Histórias da Vida – Capítulo 21

Capítulo 21

Continuação do capítulo anterior…

Cena 1.

Nath: Quando isso acont… Quanto tempo voc… Desde quando você sabe que tem AIDS?

Renato: Deve ter uns 8 meses.

Nath: 8 meses Renato?  Você sabia que tinha AIDS e insistia pra transar comigo sem camisinha. Você sabia o risco que eu corria e mesmo assim insistia.

Renato: Insisti muito até conseguir.  Foi difícil, muito difícil. Você é dura na queda. Mas eu consegui.

Nath: Eu não to acreditando nisso. Você queria que eu me contaminasse? Que mente doentia é a sua?

Renato: Eu era um jovem normal, saudável. Não tinha preocupação com nada. E de repente eu descobri que eu tava com os dias contados. Que meu futuro já não importava. Eu não teria mais uma vida normal. O mundo me contaminou nada mais justo que eu fazer o mesmo. E contaminar o mundo.

Nath começa a chorar de desespero.

Nath: Você não pode estar falando sério. Que tipo pessoa faz isso? Quem faz uma monstruosidade dessas com outra pessoa. Eu não tenho culpa se alguém te contaminou.

Renato: Eu também não tive culpa. E mesmo assim eu to aqui deitado nessa cama não é verdade?

Nath: Eu não sei nem o que to sentindo agora, Renato. Se eu tenho ódio de você, se eu tenho pena ou nojo do tipo de pessoa que você é.

Renato: Você pode falar o que você quiser. Mas é inevitável que você esteja nessa mesma situação que eu estou agora. Eu vou morrer, mas pelo menos eu carimbei alguém.

Nath: Eu odeio você. Eu odeio você…

Nath sai do quarto.

Cena 2.

Corredor do hospital.

Nath sai do quarto e passa pelo corredor atordoada. Sua cabeça estava a mil, se culpando por ter caído no papo de Renato, pensando que poderia morrer a qualquer momento. Se culpa, se martirizando sobre a dor de saber que ela podia estar com uma doença sem cura. Nath passa por Guilherme sem perceber que ele estava esperando por ela. Nath não conseguia se lembrar nem mesmo da consulta que ela ainda teria. Ela caminha atordoada em direção à saída do hospital, Guilherme vai atrás dela e segura.

Guilherme: Nathália, você está bem?

Nath: Com certeza não. Eu vou morrer. Eu vou morrer por causa de uma besteira minha.

Guilherme: Calma. Não pensa assim. Você tem uma consulta agora. Você se lembra?

Nath: Eu quero ir pra casa.

Guilherme: Claro que não. Agora mais do que nunca você precisa dessa consulta.

Cena 3.

Apartamento de Lucas.

Lucas: Você realmente perdeu o controle no restaurante. Não foi nada agradável passar por aquela situação.

Camila: Pra mim também não. Você acha mesmo que eu queria ter feito um escândalo daquele? Todo mundo me olhando, me acusando. Mas na hora eu nem sei o que me aconteceu. Eu não consegui pensar em mais nada. Quando eu te vi sentando-se à mesa com aquela mulher eu realmente percebi… Acho que a minha ficha só caiu naquele momento que não é só mais uma briga de casal. Você realmente que reconstruir sua vida com outra mulher.

Lucas: Eu quero muito ser feliz Camila. E eu quero que você também seja. Nos já tentamos tempo demais e não deu certo. Eu não quero ficar dando soco em ponta de faca.

Camila: Eu vou deixar você ser feliz com a mulher que você quer. Eu não posso controlar suas vontades. Eu só quero que você saiba que eu te amo. E que eu vou estar te esperando voltar pra casa, quando você quiser.

Camila sai do apartamento.

Cena 4

Consultório de Sandra.

Sentados à mesa, Sandra conversa com Maria e Nath, Guilherme observa sentado mais afastado.

Nath: Então eu vou morrer é isso?

Sandra: Calma, Nath.

Nath: Não pede calma Sandra. Eu acabei de descobrir que meu namorado é um aidético e fez de tudo pra me contaminar e você me pede calma.

Guilherme: Soropositivo.

Maria: Como?

Guilherme: Soropositivo. Aidético é um termo pejorativo. O certo a se falar é soropositivo.

Sandra: Sim. E não da pra afirmar que você tenha HIV positivo ou que você não tenha.

Maria: Mesmo eles transando sem camisinha?

Sandra: Não. Pode se contaminar na primeira relação sexual sem camisinha como pode também não se contaminar. Não existe uma exata de quando essa contaminação acontecerá.

