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Heaven - Mundo Paralelo [2ª Temporada]

Heaven Mundo Paralelo ( 2° Temporada) – Episodio 2 – Bússola

Retrospectiva do episodio anterior

Me agarrei firme na alça que pendia do teto e me esgueirei com dificuldade para cima até conseguir sentar no banco do passageiro. A primeira coisa que eu fiz quando consegui voltar para meu lugar, foi pôr o bendito cinto!

Como um vulto, o barbeiro inconsequente passou por nós, quase raspando na porta do motorista. O professor Sergio estava imóvel e seus olhos atentos observavam o cruzamento.

 

– Eles estão bem! – Falou como se adivinhasse o que eu estava prestes a perguntar.

 

Com um suspiro de alívio, me recostei no acento de forma despojada. O carro enfim, volta a inclinar para baixo ficando nivelado em relação ao chão outra vez. Do lado de fora a chuva tornou a cair e meus olhos tentam localizar Apollo.

 

– Parece que a profecia é verdadeira.

 

– O que? Que profecia é essa, professor?

Bússola

 

Gráfica New Designer.

Agora.

 

Acompanhei o professor até uma sala no corredor principal do oitavo andar.

 

– Tranque a porta!

 

– Certo… – Me viro e giro a chave que já estava na fechadura.

 

Atrás de uma pequena mesa de escritório, o professor procurava por algo entre os livros da estante ao lado da janela.

 

– Achei! – O professor põe um livro na mesa e pressiona a palma da mão sobre ele.  – Aqui, o livro das profecias.

 

Com o livro aberto, o professor Sergio folheia as páginas por alguns segundos e após uma pausa, como se tivesse lendo mentalmente para si, ele me olha e começa:

 

– Segundo o autor deste livro… Um anjo seria enviado para a Terra com a missão de proteger e guiar os escolhidos até o dia do “Grande juízo”, ou “Dia do Julgamento”. A presença deste seria o primeiro sinal do fim dos tempos. O segundo sinal será a ascensão das trevas, quando a “Aurora” que separa o plano físico do espiritual se romper completamente e os “Caídos” tomarem posse deste mundo.

 

– O… Apollo? Ele é mesmo o anjo da profecia? – Interrompi.

 

– É o que precisamos descobrir. Embora eu não tenha visto outro ser capaz de parar o tempo… ainda precisamos agir com cautela.

 

– Por que a gente não fala logo com ele sobre a profecia? Eu mesmo vi quando aquele endemoninhado recuou com medo ao ver Apollo e o reconheceu como um “anjo”.

 

– Esse era o plano principal quando mais cedo à gente presenciou o dom daquele garoto. Mas as coisas mudaram…

 

– Mudaram… como assim?

 

– Hoje logo após o intervalo, a Julia foi atacada e pelo o que ela disse, se o Apollo não tivesse aparecido ela estaria até agora presa em um pesadelo sem fim. Ou pior, seu corpo seria destruído de dentro para fora.

 

– Ela foi possuída?

 

– O demônio que a atacou não era apenas um espírito… – Olhando severamente em minha direção ele continuou. – O ser possuía corpo próprio, um corpo material de forma que ele pudesse interagir com as coisas deste mundo.

 

– Mas, isso não é impossível? – Perguntei abismado.

 

– Deveria ser…. parece que pulamos para o segundo sinal da profecia… A aurora começou a se romper!

 

O professor Sergio se abaixa atrás da mesa e puxa uma gaveta. De dentro dela ele tira um objeto arredondado e o coloca sobre a mesa.

 

– Pegue!

 

Me aproximo da mesa e pego o objeto que logo identifico como uma bússola antiga.

 

– O que eu faço com isso, essa coisa velha?

 

– Esqueceu para que serve uma bússola? Use-a!

 

– Mas, você me deu uma quebrada… os ponteiros nem se movem mais!

 

– Você deve ativar ela.

 

Giro o objeto passando de uma mão para a outra tentando ver algum tipo de botão de Liga e Desliga. Mas não encontro nada parecido. Desapontado eu ergo os olhos para o professor, se este for mais um dos testes, com certeza eu não passei.

 

– Não é uma bussola qualquer, Datto. Como seu mentor cabe a mim te mostrar que há muito mais nas coisas do que os nossos olhos possam ver.

 

Deve ser um objeto sagrado… para ativá-lo tenho que desvendar como ele funciona. Toda a superfície é lisa, exceto por uns pontos cravados em relevo na parte inferior da bussola. É uma bussola para cego! Não que eu veja algum sentido nisso… mas parece que tem algo escrito em Braille.

 

Fechei os olhos e lentamente passei os dedos sobre os pontos, me concentro em tentar entender o que essas marcas querem me dizer. Mentalmente visualizo símbolos se formando conforme vou tocando na superfície da bussola até se tornarem uma palavra: “αφύπνιση”.

 

 

Afýpnisi! – A pronuncia estranha saltou da minha boca como se tivesse vida própria.

 

Ouço um estralo e ao abrir os olhos vejo os ponteiros do objeto na minha mão se moverem.

 

– Uau! Deu certo… eu consegui!

 

– Muito bom, agora diga em que sentido os anéis estão girando?

 

– Anti-horário! – Falei após levar um tempo para perceber que há dois anéis cercando os ponteiros, um maior e outro um pouco menor que contornam a base superior da bussola.

 

– Está lá embaixo. E os ponteiros… para qual direção eles apontam?

 

– Nenhuma. Ou melhor, todas! Eu não sei, um está apontando para a janela e o outro enlouqueceu não para de girar. – Comecei a me questionar se teria pronunciado corretamente a palavra.

 

– Essa bussola indica a presença de algo sobrenatural. Neste caso parece que há mais de uma criatura à solta.

