Heaven Mundo Paralelo – Capitulo 8 – A voz em minha mente
Capítulo 7
A voz em minha mente
Quarta-feira.
As coisas estão cada vez mais estranhas desde que me mudei pra cá. E o pior é que isso ta me enlouquecendo, eu preciso conversar com alguém. Eu teria contado ao meu irmão ontem, se ele não tivesse me recebido com uma “celularzada” de boas-vindas…
Saindo de casa me deparo com a árvore, àquela árvore. Ela sempre esteve lá, mas de alguma forma só depois do sonho que eu comecei a notá-la aqui.
“Toque na árvore e saberás quem você é”
Não consigo entender o que isso quer dizer.
Da ultima vez que fiz isso ela estava em chamas e eu estava quase sujando a calça de tanto medo… Até você que está lendo sujaria as suas se estivesse em meu lugar.
O ônibus para com a porta aberta. Duas pessoas sobem e eu entro após elas. Pago o motorista e empurro a catraca, mas ela não gira, olho para o motorista esperando ele destravá-la e ele aperta um botão em seu painel. Tento de novo e dessa vez eu consigo girar a catraca, em seguida o motorista dá partida.
Apesar de cedo, o ônibus já está lotado e não há assento livre para mim hoje. O veículo para mais algumas vezes no decorrer do caminho, o que é normal, algumas pessoas entram outras saem… Mas em uma dessas vezes vejo rostos conhecidos, duas garotas e um cara. Acho que devem ser funcionários na mesma empresa que estou fazendo estágio.
– Me ajude…
Ouço um sussurro e olho para trás.
– O que você disse? – A garota a quem dirigi a pergunta me devolveu um olhar confuso.
Devo ter imaginado isso, estou enlouquecendo mesmo. Me viro para a janela e observo o cenário em torno do ônibus: árvores, postes, muro com cartazes, pessoas tudo ficando para trás.
– Eu preciso de você! – Me viro para ver quem falou e dou de cara com a mesma garota.
– Precisa de mim, pra quê?
– Eu não disse nada.
– O que você tá olhando, mané? – Gritou um cara atrás dela – Ta dando em cima da minha garota, é isso mesmo?
– Não! Calma, foi só um engano – Respondi ao ver que ele estava se aproximando – Eu não quero confusão, ok?
Dei alguns passos para o fundo do ônibus e parei perto da porta.
–… Por favor, me ajude… – A mesma voz parecia ecoar na minha mente, eu a ignoro. Outra vez eu olho para o lado e não tem ninguém falando comigo, mas todos estão me observando.
– Apollo…?
É coisa da minha cabeça, eu não estou ouvindo vozes. Digo em silêncio pra mim mesmo.
– Só você pode fazer isso – Ignore! Continue ignorando, isso é loucura da minha mente. E ultimamente ela tem me pregado muitas peças.
– Por favor! – A voz soou mais alto, mas eu sei que está vindo da minha cabeça. Sai! Saia da minha mente.
– Você tem que me ajudar!
– Não! Me deixa em paz! – Praguejei, talvez alto demais e no lugar errado.
As pessoas ao redor me encarando, algumas com desprezo, outras como se eu fosse uma doença e que a qualquer momento fosse contaminá-las.
O ônibus parou e eu pude ouvir um burburinho atrás de mim quando desci:
– Que maluco!
– Você viu isso?
– Mas é cada um que me aparece, acho que já vi de tudo nessa vida.
– Coitada da mãe desse menino… Tão jovem e já se acabando nas drogas.
Balanço a cabeça de um lado para o outro para me livrar desses pensamentos e para ignorar o que essas pessoas disseram.
Olho em volta e percebo ter descido uns dois pontos antes do que é de costume. Talvez caminhar e um pouco de ar livre faça bem a minha cabeça.
Museu Argos:
–… Então o que você achou dele? – Perguntou Luana, abrindo uma das caixas de souvenir.
– Ãh? Dele…?
– Nem vem, Isabely. Você sabe muito bem de quem estou falando.
– Apollo… – Disse em voz baixa e senti que minha boca estava se abrindo num breve sorriso. – Ele é engraçado. Eu gostei dele, Luana.
– Ele é um cara legal e não é só porque ele é meu cunhado, mas o Apollo é do tipo todo certinho sabe…
– Um pouco tímido também. – Ah! Aquele jeito atrapalhado de falar é tão fofo…
– Põe tímido nisso!
– Suponho que já tenham terminado suas tarefas.
Luana e eu estávamos fazendo os últimos preparativos para a reinauguração do Museu quando minha avó Annabel chegou, como sempre com sua dose diária de ironia.
– Oi vovó! – Larguei o livro na estante e fui abraçá-la.
– Também quero um abraço, vó Anna. – Disse Luana fingindo estar enciumada.
– Venham aqui minhas meninas. Só não pensem que vão me enganar com toda essa fraternidade calorosa logo cedo.