Maria: Ta ouvindo meu amor. Fica calma. Deus não vai permitir que você tenha se contaminado.

Sandra: Vamos fazer o exame agora o resultado sai rapidinho. É melhor do que você ficar se martirizando sem saber você têm HIV positivo.

Guilherme: Eu levo a Nathália lá.

Nath e Guilherme saem da sala.

Maria: Sandra, você é mãe como eu. Por favor, não mente pra mim. Pode falar tudo.

Sandra: Maria, eu sei que você faria de tudo pra não ter acontecido nada com a Nathália. Eu também com a minha, mas nesse caso você só pode apoia-la.

Sandra: Você acha mesmo que ela está…

Sandra: Não quero afirmar nada. Mas o estado que o Renato está. Ele não se cuidava, o vírus está muito forte no organismo dele. Mas como foi só uma vez, talvez ela não tenha se contaminado mesmo. Mas eu quero que ele volte aqui depois de 3 meses e vamos repetir os exames.

Maria: Meu Deus tenha piedade.

Cena 5.

Casa de Caio.

Na sala, Caio arruma à mesa para o almoço. Bia e Felipe entram em casa.

Caio: Que bom que vocês chegaram. Preparei um almoço delicioso pra gente. E eu quero conversar com vocês.

Bia: Conversar com a gente o que?

Caio: Vão lá trocar de roupa e lavar as mãos que a gente conversa enquanto almoça.

Bia: É sobre a Vitória não é?

Caio: Sim é sobre ela.

Felipe: Quero conversar sobre ela não.

Caio: Eu achei que a gente tinha se entendido sobre essa implicância com ela.

Bia: A gente não gosta dela. Você podia aceitar isso.

Caio: Mas eu gosto. E vocês têm que aceitar isso.

Felipe: Então escolhe Caio, ou ela ou a gente?

Bia: Isso mesmo. Você vai ter que escolher entre sua família e essa mulherzinha.

Caio: Eu não vou escolher nada. Vocês não têm o direito de me colocar nessa situação. Desde que nossos pais morreram eu não faço nada mais da minha vida do que cuidar de vocês. Eu deixei minha vida de lado pra isso. Deixei de viajar, de ir em festas de curtir minha vida pra criar vocês. Trabalho igual doido pra colar comida aqui em casa e não deixar faltar nada pra vocês. Eu dei o meu melhor pra vocês e nunca pedi nada em troca. Nunca reclamei de nada.

Bia: Caio…

Caio: Não… Agora eu vou falar. Eu amo a Vitória e ela me ama também. E eu sei que ela não tem um jeito fácil e vocês brigam muito. Mas vocês também não são nenhuns anjinhos. Eu vou pedir ela em casamento e vocês não podem dizer que eu estou pegando vocês de surpresa porque já falei isso não é de hoje. Eu espero contar com o apoio de vocês. Porque me faria o irmão mais feliz desse mundo.

Felipe: Eu posso ir trocar de roupa agora?

Felipe vai pro quarto.

Cena 6.

Casa de Maria.

Maria e Nath entram em casa.

Nath: Mãe, obrigada por ter ficado do meu lado. Eu não sei o que eu faria se eu estivesse sozinha lá.

Maria: Eu nunca ia te abandonar minha filha. Pode ter certeza disso. Graças a Deus o exame deu negativo.

Nath: Mas pode ser que a doença não se manifestou ainda. Você ouviu a Sandra dizendo que eu preciso refazer o exame daqui algum tempo.

Maria: Eu ouvi sim. Mas não vai acontecer nada. Pode ter certeza disso.

Nath: Obrigada mãe. Por favor, não comenta isso com ninguém.

Maria: Claro, não precisa nem pedir.

Diego chega à sala.

Diego: Que bom que vocês chegaram. A Flávia me ligou, me convidando pra assistir ela tocando num barzinho da Lapa.

Maria: Você ainda está de castigo esqueceu?

Nath: Coitado, mãe. Eu acho que ele já aprendeu a lição dele.

Diego: Com certeza.

Maria: Vou te liberar do castigo então. Mas que isso não se repita. E agradeça sua irmã.

Diego: Valeu, Nath.

Cena 7./Noite.

Casa de Caio.

Sentados à mesa do Jantar, Caio, Bia, Felipe e Vitória jantam juntos.

Vitória: Esse macarrão está muito bom. Foi você quem fez Bia?

Bia: Você sabe que foi. Você chegou aqui em casa eu ainda estava terminando.

