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Herança do Passado

Herança do Passado – Capítulo 8: Em Nome das Filhas

CENA 1/ GRAMADO/ PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ DIA

Continuação Imediata

Rose tira seu salto alto do pé e desce delicadamente as escadarias da mansão e vai até o corpo da mãe. Após verificar que não há mais presença de sinais vitais, ela vai até o escritório de seu pai e faz uma ligação:

Rose: Luís, vem pra a mansão agora. A gente tem um problema dos grandes pra resolver…

CENA 2/ SÃO PAULO / RODOVIA/ DIA

Omar segue na estrada com seu capanga em direção ao sítio para entregar a pequena Luiza a seu avô, quando param o carro em um posto de gasolina para abastecer o carro. O que os dois não percebem é que o carro de Walter parou um pouco atrás deles, e ele está de longe observando tudo:

Omar: Quem falou que você pode parar?!

Capanga: A gasolina tá pouca, não vai dar pra chegar no sítio assim. Vai ser coisa rápida, pode ficar ai dentro do carro com a menina

Omar: É bom ser rápido, daqui a pouco essa peste vai começar a chorar de fome e se isso acontecer, você vai ter que dar um jeito de amamentar!

O motorista desce do carro e vai abastecer o tanque, quando é rendido por Walter, que coloca uma arma em sua cintura:

Walter: Passa a chave do carro, discretamente… Ou eu atiro.

O capanga entrega as chaves para Walter e sai discretamente para o interior do posto, deixando Walter sozinho perto da área de abastecimento.

Walter encosta no carro e abre a porta do assento de Omar, que toma um susto com a presença dele:

Walter: Desce do carro Omar! Bora, desce!

Calmamente, Omar deixa a criança no banco do carro e desce, ficando sobre a mira da arma de Walter:

Omar (frio): Como você me achou?!

Walter: Você achou mesmo que eu não ia te ver naquele saguão do hospital?! Que eu não lembro da tua cara, depois de todos os serviços sujos que eu já vi você fazer pra Antônio?! Vocês são muito otários mesmo né! Deita no chão desgraçado!

Omar (em tom de desafio): E se eu não deitar?! Vai fazer o que?!

Walter pega a arma e dá um tiro para cima, causando pânico em quem está no posto de gasolina:

Walter: Quer pagar pra ver?!?

Omar: Atirar pra cima todo mundo atira! Eu quero ver atirar no peito, isso só homem faz! E todo mundo sabe que se tem uma coisa que você não é, é homem!

Nervoso com as provocações de Omar, Walter pega a arma e dá o segundo tiro: na perna do segurança. Omar cai no chão e sua perna começa a se encher de sangue que escorre da ferida

Walter: Avisa pro desgraçado do seu patrão pra ele não se meter com a minha filha nunca mais! Ou o próximo tiro vai ser nele! Desgraçado!

Walter entra no carro, pega as chaves e dá partida, saindo em alta velocidade do posto com a filha presa em uma cadeirinha no banco de trás do carro.

Walter (em lágrimas): Ninguém vai mais mexer com você minha filha! Nunca mais! O papai promete! Nunca mais!

*

De volta ao posto, Omar se levanta com a ajuda de seu comparsa e vai até um orelhão do posto ligar para Antônio:

Omar (sentindo fortes dores): Patrão, o desgraçado do Walter pegou a menina! Ele roubou sua neta!

Antônio: Como assim roubou minha neta?! Você é um inútil mesmo viu Omar, nem conseguir roubar uma criança você consegue! Desgraçado!

Omar: A culpa não foi minha patrão, ele tava armado!

Antônio (furioso): Você também tava seu desgraçado! Eu lhe pago pra que?! Pra tomar tiro!? Se você não morrer com esse tiro, eu juro que eu mesmo te mato Omar! Mas aquele Walter me paga! Pode ligar pros seus contatos lá em Gramado, eu quero a cabeça da irmãzinha dele, até o fim do dia! Tá me entendendo Omar? Até o fim do dia!

Antônio desliga o telefone na cara de Omar e respira fundo. Em seguida ele sai do sítio em que estava aguardando e pega seu helicóptero, de volta para a cidade de São Paulo.

CENA 3/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ QUARTO DE LEILA/ DIA

Após ter recebido uma dose de tranquilizantes para se acalmar, Leila começa aos poucos a abrir os olhos após passar o dia dormindo. Ela acorda e, para sua surpresa, encontra o pai sentado na poltrona de acompanhantes do quarto:

Leila (ainda confusa): Pai?! O que você tá fazendo aqui?

Antônio: Quando me deram a notícia minha filha, eu tive que vir lhe ver… Eu até tentei falar com a sua mãe, mas até agora não consegui… Como você tá?