– Nós estávamos separando os livros de acordo com a época e colocando as joias e as demais réplicas nas prateleiras.
Minha avó analisou o lugar com uma expressão severa e disse:
– Ótimo! Agora chega de falatório e vamos trabalhar. Tudo têm que estar pronto até amanhã.
Vovó Anna tem esse jeito marrento assim, mas é uma pessoa incrível por dentro.
– Tão esperando o quê? Essas coisas não vão se organizar sozinhas.
Av. Juscelino Kubistchek.
Estou quase chegando ao trabalho, já estou vendo o prédio da empresa só mais uma ou duas ruas e pronto. Parado em frente o cruzamento do semáforo a chuva fraca umedece meu cabelo e minhas roupas. Esperei alguns instantes até o sinal fechar e quando dei o primeiro passo senti meu corpo congelar, um sentimento de preocupação e medo veio à tona, sei que esses arrepios nunca antecedem algo bom.
Em pânico olhei para todos os lados. Atrás de mim não havia nada. Nenhum sinal de alguém por perto, mas é como se tivesse alguma coisa me seguindo. Olho para frente e vejo uma mulher atravessando a rua de mãos dada a uma criança de uns dois anos.
Do meu lado esquerdo da rua alguns carros estacionados bem antes da faixa de pedestre, no poste um cartaz descolando quase por completo. Ouço o ruído de um motor ao longe. Me viro para o outro lado e vejo um dos carros passando no semáforo fechado.
Olhei novamente para frente, o menino estava brincando com a bola enquanto atravessa a rua ao lado de sua mãe. Mas a bola escapou de seu pé e o garoto soltou a mão da mulher para tentar alcançar a bola.
Num impulso eu consegui chegar até o menino e a mulher continuava caminhando já quase chegando à calçada. Como alguém pode ser tão distraído assim? Agora estou no meio da rua com uma criança indefesa ao lado e o som barulhento do carro se aproximando em alta velocidade indicando que não vai dar tempo de salvá-lo.
Isso me deixa em estado de choque, o meio-fio parece longe demais para ir correndo, talvez não tenha nada que eu possa fazer a não ser fechar os olhos e esperar o inevitável fim.
– Escute Apollo… Você é capaz! – Essa voz emergindo das profundezas da minha mente mais uma vez, quem e por quê?
Abaixado de forma a tentar proteger a criança, senti minhas mãos tremendo o ar parecia mais denso, porém tão leve. – Ainda estou vivo! – Olhei a minha volta e tive a impressão de que o tempo havia parado: A chuva fraca foi reduzida a uma nuvem de gotas cristalinas que encobriram todo o lugar. A bola de futebol estava flutuando ao lado do garoto, algumas folhas de árvore e pedras pequenas também pairavam estranhamente ao nosso redor.
– O que está acontecendo…? – Sussurro.
Voltando minha atenção para o perigo eminente, percebi que o carro ainda estava vindo em nossa direção, recuperando a velocidade rapidamente a cada momento.
– Não desista, eu sei que você consegue – Afirmou a voz em minha mente.
Agarrei o garoto, peguei a bola no ar e corri o mais rápido que minhas pernas podiam. Sinto uma forte ondulação passar por todo o meu corpo enquanto estou em movimento.
– Eu não posso parar! Preciso continuar correndo.
Seguro firme o menino abraçando-o contra meu peito. – Eu vou te proteger garoto –. As gotas caindo lentamente explodindo em contato com as superfícies sólidas e brilharam como um espelho diante de um holofote ao refletir o farol alto do carro. Quase fiquei cego com tanta luz, perco o equilíbrio e tropeço no meio-fio caindo de costas na calçada com o garoto em meu colo.
O motorista imprudente seguiu até o fim da rua sem parar nem diminuir a velocidade. Logo não pude mais avistá-lo.
Como se nada tivesse acontecido, a mãe da criança continuava andando pela calçada e só se deu conta do filho quando terminou de atender o celular.
– Tom? Thomas onde você… – Assustada a mulher se virou para trás a procura de seu filho.
O garoto está bem… Graças a Deus nós estamos. Ele levantou pegou sua bola de futebol e correu até sua mãe.
– Oh! Tom meu filho nunca mais solte minha mão. Está bem?
– Tá bom mamãe.
Parece que tudo está bem…
Ao me levantar algo molhado e grudento bate em meu rosto tampando minha visão. Elevo a mão para tirar a folha, que é aquele cartaz que descolou do poste:
Reinauguração do Museu Argos
Nesse fim de semana a partir de Sábado ás 9h00.
10 R$ o valor da entrada para quem chegar antes das 12h00s. Após esse horário o valor da entrada será de 20 R$.
De repente tenho a sensação estranha de que estou sendo vigiado. Lembro da voz em minha mente pedindo ajuda e depois tentando me ajudar. Talvez a dona da voz esteja por perto. Que loucura! Hoje meu dia começou bem agitado.