Histórias da Vida – Capítulo 3
Capítulo 3
Continuação do capítulo anterior…
Cena 1.
Hospital/ Quarto de Maria.
Glória entra no quarto e encara Maria com ódio nos olhos. Maria levanta chorando.
Maria: Glória, o Heitor… O Heitor…
Glória dá um tapa na cara de Maria.
Glória: Assassina. Assassina. Se meu filho morreu naquela explosão foi culpa sua. Você é o culpado por ele estar morto.
Janet: A senhora ta louca?
Glória: Não se mete nisso.
Maria: A senhora só pode estar louca mesmo. Eu não tive culpa nenhuma da morte do Heitor. Foi um acidente. Eu estava desacordada. Só descobri que ele estava morto quando eu acordei.
Glória: Mentira. Mentira. Eu sei que tudo que você está dizendo é mentira. Eu já sei de toda verdade.
Maria: Eu não sei de onde a senhora tirou essa ideia. E eu não quero saber de onde veio esse absurdo. Meu marido morreu num acidente onde eu estava desacordada e eu não estou com cabeça nenhuma pra essas confusões. Mas se a senhora encostar a mão em mim de novo, eu esqueço todo o respeito que eu tenho pela senhora e vai ter troco.
Glória: Meu filho está morto. Não queira comparar a minha dor com a sua. Eu não desejo essa dor pra ninguém. Perder um filho é a mesma coisa que perder um pedaço do coração. Um pedaço da minha alma. Eu não consigo acreditar até agora. Meu filho…
Glória chora…
Maria: Eu não estou comparando, Glória. Eu sei que a sua dor é imensa. Mas não me culpe de algo que eu não tenho culpa. Eu amo o seu filho e eu nunca ia fazer algo que fosse mata-lo.
Glória: Eu nem sei mais em que acreditar.
Glória sai do quarto.
Janet: Essa mulher ta louca. Que bofetada foi essa?
Maria: Eu tenho certeza que tem o dedo da Valéria nisso.
Janet: Você está bem?
Maria: Estou sim. Não sei como ela deve coragem de acreditar que eu tive culpa. Será que a culpa foi minha?
Cena 2.
Sala de espera do hospital.
Valéria sentada no sofá vê Glória se aproximando. Valéria levanta e vai ate Glória.
Valéria: Falou com ela?
Glória: Falei. Ela disse que estava desacordada. Ela nem viu quando o carro explodiu.
Valéria: Eu sabia que ela ia mentir. Ela pediu pra ser tirada do carro antes do Heitor, eu tenho quase certeza disso. Eu estava afastada do carro, mas deu pra ver.
Glória: Se você estava do lado de fora do carro, por que você não ajudou o Helio a tira-los do carro?
Valéria: Eu estava em choque. Tinha acabado de cair de um desfiladeiro, á noite. Estava tudo escuro. Eu fiquei com medo de morrer. De não ver minha filha nunca mais. Eu não tive reação nem de sair sozinha do carro. Eu não consegui me mexer. E mesmo se eu conseguisse minha perna estava doendo demais, eu achei que estava quebrada. Deram-me um remédio aqui e está melhor, mas na hora eu não conseguia me mexer.
Glória: Sei… Eu vou até a capela do hospital. Vou fazer algumas orações. Eu preciso me acalmar. Preciso entender porque Deus fez isso comigo.
Valéria: Quer que eu vá com a senhora?
Glória: Não. Eu quero ir sozinha.
Valéria: A senhora não vai ir ver o Helio?
Glória: Assim que eu sair da capela
Cena 3.
Casa de Maria.
Carla e os seus irmãos mais novos chegam na casa. Carla abre a porta e seus irmãos entram.
Nath: Eu achei que íamos dormir na casa da vovó.
Carla: Íamos sim. Mas a vovó deve que sair. Vocês viram que ela acabou com a festa rápido.
Diego: A festa estava bem legal. Queria ter ficado lá.
Junior: Eu to com sono.
Carla: Já passou da hora de vocês estarem dormindo. Podem ir sobindo para os quartos.
Rafael: Nath leva o Diogo e o Junior lá pro quarto. Eu preciso conversar com a Carla.
Nath: Esta bem. Vamos subir gente.
Nath, Diego e Junior sobem a escada.
Rafael: Os pirralhos já não estão mais aqui. Pode desembuchar que eu sei que aconteceu alguma coisa.
Carla: O que?
Rafael: Eu já tenho 15 anos. Não sou bobo igual eles. Aconteceu alguma coisa, eu sei. A Nath também desconfia de alguma coisa que ela já veio me perguntar, mas eu consegui despistar.
