Histórias da Vida – Capítulo 17

Capítulo 17

Continuação do capítulo anterior…

Cena 1.

Escola.

No corredor, Junior caminha com os fones no ouvido em direção à saída. Ele chega no portão e do outro lado da rua, Marcela o observa. Ela caminha até ele.

Marcela: Oi, Tudo bem?

Junior tira os fones: Oi, eu te conheço?

Marcela: Claro sim. Você está sozinho? Ninguém veio te buscar?

Junior: Não. Por quê? Quem é você?

Marcela: Eu vou explicar direitinho quem sou eu… Eu estive na sua casa algum tempo atrás. Precisava falar com sua mãe. Era à noite. Lembrou?

Junior: Acho que sim. Ta precisando dela de novo?

Marcela: Sim. Eu precisava entregar ela esse envelope. Mas eu não estou arrumando um tempinho pra ir lá. Tá tudo muito corrido. Você poderia fazer esse favor pra mim?

Junior: Claro. Pode me dar que eu a entrego.

Junior pega o envelope da mão de Marcela.

Junior: Eu esqueci seu nome.

Marcela: Eu me chamo Marcela. Só de você dizer meu nome ela já vai saber do que se trata.

Junior: Esta bem.

Cena 2.

Casa de Carla/quarta.

Julia: O que aconteceu com seu rosto mãe? Foi meu pai não foi?

Carla: Não… Claro que não. Isso foi uma besteira minha.

Julia se aproxima de Carla e olha o marca do rosto de perto.

Julia: Ele te bateu mãe… Eu não to acreditando nisso.

Carla: Não. Eu precisei guardar um pouco de comida e tentei pegar aquele jogo de latas que fica lá no alto do armário. Eu nem sei por que eu as coloco tão alto assim. Eu não consegui segurar direito, e caiu no meu rosto. Foi isso.

Julia: Para de mentir mãe. Ele te bateu e você ainda fica protegendo ele. Isso não vai ficar assim.

Julia sai do quarto e Carla vai atrás.

Cena 3.

Casa de Carla/Sala.

Julia chega à sala e vê André indo em direção a porta.

Julia: Com que você consegue ser tão covarde assim?

André: Eu não sei do que você está falando garota. E eu acho bom você abaixar esse tom pra falar comigo.

Carla chega à sala.

Carla: Para Julia.

Julia: Para Julia? Ele te machucou e você quer defender ele? O que a senhora tem na cabeça?

André olha pra Carla e se assusta com o a marca que ficou no rosto dela.

André: Não… Não fui eu. Eu não fiz isso com ela.

Carla: Eu já disse o que aconteceu, a lata caiu no meu rosto, Julia. Agora para com isso.

André: Ta vendo. Eu não fiz nada. Eu nunca machucaria sua mãe.

Julia: Tá bom. Você não fez nada. Se minha mãe quer mentir, eu não posso ajuda-la.

Julia vai pro quarto, Carla e André se olham por instantes…

André: Carla, eu…

Carla volta pro quarto.

Cena 4.

Sala de enfermagem.

Lucas: Eu sou uma pessoa tão chata assim? Nem responder meu convite você responde.

Sandra: Claro que não. Você é um homem muito interessante. Eu só não sei o que responder.

Lucas: Um simples sim pra mim já está de bom tamanho.

Sandra: Eu não sei.

Lucas: Já está quase na hora do almoço. Aceita meu convite. Tem um restaurante ótimo aqui pertinho. Eu juro que não sou nenhum homem perigoso com que você precise se preocupar.

Sandra: Não é por isso… Tudo bem, eu aceito seu convite.

Lucas: Pelo menos o corte serviu pra alguma coisa.

Cena 5.

Casa de Helio.

Na sala, Pitty sentada no sofá lê uma revista, Valéria entra em casa.

Valéria: Eu fui até a casa dela, mas eu já não estava lá.

Pitty: Que bom que ela não estava lá. Eu estava pensando, talvez a tia Maria tenha razão. Eu não devia ter ido mesmo pra boate. Eu só tenho 15 anos e…

Valéria: Que isso? Concordando com a Maria agora? Eu sou a sua mãe e não me importei. Quem nunca fez umas loucurazinhas na adolescência? Isso é normal.

Pitty: Você nunca foi exemplo de preocupação comigo, né mãe.

Valéria: Era só o que me faltava. Eu me preocupo com você sim, mas acho que você tem que viver, descobrindo o mundo lá fora. Não criamos filhos pra gente, criamos para o mundo. A verdade é essa. A Maria que é muito careta. Sempre foi. Acho horrível isso.

Pitty: Eu acho que eu mereci esse castigo. Aconteceu muita confusão e meio que por minha causa. Deixe o celular com ela. Quando ela achar que é hora de me entregar, eu vou aceitar.

Valéria: Primeiro você reclama comigo sobre o castigo da que a Maria te deu e agora você a apoia.

Pitty: Eu pensei melhor. Eu estava errada mesma.

Valéria: Você é uma fraca, isso que você é. Puxou o Helio. Com certeza. Não tem outra explicação.

Valéria vai para o quarto.

Cena 6.

Restaurante.

No restaurante, Lucas e Sandra sentando á mesa e o garçom anota o pedido.

Garçom: E pra beber?

Lucas: Um vinho? Eu não quero parecer que estou forçando um encontro.

Sandra: Peça pra você, eu vou ficar com água mesmo, eu tenho que voltar para o hospital.

Lucas: Claro. Eu também.

Garçom: Com licença.

Garçom sai.

Lucas: Quanto tempo você já é doutora?

