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Herança do Passado

Herança do Passado – Capítulo 6: Armadilha

CENA 1/ SÃO PAULO / CAFÉ/ NOITE

Continuação Imediata

Antônio: Então rapaz, o que vai ser? Você pode facilitar as coisas pra mim e simplesmente me passar o endereço, ou pode deixar as coisas bem complicadas pra a sua irmãzinha…

Walter: Vá a merda, seu desgraçado!

Walter dá as costas para Antônio e entra na cozinha do café, o deixando sozinho na mesa. Antônio deixa uma nota para pagar pelo café e sai para a rua. Ele caminha até um orelhão e liga para um de seus capangas:

Antônio: Omar, pode seguir o rapaz! Ele não quis do jeito fácil, a gente faz do difícil mesmo, não vai ter problema!

Dentro do café, Walter escapa de Antônio usando a porta dos fundos para sair, sem perceber que está sendo seguido por um dos capangas do ex patrão. Desesperado ele entra em um táxi e segue direto para casa.

CENA 2/ SÃO PAULO / EDIFÍCIO PRINCESA ISABEL/ NOITE

Atordoado após a conversa com Antônio, Walter chega apressado até o prédio onde mora em busca de Leila, mas é interrompido pelo porteiro:

Porteiro: Graças a Deus o senhor chegou Seu Walter! Precisava falar com o senhor urgente!

Walter (afobado): Agora eu não posso, eu preciso correr…

Porteiro: É urgente Seu Walter, a Dona Leila foi levada pro hospital as pressas!

Walter (assustado): Como assim?! Cadê minha esposa?!

Porteiro: Ela entrou em trabalho de parto, foi com uma vizinha correndo pra aquele hospital que tem aqui perto, o Santo Antônio…

CENA 3/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ RECEPÇÃO/ NOITE

Walter entra desesperado no hospital e se dirige direto para a recepção em busca de notícias de Leila:

Walter (nervoso): Eu preciso de notícias da minha esposa, ela deu entrada aqui nesse hospital em trabalho de parto! O nome dela é Leila Hesse-Kassel.

Recepcionista: Olha Senhor, essa paciente já se encontra sendo atendida, ela já está com os médicos, pode ficar tranquilo. O senhor é o marido?

Walter: Sou, sou o marido sim! O pai da criança!

Recepcionista: Aguarda só um instantinho, eu vou conseguir a liberação para o senhor entrar na sala de cirurgia.

Sentado na sala da recepção, Omar observa atento os movimentos de Walter e vê o momento que ele entra para a sala de cirurgia

CENA 4/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ SALA DE CIRURGIA/ NOITE

Aflito, Walter finalmente consegue entrar na sala para acompanhar o parto e encontra Leila totalmente frágil e sentindo fortes dores:

Leila (atordoada/ofegante): Graças a Deus você chegou Walter, eu não sei se eu vou conseguir! A dor tá muito forte!

Walter segura na mão da amiga e aperta forte

Walter: Leila, não tem nada, absolutamente nada, que você não consiga fazer! – ele a beija na testa – Eu vou ficar aqui, do seu lado, e a gente vai ter a nossa filha… Eu vou estar aqui, pro que você precisar, segurando a sua mão….

As contrações começam a vir cada vez mais fortes e Leila começa a gritar de dor. Ela aperta com força a mão de Walter e começa a fazer força para que o bebê saia.

CENA 5/ GRAMADO/ PROPRIEDADE HESSE-KASSEL/ ALA DOS EMPREGADOS/ QUARTO DE JEANNE/ NOITE

Já de pijamas, Jeanne deita em sua cama e se prepara para dormir, quando é interrompida pela batida na porta do quarto e a entrada de Odessa:

Jeanne (surpresa): Odessa, algum problema? Você tá sentindo alguma coisa?

Odessa (aflita): Tô sim Jeanne, um aperto no peito muito grande, uma sensação horrível…

Jeanne: Eu vou ligar pro seu médico, vou mandar ele vir aqui.

Odessa: Não é caso de médico não, é uma coisa emocional, sabe? Um aperto no peito…. Eu preciso que você me faça um favor, que talvez seja demais pra mim…

Jeanne: Pode me pedir, faço qualquer coisa.

Odessa: Você sabe dirigir né?

Jeanne: Sei sim, aprendi desde nova

Odessa: Pega umas velas, a gente vai pra a Igreja passar a noite lá. Alguma coisa muito ruim tá pra acontecer, coração de mãe não se engana…

CENA 6/ GRAMADO/ IGREJA MATRIZ SÃO PEDRO

Jeanne e Odessa acendem suas velas e se sentam em um dos bancos da Igreja Matriz e se ajoelham para fazer suas orações:

Jeanne: Odessa, tem certeza que você aguenta ajoelhar?

