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Herança do Passado

Herança do Passado – Capítulo 7: Testamento

CENA 1/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ BERÇÁRIO/ DIA

Vestido de enfermeiro, Omar percorre os corredores do hospital até chegar ao berçário, onde encontra a pequena Luiza, dormindo junto com os outros bebês. O jovem segurança de Antônio entra no berçário e pega a criança, sendo surpreendido logo em seguida por uma enfermeira:

Enfermeira: O que você tá fazendo aqui no berçário?

Omar (nervoso): Eu?! Eu vim pegar a criança pra levar pra a mãe, ela vai amamentar…

Enfermeira: Estranho… Eu pensei que a outra enfermeira que fosse levar essa criança…

Omar: Ela ia sim, mas teve que sair do turno, foi emergência de família…

Enfermeira: Mas ninguém me avisou nada. Eu vou precisar ligar no ramal da chefe das enfermeiras pra checar isso, a criança não pode sair assim…

Omar (suando frio): Não! Você não pode ligar!

Enfermeira: Por que não rapaz?!

Sem resposta, Omar encara a enfermeira e engole em seco, fazendo ela desconfiar ainda mais da presença dele no berçário

Enfermeira: Ponha essa criança de volta no lugar, eu vou chamar outra enfermeira pra leva-la… Você vem comigo pra a direção do hospital, rapaz.

Sem alternativas, Omar coloca Luiza de volta no berço e sai do berçário com a enfermeira. Contudo, assim que ela lhe dá as costas, ele saca da cintura a sua arma e lhe dá uma coronhada na cabeça, a fazendo desmaiar. Omar volta para o berçário, pega a pequena Luiza e sai às pressas pelos corredores do hospital.

CENA 2/ GRAMADO/ PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ QUARTO DE ODESSA/ DIA

Em silêncio, Jeanne abre a porta do quarto de Odessa e a encontra dormindo, totalmente frágil. Ela discretamente coloca um bilhete junto com sua carta de demissão em cima do criado da patroa e a deixa:

Jeanne (com uma pequena lágrima nos olhos): Eu ainda volto Dona Odessa… Eu não vou largar a senhora!

Ela desce as escadarias da mansão, entra em um táxi e deixa a propriedade de vez

CENA 3/ PORTO ALEGRE/ RESTAURANTE / DIA

Sentados na melhor mesa de um restaurante imponente da capital gaúcha, Luís e Rose comemoram o sucesso do plano tomando taças e mais taças de champanhe e comenda os pratos mais caros, enquanto ao fundo o pianista do restaurante toca:

Luís: Sabe o que que eu tô curioso pra saber?

Luís: O que é, meu querido?! Acho que a essa altura não tem mais nada da minha vida que você não saiba…

Luís: Eu quero saber o que tinha no outro testamento… Abre ai pra a gente ver!

Rose: Aposto que tinha a mesma coisa que eu coloquei no falso testamento… A gente tem nossas diferenças, mas mamãe me ama, ia deixar tudo pra mim de qualquer jeito! Eu só fiz tudo aquilo por precaução…

Leonardo (em tom de desafio): Então abra o testamento! Eu pago pra ver!

Rose: Eu abro!

Rose pega o documento na bolsa e o tira do envelope. Ela dá uma golada no champanhe e começa a lê-lo:

-“Eu, Odessa Cristina Delacroix von Hesse-Kassel, em pleno gozo de minhas faculdades mentais, deixo assim dividido em testamento os meus bens: a propriedade Hesse-Kassel, em Gramado, e as ações na empresa Kassel Chocolates vão para o meu marido, Antônio Otavio Hamburgo von Hesse-Kassel; a mansão Delacroix, em Viena, junto com a quantia de 1 milhão dólares, deixo para minha filha Leila Maria Hamburgo Delacroix Hesse-Kassel; o meu apartamento em Paris, junto com a quantia de 1 milhão de dólares, deixo a minha outra filha Rose Augusta Hamburgo Delacroix von Hesse-Kassel; deixo ainda a importância de 10 milhões de dólares, localizada em minha conta na Suíça, para a Fundação Odessa Hesse-Kassel e suas despesas; e por fim, deixo a quantia de 1 milhões de dólares, junto com meus dois apartamentos, em Porto Alegre e São Paulo, para minha fiel amiga e funcionária, Jeanne Silva Santana.”

Rose fica pálida ao terminar de ler o testamento e Luís tem uma crise de risos:

Luís (com um riso debochado): A velha lhe boicotou legal no testamento! Você ia sair com uma mão na frente e a outra atrás, igual uma pedinte!

Rose (furiosa): Para de rir! Eu tô com cara de palhaça?! Não importa o que essa merda diz, a verdadeira herdeira sou eu!

Luís (recuperando o fôlego): Sabe pra que eu pedi pra você ler esse testamento?

Rose: Pra rir da minha cara?

Luís: Também… Mas na verdade, foi pra gravar mesmo.

Rose: Como assim gravar?!

Luís: Gravei tudo ué, tô com o gravador ligado aqui no bolso! Agora eu lhe tenho quando eu quiser meu amor! Eu acabei de lhe gravar lendo o verdadeiro testamento, o que você retirou de um cofre do banco!

Irritada, Rose pega uma taça de champanhe e joga o líquido na cara do namorado, que fica encharcado. Luís limpa o rosto com um guardanapo e mostra seu sorriso amarelo:

Luís (em deboche): Pra que tanta violência meu bem? Você vai ter que aprender a controlar essa raiva, já que a partir de agora a gente vai ficar um bom tempo junto…

Rose: Como assim um bom tempo?!