Leila: O que você quer aqui?! Eu pensei que você tivesse deixado bem claro que não queria mais nada comigo…

Antônio: Águas passadas meu bem, pai é pai pro resto da vida. Quando a policial me ligou pra me informar que a minha neta tinha sido sequestrada, eu não aguentei, eu precisei vir lhe ver…

Antônio se levanta da poltrona vai até a filha, estendendo os braços para abraçá-la:

Antônio: Será que esse velho merece o perdão da princesinha dele?

Desconfiada, Leila abraça o pai por um momento e depois o solta:

Antônio: Pelo ao menos a polícia tem uma pista de quem pode ter roubado a criança, já é um avanço…

Leila: Como assim? Eles lhe falaram alguma coisa?

Antônio: Eles já tem um suspeito: é o Walter!

Leila (confusa): Como assim o Walter?! Ele é o pai da criança!

Antônio: Minha filha, seja sincera comigo: ele não é pai de criança nenhuma, você sabe bem disso. O pai dessa criança é aquele jardineirozinho com quem você teve um caso!

Leila: O pai biológico pode ser o Leonardo, mas o pai da criança é o Walter, meu noivo! Ele não roubou a filha dele!

Antônio (sereno): Minha filha, me escuta… Ontem eu tentei lhe procurar naquele café onde você trabalha, já fazia tempo que eu estava lhe procurando. Mas quando eu cheguei lá, você não estava, só o Walter. Eu tentei fazer as pazes com ele, pedi o seu endereço, mas ele não quis me dar. Disse que eu jamais veria de novo você e jamais conheceria minha neta, me xingou de todos os nomes possíveis, me ofendeu das piores maneiras…

Leila: Tenho certeza que você mereceu todos os xingamentos…

Antônio: Claro que mereci! Mas eu fiquei com medo que ele pudesse fazer algo contra você, as palavras dele me pareceram com um certo tom de ameaça… Coisa de pai mesmo. Então eu coloquei um dos meus seguranças pra segui-lo e ele ficou de guarda aqui no saguão do hospital a noite toda, de olho em vocês – Antônio suspira – E ele só confirmou as minhas suspeitas…

Leila: O que ele viu?

Antônio: Filha, o seu “noivo” agrediu uma enfermeira e saiu com a minha neta desse hospital em um carro roubado. O meu segurança até segui ele por um tempo, mas quando o Walter descobriu, deu um tiro no coitado…

Leila (em choque): Não! Eu não acredito em você! O Walter não faria isso comigo! – ela começa a chorar e avança no pai, lhe dando vários tapas – Por que você tá fazendo isso comigo pai?! Eu não acredito em você!!!

Antônio: Filha, calma! Você pode perguntar pro detetive, ele tá ali fora! O meu segurança tá aqui no hospital também tratando o ferimento, ele pode confirmar tudo! O Walter agora é procurado pela polícia!

Leila: Eu não… Isso é mentira! É mentira!

Exausta, ela se deixa cair no colo do pai, que a ampara:

Antônio (cínico): Filha, volta com o papai pra casa… Eu prometo que eu não vou descansar um minuto enquanto eu não achar esse desgraçado e trazer a minha netinha pra a família dela! Mas volta pra casa! Volta pra a sua família!

1 DIA DEPOIS

CENA 4/ SANTOS/ PORTO/ FIM DE TARDE

Com a filha nos braços, Walter embarca em um navio com documentos falsos.  Ele dá uma mamadeira para a pequena Luiza e reflete sobre o futuro:

Walter: Você vai ficar bem comigo minha filha, eu lhe prometo – ele passa a mão na cabeça da menina e dá um beijo – A gente vai construir um lar, só nós dois, você vai ver… Você vai ser muito amada…

O navio começa a sair do porto e Walter olha pela janela da cabine a imagem da cidade se afastando pouco a pouco, junto com as memórias que ele escolhera deixar para trás

CENA 5/ GRAMADO/ PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/SALÃO PRINCIPAL/ NOITE

Com velas espalhadas por todo o salão e o caixão de Odessa no centro, o velório da matriarca dos Hesse-Kassel percorre toda a noite com a ida e vinda de amigos e familiares, enquanto a família observa tudo em um canto da sala, em luto:

Leila: Eu não sabia que ela estava tão mal assim…

Antônio: Os médicos disseram que ela se desequilibrou na escada, tava sozinha em casa… Ela tava muito frágil minha filha, era uma questão de tempo…

Leila encosta a cabeça no ombro do pai e chora, enquanto ao lado Rose apenas olha para o caixão com uma expressão extremamente séria:

Leila: No que você tá pensando, minha irmã?

Rose: Na última vez que eu vi ela, no ultimo abraços que a gente se deu… Na última vez que ela disse que me amava… Esse tipo de coisa

Antônio: Ela amava muito vocês duas, daria a vida por vocês filhas se fosse necessário… Não esqueçam disso meninas…

Leila: Eu sei disso papai, por isso eu tomei uma decisão… Uma que vai honrar a memória de nossa mãe…

Antônio: O que você decidiu filha?

