Herança do Passado – Capítulo 4: O Direito de Nascer
CENA 1/ GRAMADO /PROPRIEDADE DOS HESSE-KASSEL/ JARDIM PRINCIPAL/ NOITE
Após se recuperar da briga com Leo e enxugar as lágrimas, Leila se ajeita e volta para a festa, quando de repente é pega de surpresa pelo braço pelo seu pai:
Antônio (ríspido): Vem comigo pro meu escritório, a gente precisa conversar!
Leila: Agora não pai, me deixa…
Antônio (irritado): AGORA SIM!
Todos na festa olham assustados para Antônio, devido ao grito que este deu, e ficam pasmos:
Antônio: O que que vocês estão olhando?!
Odessa (assustada): Antônio, para com isso! Você tá me fazendo passar vergonha… Tá constrangendo as pessoas!
Antônio: Tem alguém se sentindo constrangido aqui??? – ele grita e as pessoas ficam caladas – Tá na hora dessa cambada de puxa-saco sem o que fazer ir embora, isso sim!
Possesso pela raiva, ele pega uma das mesas que estão no jardim e a vira de vez, fazendo copos, pratos e talheres caírem no chão em um barulho estrondoso
Antônio: O show acabou, todo mundo pode voltar do chiqueiro que saiu! Acabou essa palhaçada!
Leila (assustada): Pai, o que tá acontecendo?!
Antônio: Você cala essa boca e vem comigo agora sua ordinária! Antes que eu lhe puxe pelos cabelos!
Antônio segura a filha pelo braço e com rispidez a puxa para dentro da mansão, entrando no escritório furioso e fazendo Odessa ir atrás dos dois
CENA 2/ GRAMADO /PROPRIEDADE DOS HESSE-KASSEL/ ESCRITÓRIO/ NOITE
Continuação Imediata
Leila (em lágrimas): Pai, me explica o que tá acontecendo! Por que você tá assim?
Descontrolado, Antônio dá um tapa na cara da filha, que cai no chão do escritório com o golpe e é amparada pela mãe
Antônio (irado): Eu sei de tudo! Da gravidez, do caso com o caseiro, do caso com o motorista! Você vai tirar essa criança!
Odessa (confusa): Que criança???
Antônio: É isso mesmo, a sua filha Odessa tá gravida, do motorista dessa casa! Ela vai tirar esse filho, ou eu não me chamo Antônio Hesse-Kassel!
Odessa: Minha filha isso é verdade?!
Sem reação, Leila só consegue chorar no colo de sua mãe, confirmando o que seu pai dissera
Odessa (horrorizada): Isso não pode estar acontecendo…
Antônio: Mas está! Amanhã mesmo a gente vai em uma clínica, tirar essa criança bastarda!
Leila (desesperada): Não! No meu filho ninguém vai tocar, isso eu não permito!
Odessa: Antônio, você precisa se acalmar! Eu não vou permitir uma loucura dessas!
Antônio: Você não precisa permitir nada, sua idiota! Aliás, daqui até essa criança nascer você já vai estar morta de qualquer jeito, não sei por que se preocupa…
Odessa (enojada): Você é um monstro! – ela limpa uma lágrima que desce em seu rosto – Um monstro!
Antônio: Eu? Um monstro! Por que eu sou um monstro? Por tentar defender a minha família? Tentar defender a honra do meu nome?! Isso me faz uma pessoa ruim Odessa?!
Odessa: Eu desisto de você! Suba pro seu quarto Leila, e faça as malas minha filha! A gente vai sair dessa casa hoje mesmo! Que seu pai fique aqui, ele e o nome dele!
Leila sai do escritório e Odessa fica cara a cara com o marido. De súbito, ela cospe na cara de Antônio e também deixa o escritório
CENA 3/ GRAMADO /PROPRIEDADE DOS HESSE-KASSEL/ ÁREA DA PISCINA/ NOITE
Deitada em uma das cadeiras da piscina da casa na companhia de Luís, Rose comemora com o amado o sucesso do seu plano e debocha da família:
Luís: Você nunca ia me apresentar pra sua família nessa festa não é? Era tudo só uma desculpa pra eu lhe ajudar nessa baixaria…
Rose: Sabe que não? Eu até pensei, realmente em lhe apresentar pra a minha família. Só que meus planos sempre estão na frente de qualquer um, eu não tenho culpa… – ela dá de ombros – Além do mais, você tá um saco com essa carência chata, essa necessidade de querer conhecer meus pais. Eu já te falei que a gente tem um caso, não é nada sério Luís!