Luís: Que tal até que a morte nos separe?! – ele coloca a mão no bolso e tira uma caixinha com uma aliança – Rose Augusta Hamburgo Delacroix von Hesse-Kassel, você aceita se casar comigo?! Lembrando que não, dessa vez, não é uma alternativa válida!

Contrariada e com a cara fechada, Rose abre a caixa, põe o anel no dedo, e, em seguida, dá um tapa no rosto de Luís com força, fazendo todos do restaurante olharem para o casal

Rose (cínica): Não se preocupe meu bem, vamos viver felizes para sempre…

CENA 4/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ FUNDOS/ EXTERIOR

Com Luiza enrolada em seus braços, Omar consegue sair do hospital pela porta dos fundos, onde encontra seu capanga já com o carro pronto. Ele entra no veículo com a criança e segue para o sítio onde Antônio se encontra. O que ele não percebe, contudo é que está sendo seguido por Walter, que se encontra um pouco atrás deles em outro carro.

CENA 5/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ QUARTO DE LEILA/ DIA

Ainda cansada do parto, Leila começa a acordar, se assustando ao abrir os olhos e ver duas enfermeiras no quarto acompanhadas de um policial:

Leila (assustada): O que tá acontecendo aqui?!

Policial: Dona Leila, eu preciso ter uma conversa urgente com a senhora. É sobre um crime que aconteceu essa manhã, aqui dentro desse hospital.

Leila: Como assim crime?! A minha filha tá bem né?! Cadê minha filha?!

Policial: Uma enfermeira foi encontrada inconsciente na porta do berçário, após um ataque na cabeça. Quando entramos no berçário, foi constatado que uma criança havia sido levada.

Sem acreditar na situação, algumas lágrimas começam a descer pelo rosto de Leila e ela se desespera com a situação:

Leila: Chama o meu noivo, eu preciso falar com ele! Chama o Walter!

Policial: Walter é o pai da criança?!

Leila: Sim! O Walter é o pai! Acha ele, eu preciso dele aqui!

Policial: Eu vou procurá-lo, não se preocupe. Mas eu preciso de uma informação sua Dona Leila.

Leila: Sim, qualquer coisa!

Policial: Existe alguém, com motivação, para querer machucar à senhora ou a sua filha?

Leila para um segundo e pensa em seu pai. Ela respira fundo e responde ao policial:

Leila: Não… Não conheço ninguém com tal motivação…

CENA 6/ GRAMADO/ PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ DIA

Após passar o dia na capital Rose chega na mansão exultante de felicidade e sobe as escadarias para ir até o quarto da mãe. Ela abre a porta do cômodo e encontra Odessa sentada em uma poltrona lendo a Bíblia Sagrada, com uma expressão serena no rosto:

Rose: Mamãe, Jeanne já lhe deu a medicação de hoje?

Odessa guarda a Bíblia e fica encarando a filha, fazendo um silêncio ensurdecedor tomar conta do quarto. Com um pouco de esforço, ela se levanta da poltrona e vai até Rose, ficando cara a cara com a filha. Ela a encara por um momento e logo em seguida usa o pouco de força que tem para desferir um forte tapa na cara da filha

Rose (assustada): Mãe?! Você pirou!

Odessa: O meu gerente do banco me ligou hoje, sabia? Disse que a minha filha tinha esquecido de deixar uma assinatura na hora que entrou no cofre, precisava voltar lá! Agora você imagina o meu choque, quando eu ouvi que a minha filha Leila estava em um banco de Porto Alegre! – ela respira fundo e tenta se controlar – Eu fui até lá, ver com meus próprios olhos as filmagens, e você imagina a minha surpresa ao lhe ver, com uma peruca ridícula e um óculos, abrindo o meu cofre! O MEU cofre! E o pior: pra pegar meu testamento!

Rose (em pânico): Mãe, não é nada disso que a senhora está pensando…

Odessa desfere outro tapa na cara da filha, que acaba caindo no chão

Odessa (furiosa): Já chega! Eu cansei de você Rose Augusta! Eu cansei de passar a mão na sua cabeça, de ir lhe buscar em delegacia, de esconder as suas loucuras do seu pai, de lhe proteger! Você cruzou uma linha!

Rose passa a mão na cara e limpa um pouco de sangue no canto da boca. Em seguida ela se levanta e fica de novo cara a cara com a mãe. Ela retira a expressão de pânico do rosto e assume uma expressão decidida e cínica:

Rose: O que que você vai fazer? Vai me botar de castigo? Vai contar pro papai?! Isso se você estiver viva até conseguir chegar no telefone né… Eu te fiz um favor! Você ia morrer e deixar todo o nosso dinheiro pra um bando criança remelenta de obra de caridade e, o pior, pra a empregada da casa! Eu devia lhe interditar, isso sim!

Odessa: Cala a boca menina! Abaixa essa crista! Eu vou fazer o que eu já devia ter feito a muito tempo! Eu vou lhe entregar pra a polícia!

Rose: Isso não!

Rose segura o braço da mãe com força, mas ela se solta. Odessa pega um casaco em cima da poltrona, veste e sai do quarto, fazendo a filha ir atrás. Com pressa, Odessa atravessa o enorme corredor da mansão e chega até a escadaria da sala principal, quando de súbito sente uma mão em suas costas e é empurrada escada abaixo. Odessa rola pelos degraus enquanto Rose observa a cena do alto com uma expressão mista de espanto e ao mesmo tempo prazer.

FIM DO CAPÍTULO

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