Odessa: Eu tô tirando forças de onde eu nunca imaginei que teria minha amiga, isso aqui pra mim é o de menos – ela segura a mão de Jeanne – Posso te pedir outro favor?

Jeanne: Pode…

Odessa (com lágrimas nos olhos): Reza pela minha filha? Reza pela minha Leila…

Jeanne balança a cabeça concordando e aperta a mão da amiga

*

Enquanto as duas fazem as preces, Leila cada vez faz mais força para conseguir dar a luz. Ela passa a gritar de dor e apertar cada vez mais a mão de Walter, enquanto aos poucos a pequena Luiza começa a surgir. As luzes tremulam na Igreja de Gramado e as dores do parto se intensificam cada vez mais e mais. Um vento forte sacode as janelas da Igreja e Leila dá um grande grito de dor, seguido de um grande momento de alegria. Um choro estridente se ouve na sala de cirurgia e o médico retira de vez a filha recém-nascida, lhe cortando o cordão umbilical. Com os olhos cheios de lágrimas, Leila segura a filha nos braços e é amparada por Walter. Os dois se olham e suspiram aliviados, enquanto limpam as lágrimas: Leila suspira aliviada e Walter limpa o suor da testa da amiga, dando-lhe um beijo terno em seguida. Na igreja, Jeanne e Odessa intensificam suas orações e a luz das velas tremulam cada vez mais agitadas com o vento.

ALGUMAS HORAS DEPOIS



CENA 7/ PORTO ALEGRE/ BANCO SULISTA/ MANHÃ

Sentado no lado do motorista de um carro que está parado na porta do banco de Porto Alegre, Luís conversa com uma mulher loira de óculos escuros que se encontra no banco dos fundos. A mulher encosta perto dele é revelado que se trata de Rose:

Luís: Tem certeza que você tá pronta pra fazer isso?

Rose: Eu já nasci uma atriz meu bem, isso pra mim é fichinha! Só essa peruca que pinica bastante, odiei! Mas cadê meus documentos?

Luís: Os documentos de Leila Hesse-Kassel, não se esqueça! Passou daquela porta você é Leila!

Rose: Não precisa me lembrar, não sou retardada! Agora abre logo essa porta que eu quero resolver isso logo!

Luís: Abre você! Não tem mão não?

Rose: Uma dama nunca abre a porta de um carro, nem se estiver pegando fogo!

Luís: E quem lhe falou que você é uma dama?

Rose: Desgraçado!

Irritada, ela abre a porta do carro e desce sozinha, indo em direção ao banco. Após entrar e passar pela porta giratória, ela procura o gerente do estabelecimento:

Gerente: Bom dia senhora, em que posso ajudá-la?

Rose: Eu preciso ter acesso ao cofre que minha mãe tem aqui no cofre desse banco, eu sou filha de Odessa Cristina Delacroix von Hesse-Kassel.

Gerente (surpreso): Não me diga! Olha menina, sou um grande admirador da sua mãe, principalmente das obras sociais que ela realiza na região! Qual das duas é você? Leila ou Rose?

Rose: Realmente a bondade de mamãe desconhece os limites… – ela suspira e revira os olhos – Então, eu sou a Leila e eu trouxe aqui até uma procuração que ela colocou em meu nome pra ter acesso a tudo. Posso ir no cofre?

Gerente: Claro, me mostra só o documento pra eu verificar…

Rose tira da sua bolsa de grife a falsa procuração junto com os documentos de Leila e entrega para o rapaz, que os verifica

Gerente: Olha menina, em circunstâncias normais haveria uma burocracia imensa pra conseguir resolver esse seu problema, mas como eu sei que a sua mãe não está em condições de vir até aqui por causa da saúde dela, a sua família é mais do que conhecida e, pra falar a verdade, não tem nada de valioso no cofre, eu vou deixar você entrar, já que a papelada parece estar toda certinha… Só não demora muito, ok?

Rose: Cinco minutos serão mais do que suficiente…

Gerente: Me acompanha então por favor

O gerente do banco acompanha Rose até a sala onde ficam os cofres dos clientes e abre o cofre pertencente a Odessa Hesse-Kassel.

Rose: Meu bem, será que você poderia me dar um minutinho sozinha aqui?

Gerente: Infelizmente não posso, é norma do banco…

Rose (com uma voz suave): Poxa… Mas é só um minutinho, ninguém vai saber…

Gerente: Não posso minha querida, nem adianta tentar… Já fiz muito lhe dando acesso aos cofres.

