Histórias da Vida – Capítulo 10

Capítulo 10

Continuação do capítulo anterior…

Cena 1.

Casa de Gloria.

Hélio entra na casa de Glória.

Hélio: Mãe. Cadê a senhora?

Hélio vê Gloria desacordada no sofá.

Hélio: Dormiu no sofá? Você não é disso.

Hélio se aproxima e vê um frasco vazio de remédio no chão perto do sofá.

Hélio: Meu Deus. Ela tentou suicidar. Será ela está viva?

Hélio encara o corpo de Gloria desacordado no sofá.

Hélio: Eu vou te levar para o hospital.

Hélio pega Glória no colo e a leva pra fora da casa.

Cena 2.

Casa de Helio.

Na mesa do café, Valéria e Patty tomam café da manhã juntas.

Patty: Cadê o papai? Ele sempre toma o café da manhã com a gente.

Valéria: Ele foi à casa da Gloria. Ela anda meio estranha ultimamente.

Patty: Já tem muito tempo que ela está estranha.

Valéria: Ela nunca superou a morte do seu tio. E pensar que é tudo culpa da Maria e ela não sente remorso nenhum por isso.

Patty: Meu pai sempre disse que não foi culpa dela. Foi uma fatalidade.

Valéria: Seu pai a defende porque ele também tem culpa no cartório. Seu pai não é nenhum santo.

Patty: Não acredito nisso.

Valéria: Você não precisa acreditar pra ser verdade.

Patty: Mas mudando de assunto. E esse lenço ai no seu pescoço?

Valéria: Gostou? Quem sabe eu faço a moda voltar.

Patty: Eu não sou boba mãe. Alguma a senhora aprontou. Não tem porque usar um lenço no pescoço no calor que o Rio de Janeiro está fazendo.

Valéria: Você pode respeitar sua mãe. Eu não sou suas coleguinhas de escola. Falando nisso, você já está atrasada.

Patty: Agora eu já tenho certeza que você está escondendo alguma coisa. Me expulsando de casa.

Patty levanta da mesa e sai.

Cena 3.

Hospital.

Hélio entra no hospital com Gloria nos braços.

Hélio: Um médico, por favor. Minha mãe esta desmaiada.

Sandra chega à recepção vê Hélio com Glória nos braços.

Hélio: Um médico. Alguém.

Sandra vai até Helio.

Sandra: Eu sou médica. O que aconteceu com ela?

Hélio: Eu não sei. Eu quando eu cheguei, ela já estava desmaiada e tinha um frasco de remédio do lado.

Sandra: Uma maca aqui. Urgente.

Um enfermeiro chega com a maca e colocam Glória na maca. O enfermeiro leva a maca pra dentro do hospital.

Hélio: O que aconteceu com minha mãe.

Sandra: Não posso afirmar nada agora. Mas provavelmente intoxicação.

Sandra sai atrás da maca.

Cena 4.

Salão de Janet.

Janet entra no salão e vê Dirce e Edneia sentadas no sofá lendo revista.

Janet: Eu saio e vocês aproveitam pra ler revista.

Edneia: Não estou apenas lendo revistas. Estou me informando das noticias do Brasil e do mundo pra poder dialogar com minhas clientes.

Janet: E desde quando tem noticias do Brasil e do mundo em revista de fofoca de celebridades?

Edneia: Tem noticias das celebridades do Brasil e do mundo inteiro. Lê aqui pra você ver. Fala do Justin Bieber.

Janet: Eu lá quero saber das noticias do Justin Bieber. Tenho uma missão pra você.

Edneia: To fora. Manda a Dirce. Da ultima vez que você veio com essa historia de missão eu tive que dar faxina na sua casa.

Dirce: Opa. Vou dar faxina na casa de ninguém. Tenho preguiça de limpar a minha.

Janet: Não tem faxina nenhuma não. Mas quem é vai é você mesma Dirce. A Edneia não está merecendo.

Edneia: Se ferrou.

