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Histórias da Vida

Histórias da Vida – Capítulo 5

Capitulo 5

Continuação do capitulo anterior…

Cena 1.

Valéria entrega a carta à Maria.

Maria: Que carta é essa? O que tem aqui?

Valéria: Eu sei que é falta de educação, mas eu não resisti. Eu li. Basicamente está falando que o Junior não é só o filho adotivo de vocês. Que ele é o filho de um caso que ele teve fora do casamento e ele trouxe pra sua casa.

Maria: O que?

Valéria: Isso mesmo. O Heitor te traiu e ainda trouxe o filho da amante pra você cuidar.

Maria: Como que você consegue ser tão mentirosa? E você nem treme a voz pra isso.

Valéria: Eu não estou mentindo. Não preciso minha querida. É só você ler a carta. Você conhece a letra do seu querido marido, é só ler. Eu adoraria ficar aqui e ver a sua reação ao ler tudo que está escrito ai, mas eu não posso. Tenho que terminar de me arrumar para o velório do meu amigo e cunhado que faleceu.

Valéria sai do quarto.

Maria: Isso não pode ser verdade.

Maria senta na cama e abre a carta e a lê.

(Em off, a voz de Heitor lê a carta.)

Heitor: Maria. Eu sei que se você está lendo essa carta o pior aconteceu comigo. Eu sei que não fui o melhor homem pra você, que sempre fiz minhas burradas e não foram poucas. Mas você sempre esteve ao meu lado. Me ajudando, sendo meu refugio, minha salvação. Eu queria muito poder estar olhando nos seus olhos pra falar tudo que eu tinha pra falar, mas eu não tive coragem. Eu sou fraco, covarde, um completo imbecil. Há 6 anos atrás, quando nosso casamento passava por mais uma de nossas crises, eu fui fraco e conheci uma outra mulher. Um caso rápido, ela nunca significou nada pra mim. Mas nessa brincadeira ela engravidou e queria abortar. Eu não deixei, não acho certo abortar, como você mesma me ensinou. Então, eu a fiz levar a gravidez até o fim e quando a criança nasceu eu a trouxe pra viver com a gente. Durante um tempo tudo ficou bem, até que ela voltou e me chantageava, queria dinheiro e mais dinheiro pra não revelar a verdade. Eu tive que pegar o dinheiro que eu tinha, pra pagar ela. Até que acabou o meu dinheiro. E eu tive que usar o seu. E quando o seu acabou eu foi procurar com o agiota. Minha divida estava cada vez maior e eu estava cada vez mais enrolado com ele. Eu espero de coração que quando você estiver lendo essa carta, eu já tenha quitado minha divida com o agiota. Eu te peço que você possa me perdoar algum dia e que não desconte a raiva que você deve estar sentindo agora no Junior. Porque de todos envolvidos, ele é o que não tem culpa nenhuma disso. Me perdoe, por favor. Apesar dos meus erros, você sempre foi e sempre vai ser a mulher que eu amo.

Maria termina de ler a carta chorando.

Maria: Eu não estou acreditando nisso.

Flashback.

Casa de Maria.

5 anos atrás.

Maria e Heitor conversam na sala.

Heitor: …Esse meu amigo é médico. Ele cuida de pessoas carentes, moradores de rua. Essas coisas.

Maria: Eu acho um trabalho muito digno. Trás ele aqui algum dia, quero muito conhecer ele.

Heitor: Claro. Você vai adorar ele. O trabalho dele. É incrível. Mas eu quero falar de um assunto serio com você.

Maria: O que foi?

Heitor: Ele estava tratando de moradora de rua que estava grávida e não resistiu ao parto. Aconteceram algumas complicações, eu não sei explicar direito.

Maria: Coitada.

Heitor: E eu estava pensando em adotar a criança. Ele está sozinho no mundo. Não se conhecem o pai dele, a mulher não tinha família. Não podemos deixar essa criança sozinha no mundo.

