazaré senta do lado de Maria Lis.

Nazaré: Me escuta. Vai dar tudo certo. Você vai ficar bem. Eu queria muito poder trocar d e lugar com você, só pra não ter que te ver passando por isso.

Maria Lis: Eu te amo, mãe.

 

No quarto, Maria Lis dorme sedada na cama e Nazaré sentada no sofá no canto do quarto a observa. Matheus entra no quarto com um boque de flores.

Matheus: Como ela está?

Nazaré: Agora está bem. Não sei se ela vai gostar de te ver aqui. Ainda mais nessa situação. Ela está sem os cabelos, sem um seio.

Matheus: Eu já passei tempo demais afastado dela, Nazaré. Eu não vou deixar ela me afastar de novo por uma coisa boba.

Maria Lis começa a acordar e vê Matheus e se assusta.

Maria Lis: Mãe, tira ele daqui. Ele não pode me ver assim.

Matheus vai até a cama.

Matheus: Eu trouxe flores pra você.

Maria Lis: Por favor, Matheus. Eu não sinto bem com você me vendo assim.

Matheus: Escuta o que eu vou te falar. Eu não vou repetir. Você não devia ter me afastado de você quando descobriu que estava com câncer. Eu queria estar lá com você pra te apoiar. Pra te mostrar que eu ia cuidar de você.

Maria Lis: Eu não queria que você me olhasse com pena. Que ficasse comigo por dó e não por que me deseja.

Matheus: Eu nunca vou olhar pra você com pena, com dó. Porque eu sempre olho pra você com amor. E te desejar? Eu te desejo sempre. Agora por exemplo, o que me segura de não deitar com você nessa cama e fazer amor com você é o pós-operatório e sua mãe aqui.

Nazaré: E aqui é um hospital.

Matheus: Isso também.

Maria Lis sorri: Bobo – Com um tom sério – você está falando isso, porque eu quase morri.

Matheus: Não. Eu to falando isso por que eu te amo. E vou continuar te amando com o ou sem cabelos, com o sem seios. Eu só quero poder estar sempre do seu lado. Porque eu te amo.

Matheus beija por cima do curativo do seio retirado de Maria Lis e em seguida a beija.

 

Meses depois…

Na igreja, Maria Lis com um belo vestido de noiva e com seu cabelo Chanel se casa com Matheus vestido de terno. No altar Nazaré e Fernanda assistem o casamento.

Padre: O noivo pode beijar a noiva.

Matheus beija Maria Lis, os convidados na igreja batem palmas.

 

Na festa de casamento, os convidados se divertem, dançam, bebem. Matheus e Maria Lis tentam dar atenção aos convidados. Maria Lis se aproxima de Fernanda.

Fernanda: Casada. Quem diria.

Garçom passa e duas se servem com champanhe.

Maria Lis: Até hoje eu não me conformo em ter brigado com você.

Fernanda: Esquece isso. Já se passou mais de um ano. O importante que você ta bem. Com silicone e feliz que é o que importa.

Maria Lis: Mas pra me redimir eu vou te contar um segredo.

Fernanda: Fala.

Maria Lis: Sabe quem eu convidei pra festa, é gata, está solteira e é bissexual?

Fernanda: Quem?

Maria Lis: Doutora Carla.

Fernanda: Fala sério.

Maria Lis: Seriíssimo. E ela está ali sentada na mesa sozinha.

Fernanda pega a taça de Maria Lis: Você ta casada, vai transar hoje ainda. Eu que tenho que dar meus pulos. Tchau.

Fernanda caminha em direção a Carla. Maria Lis caminha pra perto de Nazaré e as duas se abraçam.

Nazaré: Minha filha casada. Eu to tão feliz.

Maria Lis: A senhora não tem idéia da minha felicidade então. Obrigada por tudo. Por não desisti de mim. Por ser essa mãe especial que você é.

Nazaré: Eu jamais desistirei de você.

Maria Lis: Eu também nunca vou desistir da senhora e sempre vou… – Maria Lis percebe que Nazaré piscou, ela olha pra trás e vê um homem de 45 anos aproximadamente, bonito, piscando de volta – Mãe…

Nazaré: Eu te disse que eu tinha meus paqueras.

Maria Lis e Matheus se encontram na porta do salão.

Matheus: Acho que já está na hora dos noivos saírem à francesa.