Sandra: Já tem 7 anos, graças a Deus.

Lucas: Meu filho estuda medicina. Estuda durante tanto tempo, eu confesso que eu acho um pouco chato.

Sandra: Eu amo o que faço. Poder ajudar vidas é como se eu pudesse de alguma forma retribuir para o mundo todas as coisas que já fizeram pra mim.

Lucas: Muito lindo esse seu pensamento. Acho que vou ter que me esforçar muita pra poder te impressionar.

Sandra: Deixa de ser bobo. Só de você ter se cortar pensando em um pedido de convite pra jantar já é motivo pra me impressionar.

Lucas: De uma maneira boba, praticamente estúpida.

Sandra: Muito.

Os dois riem.

Guilherme e Camila entram no restaurante.

Guilherme: Eu fiquei muito feliz que você quis vim almoçar fora. Já estava angustiado com você querendo ficar só presa dentro de casa.

Camila: Eu acordei feliz. Não sei o que aconteceu mais eu quero comemorar.

Camila vê Lucas e Sandra na mesa almoçando juntos.

Cena 7.

Mansão de Glória.

Na sala, Junior e Glória conversam.

Glória: Eu não quero ir ao shopping. Eu não quero comprar roupas novas. Quero ficar em casa.

Junior: Mas não vai. Vamos ao shopping sim. Vamos comprar nem que seja uma blusa azul. Mas eu não quero ver a senhora nesse luto eterno. Manter mais as janelas abertas, arejar essa casa. Aqui é mais escuro que a batcaverna. No almoço a senhora estava bem, eu não quero que a senhora volte a ser aquela mulher reclamona de sempre.

Glória: Eu tenho meus motivos. Meu filho…

Junior: Eu sei Vó. Ele morreu e todos nós sofremos. Mas agora é superar.

Glória: Sua mãe podia ter evi…

Junior: Não podia. Ela estava desacordada. Só a senhora insisti nessa injustiça. Mas não estamos aqui pra falar de culpa e nem da minha mãe. Vem vamos para o shopping.

Junior segura Glória pela mão e a leva pra fora de casa.

Cena 8.

Restaurante

Camila olha fixamente para a mesa de Sandra e Lucas.

Guilherme: Mãe, vamos sentar do outro lado.

Camila: Não tem nem um mês que ele saiu de casa e já está com uma vagabunda.

Guilherme: Mãe, nem pense em fazer o que você está pensando.

Camila: Eu admito isso.

Guilherme: Você não tem que admitir mãe. Vocês estão separados.

Camila: Vou acabar com essa palhaçada agora.

Camila caminha até a mesa de Lucas batendo palmas, chamando atenção de todos.  Lucas e Sandra olham pra Camila.

Camila: Não precisa parar o espetáculo. Estava lindo ver vocês dois nessa intimidade toda.

Lucas: Por favor, Camila. Aqui não.

Camila: Agora está com vergonha de mim também?

Guilherme vai até eles.

Guilherme: Desculpa pai. Vem mãe, vamos sair daqui.

Sandra: Pai? Mãe? Você é casado?

Camila: Sim, meu homem.

Lucas: Eu sou divorciado. Nós combinamos uma separação amigável. Lembra?

Camila: Amigável? Você me fazendo passar essa vergonha. Não tem nem um mês que você saiu de casa e você já está com essazinha no restaurante.

Sandra: Essazinha não. A senhora me respeite. Não me conhece.

Guilherme: Já chega mãe. Está todo mundo olhando.

Camila: Eu quero que olhem mesmo. E quero que todos saibam que eu sou a vitima aqui. Fala pra mim, Lucas. Fala na minha cara. É ela não. Você saiu de casa porque já estava tendo um caso com ela não é? Sua destruidora de lares.

Sandra: Pra mim já chega.

Sandra pega a bolsa e sai do restaurante.

Lucas: Você está ficando louca.

Lucas sai do restaurante atrás de Sandra. Camila olha em volta e percebe que estão todos olhando pra ela.

Camila: Estão olhando o que? Acabou o show.

Cena 9/ Noite.

Imobiliária.

Na sala, Maria concentrada lê um contrato. Helio chega a sala e vê a porta aberta e bate nela, Maria olha pra frente e o vê.

Maria: Hélio, que surpresa boa.

Os dois se abraçam. Hélio olha na mesa e vê dois copos de uísque, um cheio e o outro vazio.

Hélio: Bebendo a essa hora?

Maria: Não. Um cliente que estava olhando uma casa no Leblon quis um pouco de uísque e achou um absurdo eu não acompanha-lo.

Hélio: E pra não perder o cliente você bebeu.

Maria: Uma casa no Leblon. Eu não ia perder por causa de um copo.

Hélio: Claro. Eu te ajudo a terminamos esse copo. Quero te contar uma historia engraçada.

Maria vai até o balcão de bebidas e copo uísque no copo e entrega a Helio e ficam frente a frente.

Maria: Que historia é essa?

Hélio: Minha mãe. Hoje eu passei cedo pra ver como ela estava…

Maria: Ela está bem?

Hélio: Sim, está sim. Mas ela acha que eu estou apaixonado por você. Não é um absurdo.

Os dois se olham por uns instantes.

Maria: Que bobeira. Claro que é um absurdo.

Os dois voltam a se olhar, Hélio vira o copo de uísque de uma vez.

Hélio: Acho que nem tanto.

Hélio a beija de surpresa, no inicio Maria se assustou, mas logo em seguida se rendeu ao beijo que ela tanto queria e não assumia pra si mesma.