Luís: O que a gente tem é real, você sabe disso!
Rose: Talvez…. Mas gora eu tenho coisas mais importantes pra saber…
Luís: Só me diga uma coisa então…
Rose: Até duas, dependendo do que seja…
Luís: Eu sei que você não fez tudo isso com a sua irmã por causa da herança, tem alguma coisa além…
Rose: Comigo sempre tem alguma coisa além…
Luís: Por que então? Por que fazer isso?
Rose: A minha irmã sempre teve tudo, não ia fazer mal ela perder um pouco. Faz bem perder um pouco do que mais se ama, eu perdi e veja só, estou bem. Estou mais por cima do que nunca, me recuperei…
Luís: O que você perdeu?
Rose: O que há de mais importante na vida de uma mulher… – ela respira fundo e limpa uma lágrima que deixou escapar – Talvez um dia eu lhe conte…. Muito provável que não…. Mas agora você tem que ir Luís, eu tenho muita coisa pra fazer ainda essa noite.
Luís: Tem certeza que você não quer ir pro meu apartamento? Comemorar um pouco…
Rose: Hoje não…
CENA 4/ GRAMADO /PROPRIEDADE DOS HESSE-KASSEL/ QUARTO DE LEILA/ NOITE
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Parada em frente a porta do quarto da filha, Odessa respira fundo e bate na porta, para em seguida entrar. Contudo ela estranha ao não ver a filha em nenhum lugar do cômodo:
Odessa: Leila minha filha, já arrumou as malas? Eu estou pronta…
Sem ouvir respostas, ela passa a olhar o quarto da filha até encontrar na cômoda um bilhete:
Bilhete:
-Mãe, não é justo que a senhora sacrifique a vida que tem pelos meus erros, e não sou eu que posso lhe pedir isso. Espero que fique bem e se lembre que vai sempre me ter junto a seu coração, não importa aonde eu esteja. Não posso lhe dizer aonde estou indo, apenas que vou com a pessoa que mais confio nesse mundo para cuidar de mim e do meu filho. Infelizmente papai jamais vai aceitar o seu neto, e enquanto não sentir que a minha criança está segura, não me sentirei segura para voltar para a minha casa. Deixo um abraço também para minha irmã que tanto amo e que morrerei de saudades. Não pense neste bilhete como um adeus, mas como um até breve. Um abraço apertado de sua filha Leila.
Odessa não aguenta a emoção e começa a chorar sem parar, se apoiando na cômoda para não cair no chão do quarto. Aos berros ela se agarra à carta e a abraça como se pudesse abraçar, pela última vez, sua filha amada.
CENA 5/ ESTRADA PARA GRAMADO / BAR/ NOITE
Em um bar pé sujo na estrada para a cidade, Leonardo afoga as lágrimas da discussão com Leila em doses e mais doses de cachaça barata, quando de repente uma moça bem-apessoada se senta ao seu lado no balcão. Ele bebe mais uma dose e a olha, percebendo que se trata de Jeanne:
Leo: Jeanne?! O que você ta fazendo aqui?!
Jeanne: Vim beber? Não posso?!
Leo (surpreso): Aqui?!
Jeanne: Eu sempre soube que era aqui que você e meu irmão vinha pra encher a cara, pensei em arriscar… Tô precisando encher a cara hoje!
Leo: Nem me lembra do seu irmão, aquele traíra!
Jeanne: O que que ele te fez?
Leo: Ele me traiu, me esfaqueou pelas costas! – ele bebe mais uma dose de cachaça – Você acredita que ele me traiu? Que ele fez um filho com Leila!
Sem conseguir segurar o riso, Jeanne cai na gargalhada e deixa Leo irritado
Leo: Qual o problema?!
Jeanne (tentando parar de rir): Meu irmão? Engravidando alguém! Eu vou ligar pro Vaticano, a gente presenciou um milagre!
