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Irmãos de Guerra

Irmãos de Guerra | Episódio 001

Irmãos de Guerra

  • Web Série de
  • LUCAS BITTENCOURT

 

CENA 01 – MORRO DO BIQUE – EXT – DIA

Letreiro na tela: “1997, morro da bique”.

Dia ensolarado no morro do bique. Um samba é tocado ao fundo, “Meu Ébano”, Na voz da musa Alcione. As belas mulatas passam com água na cabeça, com shortinhos curtos e blusa cortada ao meio, mostrando o umbigo. Os cabras perigosos estão na formada da gangue, perto de becos, fumando maconha. A garotada jovem, ainda inocente, joga bola em um areal aberto.

Entre os meninos, estão Jason, 13 anos, pele negra, cabeça raspada, faz parte da área, e seu amigo Tom, 13 anos, branco, loiro, olhos claros. Os dois jogam no mesmo lado. Jason está com a bola:

            Tom — Eu to livre, passa a bola pra mim!

Jason passa a bola pra Tom, que chuta pro gol, mas bate na trave. O outro lado vai ao delírio. Os outros ficam indignados com Tom.

            Bola (A Jason) Não era pra ter passado a bola pra esse imbecil não!

            Jason Qual é, deixa rapa, ele tentou!

Zé pilantra, o chefe dos traficantes, aparece na cerca, com mais dois capangas, Zuga e Putu. Zé assovia pra Jason. Ele se aproxima.

            Jason Fala pilantra, não to te devendo nada não, né?!

            Zé Pilantra — Relaxa, rapa! Eu não vim te cobrar nada não! É o seguinte, o que tu faz com aquele moleque ali? – Diz apontando com queixo pra Tom.

            Jason — Ah, aquele ali é o Tom, ele é meu amigo!

            Zuga — Eu ouvi dizer que ele é fie do policial que prendeu o Zé!

            Jason É, Mas isso já faz tempo!

            Zé Pilantra — Faz tempo nada, eu ainda to querendo pegar aquele filho da puta!

            Jason — Olha cara, o Tom não tem nada haver com isso!

            Zé Pilantra — É bom tu sair de perto dele, ta ligado! Esse garoto vai trazer encrenca pra comunidade, entendeu!

            Jason — Olha, eu conheço ele, não vai dar nada de errado!

            Zé Pilantra — Acho bom!

Jason volta a jogar bola…

https://www.youtube.com/watch?v=Ym0hZG-zNOk

CENA 02 – MORRO DO BIQUE – OUTRA RUA – EXT – DIA

Do alto da ladeira do morro, um carro preto dos traficantes pula em alta velocidade com seus revolveres atirando em um carro de policia, que vem logo atrás, também mandando bala. As pessoas que estavam na frente da rua, largam suas coisas lá mesmo e saem correndo; outros se agacham para não levar tiro.

CAM dentro do carro dos traficantes.

            Buiú   — Anda, porra, acelera essa merda! (atira para trás) Eles tão quase nos alcançando! Vai… Vai…

Buiú mira no pneu do carro da policia, e atira. O a viatura para e os traficantes conseguem escapar.

O delegado Jorge sai do carro, irritado.

            Jorge — Mas que droga! Esses miseráveis conseguiram escapar de novo!

Outro policial que estava com ele aparece.

            Policial — Eu já chamei outra viatura, chefe!

            Jorge — Excelente! Mas acho que não será preciso, Théo já deve estar por aqui!

            Policial — Fazendo o quê?

            Jorge — Deve ter ido buscar o filho dele! Não sei como ainda permite deixá-lo vir pra esse… (pensa) Esse ninho de marginais!

Jorge enxuga o suor que escorre pela sua testa.

CENA 03 – CALÇADA – EXT – DIA

Os moleques estão sentados ali, descansando, bebendo água… Tom conversa com Jason.

            Tom — O que aqueles cara queriam contigo?

            Jason — Ah, nada!

            Tom — Eu conheço ele! Meu pai já prendeu ele…

            Jason — Olha, nem comenta esse assunto por aqui… Ele não gosta muito disso, entendeu?… Entendeu?

Tom balança a cabeça.

Uma viatura para em frente deles, os outros moleques saem correndo pensando que pode ser encrenca. Ficam só Tom e Jason. Os malandros ficam de tocaia, espiando. Do carro, desce Théo, policial militar, sério, e pai de Tom.

            Tom É o meu pai!

Tom corre e abraça seu pai.

            Théo — O que faz aqui?

            Tom — Eu vim jogar bolas com os meninos!

Théo olha pra Jason, que paralisa ao ser analisado por um policial. Theo se aproxima dele.

            Théo — Tem quantos anos, moleque?

            Jason — 13!

            Theo — Você tem pai?

            Jason — Meu pai já morreu!

            Theo — Tem mãe?

            Jason — Sim!

            Theo — Cuidado pra não cair na gangue como esses teus vizinhos!

            Jason — Pode deixar, senhor!

Tom entra no carro, Theo ao abrir a porta, leva seu olhar a um beco, onde avista Zé pilantra, que o encara enfurecidamente. Sem abalar-se, Theo entra no carro e dá a partida.

CENA 04 – CARRO DE THEO – INT – DIA

Theo ao volante, Tom ao lado.

            Tom — Porque fez aquelas perguntas ao Jason?

            Théo — Só pra dar um alerta a ele!

            Tom — Mas não precisava. Jason é um cara bacana, legal… Ele não tem cara de ladrão, nem drogado…

            Théo — É só uma questão de tempo!

            Tom — Mas pai, nem todos dali são assim!