Rose: Mas você mesmo disse que só tem papeis aqui dentro, não tem perigo nenhum…

Gerente: Sinto muito Dona Leila, mas eu não descumpro ordens… Eu tenho que permanecer na sala enquanto a senhora estiver aqui

Rose respira fundo para não perder o controle e chega mais perto do gerente

Rose (agressiva): Sabe, eu desteto isso… Detesto quando eu tento ser boa e pedir as coisas com educação e, ainda assim, as pessoas não fazem o que eu peço! Então eu vou fazer o que eu sei fazer de melhor e eu sei que vai funcionar! Você vai sair dessa sala agora com esse seu terninho barato e vai me deixar cinco minutos sozinha nessa sala ou…

Gerente (assustado): Ou o que?

Rose: Você conhece o meu pai, não é?

Gerente: Quem não conhece Antônio Hesse-Kassel?

Rose: Então você sabe que ele não tem piedade com ninguém. Ainda mais com os desafetos dele.

Gerente: Sei…

Rose: Então, me deixa sozinha aqui, ou eu vou agora falar com o meu pai e contar que eu fui assediada dentro desse banco! Eu fui sexualmente atacada!

Gerente (assustado): Isso é uma mentira!

Rose: E você acha que a palavra de quem vale mais? A da herdeira Leila Hesse-Kassel, ou a de um gerentezinho que ninguém nunca ouviu falar?!

Gerente (chocado): Você é horrível menina!

Rose (com um sorriso cínico): Vai lá meu bem, cinco minutinhos…

Acuado, o gerente sai e finalmente deixa Rose sozinha na sala. Cara a cara com os papeis que desejava ter acesso há muito tempo, Rose abre novamente a bolsa e os guarda consigo, colocando no lugar deles vários papeis falsos e um novo testamento feito sob medida por ela e Luís. Ela checa a bolsa pela última vez e vê, junto com os outros papéis, um envelope com o verdadeiro testamento de sua mãe, indo embora do banco em seguida, com ar vitorioso.

CENA 8/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ RECEPÇÃO/ DIA

Enquanto Leila descansa do parto da pequena Luiza, Walter usa o telefone do hospital e faz uma ligação misteriosa:

Jeanne: Quem é?

Walter (aliviado): Graças a Deus eu consegui falar com você Jeanne… Eu preciso que você saia dai da mansão!

Jeanne (assustada): Walter?! Walter, onde você tá seu louco?!

Walter: Eu não posso lhe explicar muita coisa agora, mas você precisa prestar bastante atenção! Eu tô em São Paulo e Antônio apareceu aqui, atrás da filha dele…

Jeanne: Walter, eu preciso te contar uma coisa…

Walter: Se for pra dizer que você tá gravida, eu já sei. Olha, me escuta Jeanne! Antônio me ameaçou, ameaçou você e o seu filho! Eu preciso que você saia discretamente da mansão, não traga nada…

Jeanne: Walter, eu não posso sair assim, Dona Odessa precisa de mim, ela tá nas ultimas…

Walter: Ela não tá correndo risco de vida como você! Me escuta e sai dessa mansão desgraçada, a gente não tem muito tempo! Se você estiver disposta, pega o que puder, compra uma passagem pra São Paulo e vem pra minha casa. Anota meu endereço…

CENA 9/ SÃO PAULO / HOSPITAL SANTO ANTÔNIO/ EXTERIOR

Em frente ao hospital, Omar liga para o seu chefe para saber a respeito dos próximos passos:

Omar: O Walter já ligou pra a irmã, provavelmente pra contar sobre as suas ameaças… O que o senhor quer que eu faça?

Antônio: Com o Walter nada, deixa ele pensar que eu quero alguma coisa com a irmãzinha dele, é bom que ele fica distraído. Mas eu tenho outro serviço pra você rapaz…

Omar: É só dizer que eu tô as ordens

Antônio: Eu estive ai ontem, já subornei a moça da recepção e ela vai deixar você entrar na ala dos funcionários. Eu preciso que você se passe por enfermeiro do hospital e vá até o berçário!

Omar (confuso): Berçário?! Mas pra que berçário?

Antônio: Presta bem atenção rapaz, você vai entrar naquele berçário e vai trazer a minha netinha pra mim. Ninguém pode saber, você precisa ser bem discreto… Eu vou estar lhe esperando naquele sitio do Deputado amigo meu, sabe qual é né? Já fomos lá algumas vezes…

Antônio: Sei sim, pode deixar… Até a tarde a menina vai estar nos seus braços…

FIM DO CAPÍTULO

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