Maria Lis: Como que eu fui tão burra de querer te afastar?

Matheus: Não vamos pensar nisso. O importante que estamos aqui juntos. E prestes a viajar pro Canadá.

Os dois se beijam.

Matheus: Eu te amo.

Maria Lis: Eu também te amo.

Os dois saem do salão e entram no carro estacionado na porta. O carro arranca e  vai pela rua afastando da festa, aos poucos o carro vai desaparecendo da rua. A imagem vai subindo em direção ao céu, apenas se ouve o barulho da festa e a imagem do céu escuro da noite. Uma estrela cadente passa cortando o seu de ponta a ponta.

 

 

Próximo episódio: Angélica procura emprego numa oficina mecânica de cidade do interior, mas precisa lidar com os preconceitos que surgem ao tentar a vaga de mecânico além de administrar os conflitos com a filha adolescente.
Autor: Domingos Santiago
Data de publicação: 06 de março

2 comentários sobre “Jardim Brasil [ep. 8]: A flor dos seios

  • Você é declaradamente fã das histórias e narrativa do autor Manoel Carlos e não imaginaria você escrevendo diferente. Falo isso porque li “Histórias da Vida”. Admito não ser nenhum pouca fã do Maneco e das histórias deles. Mas não fiz a leitura da sua história com nenhum preconceito quanto à isso. É apenas uma observação por se tratar de algo que percebi no texto até de forma imediata.

    Mas falando de Maria Lis, o fato de escrever em roteiro não me causa incômodo. É uma história com muito drama (pelo tema e sua forma de abordagem). Achei um texto desprendido de muitos detalhes e apresentou o drama da Lis em todas as fases: a vida antes da descoberta do câncer, a descoberta, a auto-rejeição, a decisão em se afastar do namorado e esconder o problema para mãe, o drama que fez em torno da doença. Recebi tudo isso com naturalidade por perceber sua proposta. As cenas ágeis contribuíram com isso e dá esta dimensão de tudo que envolve uma notícia como a Maria Lis recebeu.

    Falando do final: cheios de clichês. Não sou nenhum pouco fã deste tipo de final porque acho hollywoodiano demais e tudo dá certo ao final. Admito ser um pouco da corrente pessimista. É minha opinião como leitor, mas você foi muito coeso ao apresentar um final assim, pois atende à sua expectativa e a do público, principalmente a quem é fã de narrativas assim.

    Escrever é isso! Fazer como gosta e isto é perceptível no seu texto ao se debruçar em apresentar um drama como este em todas as fases.

  • Bem, começou não seguindo bem a proposta de escrever em literário… E os sentimentos não ficaram bem expressos, as reações eram deduzidas pelo leitor. Houve uma confusão de nomes num momento “As duas riem, Maria Lis beija o rosto de Maria e sai.”, mas acontece! Quem nunca, né? A pontuação e a ortografia tiveram erros também.
    Eu não achei tão necessária a cena em que ela se relaciona com o namorado, foi descrita demais – e, mesmo se não tivesse sido, que lê logo iria perceber que ela estava com câncer por causa do toque que Matheus deu no seio dela. Mas talvez seja para fazer o cenário de que ela estava “curtindo” seu sucesso, seu namorado e tudo mais.
    Não achei convincente o jeito que Matheus saiu enfurecido da casa, até parece que Maria estaria agindo assim por tê-lo traído. Se ela fazia isso há algum tempo, não teria razão para se sentir mal. Se ela repetiu a suposta traição tantas vezes, esse não seria o motivo daquele desespero. Parece que o namorado dela (agora ex) não a conhece muito bem.
    É uma situação delicada, entendo que Maria Lis tenha ficado convicta da morte, porque é isso que a sociedade sempre pinta quanto ao câncer… Que é morte na certa. Mas tratamento está aí para ser feito. Não se pode desistir antes de tentar.
    Que bom que Fernanda contou a Matheus, por mais que Maria Lis não quisesse… Ele tem o direito de saber a verdade, ela é a garota que ele gosta. Que coisa.
    Um final feliz bem clichê! Não falo isso criticando, porque eu admito que gosto, hahahaha! Parabéns pelo seu texto. Não aprovei tudo o que aconteceu. O drama de Maria Lis poderia ter sido mais desenvolvido. As cenas foram bem rápidas para caber na história, mas é compreensível sendo apenas um capítulo. Enfim, é isso! Achei bom.

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