Grimaulde Gomes: Desistir nunca. Confie sempre no seu taco, na sua capacidade e na sua criatividade

 

 

Há quatro anos, o Grimaulde Gomes estrearia os primeiros capítulos da web série Detalhes Sórdidos. Era também a estreia do Séries de Web no mundo virtual. Exatamente no dia 24/01/2013 começava a história de um grupo de 10 pessoas que aceitaram participar de um jogo sem ao certo conhecerem as regras começou a ser contada assim:

Todos os automóveis pretos chegaram de uma só vez à mansão. Eram limusines e traziam os convidados.
TOM – Eu pensei que essa droga de viagem nunca ia chegar. Que lugar é esse?
MARIAH(Lê-se Maraia) – Uau! É uma senhora mansão! E olha essa propriedade. Acho que vamos passar uma temporada e tanto por aqui.
EDSON – Eu não estou gostando disso. Eu não gosto de mistérios

 

A história pode ser revista no nosso arquivo de webs, aqui. Mas é claro que Detalhes Sórdiso seria apenas o começo de muitas outras histórias e projetos que o Séries de Web receberia destes quatro anos. É muito difícil chegar a um número certo de inscrições, mas posso chutar – sem medo de errar, que gira em torno de 700 inscrições. Não conseguimos publicar 700 histórias, mas temos aí uma quantidade em bacana que estão compartilhadas no nosso site e podemos relembrar um pouco da história do site, apresentando para vocês o nosso autor primeiro – aquele que inaugurou nossa história neste universo das web novelas.

Grimaulde Gomes é mineiro e tem no seu currículo dois livros publicados pela editora Jabuti, mais um totalmente escrito e um quarto que já está no “forno” sendo preparado e refinado para a publicação. Mas como o Grimaulde chegou aqui no Séries de Web e chegou a publicar duas webs – a outra, A Santa e o Bruxo, que infelizmente não chegou a ser finalizada, – e agora faz parte da equipe de moderação do site? Fomos atrás e preparamos esta entrevista que esclarece um pouco desta curiosidade e ainda trás suas percepções sobre o nosso universo na internet e os desejos de todo autor em ter na sua obra uma crítica positiva.

Como você vê esta experiência em escrever web histórias?
Foi a primeira vez que me cadastrei para escrever uma web história. E foi uma experiência interessante, pois quando já se tem algo publicado qualquer meio, seja impresso ou online, a gente vai ganhando aos poucos o respeito de leitores e até editores.

A oportunidade de publicar seu livro ocorreu antes ou após a publicação de suas web história?
Não. Publiquei meu primeiro livro em 2014 em plena Bienal São Paulo.

Você apresentou duas sinopses ao site. Primeiro, Detalhes Sórdidos e em seguida, A Santa e o Bruxo. Você já havia preparado as histórias para outra ocasião ou as desenvolveu para apresentar ao site?
Foi tudo na hora. Criei as sinopses e fui escrevendo linearmente. Geralmente não faço isso, mas o site exige dinamismo e não tem como ficar voltando, relendo e consertando, como nos livros.

Quando se inscreve uma história, mesmo que seja de forma amadora, cria-se muita expectativa. Você teve algum receio das avaliações que sua web viria a ter?
Tenho receio até hoje até dos livros publicados. Pra você ter uma ideia, não consegui ler ainda meus livros impressos. A autocrítica me impede de ir até o final. Com as webs é o mesmo.

As avaliações de sua web foram, geralmente, muito positivas. Mesmo sendo totalmente autocrítico, os comentários sobre seu texto “enchiam a bola” ou você ainda insistia no aperfeiçoamento do texto?
Sinceramente eu fiquei bem surpreso. A gente espera um resultado positivo sim. Nós autores somos meio vaidosos, mas os resultados e os comentários foram além do que eu esperava. Fiquei bastante envaidecido com tudo.

Falando um pouco de Detalhes Sórdidos, é uma web cheia de suspense e que envolve um enorme drama e é até uma crítica dos hábitos das dez pessoas que foram para a mansão. Percebe-se também que as características dos personagens refletem um pouco do pudor da sociedade. Como surgiu este enredo? Você buscou se inspirar em alguma outra literatura para compor a história e personagens?
Eu sempre gostei de suspense. Mas um dos meus passatempos é justamente observar as pessoas e seus dramas pessoas. Vemos pessoas nas ruas e nem sequer sonhamos que tipo de situações absurdas muitas delas vivem. Além do mais, há um pouco de estereótipos na trama, que eu quis explorar. Há quem diga que o Garibaldi é um personagem autobiográfico. Eu tenho meus problemas e coloquei algo de mim nele, mas sem o exagero do personagem (risos). Aliás, o nome Garibaldi foi escolhido, porque no grupo de teatro que eu fazia parte, me chamavam assim.