Vitória: Você cozinha muito bem. Se dedicar pode ser uma ótima chefe de cozinha.

Bia: Para de tentar ter um dialogo comigo como se nós fossemos amigas. Nós não somos. Você sabe disso, eu sei disso. Todo mundo Sade disso.

Caio: Que isso Bia? Isso não é jeito de falar com a Vitória.

Felipe: Só ela que não entendeu ainda que não é bem vinda aqui.

Caio: Eu achei que a nossa conversa mais cedo tinha adiantado de alguma coisa, mas parece que não.

Bia: Caio, eu entendo que você a ama, e quer pedir ela em casamento, mas eu não gosto dela. Você não pode me obrigar a isso.

Vitória: Você vai me pedir em casamento?

Caio: Era pra ser uma surpresa.

Bia: Foi sem querer, desculpa. Eu não gosto de você, mas não queria estragar a surpresa.

Caio tira a caixinha da aliança no bolso e coloca sobre a mesa. Vitória pega a caixinha e a abre e vê a aliança.

Caio: Então Vitória, você aceita se casar comigo?

Vitória: É claro que sim. Lógico. Eu não estou nem acreditando nisso.

Vitória coloca a aliança e beija Caio.

Cena 8.

Casa de Hélio.

Na mesa do jantar Hélio e Valéria jantam em silêncio.

Valéria: Nossos jantares já tiveram mais diálogos.

Hélio: Eu estou evitado conversar com você e o veneno das suas palavras estrague meu apetite.

Valéria: Não esqueça que eu sou eu que preparo o jantar. Pode não ser apenas nas minhas palavras que tenham veneno.

Hélio para de comer e olha pra Valéria.

Valéria: Não seja ridículo.

Hélio: Se tratando de você eu não me surpreenderia.

Valéria: Assim você me ofende. Hélio, eu vou te fazer uma pergunta bem simples, por favor,  me responda a verdade.

Hélio: Eu realmente não quero discutir com você. Parece que o único jeito que você tem de ficar feliz.

Valéria: Eu não quero discutir, só te fazer uma pergunta. E é simples.

Hélio: Fala.

Valéria: Você ainda minha ama?

Hélio olha pra Valéria sem entender o porquê ela havia perguntado aquilo.

Hélio: Que pergunta é essa? Por que isso agora?

Valéria: Um pergunta simples. Você é meu marido eu tenho direito de saber. Responde, você ainda me ama?

Cena 9.

Imobiliária.

Maria sentada à mesa, pensativa. O dia não foi um dia fácil. Marcela entra na sala.

Marcela: Eu tava passado e vi as luzes acesas eu pensei, vou fazer uma vizita pra minha grande amiga Maria.

Maria: Marcela. Parece que eu estava adivinhando que você ia aparecer aqui.

Marcela: Está vendo como a nossa sintonia já está afiada. Sua cara não está boa, dia difícil?

Maria: Meu dia começou com você na minha casa e pelo que parece vai acabar com você no meu trabalho. Acho que não teria como ficar pior.

Marcela: Eu to vendo que você não está bem, então eu vou ser bem rápida pra não te atrapalha…

Maria: Você é muito sínica.

Maria pega um cheque na bolsa e levanta e vai até Marcela e a entrega.

Maria: Aqui tem o triplo do valor que você me pediu a primeira vez que você veio aqui. É mais do que suficiente pra você sair da minha vida de uma vez por todas.

Marcela: Sempre assim, né amiga. Você me ameaça pra não voltar mais, mas eu sempre volto. É assim que as coisas funcionam.

Maria: Não me provoca garota.

Marcela: Olha. Eu sei onde nosso Junior mora, estuda. Acho que quem não devia me provocar é você, querida.

Maria pega Marcela pelos cabelos e a joga sobre a mesa, deixando Marcela com cara na mesa enquanto Maria a pressiona na mesa segurando seu cabelo.

Marcela: Me solta sua maluca.

Maria chega perto do ouvido de Marcela.

Maria: Escuta bem que eu não vou repetir. Você pode ser uma ordinária sem coração que só pensa em dinheiro e não está nem ai pro seu filho, mas eu não sou assim. Eu sou completamente apaixonada pelos meus filhos e eu faço qualquer coisa pra protegê-los. E se eu achar que você vai fazer algum mal pra eles eu precisar tirar você das nossas vidas pra garantir a segurança deles, eu te tiro. Você está me ouvindo? Eu te mato, se for preciso eu te mato.