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Histórias da Vida

Histórias da Vida – capítulo 35

Capítulo 35

Continuação do capítulo anterior…

Cena 1.

Glória: Você está tremendo, ta muito nervosa. Aconteceu alguma coisa com o Junior?

Maria: Com ele não, mas vai acontecer. Porque a Marcela voltou pra destruir minha vida.

Glória: Calma. Sente-se aqui. Cidinha, trás uma água, por favor.

Glória e Maria se sentam no sofá.

Glória: Glória é aquela mulher que tirava dinheiro do Heitor. E ela agora está atrás do Junior pra te atingir?

Maria: Sim. Eu não sei o que ela disse. O que ela inventou pro Junior que deixou ele desconfiado de mim. E por um azar do destino ele ouviu uma conversa pela metade entra a Janet e eu. E ele está acreditando mesmo que a Marcela disse a verdade. Que ela é a coitada e eu sou a ruim.

Glória: Ontem ele chegou aqui transtornado. Tentei acalma-lo, mas não adiantou.

Maria: Eu já não sei mais o que fazer. Quem pedir ajuda. Dona Glória, por favor, a senhor tem que me ajudar. Por favor. Eu não posso perder meu filho assim. A senhora sabe que essa mulher quer se aproveitar do Junior. Me ajuda.

Glória: Você pedindo minha ajuda? Acho que eu estou tendo delírios.

Maria: A senhora sabe que eu nunca fui orgulhoso. Muito menos tive algum rancor por todos esses anos de acusações. Eu não sei mais o que fazer. Eu perdi totalmente o controle da situação. Os problemas da minha família vieram todos de uma vez só. O casamento da Carla, A Nath e agora Marcela está conseguindo o que ela quer. Ela está em separando do Junior.

Glória: Por um longo tempo eu te odiei. Eu quis te ver pelas costas. Você não sabe como ainda é difícil ter essa conversa assim com você. Você tão próxima de mim e eu não fazendo esforço pra não te atacar. Acho que já é uma evolução na nossa complicada relação.

Maria: Eu adoraria estar comemorando isso com você, mas eu só consigo pensar no Junior agora.

Glória: O Junior é o único motivo que está nos unido nesse momento. Eu vou fazer o que puder pra conseguir abrir os olhos do Junior em relação à Marcela.

Maria: Muito obrigada. Sua ajuda vai ser muito importante. De verdade.

Cena 2.

Casa de Caio.

Na sala, Caio abre a porta e vê Vitória do lado de fora.

Caio: O que você está fazendo aqui?

Vitória: Por favor, me deixa falar com você.

Caio: Não temos mais nada pra falar Vitória. Você só vai se machucar. Eu não quero que você se machuque.

Vitória: O que me machuca é você me tratar assim. 5 minutos, é só isso que eu te peço.

Caio: Está bem, Vitória. Mas minha decisão já está tomada.

Vitória entra à sala.

Vitória: Seus irmãos estão ai?

Caio: Não. A Bia foi levar o Felipe na casa de um amigo.

Vitória: Assim fica melhor pra gente conversar sem interrupções.

Caio: Nós não vamos voltar Vitória. Nossa relação chegou ao limite que tinha que chegar.

Vitória: Esse limite é a Bia.

Caio: Esse limite é minha família. A Bia e o Felipe. Não é de hoje que vocês três brigam por motivos ridículos. E eu sempre no meio do fogo cruzado. Tentando não te magoar e não magoar meus irmãos. Mas acabou isso. Enquanto ficavam nas palavras, só nas briguinhas bobas, era controlável. Mas você foi alem, ao invés de você agir como uma adulta que queria casar, você ágil como uma adolescente. Você prejudicou minha irmã.

Vitória: Eu sei. Eu errei. Foi burra. Estúpida. Mas eu me arrependi. Por favor, Caio. Eu não sei o que eu faço da minha vida sem você.

Vitória ajoelha em frente á Caio.

Vitória: Me perdoa, por favor. Eu te imploro.

Caio: Por favor, levanta. Não faz isso, pelo amor de Deus. Não se humilhe assim. Antes de tudo goste de você.

Caio ajuda Vitória a levantar.

Caio: Como diz aquele ditado “quer me agradar, agrade meus filhos” meus irmãos no caso, que são como filhos pra mim.

Cena 3.

Casa de Valéria.

Na sala, Hélio e Patty conversam sentados ao sofá.

Patty: Como que o senhor acha que eu fiquei quando eu descobri que você e minha tia tinham um caso.

Hélio: Eu e a Maria nunca tivemos um caso. Foi apenas um beijo. Talvez dois, mas em situações diferentes. Nunca foi programada. Acontecia assim, sem a gente perceber. Como se não conseguíssemos controlar nossas ações.

Patty: Eu sempre achei que você e minha mãe iam morrer juntos. Brigando, infernizando um ao outro. Mas juntos.

Hélio: E seria justo?

Seria justo com sua ou comigo? Nosso casamento já acabou há muito tempo. Você já tinha visto. Eu lembro que você me perguntou como eu ainda conseguia manter meu casamento com a Valéria. Do jeito que ela era. Que ela é.