Leo: Eu também achei que nunca poderia acontecer, já que ele é né… Enfim, aquilo lá…
Jeanne: Claro que não poderia acontecer seu idiota, mas não é por ele ser gay não!
Leo (confuso): Então por quê?!
Jeanne: Ele teve caxumba, e não tratou direito! Meu irmão não pode ter filho com ninguém, ele é estéril!
Leo: Então Leila mentiu pra mim?!
Jeanne: Olha, eu não sou muito entendida dessas coisas, mas eu tenho quase certeza que ela pode não ter falado a verdade – Jeanne abre a garrafa de cachaça e põe uma dose em seu copo – Mas chega de falar de Leila, tem tanta coisa mais interessante pra ser falada!
Leo: Tipo?
Jeanne: Tipo eu meu amor! Tipo eu! Olha o monumento de mulher que tá aqui, sentada do seu lado, e tudo que você sabe falar é Leila, Leila, Leila! Esquece aquela patricinha, aquilo nunca foi pra você Leonardo!
Leo: Eu sei que nunca foi, só queria ter percebido antes…
Jeanne: Você percebeu agora, e como diz o ditado: antes tarde do que nunca…
Leo: Mas se ela não me traiu com o Walter, então há uma chance dela estar falando a verdade… Talvez não tenha sido tudo mentira Jeanne!
Jeanne: Léo, presta atenção aqui! Se não entender me avisa que eu desenho! O que eu disse é que o filho não é do meu irmão, mas existe milhões de pessoas no mundo! Só porque ele não é o pai, não significa que você seja!
Leo: Eu tô confuso…
Jeanne: Então deixa eu acabar com essa confusão sua!
Jeanne bebe mais uma dose de bebida e beija Leo sem aviso. Confuso, ele acaba por corresponder ao beijo e os dois permanecem juntos por vários e vários minutos aos beijos
Jeanne: E ai? Tá menos confuso? Ou ainda precisa do desenho?
Leo: Vamos embora daqui?
Jeanne: Pra onde?
Leo: Pra onde você quiser… Eu conheço um hotelzinho aqui perto na estrada, vai ser tudo que a gente precisa. Topa?
Jeanne: Pensei que nunca ia chamar! Bora agora!
CENA 6/ ESTRADA PARA GRAMADO / POSTO DE GASOLINA/ NOITE
Na madrugada, com o carro de seu pai parado em um posto de gasolina, Leila enxuga as lágrimas do rosto enquanto olha uma foto que trouxe consigo de sua família, quando é surpreendida pela chegada de Walter com uma sacola de lanches:
Leila: Eu acho que eu nunca vou conseguir lhe agradecer o suficiente por tudo Walter… Você salvou a minha vida – ela passa a mão na barriga – Você salvou a nossa vida…
Walter: É o mínimo que eu poderia fazer, já que eu sou o pai dessa criança agora né…
Leila: Desculpa por ter dito isso pro Leo, mas na hora eu me desesperei…
Walter: Não precisa se desculpar, você não tem culpa de nada… Mas olha, nada me tira que isso foi alguma armação… Alguém falou isso pro Leo, ele não ia inventar tudo isso sozinho, eu conheço ele…
Leila: Deixa isso pra lá, eu não preciso de um homem que não acredita na minha palavra… Tudo que eu preciso é do meu amigo, que nunca desistiu de mim, nem durante essa fuga maluca…
Walter: Por você eu iria até o fim do mundo – ele segura a mão de Leila e aperta firme – Por isso eu tenho uma proposta pra lhe fazer…
Leila: Faça…
Walter: Me deixa ser o pai dessa criança. A gente se casa no papel, arranja uma casinha em São Paulo e cria essa criança com todo o amor que ela precisa, longe daquela família de loucos que você tem!
Leila (confusa): Walter, eu não tô entendendo… Eu pensei que você fosse…
Walter: Gay?! Eu sou e vou continuar sendo a minha vida toda Leila. Mas isso não vai me impedir de ser o melhor pai do mundo e o melhor marido que você poderia ter… Lhe dou a minha palavra!
Leila: Eu sei disso, você é o melhor parceiro que eu poderia pedir… Eu aceito! Eu aceito ser sua esposa!
Leila abraça Walter e os dois comemoram
FIM DO CAPÍTULO
Comovido com esse capítulo 😢😍