Maria: Adotar, Heitor?

Heitor: Sim. Você adora crianças. É uma ajuda ao mundo. Você mesma diz que são os pequenos gestos que mudam o mundo. Não vamos mudar o mundo adotando essa criança, mas vamos mudar o mundo dela.

Maria: Frases de efeito?

Heitor: Pensa com carinho. Por favor.

Heitor abraça Maria.

Casa de Maria.

Heitor abre a porta da casa. Ele entra e logo em seguida entra Maria com Junior nos braços.

Maria: Olha Junior. Essa é sua nova casa. Aqui você vai ser amado. Muito amado.  Eu já estou apaixonado por ele.

Heitor: Eu estou muito feliz por ele, por você. Muito obrigado por ter aceitado.

Maria: São os pequenos gestos.

Heitor: O seu foi enorme.

Heitor beija Maria.

Maria: Vamos lá em cima conhecer seus irmãos?

Dias atuais.

Maria sentada na cama.

Maria: Meu Deus, o que esta acontecendo com a minha vida.

Cena 2.

Casa de Maria/ Na sala.

Maria chega à sala e vê que todos estão sentados no sofá esperando por ela.

Junior levanta e vai até Maria.

Junior: Mamãe…

Maria encara Junior por alguns segundos, um filme passou por sua cabeça de tudo que já aconteceu na vida dela, e de tudo que ela acabou descobrindo nos últimos dias, mas a essa altura da vida, ela não se importava com quem era a mãe ou o pai verdadeiro de Junior. Ela abre um leve sorriso. Maria o pega no colo.

Maria: O que foi meu amor?

Junior: Eu te amo.

Maria emocionada com as simples palavras de Junior, Mas que a essa altura já mexia com seus sentimentos depois de tudo que ela tinha vivido nos últimos dias.

Maria: Eu também te amo, filho. Amo todos vocês. Está na hora de irmos despedir do pai de vocês.

Cena 3.

Cemitério.

O caixão de Heitor está fechado por ter sido queimado durante a explosão. Todos velavam o seu corpo. Amigos e parentes. Um clima tenso, triste. Ouviam-se choros e lamentações. Glória do lado do caixão. Olha pra porta e vê Maria e seus filhos entrando. Glória sai de perto do caixão e vai até Maria.

Glória: Como que você ainda tem coragem de vim aqui?

Maria: É o meu marido que está sendo velado. Eu vim me despedir, e meus filhos também.

Glória: É um absurdo.  Depois de tudo que você fez.

Carla: Por favor, As duas. Sem briga.

Perto do caixão, Valéria e Hélio observam.

Valéria: Acho melhor você fazer alguma coisa. Que vexame pra um velório.

Hélio vai até as duas.

Hélio: Parou essa briguinha. Ninguém aqui vai ficar disputando quem está sofrendo mais que a outra não. Mãe, a senhora fica no seu canto e a Maria você fica no sue também. Agora respeitem meu irmão.

Maria e seus filhos vão pra um lado e Gloria vai pra outro.

Todos se despedem de Heitor. E choram pela perda.

O caixão de Heitor é levado por 4 homens até a cova. Cada homem o segurava por uma alça nas extremidades do caixão. Seus amigos e familiares caminhavam atrás do caixão. O caixão é colocado à cova e o coveiro joga terra no caixão até ser totalmente enterrado. As pessoas ao redor do tumulo vão saindo pouco a pouco. Até o cemitério ficar completamente vazio.

Cena 4./Noite.

Casa de Glória.

Glória entra em casa, triste, cabisbaixo caminha até o sofá e senta. Glória olha para a mesinha de centro e vê um porta-retratos com a foto de Heitor. Glória o pega e olha para a foto por alguns instantes. Glória pega o celular na bolsa e liga para o celular de Heitor e cai na caixa postal.

Gloria chorando: Meu filho. Eu to sentindo tanto a sua falta.