Patty: Eu sei pai. Mas filho nenhum quer que seus pais se separem. Principalmente que o pai se apaixone pela cunhada.

Hélio: Você prefere ver seu pai infeliz com um casamento horrível do que feliz amando de novo?

Patty: Claro que não. Eu quero que você seja feliz. Muito feliz.

Hélio e Patty se abraçam. Valéria entra em casa e vê os dois abraçados.

Valéria: Que cena linda. Um abraço fraternal de uma filha que viu seu pai nos braços de outra mulher traindo a própria mãe com o próprio pai adultero sem escrúpulos.  Acho que cheguei a me emocionar.

Hélio: Eu sabia que essa nossa conversa não podia ser aqui.

Valéria: Se sabia por que veio? Essa agora é minha casa. Não é sua casa. Você perdeu todo o direito dela quando você se atracou nos beiços da Maria sem vergonha. Destruindo toda uma família unida que se amava.

Hélio: Não força, Valéria. De unida essa família não tinha nada principalmente começando por você.

Valéria: Alem de me trair, vai querer dizer como eu devo sofrer.

Hélio: Pelo contrario. Você pode sofrer do jeito que quiser. Nosso casamento já acabou há muito tempo e eu não vejo mais motivos pra não assinarmos os papeis do divorcio. Eu estou com eles aqui na pasta e…

Valéria: E… Mas nada. Eu não vou assinar divorcio nenhum.

Patty: Mãe assina logo. Vocês não vão voltar mesmo.

Valéria: Não se mete. Gente grande conversando. Hélio, meu caro Hélio. Eu não vou assinar divorcio nenhum. Não a nada nesse mundo que me faça assinar.

Hélio: Eu queria que o nosso divorcio fosse amigável, mas você não me dá outra opção a não ser o litigioso.

Valéria: Amigável? Você realmente não me conhece Héliozinho. Vou fazer a sua vida um inferno.

Patty: Para com isso, mãe. Assina logo.

Valéria: Está defendo ele por quê? Você está debaixo do meu teto. Você tinha que me defender. Quer defender ele, vai morar com ele então.

Patty: Talvez eu vá.

Valéria: Então tchau, meu bem. RUUAA.

Cena 4.

Casa de Maria.

No quarto de Diego, ele e Flávia conversam.

Flávia: Eu fiquei esperando a madrugada inteira e essa manhã inteira. E nada de uma mensagem ou uma ligação sua me pedindo desculpas.

Diego: Eu sei que não foi uma experiência agradável pra você. Que ontem no motel foi algo constrangedor, mas não foi só pra você. Eu também fiquei constrangido. Envergonhado. Me sentindo estranho.

Flávia: Você devia ter ido até o fim. Você devia ter terminado a noite comigo. Se comportado como homem e não como um gay.

Diego: Eu sou um gay.

Maria na porta do quarto encara os dois. Flávia olha sem graça pra Maria, Diego percebe que tem alguém na porta, ele olha e vê Maria.

Diego: Mãe. Eu posso explicar. A senhora ouviu errado. É que…

Flávia: Eu vou embora. Depois você me liga Diego.

Flavia sai do quarto e Maria entra. Ela senta nos pés da cama e olha para o filho. Diego anda de um lado para o outro tentando pensar numa desculpa.

Diego: Eu vou te falar o que aconteceu… É o seguinte… A senhora ouviu pela metade e deve estar pensando que…

Diego para e fica de frente pra Maria. Ele sabia que já dava mais pra mentir pra ele mesmo. Nem pra sua família. Nesse momento os olhos dele já estavam cheios de lagrimas. Como se elas fossem um grito de socorro e precisavam sair. E elas saíram.

Diego: Eu não posso mais fingir ser quem eu não sou mãe. Eu não posso mentir pra mim. Eu sou gay. Eu sou. Me perdoa se eu te decepcionei. Mas infelizmente eu sou.

Maria: Eu sei. Eu sempre soube. “mãe sempre sabe”. Acho que esse tempo todo eu vi que você era gay e eu nunca quis aceitar que fosse verdade. Sabe, mãe nenhuma tem filhos querendo que ele seja gay.

Diego senta do lado de Maria.

Diego: Eu sei. Eu entendo o tanto que você deve estar decepcionada comigo. Mas eu não tive culpa. Eu não pedi pra ser assim. Pra sentir o que eu sinto.

Maria: Decepcionada? Claro que não. Você não ser hetero não me decepciona. Não dessa maneira que você disse. Sim, eu gostaria muito que isso não fosse verdade, que você não fosse gay, mas você é. E isso não muda nada no meu amor por você, no meu orgulho por você. Eu jamais te rejeitaria por isso. Eu não te rejeitaria por nada nesse mundo. Porque meu amor por você é maior do que qualquer coisa. Eu tenho muito medo. Do que estar por vim. Ameaças, pessoas destilando ódio por você por causa de sexualidade.

Diego: Eu sei. Já vivo isso. E não é de hoje. Valéria já jogou na minha cara que eu vou para o inferno por causa da minha sexualidade.

Maria: A Valéria falando de inferno?

Diego: Ta na Bíblia, mãe.