Leila: Eu vou tocar o projeto social dela e ao mesmo tempo honrar a memória da minha filha… Eu vou construir um orfanato e dedicar a vida a ajudar essa crianças sem pais, já que eu sou uma mãe sem filhos…

Antônio: Como você pretende fazer isso Leila?

Leila: Eu já falei com Padre Estevão sobre o projeto do orfanato, a Igreja vai apoiar… Principalmente com a minha decisão de entrar para o convento…

Antônio (assustado): Como assim convento?

Leila: Eu tomei a decisão, eu vou ser uma freira… E já estou com a cabeça feita meu pai, não adianta tentar me convencer…

Antônio: Por que isso Leila?

Leila: Já que eu não tenho mais sentido na vida, quem sabe Deus não me ajude a dar um sentido na vida de outras pessoas?

Antônio: E a busca pela sua filha?

Leila: Eu não sou nenhum detetive, nem policial. Eu vou sempre ter no peito a esperança de um dia ver a minha Luiza, mas eu não vou me iludir, eu sei como é impossível achar uma criança raptada, ainda mais sendo uma recém-nascida. Minha esperança é que Walter entre em contato, mas cada vez que as horas passa, mais meu coração dói, mais minha esperança vai escapando do peito – uma lágrima escorre e percorre o rosto de Leila – Eu vou lá fora tomar um ar, depois eu volto pra ficar com vocês… Depois do enterro eu vou embora para o convento, e dessa vez eu não volto mais…

1 DIA DEPOIS

CENA 6/ GRAMADO/ PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ ESCRITÓRIO/ DIA

Reunidos com o advogado na família no escritório, Antônio, Leila e Rose permanecem sentados nas poltronas do cômodo enquanto o homem lê o testamento de Odessa:

Dr. Barros: “Eu, Odessa Cristina Delacroix von Hesse-Kassel, em pleno gozo de minhas faculdades mentais, deixo assim dividido em testamento os meus bens: a propriedade Hesse-Kassel, em Gramado vão para o meu marido, Antônio Otavio Hamburgo von Hesse-Kassel; a mansão Delacroix, em Viena, deixo para minha filha Leila Maria Hamburgo Delacroix Hesse-Kassel; as ações na empresa Kassel Chocolates, o meu apartamento em Paris, meus dois apartamentos, em Porto Alegre e São Paulo junto com a quantia de 10 milhões de dólares, deixo a minha outra filha Rose Augusta Hamburgo Delacroix von Hesse-Kassel; deixo ainda a importância de 2 milhões de dólares, localizada em minha conta na Suíça, para a Fundação Odessa Hesse-Kassel e suas despesas.

Assustado com a quantidade de bens deixados para Rose, Neto acaba por deixar o seu copo de whisky cair no tapete do escritório

Antônio (confuso): Isso não pode estar certo! Ela não pode ter deixado todo esse dinheiro pra uma só filha, esse julgamento tem que ser contestado!

Rose: Papai! Eu fiquei do lado dela nos piores momentos da doença, quando você e Leila saíram de casa. Ela deve ter levado isso em conta!

Leila: Rose tem razão, no final ela que estava aqui nos momentos finais, nada mais justo ela ter sido recompensada… Eu não quero nenhuma contestação, e se for possível, quero abrir mão da minha parte e doá-la para a fundação.

Antônio: Isso é loucura!

Rose: Eu lhe apoio minha irmã! – Rose abraça a irmã – A partir de agora nós vamos ter que ser duas mulheres, e mais do que nunca, vamos precisar uma da outra: eu na minha empreitada de sócia da Hesse-Kassel, e você na sua missão com Deus.

Leila: Parece que você é voto vencido papai… – ela dá um leve riso de felicidade

Antônio (contrariado): Parece que as minhas filhas realmente estão crescendo…

Rose: E você não pode fazer nada a respeito disso…

Antônio: Tem uma coisa que eu posso fazer sim, ora manter vocês assim, desse jeitinho pra sempre

Leila: O que?

Antônio: Uma foto de família, antes de você ir embora. O fotógrafo tá lá fora esperando, quero que a foto seja em frente à nossa casa, pra eu sempre ter comigo a memória das minhas filhinhas…

Os três vão até a frente da mansão e encontram o fotógrafo pronto. Com todos de preto e ainda em luto pela morte de Odessa, a foto é tirada e vai para um porta-retratos do salão principal da propriedade Hesse-Kassel, em cima da lareira e ao lado da outra foto com toda a família reunida na última festa de Odessa.

28 ANOS DEPOIS

Envelhecido pelo tempo, Antônio acende a lareira da mansão e olha para cima, vendo as fotos da família. Ele pega sua foto com as filhas e a segura forte, como se pudesse segurá-las naquele momento

FIM DO CAPÍTULO

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