Janet: Vai chegar um grande amigo meu de São Paulo. Ele vai trabalhar com a gente aqui no salão. Eu quero que você vá ao aeroporto buscar ele. Pode aproveitar pra passar no shopping e fazer umas comprinhas.

Edneia: Espera. Buscar macho e ainda passar no shopping? Pode deixar que eu mesma vou. Vai ser um prazer.

Janet: Não. Quem vai é a Dirce. Você não está merecendo.

Edneia: Eu mereço sim Janet. Isso tudo é porque a cliente reclamou que eu deixei pipoca no cabelo dela? Eu tava com fome.

Janet: Você fez o que?

Edneia: Nada não. Tava falando pra Dirce ir rápido antes que ela se atrase.

Dirce: E qual o nome dele?

Janet: Leandro.

Cena 5.

Sala de espera do Hospital.

Hélio sentado no sofá fica pensativo. Maria entra na sala de espera.

Maria: Como que ela está?

Hélio: Eu não tive notícia ainda. Espero que ela esteja bem.

Maria: Vai estar sim. Não vamos pensar negativo.

Hélio: Obrigado por você ter vindo. E desculpa também. Eu sei que você ta cheia de trabalho na imobiliária e ainda tem o problema da Marcela. Mas eu não sei ficar calmo nessas situações. Você me conhece. Eu liguei pra Valeria, mas você sabe como ela é.

Maria: Respondeu que ela não era médica e quando tiver notícias pra falar com ela.

Hélio: Sim.

Maria: Típico dela. Eu lembro que quando a Patty operou de apendicite ela disse a mesma coisa.

Hélio: Ela não se preocupou com a filha imagina com a sogra.

Sandra chega à sala de espera.

Sandra: Com licença.

Hélio: Que bom que você chegou. Como ela está?

Sandra: Ela ingeriu uma quantidade grande de antidepressivo. O organismo reagiu, não conseguiu conter o remédio e ficou fraco.

Maria: Mas ela está bem? Nós não entendemos a linguagem de médico.

Sandra: Limpamos o organismo dela. Agora ela está no quarto no soro. Ela está fraca, mas vai ficar bem.

Hélio: Nós podemos ver ela?

Sandra: Podem sim.

Cena 6.

Quarto de Glória no hospital.

No quarto, Glória esta deitada na cama, Hélio e Maria entram.

Maria: Dona Glória, a senhora está bem?

Glória: Pra sua tristeza eu estou sim. Não foi dessa vez que você se livrou de mim.

Hélio: Mãe, não começa.

Glória: Eu não sei o que ela está fazendo aqui.

Maria: A senhora pode não acreditar, mas eu ainda gosto muito da senhora e me preocupo com a senhora.

Glória: Eu vou fingir que eu acredito.

Hélio: Por favor, mãe.

Maria: Deixa-a. Ela está recuperando, não pode se aborrecer. Eu vou até a lanchonete tomar um café.

Maria sai do quarto.

Hélio: A senhora tem que parar com isso. Todas as vezes que você encontra com a Maria você ataca ela.

Glória: Ela matou meu filho. Isso tudo é pouco perto do que ela merecia.

Hélio: Ela não matou ninguém. Foi uma fatalidade. Ninguém podia imaginar que o carro ia cair do barranco ou que não ia dar tempo de tirar todos do carro.

Glória: Você ainda a defende.

Hélio: Está bem. Mas me responde. Por que a senhora se entupiu de remédio?

Glória: Porque eu queria morrer. Porque eu não aguento mais. Eu não consigo aceitar a morte do Heitor. Não é justo comigo. Não foi justo.

Hélio: Eu ainda to aqui, mãe. Apesar de que a senhora não liga. Eu também sou seu filho. Você hora nenhuma pensou em mim, que eu ia sentir sua falta se você morresse? Que eu ia sofrer com isso?

Glória: É diferente Hélio.

Hélio: Claro que é. A senhora sempre amou mais o Heitor. Ele sempre foi seu preferido e você nunca fez questão de esconder isso. Até depois de morto ele ainda ganha de mim.

Hélio sai do quarto.

Cena 7.

Lanchonete do hospital.