 

O professor enfia a mão no bolso da calça e puxa um objeto com um brilho metálico. Algo como uma pulseira de ouro velho ou talvez cobre.

– Para que serve essa relíquia mágica na sua mão? – Perguntei e em seguida identifiquei o objeto, é um relógio.

 

– Serve para evitar que eu chegue atrasado em algum compromisso. – Respondeu como se fosse óbvio demais e ao ver que eu o encarava esperando uma explicação mais detalhada, continuou: – Isso mesmo que você ouviu… isto é só um relógio.

 

Alguém bate na porta, me viro e fito a maçaneta girando de um lado para o outro. Seja quem for está com muita pressa.

 

– Professor? Abre, sou eu…

 

Coloco a bussola na direção da porta e me acalmo ao ver que nenhum dos ponteiros está apontando para ela. Ando alguns passos para frente e destranco a fechadura. Antes mesmo de puxar a maçaneta, a pessoa do outro lado adentrou no cômodo.

 

– Julia? – Falei surpreso com tamanha força.

 

– Estou pronta.

 

– Precisamos ir imediatamente! – Disse o professor saindo de traz da mesa e passando para fora da sala. – E não se esqueça de trancar a porta.

 

Após trancar a porta, sigo os dois pelo corredor até chegarmos ao limite do piso superior. Não acredito que vamos ter que descer pela escada… O elevador está bem ali!

 

 

Restaurante Bom Gosto.

 

Encontro com Abel em frente ao restaurante, ele me pergunta sobre meu irmão e eu apenas digo que ele está melhor, não posso contar a ele tudo o que o Apollo me disse. Eu ainda to tentando processar toda essa bizarrice.

 

– Abel! Cara você trouxe sua batera… Mas. Mas…?

 

– Exato! É isso que cê tá pensando mesmo!

 

– Sério? E como você conseguiu convencer nossa gerente?

 

– Ah! Pablo. Já tem um bom tempo que eu venho abordando este assunto, até que ontem eu pedi e ela concordou. Eu disse a ela que o pior que poderia acontecer era os clientes não se agradarem com a apresentação, nesse caso a gente nunca mais poderia tocar aqui e eu prometi nunca mais falar no assunto.

 

– Show! E quando a gente pode tocar?

 

– Na sexta-feira! Eu trouxe a bateria hoje só para não deixar tudo para última hora.

 

 

Gráfica New Designer

8h15. Interior do prédio.

 

Descemos toda a escadaria até chegarmos ao térreo. Minhas pernas já não aguentavam mais tantos degraus. Para alguém que já está beirando os quarenta… até que o professor está em forma, aparentemente dos três eu sou o que está mais cansado. Sinto a fadiga estampada na minha cara.

 

Guiados pelo ponteiro maluco da bussola, entramos na área dos funcionários de limpeza. O lugar está vazio, acho que não há mais ninguém aqui além de nós no edifício.

 

– Tomem cuidado. – Sussurrou o professor. – A criatura deve está escondida aqui.

 

– Eu ainda acho que essa coisa está quebrada. – Murmuro enquanto observo o lugar. – Olha só esse lugar: Vassouras, pano de chão, baldes…, mas nada de demônios asquerosos…

 

– Shiii! – Repreendeu Julia fazendo um sinal com o dedo para que eu ficasse quieto. – Essas coisas gostam de nos pegar desprevenidos.

 

– Professor Sergio, aqui!

 

– O que foi?

– O ponteiro maior está se movendo de um lado para o outro na direção dos fundos. E o ponteiro menor aponta para aquela parede. Os anéis… tanto o maior quanto o menor estão parados. – Disse acenando com a mão para indicar a parede com uma pequena rachadura na vertical.

 

– Afastem-se! Advertiu o professor Sergio e se aproximou da parede para analisá-la.

 

Ao meu lado, Julia olhava atenta para a porta de saída, sua mão esquerda tremia ao apertar o pingente do clã. O que será que está se passando em sua mente agora?

 

Apokálypsi! – Exclamou o professor com a mão direita tocando a parede.

 

Da rachadura uma energia estranha foi expelida, parecia que do outro lado da parede houvesse um pequeno sol e sua luz escapava pelas frestas estreitas.

– Essa fenda na parede é uma passagem para o outro lado…

 

– Foi daí que ele escapou. – Conclui.

 

– Faz sentido. Eu fui atacada no corredor ao lado. Talvez eu tenha sido a primeira…

 

– Mas não foi a única também… soube que ao menos mais quatro pessoas apresentaram sintomas semelhantes: alucinações, fortes dores de cabeça e sensação de estar em perigo o tempo todo. Infelizmente elas não resistiram e morreram antes de chegar ao pronto-socorro.

– Precisamos parar este monstro! – As palavras de Julia saíram firmes e sua expressão era severa.

 

– Vão! Não temos tempo a perder.

 

Vão?  Com isso ele me incluiu nessa busca sem ao menos perguntar se eu gostaria de participar dessa caçada suicida. Talvez a coisa seja mais grave do que parece. Não acho que o professor me enviaria sem ter completado meu treinamento. Ele não tem escolha! E eu não posso me recusar… este é o meu chamado!

 

– Datto! Essa missão não será nada fácil para você que ainda é um aprendiz, mas acredito no seu potencial sei que vão se sair bem trabalhando juntos. Eu iria com vocês, mas tenho que ficar e encontrar alguma forma de bloquear a fenda na aurora.

 

O professor Sergio tem razão. Alguém precisa vigiar a passagem para o outro lado. Um demônio a solta neste mundo já nos trouxe problemas demais, e quanto mais tempo à gente perder aqui, mais e mais pessoas se tornarão vítimas deste pesadelo!

Faço minhas as palavras de Julia: “Precisamos parar esse monstro! ”.

 

 

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