Carla: Eu vou te falar, mas você não fala pra eles. Eu não quero assustar eles. Quando a mamãe e o papai estavam voltando de Petrópolis eles sofreram um acidente.
Rafael: Mas está tudo bem, não esta?
Carla: Está sim. Eu pedi a vovó pra me ligar assim que ela chegar ao hospital.
Rafael: Eu fiquei com medo agora.
Carla abraça Rafael.
Carla: Não precisa se preocupar, vai ficar tudo bem.
Cena 4.
Casa de Carla.
Carla entra em casa e André chega à sala.
André: Acabei de colocar a Julia e a Patty na cama. Não gostei dessa ideia da filha da Valeria dormir aqui em casa não. Se eles acostumam com isso. Ela não vai sair daqui de casa.
Carla: É só hoje. Não tem como deixar ela sozinha na casa dela.
André: Que noite foi essa? As festas da sua família já foram mais calmas.
Carla: Você não tem noção de como minha cabeça está. Só consigo pensar na minha mãe e no meu pai e na minha mãe.
André: A Glória não te ligou?
Carla: Não. Eu liguei pra ela, mas cai direto na caixa postal. Eu acho que eu vou lá ao hospital.
André: Você não vai. Você vai ficar com sua família.
Carla: Foram meus pais que sofreram acidente. Eles são minha família.
André: Depois que você se casa, sua família se torna seu marido e sua filha.
Carla: Você só pode estar brincando comigo.
André segura o braço de Carla.
André: Você não vai.
Cena 5.
Hospital/ Quarto de Helio.
Hélio deitado. Valéria entra no quarto.
Valéria: Como você está?
Hélio: Péssimo.
Valéria: Esta doendo em algum lugar? Nas feridas? Eu vou chamar uma enfermeira.
Hélio: Não precisa chamar enfermeira nenhuma. A dor que eu estou sentido remédio nenhum pode curar.
Valéria sussurra: Vai começar o drama.
Hélio: Meu irmão morreu por minha culpa. Eu devia ter sido mais rápido. Eu tinha que ter conseguido tirar ele do carro a tempo.
Valéria: Você não foi rápido mesmo. Caso contrário seu irmão estava aqui. Mas não se culpe. Você fez o que você pôde. Poderia ter sido 4 mortes. Foi só o seu irmão.
Hélio: E ele está morto por minha causa. Eu nunca vou me perdoar por isso.
Valéria: Não se culpe assim. Você ia tirar ele do carro. Mas a Maria pediu pra sair antes. Ela foi a egoísta da história. Então a culpada é ela e não você.
Hélio: A Maria não me pediu nada. Ela estava desacordada. O Heitor que pediu pra tirar a Maria do carro. Ele se sacrificou pela mulher que ele amava.
Valéria: Se eu fosse você não continuaria com essa versão. Fala que a culpada foi a Maria. Do jeito que a sua mãe amava o Heitor, ela nunca vai aceitar que você trocou a vida do seu irmão pelo da sua cunhada.
Hélio: Eu não troquei vida de ninguém. Eu queria ter conseguido salvar todos. Mas não consegui.
Valéria: Por culpa da Maria.
Hélio: Para de falar isso. Ela não teve culpa.
Hélio levanta.
Valéria: Aonde você vai.
Hélio: Falar com a Maria.
Hélio sai do quarto.
Cena 6.
Hospital/ Quarto de Maria.
Maria deitada. Janet em pé do lado da cama.
Janet: Eu sei que você esta sofrendo amiga, mas você tem que ser forte. Não sei onde você vai arrumar, mas precisa. Você tem 5 filhos que precisam de você.
Maria: Eu nem sei como eu vou falar pra eles que o pai deles morreu. E que a dona Gloria está achando que eu sou a culpada. Será que eles também vão me culpar?
Janet: Para com isso. Você não teve culpa de nada. Para de falar isso.
Maria: Mas ela está achando.
Janet: Problema dela e de quem está envenenando a cabeça dela. Eu sei, e tenho certeza que seus filhos também sabem que você não teve culpa de nada.
Hélio bate na porta e entra.
Hélio: Com licença. Eu preciso conversar com você.
Maria levanta da cama.
Maria: Veio me culpa também?
Hélio: Eu vim pedir perdão. Eu fui o culpado.
Janet: Cadê a Dona Glória pra ouvir isso? Se prepare que ela vai te dar uma bofetada daquelas.
Maria: Para Janet.
Hélio: Eu devia ter sido mais rápido do que eu fui. Se eu tivesse sido rápido eu teria conseguido tirar ele do carro também.