            Théo — São sim, Tomas! Todos aqueles infelizes são bandidos, todos aqueles pirralhos, se tornaram bandidos, e eu não quero ver você mais por aqui… Você tem que seguir os passos do seu pai, tem que ser policial e botar essa gente toda na cadeia! Não quero que meu filho vire um trombadinha, ladrão… Entendeu? Tomas olha pra mim! ENTENDEU?

            Tom — (Cabisbaixo) Sim, pai!

CENA 05 – CASA DE THÉO – SALA – INT – DIA

Tom entra já correndo por seu quarto. Theo vem mais atrás, Luzia, mãe de Tom e esposa de Theo aparece.

            Luzia — Porque o Tom se trancou no quarto!

            Theo — Nada não… É que ele ta precisando de uma boa disciplina!

            Luzia — Theo, você não bateu nele de novo não, né?!

            Theo — Claro que não, meu amor. Só dei alguns conselhos e tirei daquela malandragem…

            Luzia — Ele só queria brincar, só isso!

            Theo — Naquelas bandas não se brinca, se aprende: aprende a ser bandido, traficante, estuprador…

            Luzia — (Grita) Para! Meu filho não vai ser isso…

Corta para:

CENA 06 – CASA DE THEO – QUARTO DE TOM – INT – DIA

Tom, deitado na cama, ouvindo os gritos da briga de sua mãe e seu pai.

            Theo (Off) — Então, já que não quer que ele se torne isso, é só não deixar mais brincar naquele maldito morro!

            Luzia (Off) — Ta bom, então. Ta certo! Ele não vai mais brincar pra li!

CAM close no rosto de Tom, que se desespera ao ouvir.

 

CENA 07 – CASA DE JASON – BANHEIRO – INT – DIA

Em um banheiro mal rebocado; Jason fumando maconha escondido. A fumaça que solta pela nariz, fazem seus olhos arderem. Ouve-se a voz de sua mãe lhe chamando.

            Lorraine (Off) — Jason, oh menino, tem um garoto querendo falar contigo no telefone!

Jason joga o cigarro dentro da privada e rapidamente dá a descarga.

            Jason — Já vou! Deixa só eu limpar minha bunda!

CENA 08 – CASA DE JASON – SALA – INT – DIA

Jason aparece, Lorraine já estava ali o esperando.

            Lorraine — O que tava fazendo esse tempo todin no banheiro?

            Jason — Tava cagando!

            Lorraine — (Ainda desconfiada) Hum… Tem um garoto aqui no telefone querendo falar com tu!

Lorraine deixa o telefone e sai. Jason atende.

            Jason — Alô! (…) Fala ai, Tom! (…) Por quê? Seus pais?… Ta bom… (…) E eles não vão desconfiar não? Ta bom então… Tchau!

CENA 09 – RUA DO MORRO – EXT – NOITE

O canto dos grilos toma conta da noite fria e escura. Jason vem andando por ali, cautelosamente. Tom já aparece mais a frente. Jason caminha até ele.

            Jason — O que ta fazendo?

            Tom — Meus pais não querem mais deixar eu vi pra cá!

            Jason — E por quê?

            Tom — Porque eles acham que eu vou virar um trombadinha, ladrão… Assim que nem tu!

            Jason — Isso é mentira, eu não sou…

Jason para por um estante, e arremata:

            Jason — Ta bom, eu fumo!

            Tom — O quê?

            Jason — Eu uso maconha, entendeu ou quer que eu desenhe?

            Tom — (Abalado) Não, Jason, isso não pode ser verdade! Meu pai tinha razão sobre você… Você é um bandido…

            Jason — (Irritado) E tu, hein? Vai virar um viadinho medroso, filhinho de papai…

            Tom — Não… Não pode ser…

Tom sai correndo…

            Jason — Corre mermo, sua marica!

Jason da um soco contra a parede, chateado.

CENA 10 – RUA INDETERMINADA – EXT – NOITE

Tom está por ali, correndo, desesperado e perdido no meio daquela favela. Ao lado um bordel, uma mulher, PROSTITUTA, aparece na rua frente.

            Mulher — Ta perdido, gatinho?

            Tom — (Arfante) Não, meu pai ta ali, e ele é policia!

Ela sai ligeiramente de perto dele. Tom continua a correr, até esbarrar numa gangue que estava mais em frente.

            Homem#1 — Ta maluco muleque, perdeu alguma coisa aqui?

            Tom — Não…

            Homem#2 — Eu to lembrando do muleque, ele é filho do policial que prendeu o Zé pilantra…

            Homem#1 — Ah, esse ai é o filho dele… Qual é muleque? O que faz aqui?

CENA 11 – CASA DE THÉO – QUARTO – INT – NOITE

Theo entra, pensando que Tom está dormindo.

            Theo — Filho, o jantar está pronto! (se aproxima) Olha, me desculpa por dizer aqueles coisas, mas é pro seu próprio bem… Filho? Tomas?

Ele puxa o lençol e descobre que Tom não está lá. Sai correndo.

CENA 12 – CASA DE THÉO – COZINHA – INT – NOITE

Luzia servindo-se. Theo aparece, apavorado.

                        Luzia — Cadê o Tom?

                        Theo — ele sumiu!

                        Luzia — (espantada) o quê? Como?

                        Theo — Eu não sei… Ele não ta no quarto…

                        Luzia — meu deus… Onde está o meu filho?

Luzia começa a entrar em desespero…

            Luzia — Não tem nenhuma pista, nada?

            Theo — Não… Mas acho que sei pra onde ele foi!

            Luzia — Onde?

            Theo — Fique aqui, se ele aparecer me liga!

            Luzia — Espera, Theo, onde você vai? THÉO…

Theo sai. Luzia aos prantos de desespero, começa a rezar.

 — FIM DO CAPÍTULO —

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