Maria: Sim, eu sei. Eu não sou a mulher que mais entende de religião ou da Bíblia, mas o que eu sei é que pecado não tem tamanho, são todos do mesmo tamanho. E na Bíblia diz que mentir é pecado, sentir inveja é pecado, acusar, julgar é pecado. Isso todo mundo faz porque somos falhos. E quem te julga está pecando também. Não tem direito nenhum de falar sobre o que é certo ou errado. Você nasceu assim porque Deus quis assim. E se algum dia você tiver que prestar contas com alguém, é só com Deus. Mais ninguém.

Diego: Por isso que eu te amo.

Os dois se abraçam.

Cena 5.

Escola.

No portão da escola, Caio e Carla conversam.

Carla: Reunião de pais também?

Caio: Sim. Não via a hora de acabar.

Carla: Complicado mesmo. Às vezes os temas são tão desnecessários. Concordo que temos que ter um convívio direto com os professores, com o que minha filha aprende na escola. Mas tem coisas…

Caio: Te entendo. A minha sorte que hoje eu estou de folga do meu trabalho, se não eu não ia poder vim.

Carla: É complicado mesmo. Bom, eu já estou indo. Tchauzinho.

Caio: Espera. Tem uma cafeteria ótima aqui perto. Pensei que você poderia ir comigo, sei lá pra gente conversar um pouco.

Carla: Claro. Eu vou adorar.

Cena 6.

Casa de Maria.

No quarto, Rafael revira o quarto todo procurando dinheiro. Ele tira as gavetas do guarda roupas e joga sobre a cama.

Rafael: Eu preciso de dinheiro. Tem que ter dinheiro aqui. Eu não posso ter gastado tudo.

Rafael olha pra mesinha e vê o notebook.

Rafael: Presente da minha mãe, mas vai ter que ser você mesmo.

Rafael pega o notebook e sai do quarto.

Cena 7.

Mansão de Glória.

Quarto de Junior, ele e Glória conversam.

Junior: Minha guarda? Eu não estava sabendo vó.

Glória: Mas é isso mesmo. Ela quer te levar embora. A Maria esteve aqui de manhã. Estava louca te procurando. Você sabe que ela está sofrendo com isso tudo.

Junior: Se ela não tivesse mentido pra mim. Se desde o inicio ele tivesse sido verdadeira comigo. Nada disso teria acontecido.

Glória: Mães erram. Mas erram tentando acertar. Erram pensando no bem dos filhos.

Junior: Talvez a Marcela tenha errado no inicio e agora está tentando concertar. Se ela quer minha guarda é sinal de que ela quer muito minha companhia. Diferente de todas as histórias que me falaram sobre ela. Eu vou procurar ela pra saber dessa história de guarda agora.

Junior sai do quarto.

Cena 8.

Pracinha.

Sentado no banco da praça, Junior e Marcela conversam.

Junior: Então é verdade? Você realmente quer lutar pela minha guarda.

Marcela: Sim. Eu quero muito poder ficar junto de você. Eu sei que não vai ser fácil pra você se acostumar com essa ideia de viver longe da sua família ou de não ter uma casa enorme como a sua. Mas eu quero muito tentar recuperar o tempo perdido com você.

Junior: Eu fico muito feliz em ouvir isso de você. Eu nunca me importei com dinheiro ou com casa grande. Eu gosto de quem gosta de mim.

Marcela: Esses quinzes anos que passaram foram como tortura pra mim.

Junior abraça Marcela:

Cena 9.

Apartamento de Camila.

Na cozinha, Camila prepara a travessa de lasanha enquanto Nath pica algumas verduras.

Camila: Que vergonha, Nath. Você convidada pra almoçar aqui em casa. Alem de chegar e não estar pronto, você ainda me ajudando a preparar.

Nath: Que isso. Deixa de ser baba. Eu adoro cozinhar.  Não tenho nenhum problema nisso. E também eu que cheguei cedo.

Camila: Vamos marcar mais pra frente um jantar. Nesse sim, eu vou prepara tudo bonitinho. Você vai chegar e a mesa já vai estar servida.

Nath: Eu vou cobrar.

Camila: Só não repara que não cozinho bem.

Nath: O cheiro está óti… ai.

Nath se corta picando as verduras.

Camila: Se cortou?  Vem cai,  me deixa te ajudar.

Nath assustada: Se afasta de mim, não chega perto de mim.

Camila olha espantada para Nath.

Cena 10.

Casa de Maria.

Na sala, Maria arruma a bolsa pra sair e Junior entra em casa.

Maria: Minha Nossa Senhora, obrigada. Eu já estava aflita de não conseguir falar com você.

Maria abraça Junior e ele é frio com ela.

Maria: A Marcela quer tirar você mim. Por isso eu quero conversar com você. Quero te explicar tudo que você quiser saber pra não termos mais problemas.

Junior: Nem precisa gastar suas palavras comigo. Por que eu não acredito mais em você. Eu sei que ela quer minha guarda. E eu apoio ela. Eu to indo morar com a minha vó e assim que esse processo acabar eu vou morar com a Marcela.

Maria decepcionada: Que?

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