Maria: Você fez o que pôde. Não se culpe por isso. Você sozinho conseguiu me salvar a Valeria também. Poderia ter sido uma tragédia pior. Acho que se você tivesse tirado o Heitor antes de mim, as consequências teriam sido menores.
Hélio: Eu confesso que pensei no meu irmão antes de você.
Maria: Natural. Vocês são irmãos. Laços de sangue.
Hélio: Mas o laço do amor que ele sentia por você era maior. Ele não me deixou tira-lo do carro. Ele mandou tirar você. Porque te amava.
Maria: Não se culpe. Não me culpe.
Hélio e Maria se abraçam.
Cena 7./ Manhã.
Hospital/ Quarto de Maria.
Maria e o médico em pé.
Médico: O que mais me deixou impressionado nesse acidente que todos tiveram ferimentos leves. Nenhuma fratura interna nem externa.
Maria: Mas perdemos o Heitor.
Médico: Eu sinto muito.
Maria: Eu mais ainda.
Medico: Eu espero que você consiga ficar bem. Você já pode ir pra casa.
Maria: Obrigada doutor.
Medico: Alguém veio te buscar?
Maria: Não. Minha filha quis vim, mas eu pedi que não viesse. Minha casa não é longe assim, e eu to precisando caminha e respirar um ar puro. Colocar a cabeça no lugar.
Medico: Te entendo. Mas não vai se esforçar muito.
Maria: Pode deixar.
Cena 7.
Na calçada.
Maria caminha pela calçada pensativa. E se perde em seus pensamentos.
Flashback.
Casa de Glória.
Anos 70. Glória jovem caminha até a sala e encontra Maria, na época com apenas 16 anos.
Glória: Eu posso te ajudar em alguma coisa garota?
Maria: Eu sou a filha da Regina. Ela disse que a senhora ia estar me esperando.
Glória: Por que não disse isso antes? Mas você é muito novinha. Quantos anos?
Maria: 16.
Glória: Eu adoro sua mãe. Ela trabalhou pra mim por anos. Mas eu não posso colocar uma garota de 16 anos trabalhando aqui em casa. Sinto muito.
Maria: Por favor. Eu juro que eu não vou te dar problema nenhum. Eu posso mentir minha idade. Eu preciso muito desse emprego.
Glória: Eu e meu coração mole. Vamos fazer um teste. Um mês. Se der certo você continua.
Maria: Tudo bem.
Heitor (18 anos) passa na sala de sunga.
Heitor: Estou indo pra piscina mãe. Quem é a sua amiga nova?
Heitor e Maria se olham.
Glória: Ela vai começar a trabalhar aqui em casa. E você nem pense em dar em cima dela.
Quarto de Heitor.
Maria entra com algumas roupas de cama nos braços e coloca em cima da cama. Heitor sai do banheiro de toalha.
Heitor: Você chegou em uma hora boa.
Maria: Respeite-me, por favor.
Heitor pega Maria pela cintura e a puxa pra si.
Heitor: Já tem quase um mês que você esta trabalhando aqui em casa. Eu to me segurando ao máximo pra não fazer isso. Eu sei que você também quer.
Heitor e Maria se beijam.
Dias atuais.
Maria continua caminhando pela calçada e seus pensamentos são interrompidos quando um carro grande e preto para do seu lado. Dois homens grandes e fortes descem do carro e a segura e a joga pra dentro do carro. Tudo acontece tão rápido que Maria não teve nem tempo de ter alguma reação.
Dentro do carro.
Maria sentada no banco de trás do lado de um homem e musculoso e de um senhor. Agiota.
Maria: O que está acontecendo? Isso é um sequestro?
Agiota: Não seja ridícula. A situação é bem mais complicada que um sequestro.
Maria: Do que você está falando?
Agiota: Seu querido maridinho me deve uma grana. Uma grana alta por sinal. E o prazo pra quitar essa divida foi ontem à noite. Meus métodos são bem simples. Eu empresto a grana e a pessoa me paga. Caso aconteça de não me pagarem eu vou me vingando com alguns membros da família, até que o próprio devedor morra. Mas como o nosso querido e amado Heitor já morreu, que Deus o tenha em bom lugar. O que nos restou foi você, minha doce Maria. Então eu acho bom você conseguir esse dinheiro antes que eu comece a usar meus métodos. Se eu tiver que matar eu vou começar pelo caçula. Estamos entendidos?
Maria e Agiota se encaram.
Valéria não vale o feijão que come. Que malvada.
A trama está ficando boa a cada dia.
Glória caiu feito um patinho nos venenos da Valéria.
André me deu raiva! Espero que Carla não sinta medo dele e vá para o hospital.
Valéria é ordinária mesmo. haha
Carla não vai, a Maria já recebeu alta médica.