Cena 5.

Calçada em frente da casa de Maria.

Maria e Janet conversam.

Janet: Conseguiu?

Maria: Sim. Mas eu fiquei com tanto medo.

Janet: Eu não sabia que o Heitor tinha feito uma conta tão grande. Ainda mais com pessoas tão perigosas como essa.

Maria: Você não sabe de nada, Janet. Outra hora quando tivermos tempo nós conversamos. Você não faz nem ideia de como minha cabeça está.

Cena 6.

Casa de Maria/Sala.

Maria entra e vê os filhos.

Maria: Eu sei que não está sendo fácil pra ninguém. Perder o pai de vocês de uma maneira tão brutal e inesperada como essa é complicada.

Nath: Eu to com medo mãe.

Maria: Não precisa ter medo. Eu sempre vou estar aqui com vocês.

Rafael: Promete que a senhora não vai nós deixar nunca.

Maria: Eu prometo.

Junior: Agora que não temos pai, nós não somos mais uma família?

Maria: Claro que não. Ainda somos uma família. Sempre vamos ser.

Carla: O que nós faz uma família é o amor. E não os membros que estão nela.

Diego: E gente se ama muito.

Maria: Muito.

Eles se abraçam.

Todos abraçados. Carla olha pra Maria.

Carla: Eu não sei o que está acontecendo de verdade, mas pode contar comigo sempre.

Maria: Obrigada.

Carla: É o que família fazem.

Cena 7.

(10 anos depois )

Cenas aleatórias do Rio de Janeiro. Maria e a família saindo da casa onde vivem. A casa sendo reformada. Os filhos de Maria crescendo. Indo pra escola. Faculdade. Maria e seus filhos voltam pra casa antiga, toda reformada e maior. Gloria se fechando cada vez mais na sua casa. Usando apenas roupas pretas. Helio e Valéria discutindo em frente à Patty. Janet inaugura seu salão de beleza. Na casa reformada, Maria e a família jantam em volta de uma mesa enorme e farta.

 Uma narrativa com a voz de Maria se passa junto com as imagens.

– Depois daqueles dias complicados, eu tentei colocar a minha vida em ordem. O dinheiro que eu tinha era pouco pra sustentar meus filhos, eu tive que vender minha casa. Comprei uma mais simples onde fomos morar por um tempo. Eu juntei dinheiro e consegui comprar outra casa que logo em seguida eu vendi, comprei outra e vendi, comprei outra e vendi, e foi assim durante anos, até que eu percebi que sem querer eu tinha me tornado uma corretora de imóvel. O dinheiro já começava a aparecer e eu pude comprar minha velha casa de volta, reformei e hoje vivemos nela. Meus filhos graças a Deus vivem bem, estudando, com saúde. Acho que superaram a morte do pai. Mas Gloria não, ela cada dia mais se fecha na sua casa, vivendo eternamente no luto. O casamento de Hélio e Valéria nunca foi um exemplo de casal feliz, mas ultimamente as brigas são mais frequentes e piores, quem sofre mais é a pequena Patty. Minha grande amiga Janet realizou seu sonho e abriu seu próprio salão de beleza. Desejo muito sucesso. Bom, dez anos se passaram, mas o destino nunca parou de preparar surpresas pra nossas vidas.

Cena 8.

Casa de Maria/ mesa do café da manhã.

Na mesa, Todos tomam o café da manha juntos.

Maria: Vocês sabem que já está tarde. Eu não quero ninguém chegando tarde ao colégio e nem na faculdade.

Rafael: Em uma frase, ela já expulsou 3 da mesa.

Nath: 3 não, 4. Estamos atrasados, Você vai ter que dar uma carona pra gente. Tenho uma prova muito importante hoje.

Diego: Se ferrou Rafael.

Rafael: Fala sério. Eu trabalhei a noite inteira, e ainda tenho que levar os pirralhos para o colégio?