Seria um enraivecimento com a má índole das pessoas: a hipocrisia, a soberba, a avareza, por exemplo? Garibaldi parecia querer se vingar disso…
Sim, claro. E eu cresci vendo isso. E fui muito vítima de bulling na infância. Isso não moldou meu caráter negativamente, mas com certeza moldou o caráter dos meus personagens.

Aí é que entra o papel de qualquer autor. Usar o texto para debater estes assuntos e até fazer uma crítica (sutil ou mais incisiva) de certos comportamentos sociais. Você acredita que sites como o SW permite que autores maturem o texto e construam sua identidade e personalidade de escrita para discutir certos tipos de temas?
Com certeza. A melhor escola para autores hoje em dia é sites como o Séries de Web. O mercado editorial ainda é cruel, tem muitas armadilhas e mercenarismo. O editor não confia no autor iniciante mesmo que sua obra seja ótima, mas uma das coisas que os agentes literários mais aconselham é procurar outro meio de se expressar, e depois usar isso como currículo ao mostrar uma obra a um editor. Isso foi importante pra mim.

Escrever um bom texto é um grande desafio. Sobre isso, você já está no Séries de Web desde o princípio e percebeu que muitos autores desistem do projeto durante sua publicação. Que conselho você daria para quem já desistiu ou estão publicando, mas percebe-se que não há entusiasmo na escrita e não estão se dedicando o suficiente para tocar o projeto?
Nem posso falar sobre isso, porque na época eu tive uma crise séria de depressão e também desisti de uma. Mas o meu conselho é persistir, mesmo que pareça desanimador e sem vida a história. Fazendo isso, o autor vê onde está errando, e faz diferente. Eu me arrependo muito de não ter continuado A Santa e o Bruxo, e pretendo transformar em livro para suprir esse lapso. Mas meu conselho é este: Desistir nunca. Confie sempre no seu taco, na sua capacidade e na sua criatividade.

E como você abordariam os autores que já estão há um tempão querendo lançar um projeto, mas que está engavetado e até mesmo sem ânimo para continuar a escrever?
Existe, muitos artigos na internet de como um autor deve proceder. O profissionalismo na apresentação de uma obra é essencial. E se a pessoa quer ser um autor profissional, ele tem que agir como tal. Se um profissional não realiza a sua função, ele passa necessidades, fica desempregado,. é essa a conduta que ele deve ter. Assumir a arte como a coisa realmente importante que ela é, e não apenas uma diversão, um passatempo.

Você acredita que por muitos autores não levarem a escrita a sério acabam apresentando um texto com baixa qualidade, cheio de erros de escrita e equívocos no enredo?
Os erros de escrita ainda se pode passar por cima. Os editores querem novidades, enredos fora dos clichês e bem pesquisados. Isso o autor não pode pagar ninguém pra fazer por ele, como pode pagar para corrigir os erros.

O SW faz esta avaliação das webs em dois momentos: antes de a web ser publicada e durante a publicação ou ao final dela. Você passou a fazer parte da equipe de administração do Séries de Web recentemente e seu papel é justamente fazer uma avaliação crítica dos textos das webs. Como você acha que este tipo de avaliação contribui para a melhoria do texto? E como o autor deve encarar este tipo de avaliação – seja ela positiva ou não?
O autor deve encarar como uma escola. Avaliar uma história é mostrar não somente onde ele erra, mas também onde ele acerta. A sinceridade de quem avalia deve estar acima de tudo, para que o autor não cometa erros contínuos, acreditando estar fazendo um bom trabalho. Se há uma crítica, ela deve ser encarada com naturalidade e profissionalismo. Todos nós estamos sendo avaliados a todo tempo, e sangue frio é importante nesses momentos.

Você também é um leitor do Séries de Web e pôde acompanhar algumas histórias. Qual você destacaria como uma ótima dica de leitura?
Sim, eu acompanhei uma em 2012 que avaliei e me cativou muito. Estou tentando me lembrar o nome. Mas a minha última avaliação, Sombras do Passado é realmente um web que eu gostaria de ter escrito. Daria um ótimo enredo de livro teen.

Existem muitos sites na internet que se propõem a publicar web novelas. Na sua visão, o que diferencia um e outro?
A qualidade do próprio site. A maioria dos sites não possuem layout atraente, nem exigências mínimas de qualidade no padrão dos textos.

Bate bola
– Ponto positivos do Séries de Web?
– A qualidade no layout, nas histórias, o profissionalismo com que o projeto é tocado.
– E negativo?
– Um ponto negativo, em que eu próprio pequei, e que eu não sei se isso está sendo feito agora, seria exigir que o autor já tivesse toda a história pronta, para ir postando.
– Gênero preferido na literatura?
– Temas históricos e religiosos com certeza.
– Qual livro está lendo agora?
– Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas. É uma aquisição do ano passado que comecei a folhear agora.
– Livro que leu e considera uma referência?
– Li muitos livros, mas há um autor que me inspiro em suas obras. Um finlandês chamado Mika Waltari. Inspiro minha narrativa na narrativa desse autor, que me influenciou e continua influenciando.

Entrevista por Domingos Santiago

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