Sentado à mesa, Maria e Lucas conversam e tomam café juntos.

Maria: Desculpa ter feito você vim ao hospital pra assinar esses papeis, mas você disse que tinha certa urgência.

Lucas: Não tem problema. Não se preocupe com isso. Eu estava aqui perto mesmo. É alguém da sua família que está aqui?

Maria: Minha sogra. Ela tentou suicídio.

Lucas: Nossa. Sinto muito. Depressão?

Maria: Sim. Ela nunca superou o fato do meu marido ter morrido.

Lucas: Complicado.

Maria: Sim, mas eu não quero te incomodar com os assuntos da minha família. Você analisou o contrato que eu te mandei por e-mail ontem?

Lucas: Sim. Tudo certinho.

Maria tira o contrato da bolsa.

Maria: Que bom. Aqui são os originais. É só você assinar.

Lucas: Eu vou só dar mais uma olhada nele. Não se ofenda é mania de advogado.

Maria: Que isso. Por favor.

Lucas olha o contrato rápido.

Lucas: Está certinho sim.

Lucas assina contrato.

Maria: Então está tudo certinho. O apartamento já é seu. Hoje a tarde já vai estar registrado.

Maria pega a chave e entrega a Lucas

Lucas: Obrigado.

Lucas levanta e esbarra na prancheta de Sandra que cai no chão.

Lucas: Desculpe-me.

Lucas abaixa e pega a prancheta e a entrega. Os dois se olham por alguns segundos.

Sandra: Obrigada.

Sandra sai andando.

Lucas: Eu já vou indo. Mais uma vez, obrigado Maria.

Maria: Eu que te agradeço.

Cena 8.

Casa de Carla.

André entra no quarto e vê Carla.

André: Sua filha estava me fazendo um interrogatório pra saber se eu fiz alguma coisa com você, porque ela viu uma marca no seu braço. O que você falou pra ela?

Carla: Nada. Ela viu um roxo no meu braço ontem à noite. Mas eu disse que eu tinha esbarrado na mesa.

André: Carla, Carla. Não mente pra mim.

Carla: Eu não estou mentindo.

André: Acho bom. E explica mais uma vez pra Julia que não te bati. Eu nem cheguei perto disso. Eu nem segurei seu braço forte. Você que é branquinha demais. Fica marcada atoa.

Carla: Eu vou falar com ela.

André: Acho bom.

André sai do quarto.

Cena 9.

Lanchonete do hospital.

Maria e Hélio conversam sentados à mesa.

Maria: Você está bem? Sua cara não é das melhores.

Hélio: De sempre. Dona Gloria não é fácil.

Maria: Você sabe que ela não esta bem. Ela nunca conseguiu superar a morte do Heitor.

Hélio: Eu sei. Mas já se passaram 10 anos. Já passou da hora dela superar.

Maria: As coisas não são fáceis assim. Principalmente pra ela.

Hélio: Pra mim também não são. Eu cresci vendo ela se importar mais com o Heitor e me deixando de lado. Na adolescência também. Quando adulto que eu achei que as coisas iam mudar, ficaram piores. Nem depois de morto ela tem olhos pra mim.

Maria: Hélio…

Hélio: Eu nunca disse isso. Mas eu tinha inveja do Heitor. Era tudo pra ele. Toda atenção, toda dedicação. Eu sempre fiquei pra trás.

Maria: Hélio, sua mãe te ama. Só que é diferente a forma que vocês se relacionam. O Heitor sempre foi o filho mais problemático, o irresponsável, o que precisava de ajuda. Já você sempre foi o filho maduro, responsável, que quando queria algo ia lá e fazia não esperava os outros. Só por isso. Mas sua mãe te ama.

Hélio põe a mão por cima da mão de Maria que está sobre a mesa.

Hélio: Obrigado por você me ajudar. Você sempre foi uma grande amiga.

Maria: E sempre vou ser. Vem cá me da um abraço.

Os dois se levantam e se abraçam. Valeria se aproxima dos dois.

Valéria: Eu atrapalho os dois?

Maria e Hélio se soltam e encaram Valéria.