Maria: Meu amor quebra esse galho pra mamãe. Eu tenho um cliente muito importante hoje de manhã. E eu quero passar no cemitério antes.

Rafael: Eu to morrendo de sono mãe.

Carla: Pode deixar. Eu os levo. To só esperando a Julia chegar.

Julia entra na cozinha.

Julia: Já cheguei. Vamos?

Junior: Salvo pelo gongo hein Rafael?

Rafael: Sempre.

Carla levanta.

Carla: Vamos então. Não quero ser culpada pelo atrasado de vocês.

Maria: Obrigada, filha.

Carla, Nath, Junior, Diego e Julia saem da cozinha.

Maria: Filho, Você não acha que já esta na hora de você arrumar um emprego melhor. Trabalhar a noite te desgasta tanto.

Rafael: Mãe. Eu amo a boate. Ser barman é ótimo e eu gosto. Não dizem que temos que trabalhar no que gostamos?

Maria: Se você está dizendo.

Rafael: Eu vou subir pra dormir, que estou morrendo de sono.

Maria: Eu também já estou de saída.

Cena 9.

Cemitério.

Maria em frente ao tumulo de Heitor. Olha para a foto na lapide e coloca algumas flores em cima da cova.

Maria: Eu achei que não ia dar conta de sobreviver a tudo que você fez na minha vida. De repende veio tudo de uma vez na minha cabeça. Parecia um tsunami devastando tudo na minha vida. Graças a Deus e a minha família eu consegui superar tudo.

Glória se aproxima de Maria.

Glória: Sempre vindo aqui. Remorso de tê-lo matado?

Maria: Dona Glória. Já se passaram 10 anos. Eu não tive culpa de nada. A senhora sabe disso. O Hélio já explicou o que aconteceu mais de 10 mil vezes. Mas a senhora prefere acreditar nisso.

Glória: Eu devia ter desconfiado naquele dia que você apareceu na minha casa toda meigazinha, querendo trabalhar pra mim. Você ia estragar a vida do meu filho. Você é como um tumor na vida dele. Foi destruído aos poucos. Até o fazer chegar ao óbito.

Maria sai caminhando: Eu não preciso ficar ouvindo isso depois de tudo que passei.

Glória: O que você passou? Você mal esperou o corpo dele esfriar e vendeu a loja que ele tanto amava. A casa que ele lutou pra comprar. Você sempre foi uma aproveitadora.

Maria volta até Glória.

Maria: Cala a boca. Cala a sua boca. Você não tem a menor ideia do que eu passei. Do que eu vivi. O teu querido filho não é e nunca foi o santo que a senhora tanto imagina.

Glória: Agora você vai ter a coragem de difamar meu filho em cima do tumulo dele?

Maria: Difamar? São tantas coisas que aconteceram que a senhora não tem a menor ideia, porque eu não quis te falar pra te poupar de mais esse sofrimento.

Glória: E o que meu filho fez? Fale-me. Já que você sofreu por conta dele.

Maria: Seu filho me traiu. Se não bastasse só a traição ele teve um filho e o trouxe pra debaixo do meu teto. Pra eu cuidar do filho da vagabunda com quem ele me traia.  Graças a Deus, eu amo todos os meus filhos e esses fatos não interferem no meu amor por eles. Mas o que seu filho fez foi imperdoável.

Glória: Você esta mentido.

Maria: Se fosse só isso, seria ótimo. Mas ele era chantageado pela mulher que sempre pedia dinheiro pra ficar calada. Ai ele foi até um agiota conseguir dinheiro e não pagou. Eles me ameaçaram e ameaçaram a vida dos meus filhos por isso. Eu tive que pagar sozinha, uma divida enorme que não era minha. Tive que me virar pra cuidar dos meus filhos sem dinheiro por causa do Heitor. A senhora ainda acha que seu filho é santo?

As duas se encaram.

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